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Adriano Sarney no tempo das vacas magras

Candidato a prefeito de São Luís até sábado (26), o deputado estadual Adriano Sarney (PV) anunciou a desistência do pleito. Logo ele, que havia sido o primeiro a oficializar o nome em convenção realizada dia 31 de agosto.

O ex-candidato é neto de José Sarney e primogênito de Sarney Filho, ex-deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente.

Embora faça parte do clã, ele não teve apoio sequer do MDB controlado pela família. A ex-governadora Roseana Sarney preferiu uma aliança mais pragmática com o PDT e o DEM, formalizando o apoio do partido à coligação liderada por Neto Evangelista.

A falta de apoio dentro de casa foi um dos fatores para a desistência de Adriano Sarney.

É uma renúncia dolorida para quem nasceu e cresceu em berço de ouro e sempre teve plenas facilidades na vida: fortuna, empregados e serviçais, as melhores escolas, conforto, um oceano de oportunidades e todos os sonhos realizáveis na palma da mão, na chave de um cofre ou em uma conta bancária.

Publicamente ele tentou disfarçar o desgaste, atribuindo a sua renúncia ao pouco tempo de propaganda eleitoral e à exclusão dos debates nas duas maiores emissoras de televisão: TV Mirante/Globo e TV Difusora/SBT.

Detalhe: a TV Mirante é propriedade da família e administrada pelo seu tio Fernando Sarney, mas submetida em alguns casos às regras da Rede Globo, que restringiu o número de candidatos nos debates.

Um fator ainda mais profundo para explicar a renúncia é a perda de musculatura política do clã liderado por um José Sarney já quase fora de combate.

Dinheiro a família tem de sobra, mas falta a força do capital político, partidário e eleitoral para disputar o poder real.

Durante 50 anos José Sarney mandou e desmandou no Maranhão montado na besta fera do sistema oligárquico. Ele tinha relação direta com o governo federal desde a ditadura militar até Dilma Roussef (PT); controlava quase totalmente a bancada de deputados em Brasília e na Assembleia Legislativa, além dos senadores; era influente no Judiciário e construiu uma teia de relações fisiológicas e clientelistas com as elites local e nacional.

Esse tempo passou e hoje os políticos da família estão sem mandato, restando apenas o deputado estadual Adriano Sarney, esbravejando na oposição, em um partido minúsculo, desprezível, insignificante.

O ex-candidato a prefeito chegou ao cúmulo de subtrair do seu nome, no painel da Assembleia Legislativa, o sobrenome Sarney.

Ele queria ser apenas Adriano. E agora conseguiu. Não é mais candidato à Prefeitura de São Luís e dificilmente será reeleito deputado estadual em 2020.

Que assim seja: somente Adriano, sem mandato nem poder.

Veja abaixo a carta de renúncia:

“Carta aos candidatos e eleitores do PV em São Luís

Saudações verdes!

Foi uma longa jornada de superação desde o lançamento de nossa pré-candidatura há 1 ano até chegarmos neste dia. Formamos uma das maiores chapas de vereadores da disputa, somos 40. Com fé em Deus e nas pessoas de São Luís, vamos ter representação na Câmara Municipal. Escolhemos a surpreendente jovem Vall Nascimento para compor a majoritária como nossa candidata à vice-prefeita. Continuamos pontuando bem nas pesquisas, apesar de estarmos caminhando sem o apoios de grupos, partidos ou políticos tradicionais, e de termos sido candidato em eleições anteriores na capital. Temos que ter orgulho de tudo isso!

Devido ao nosso limitado tempo de TV – 6 segundos-, estávamos confiando na presença nos debates para expormos nossas ideias e mostrarmos para as pessoas nosso diferencial: conhecimento e experiência econômica e administrativa para levarmos São Luís para um novo patamar de desenvolvimento. O momento pede um gestor qualificado e me sinto preparado para assumir essa responsabilidade de superarmos a maior crise econômica e social das últimas décadas.

No entanto, não foi possível garantir nossa presença nos três debates com maiores audiências. A Rede Globo nacional impôs condições duras para a realização do evento devido a pandemia. Nossa opinião é de que não haverá debate neste veículo de maior audiência. Por outro lado, a TV Difusora/SBT realizará dois debates, mas, surpreendentemente, utilizou-se de uma regra eleitoral para nos deixar de fora, mesmo pontuando nas pesquisas acima da maioria dos outros candidatos que terão a chance de expor suas ideias. Acreditamos que, nestas condições impostas pela TV Difusora, o processo eleitoral em São Luís não será democrático uma vez que a maioria da população aguarda ansiosamente pelos debates.

Decidimos então retirar nossa candidatura a prefeito de São Luís. Vamos seguir com nossos candidatos a vereadores de forma independente.

Um abraço e boa sorte a todos!

Adriano Sarney