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A incrível saga do amigo de Dorothy Stang obrigado a fugir por 17 anos

Texto: Ed Wilson Araújo / Fotos: Adriano Almeida

Reportagem publicada originalmente em Sumaúma – Jornalismo do Centro do Mundo em 4 de dezembro de 2022

Como o militante da reforma agrária Geraldo Magela de Almeida Filho se tornou José Gaspar da Silva, vendedor de produtos country para o agro amazônico, depois de ser acusado de um crime que não cometeu

De Imperatriz, Maranhão

Chovia muito às 7h30 da manhã de 12 de fevereiro de 2005, quando o pistoleiro Rayfran das Neves Sales desferiu 6 tiros à queima roupa contra uma mulher de 73 anos sem nenhuma chance de defesa. O corpo da Irmã Dorothy Stang tombou em sangue na terra alagada e lá ficou até às 17h, quando foi levado do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança por uma estrada precária de 50 quilômetros até a sede, no município de Anapu, às margens da rodovia Transamazônica, a 692 quilômetros de Belém, capital do Pará. Naquele mesmo sábado, enquanto todas as atenções se voltavam para Anapu, outro assassinato abalava o PDS Esperança. Às 23h, o lavrador Alberto Xavier Filho, conhecido como “Cabeludo”, também foi executado. O crime contra Dorothy Stang levou à Anapu jornalistas do mundo inteiro. O crime contra o anônimo Cabeludo, uma figura ambígua que com alguma frequência fazia serviços para os inimigos do PDS, foi ignorado pela opinião pública. Os pontos nunca foram ligados. Mas ali começava, para um homem chamado Geraldo Magela de Almeida Filho, uma saga nascida da injustiça e uma fuga de 17 anos que só acabou em novembro de 2022. Se iniciava, também, a vida de um caixeiro-viajante chamado Gaspar.

No mesmo dia em que perdeu Dorothy Stang, Magela Filho foi falsamente incriminado pela polícia como cúmplice do assassinato de Cabeludo. Para os movimentos sociais da região de Anapu e Altamira, a estratégia que matou Dorothy e obrigou Magela Filho a fugir era a mesma: os grileiros queriam anular a resistência camponesa. “Ele era uma liderança muito forte. O objetivo era matar os dois, Geraldo Magela e Dorothy Stang”, afirma a missionária Jane Dwyer, da Congregação das Irmãs de Notre Dame, integrante da Comissão Pastoral da Terra e companheira de luta de Dorothy. “Conseguiram eliminar nossa irmã e colocá-lo [Magela] na clandestinidade.”

Os dois crimes foram o desfecho de uma semana tensa. Dorothy Stang estava marcada para morrer. As ameaças já haviam sido amplamente denunciadas aos órgãos de segurança no Brasil e também para organismos internacionais. Há vasto conhecimento sobre os mandantes, intermediários e executores da missionária. Já o assassinato de Cabeludo até hoje permanece sem solução.

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Imagem destacada / GERALDO MAGELA DE ALMEIDA FILHO. FOTO: ADRIANO ALMEIDA/SUMAÚMA

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