Faz muito tempo, na mesa de um bar, surgiram duas questões filosóficas em uma só: “Alcântara não vai ninguém porque não tem nada ou não tem nada porque não vai ninguém”?
Por “nada” e “ninguém” não entenda sentidos pejorativos ou depreciativos. Na pergunta está embutida a torcida, o desejo e a vontade dos frequentadores da deliciosa e encantadora Alcântara para que a cidade seja equipada com investimentos para a geração de emprego e renda aos seus moradores (em primeiro lugar) e opções de turismo, com o objetivo de movimentar a economia e ampliar o fluxo de visitantes na cidade.
“Se Alcântara fosse na Bahia, Caetano Veloso já tinha feito uma canção e davam um jeito de tocar na novela das oito”, dispara um atento observador da cidade.
A dupla questão filosófica acima provoca outra, baseada nas contradições do capitalismo e nas desigualdades que ele é capaz de produzir: Alcântara abriga pessoas analfabetas na vizinhança de uma base de lançamento de foguetes.
No século XXI a tecnologia da escrita ainda não é acessível para muita gente nas proximidades da base que sedia um dos maiores polos de tecnologia aeroespacial do mundo.
Pois foi neste lugar estranho que aportou o casal Sergio e Lea, entusiastas do Café com Arte, o novo espaço cultural da cidade, ideal para bater papo, degustar petiscos e saborear cachaças e outras beberagens artesanais, além dos cafés especiais.
A casa não é um empreendimento no sentido convencional. Café com Arte oferece, antes de tudo, afeto, estampado no sorriso acolhedor de Sergio e Lea.
O lugar é um mix de cafeteria, cachaçaria e ponto de encontro para conversar, como todo boteco deve ser, no pé do balcão.
Localizado na rua Grande, 76, Centro, o Café com Arte também recebe artistas para voz e violão, recitais literários e audição de boa música. Livros e discos estão à vontade na sala, que dispõe de bancos decorados e duas poltronas.
O casal morou no Rio de Janeiro por umas décadas e mudou para São Luís em busca de tranquilidade, até conhecer Alcântara e o sossego. Aí decidiram montar o Café com Arte.
Cachaças locais e importadas, licores, cafés, biscoitos e docinhos, petiscos rápidos à base de castanha, queijo e azeitona compõem o cardápio. No local não servem refeições e nem cerveja.
Bebida saudável e afeto
Longe de ser um empreendimento com fins lucrativos, segundo Sergio, o local é um ponto de encontro para degustar, saborear e prosear.
O balcão ocupa o cômodo logo na entrada, cercado de baquinhos e duas poltronas, porque o propósito maior é conversar e desfrutar os sabores etílicos e barísticos da casa.
Entre as bebidas especiais estão pelo menos dois rótulos produzidos no Maranhão: a cachaça Jacobina, de Balsas; e a tiquira Guaaja, produzida em Santo Amaro.
Como todo lugar especial, Café com Arte tem o diferencial administrativo. Sergio, o “antigerente”, não anota nada no consumo dos clientes. Avesso a comandas e planilhas para registrar a consumação, ele diz que o esforço para controlar, cansa! E este verbo, cansar, não é o propósito de ter transferido a sua morada do Rio de Janeiro para São Luís e depois Alcântara.
Ao final da visita, cada frequentador informa o que comeu e bebeu e só então entra a contabilidade de Sergio, sempre confiante na veracidade dos visitantes.
Outro detalhe: o pagamento só é feito em dinheiro. Café com Arte não operacionaliza cartão, porque a burocracia da máquina também não é o propósito, explica Sergio.
Tranquilidade é a filosofia do novo espaço cultural (e seria sideral?!) de Alcântara.
Imagens capturadas na fanpage https://www.facebook.com/cafecomarte.ma/