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“Vozes do Anjo” será lançado na Feira do Livro de São Luís

Nessa quarta-feira (8 dez), às 18h, estaremos na Feira do Livro de São Luís (na praça Maria Aragão) em novo lançamento da obra “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM”.

Veja aqui e aqui como foi o primeiro lançamento, em agosto de 2021.

O livro aborda a formação do bairro Anjo da Guarda pelo fio da meada de duas experiências sonoras. Começou com uma emissora de alto-falante chamada “Rádio Popular”, criada em 1988, que funcionou durante 10 anos, até a implantação da rádio comunitária Bacanga FM, em 1998.

Veja detalhes sobre o livro aqui

Publicado pela Editora da UFMA, a obra é uma realização do OMAR (Observatório da Mídia no Maranhão), coordenado pelo professor Carlos Agostinho Couto, e tem apoio do ObEEC (Observatório de Experiências Expandidas em Comunicação).

A impressão foi viabilizada pelo SESC (Serviço Social do Comércio) – Diretoria Regional do Maranhão.

Fruto de uma pesquisa iniciada em 2016, no Curso de Radialismo da UFMA, o livro é uma produção coletiva dos seguintes autores: Ed Wilson Araújo e Saylon Sousa, Rodrigo Anchieta, Rodrigo Mendonça e Robson Silva.

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A Literatura Maranhense no século XXI: ainda o marasmo?

Dino Cavalcante

Desde o fim do século XIX, por volta de 1890, que no Maranhão, sobretudo na capital, ecoa, em seus jornais, em suas ruas, praças, becos, cafés, bibliotecas, salas de aulas, etc., um triste fim de sua mais nobre arte: a literatura. Os arautos do passado, saudosistas dos grandes nomes de nosso “Pantheon”, como simbolizaria Antônio Henriques Leal, escreviam e gritavam aos quatro cantos a situação de extrema penúria a que estavam condenadas as letras maranhenses.

Após a vinda de Coelho Neto, em 1899,os discursos mudaram e passaram a engrandecer o novo grupo que se destacava, batizado por Antonio Lobo de os Novos Atenienses. Houve uma produção relevante em São Luís, com grande destaque na poesia e nos contos. Mas, depois, da morte trágica de Antonio Lobo, o marasmo passou a impor sua marca. A própria Academia entrou numa espécie de hibernação por décadas, sem grandes projetos, produções literárias, etc.

No fim dos Anos 40, dois movimentos deram um grande impulso à cultura do Estado. Primeiro: a chegada de Bandeira Tribuzi, vindo de Portugal. A sua presença do meio literário fez uma geração de escritores olhar para o horizonte e descobrir novos rumos para a poesia, ainda presa ao século XIX. Segundo: A ampliação das cadeiras da Academia Maranhense de Letras para 40, como havia sido previsto desde a sua fundação, em 1908, com a entrada das duas primeiras mulheres: Laura Rosa e Mariana Luz.

No final dos anos de 1970, com a morte de Bandeira Tribuzi, novamente se acende uma luz amarela no meio intelectual. Nos jornais e nas salas de aula, sobretudo do Curso de Letras da ainda jovem Universidade Federal do Maranhão, muitas vozes se dirigem ao que se denomina de marasmo cultural. Alguns chegam até a afirmar, com muita dose de pessimismo que “era uma vez a Literatura Maranhense”.

Quando os anos 80 surgem no horizonte, a Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão e o SIOGE, Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, que já faziam um bom trabalho de publicação de obras literárias desde a década anterior, passam a comandar todo esse processo de edição. Livros que estavam há décadas fora de circulação no meio cultural ganharam novas e modernas edições. Além disso, os concursos literários deram oportunidade a muitos jovens escritores e poetas para que se lançassem no seleto grupo dos autores maranhenses com livros na praça. 

Os anos 90 conhecem uma infinidade de novos poetas e prosadores, numa prova viva de que a literatura entre nós estava em franca evolução. Novos ritmos, novas formas poéticas e novos gêneros foram produzidos.

No Século XXI, o acesso à edição e à divulgação dos livros publicados melhorou significativamente. As edições da FELIS, Feira do Livro de São Luís, do SALIMP, Salão do Livro de Imperatriz, do Festival GEIA de Literatura, em São José de Ribamar, para citar apenas esses três eventos, deram um amplo espaço para os autores consagrados pelo público, como Josué Montello, Ferreira Gullar, Nauro Machado, entre outros, e para os novos escritores. Além disso, novos espaços foram criados e abertos a todos os públicos leitores, como o espaço AMEI, centro difusor da cultura literária maranhense.

