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Movimentos sociais repudiam palestra depreciativa à memória dos religiosos Dorothy Stang e Josimo Tavares

UniCeuma emitiu nota informando que a realização do evento sequer foi autorizada

A divulgação de um banner sobre a palestra “Os falsos mártires da Teologia da Libertação”, com fotomontagem grotesca dos religiosos – missionária Dorothy Stang e padre Josimo Tavares – gerou uma onda de protestos nas redes sociais.

A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (veja nota abaixo) se posicionou condenando o vilipêndio à memória dos religiosos.

Nem o UniCeuma tinha conhecimento da palestra

O evento estava anunciado para o campus da Universidade Ceuma, no Renascença, com realização do site http://expressoliberdade.com.br, que se denomina um instituto “destinado a promover a dignidade humana”.

Após a reação de militantes e entidades do campo democrático e popular, a palestra foi cancelada e a Universidade Ceuma divulgou uma nota (veja imagem abaixo) afirmando que sequer foi comunicada sobre a realização da palestra no campus da instituição.

O evento é uma clara uma tentativa de desconstrução violenta e desrespeitosa da imagem de dois símbolos da militância em prol da justiça e da democracia.

Os dois religiosos foram assassinados por pistoleiros, em decorrência da luta em defesa da reforma agrária e das reservas extrativistas.

Ambos têm reconhecimento internacional pela sua atuação junto aos povos oprimidos pela brutal concentração de terras e renda no Brasil.

Dorothy e Josimo atraíram o ódio de madeireiros, latifundiários e grileiros, dos coronéis da política e dos corruptos.

Ele foi executado com cindo tiros, em Imperatriz (MA), ao subir as escadas de acesso ao escritório da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ela tombou em 2005, com seis tiros, em uma estrada no município de Anapu (PA).

Agora, depois de mortos, são vítimas de uma aberração histórica patrocinada por um instituto que prega o respeito à “dignidade humana”.

Após as denúncias nas redes sociais e mobilização presencial para repudiar o evento, o site “expresso liberdade” emitiu um comunicado informando que a palestra está cancelada (veja aqui).

Apesar do recuo do “expresso liberdade”, os movimentos sociais permanecem mobilizados na defesa do legado, da História e da dignidade das pessoas que, direta ou indiretamente, lutaram juntos com Dorothy e Josimo e hoje seguem firmes na defesa da justiça e da democracia.

A Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos emitiu nota sobre o episódio. Veja abaixo:

Divulgação de suposto evento vilipendia memória de missionários que atuaram pelo bem viver no campo

O Brasil é o país mais violento do mundo para as populações camponesas. Em 2017 foram 65 assassinatos em conflitos no campo. No estado do Maranhão, atualmente, existem pelo menos 86 conflitos de terra e território. É uma luta desigual, onde de um lado estão grileiros, jagunços e fazendeiros e do outro estão agricultores familiares e suas famílias, constantemente coagidos e ameaçados. 

A irmã Dorothy Stang foi uma missionária católica, nascida nos Estados Unidos. Veio para o Brasil na década de 60, e iniciou seu trabalho no município de Coroatá, no Maranhão. Sensibilizou-se com a situação vivida pela população rural e, durante toda a sua vida, lutou pela reforma agrária e pela preservação do meio ambiente. 

Enfrentou gente poderosa, e pagou um preço caro: foi assassinada em 2005, no Pará. As investigações confirmaram que cinco homens participaram do assassinato da freira, morta com seis tiros aos 73 anos de idade. 

O padre Josimo defendeu as mesmas causas, e o seu destino foi selado com igual covardia. Dois tiros pelas costas tiraram a vida do sacerdote, que dedicou a vida para denunciar a opressão dos latifundiários contra os lavradores. Já havia sofrido outro ataque um mês antes, do qual escapou. Causou ódio aos fazendeiros da região. Dois foram condenados pela sua morte, além de outros cúmplices e capatazes. 

Nos últimos dias, veio a público a divulgação de um suposto evento que trata estes dois missionários como “falsos mártires”, expondo inclusive fotos dos religiosos. A universidade que supostamente sediaria o evento logo lançou nota dizendo que a nunca houve autorização para que a atividade ocorresse lá, destacando que “repudia qualquer manifestação contrária aos direitos humanos e ao exercício da cidadania, com respeito à memória de luta social e ambiental no país”.

Em seguida o grupo Expresso Liberdade, que organiza o evento, lançou uma “Nota de Esclarecimento” sobre o cancelamento da conferência. No texto lamenta a “interpretação leviana da arte de divulgação da conferência”. Ora, colocar a foto de dois missionários assassinados por fazendeiros em um cartaz onde se lê “Os falsos mártires da teologia da libertação” não deixa espaço para interpretações divergentes. O objetivo claro é desmoralizar as pessoas colocadas na imagem, e a luta pela qual viveram e morreram.

O Padre Josimo e a Irmã Dorothy são pessoas que inspiram coragem e luta pelas causas de maior importância para o povo brasileiro, tais como a reforma agrária, os direitos humanos para a população do campo, a defesa intransigente da vida e da segurança e a defesa do meio ambiente. 

Não podemos nos calar diante dessa tentativa de difamação de figuras de tamanha importância, vindas de um grupo alinhado com a agenda conservadora de criminalizar os movimentos sociais e desacreditar a importância social da reforma agrária. 

19 de abril de 2018
Sociedade Maranhense de Direitos  Humanos