Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Maranhão, de Imperatriz, mostra que 73% das professoras dos cursos de Comunicação no Nordeste consideram seu ambiente de trabalho machista. Situações de discriminação institucional, desqualificação de pesquisas, piadas de cunho sexista também foram amplamente relatadas.
Os dados são parte do estudo “Assédio a professoras no ensino superior: estudo sobre a realidade nos programas de pós-graduação no Nordeste”, vinculado ao curso de graduação e pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em Imperatriz, financiado pelo Edital Universal do CNPq (CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2021) e revelam um retrato preocupante sobre o impacto das desigualdades de gênero na vida profissional de docentes universitárias.
A pesquisa foi coordenada pela professora doutora Thaísa Bueno, do PPGCOM de Imperatriz, e desenvolvida por uma equipe composta pelas professoras doutoras Michelly Santos de Carvalho (Curso de Jornalismo da UFMA), Leila Lima de Sousa (PPGCOM) e Letícia Cardoso (PPGCOM), além da doutoranda Janaína Lopes de Amorim (UFPA) e da graduanda em Jornalismo, Ana Gabriela Santos (UFMA).
O levantamento mapeou 70 professoras da região que atuam nos programas de pós-graduação dos 9 estados do Nordeste que oferecem essa formação. Atualmente, dos nove estados do Nordeste, apenas Alagoas não oferece cursos de pós-graduação neste nível. Os oito demais, juntos, incluindo cursos públicos e privados, somam 12 programas – Sergipe (1), Piauí (1), Rio Grande do Norte (1), Pernambuco (2), Bahia (2), Maranhão (2), Paraíba (2), Ceará (1). Do total de docentes mulheres desses programas, 37 responderam a um questionário e 12 participaram de entrevistas em profundidade.
Os relatos coletados expõem desde casos de infantilização e comentários depreciativos até a negação sistemática da autoridade e da competência acadêmica das docentes.
Além disso, 31% afirmaram já ter sofrido assédio moral, tendo como principais assediadores colegas de trabalho e alunos do sexo masculino. O assédio ocorre de forma indireta e subliminar, por meio de agressividade, desqualificação da produção acadêmica e discriminação institucional.
“No momento que está acontecendo, é uma característica do machismo, você fica achando que você é louca e todo mundo quer te convencer disso, que você é histérica, que você tá maximizando os problemas, eu ouvi isso tudo. ‘Não, mas isso aí é histeria” (Docente 6, nome da fonte não informado para garantir seu bem estar profissional).
Mansplaining
Outra situação relatada pelas entrevistadas foi o mansplaining, termo derivado da junção das palavras em inglês man (homem) e explaining (explicando) para se referir a uma situação em que um homem explica algo para uma mulher de maneira autoritária ou didática demais, pressupondo que ela não entende o assunto — mesmo quando ela tem conhecimento igual ou superior ao dele.
Outro dado aponta que apenas 16,3% das professoras ocupam cargos de chefia, e somente duas possuem bolsa de produtividade, o que evidencia a exclusão das mulheres de espaços de reconhecimento e decisão dentro da universidade.
O estudo também revela que o estereótipo de gênero impacta diretamente o modo como as professoras precisam se portar para serem respeitadas.
Muitas relatam que adotam uma postura mais rígida, por sentirem que o acolhimento e a sensibilidade – traços associados ao feminino – são vistos como fraqueza no ambiente acadêmico.
“A pesquisa mostra que o machismo e o assédio são desafios reais para as professoras no ensino superior. É urgente que as instituições criem políticas mais eficazes para combater essas práticas”, afirma a coordenadora do estudo, Profª Drª Thaisa Cristina Bueno, da UFMA – Imperatriz.
Apesar da gravidade dos casos relatados, apenas 40,5% das entrevistadas afirmaram que há canais de denúncia efetivos em suas instituições, o que evidencia a fragilidade dos mecanismos institucionais de acolhimento e responsabilização.