Mas, apesar de toda essa agitação cultural, ainda há vozes, inclusive no meio acadêmico, dando conta de uma possível falência da Literatura Maranhense ou ainda de uma crise na leitura dos nossos autores, diante dos bestsellers, responsáveis pelo quase completo desinteresse dos jovens leitores por textos nacionais e regionais. Esses arautos vaticinam, como se videntes fossem, que ninguém mais lê obras de autores, como Maria Firmina dos Reis, Aluísio Azevedo, Arthur Azevedo, Humberto de Campos, Viriato Corrêa e tantos mais.

Com o intuito de refletir sobre o atual estágio dos estudos de Literatura Maranhense e sua importância, sobretudo no meio acadêmico, destacamos algumas pesquisas realizadas nas duas primeiras décadas deste século – mais precisamente entre 2001 e 2021 – sobre autores e autoras da terra de João Francisco Lisboa. Iniciemos pelas Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado.

ATENIENSES E FLUMINENSES: A Invenção do Cânone Nacional –Ricardo André Ferreira Martins – Tese Unicamp.

O POEMA O GUESA DE SOUSÂNDRADE, à Luz da Hermenêutica de Paul Ricoeur. Rita de Cássia Oliveira. Tese PUC/SP

A ESCRAVIDÃO NO MARANHÃO: Maria Firmina dos Reis e as representações sobre escravidão e mulheres no Maranhão na segunda metade do século XIX. Régia Agostinho da Silva. Tese USP.

NO ALINHAVO DO TEMPO: O tecer da memória no romance Por onde Deus não Andou, de Godofredo Viana–KerllenMiryan Portela De Paiva Norato. Dissertação UFMA.

AS RELAÇÕES DE PODER EM UMA CIDADE EM RUÍNAS: O lugar dos excluídos no romance Vencidos e Degenerados – Paloma Veras Pereira. Dissertação UFMA

AS RELAÇÕES RELIGIOSAS EM OS DEGRAUS DO PARAÍSO, DE JOSUÉ MONTELLO– Thiago Victor Araújo dos Santos Nogueira. Dissertação UFMA

AS REPRESENTAÇÕES DA MORTE EM O MONSTRO E OUTROS CONTOS, HUMBERTO DE CAMPOS – Ivane Santos Diniz. Dissertação UFMA.

A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA COLETIVA ALCANTARENSE: Do Esplendor Econômico à Decadência Social em Noite sobre Alcântara,de Josué Montello–Railson Costa Santos. Dissertação UFMA

O FANTÁSTICO EM ALUÍSIO AZEVEDO E COELHO NETO: Análise dos contos Demônios e A Bola – Lívia Fernanda Diniz Gomes. Dissertação UFMA.

A ARQUEOLGIA DA PROTOFICÇÃO CIENTÍFICA E A CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA MARANHENSE – Thalita Ruth Sousa. Dissertação UFMA.

PORTUGAL E BRASIL EM DIÁLOGO: um estudo da poesia simbolista de Camilo Pessanha e Maranhão Sobrinho à luz da literatura comparada. Samara Santos Araújo. Dissertação UFMA.

QUANDO A DOENÇA TORNA A VIDA UM FARDO: a trajetória de Humberto de Campos (1928-1934) – Giscard F. Agra. Tese UFPE.

Citamos alguns livros publicados no mesmo período acerca do tema em questão. Lembrando que são apenas alguns exemplos. Foram publicadas centenas de obras literárias e sobre a arte de Maria de Firmina dos Reis.

TÁBUA DE PAPEL: Estudos de Literatura Maranhense. José Neres (Org.). São Luís: Café & Lápis, 2010.

A ATHENAS EQUINOPCIAL: A Literatura e a Fundação de um Maranhão no Império Brasileiro. Henrique Borralho. São Luís: FUNC, 2011.

OS ATENIENSES: A Invenção do Cânone Nacional. Ricardo Leão. São Luís: Instituto Geia, 2013.

UM LIVRO DE CRÍTICA – Frederico José Correa. Bruno Azevedo (Org.). São Luís: Frias, 1878 – São Luís: Pitomba, 2015.

