Estamos entrando em uma etapa da civilização marcada pela indiferença e desprezo pelo outro.
O individualismo é o grande motor da vida.
As pessoas estão cada vez mais insensíveis à dor do próximo, seja essa dor causada por males físicos ou mentais.
Além da indiferença, a chacota cresce como forma de tripudiar sobre a dor, as falhas, as situações constrangedoras, as desgraças e as tragédias.
Se ocorre um acidente com morte, os curiosos vão lá não para ajudar, mas para filmar e expor as imagens nas redes sociais.
Recentemente virou chacota nacional o surto de uma mulher que manteve relações sexuais com um mendigo.
Ela é uma pessoa com doença mental e vem fazendo tratamento para buscar a cura. Se já estava atormentada pela sua situação de saúde, imagine quando tiver pleno conhecimento de como foi exposta nas redes sociais naquele momento do surto.
A pandemia, a fome, o desemprego e a miséria, a dependência tecnológica e a solidão estão levando milhões de pessoas a contraírem doenças mentais de variados tipos.
Às vezes pode começar com uma tristeza…depois depressão… e por aí vai.
Tem muita gente precisando de ajuda, mas a maioria “recebe” o desprezo, a ironia ou a indiferença.
Isso tudo pode acontecer com qualquer pessoa, rica ou pobre, famosa ou anônima.
Na cerimônia do Oscar, o ator Will Smith deu um tapa na cara do comediante Chris Rock.
O ator reagiu para defender a sua esposa Jada Smith de comentários inapropriados em tom de piada feitos pelo comediante Chris Rock sobre a mulher estar careca.
Acontece que Jada Smith tem alopecia, uma doença autoimune que acelera a queda dos cabelos.
Doenças não são brincadeira, sejam elas mentais ou físicas.
Uma parte da humanidade caminha para um retrocesso. Cultua fanatismo, adora mitos esdrúxulos, fortalece convicções absurdas, nega a Ciência, cultiva a exposição de tragédias, faz chacota das desgraças alheias e curte com ênfase o grotesco.
Duas mulheres são exemplos desse tipo de comportamento retrógrado. Uma, em surto; outra, sem cabelos.
Ambas, afetadas por diferentes mazelas do corpo e da alma, foram vilipendiadas.
E o mendigo?
As pessoas que normalmente passavam por ele e o desprezavam, agora idolatram o seu “heroísmo” por ter praticado relação sexual com uma mulher limpa e bem aparentada.
Resultado: uma tragédia (a mendicância) soma às outras (doença mental e física) produzindo mais degradação.
4 respostas em “Mendigo, Oscar e as misérias humanas”
Realmente, Ed. Seu texto é tocante, e é triste ver tanta gente metida nessa degradação moral,espiritual,pessoas dizendo que gostam de Bolsonaro e vivem falando de amor e Deus. Will Smith mandou às favas o protocolo e talvez tenha tentado dizer as pessoas que nem tudo deve ser alvo de piada, como, por exemplo, as doenças físicas e mentais das pessoas. Abraços, amigo. Continue a escrever. “Continue a nadar…” Dory, Procurando Nemo
Muito obrigado pelo incentivo, querida Gissele.
Belo texto. Incrível como as pessoas compartilharam tantas piadas, memes, músicas, entrevistas e etc com essa história do mendigo, expondo cada vez mais uma mulher que tem problemas psiquiátricos, um morador de rua em condição de vulnerabilidade social e o marido que também passou por um trauma e agora virou chacota nacional… espero que algum dia possamos ter mais empatia pelos próximos
É um absurdo em todos os sentidos. Tanto o mendigo quanto a mulher foram desrespeitados.