O SÉCULO XX E A LITERATURA MARANHENSE: Reflexões sobre a narrativa em prosa. José Neres e Dino Cavalcante (Orgs.). São Luís: EDUFMA, 2016.

ENTRE A FACE E O DORSO: Diálogos com a Poética de Ferreira Gullar. Silvana Maria Pantoja dos Santos, José Dino Costa Cavalcante (Orgs.). São Luís: EDUEMA, 2017.

“Da Literatura Maranhense: ORomancedo Século XX”. Dinacy Mendonça Correa. São Luís: EDUEMA, 2017.

JOSUÉ MONTELLO: entre Memória, Ficção e Cultura. Silvana Maria Pantoja dos Santos, José Dino Costa Cavalcante, Joseane Souza (Orgs.). São Luís: EDUFMA, 2018.

OS CANHÕES DE TROIA – Ensaios sobre Nauro Machado e José Chagas. Rafael Campos Quevedoe Wandeilson Silva de Miranda (Orgs.). São Luís: Imprece, 2019.

MARANHÃO SOBRINHO: O poeta maldito de Atenas. Kissyan Castro. Guaratinguetá: Penalux, 2019

A CASCA DA CANELEIRA: por uma boa Dúzia de “esperanças”. Carlos Augusto de Melo (Org.).   São Paulo: Paco Editorial, 2019.

EXPERIÊNCIAS DA MEMÓRIA E DO ESPAÇO EM JOSUÉ MONTELLO: Leituras da Geograficidade. Márcia Manir Miguel Feitosa (Org.) São Luís: Café & Lápis/EDUFMA, 2021.

MARIANA LUZ: Murmúrios e Outros Poemas. Gabriela Santana (Estabelecimento de texto e introdução).  São Luís: AML, 2021.

Some-me a toda essa pesquisa e produção, mais uma centena de artigos em periódicos, em anais de eventos acadêmicos e capítulos de livros sobre a Literatura Maranhense no período em questão. Mais ainda: uma centena de monografias versando sobre o tema referido, orientadas e concluídas nos Cursos de Letras da Universidade Federal do Maranhão, da Universidade Estadual do Maranhão, da Faculdade Atenas Maranhense, do Pitágoras, Facam, entre outras.

E ainda: mais de uma centena de blogs e sites voltados exclusivamente para a produção literária maranhense, a exemplo do site da Universidade Federal de Santa Catarina – Biblioteca Digital da Literatura Maranhense –, com um bom acervo de obras digitalizadas, disponíveis ao público. Nos últimos vinte anos, dezenas de Academias de Letras foram criadas em cidades do Estado que, aparentemente, tinham pouca produção literária.  O que vemos é um tema cada vez mais atrativo para as pesquisas.

Longe de uma crise, temos um objeto que atrai cada vez mais pesquisadores do Maranhão, de outros Estados e até de outros países, da África, da Europa e da América. Por exemplo: só em 2021, dois livros do poeta Salgado Maranhão foram traduzidos e lançados nos Estados Unidos, com grande aceitação por parte da crítica.

Para um bom observador, a Literatura Maranhense ao contrário de um marasmo ou de uma crise, está despontando, nos últimos vinte anos, com um vigor jamais experimentado ao longo de seus quase dois séculos de história (se considerarmos o início em 1832, com publicação do poema Hino à Tarde, de Odorico Mendes).

Por fim, precisamos de uma política não só acadêmica, mas sobretudo governamental (tanto do Governo Estadual como das prefeituras municipais) para que possamos valorizar ainda mais nossa literatura. É inconcebível que alunos de uma cidade como Codó passem três anos no Ensino Médio e sequer ouçam falar do seu conterrâneo Godofredo Viana, autor do romance por Onde Deus não Andou, ambientado nessa cidade. Como disse Castro Alves, em seu poema O Livro e a América: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros… livros à mão cheia…/E manda o povo pensar!”, a literatura precisa chegar a todos os cantos do Estado, seja através de concursos literários promovidos pelos órgãos institucionais, seja nas salas de aula, com professores e alunos lendo e discutindo os nossos autores.

A Literatura Maranhense é um dos nossos maiores patrimônios culturais, mas cabe à sociedade, às universidades e aos governos, valorizar e torná-la viva para que continue dando muito orgulho não só ao Maranhão, mas a todo o Brasil.

Imagem destacada / bustos de escritores representando o Pantheon Maranhense, no largo contíguo à praça Deodoro, no Centro de São Luís