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Sobra dinheiro na UFMA?

Ed Wilson Araújo

Atravessar o portal da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís, é um retorno ao passado.

De cara, vemos o incrível prédio inconcluso e de novo em obras da Biblioteca Central. Uma lenda viva!

Percorrendo as turmas, em tempos de inteligência artificial, são perceptíveis as aulas analógicas. Nos centros de Ciências Sociais (CCSo) e Ciências Humanas (CCH) não temos data show fixo nas salas, a conexão da internet é precária e até os pincéis de escrever nos quadros secam rápido.

A UFMA retrô se manifesta também no autoritarismo – uma forma de governar ad referendum – outra coisa do passado.

Por falar em pretérito, vale lembrar a segunda metade dos anos 1980, quando José Sarney assumiu a Presidência da República, em 1985, após a morte de Tancredo Neves. Nas ruidosas passeatas que saíam da praça Deodoro, atravessavam a rua Grande e desembocavam no Largo do Carmo, uma palavra de ordem sobressaía:

“É claro, é claro, é claro como o dia… a Nova República é a velha burguesia”

E no movimento estudantil, quando só havia um DCE e funcionava, o brado era “Fora Cabral, reitor de general”, alusivo a José Maria Cabral Marques, tempo de gestão da UFMA pilotada pelos resíduos da ditadura militar.

Agora em 2023 estamos diante de uma nova consulta prévia (um tipo de eleição real) para a escolha do(a) próximo(a) reitor ou reitora.

O passado está presente.

A professora pré-candidata Isabel Ibarra Cabrera, três vezes pró-reitora de Ensino (Proen), conhece a máquina administrativa, integra a elite gestora da UFMA e recentemente flexibilizou a relação com o grupo político que domina a Universidade há mais de 10 anos.

Em seus discursos, nota de esclarecimento e postagens nas redes sociais ela vem denunciando o uso excessivo de dinheiro nas campanhas adversárias.

Como tem origens no grupo dominante e conhece bastante a gestão, é o momento ideal para a pré-candidata não só fazer discurso eleitoral, mas prestar um serviço bem mais relevante à Universidade e ao interesse da sociedade, em respeito ao uso de recursos públicos e aos princípios da transparência e publicidade.

Afinal, como diz o poeta William Blake: “O que deseja, mas não age, semeia a peste”.

Ela poderia encaminhar aos órgãos de controle os documentos que comprovam sua afirmação nessa Nota de Esclarecimento:

“… o modo como a UFMA faz a gestão da compra de passagens, modelo este que gera altos custos administrativos e prejuízos para o contribuinte, como nesse caso da viagem que fiz com um valor exorbitante de passagens aéreas”.

A pré-candidata deveria também colocar no debate a situação dos equipamentos da UFMA.

No Centro de Ciências Sociais (CCSo), por exemplo, causa espanto a construção do auditório e da biblioteca setorial. A obra, concluída há vários anos, não pode ser utilizada porque foi mal feita. Está interditada!

O que deveria ser a Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Sociais …

Se isso causa espanto, a outra sensação é de desprezo pelo conhecimento. A biblioteca setorial deveria recepcionar, entre outros equipamentos, centenas de livros dos preciosos acervos particulares doados pelo saudoso jornalista Walter Rodrigues e pela professora doutora Jeanne Marie Machado de Freitas, Livre Docente e Titular do Departamento de Jornalismo e Editoração da USP (Universidade de São Paulo).

Todos esses livros estão amontoados e empoeirados, esperando um lugar para uso.

Talvez a(o) leitor(a) não saiba. Outra obra abandonada no campus do Bacanga, em São Luís, é o Núcleo de Artes, que deveria abrigar os cursos de Música, Teatro e Artes Plásticas.

O Núcleo de Artes seria espaço para abrigar três cursos

Sem falar nas condições rudimentares de vários campi do continente.

Em 2016, quando a UFMA completou 50 anos, criaram o slogan “A Universidade que cresce com inovação e inclusão social.”

Quais os significados de crescer, inovar e incluir?

A sensação espacial é de crescimento mesmo, parecendo um colégio bem grande, com várias unidades continentais e os problemas de uma escola qualquer do interior maranhense.

E quando se fala em inclusão, a realidade choca diante da situação de desprezo pelo Núcleo de Extensão da Vila Embratel (Neve), um equipamento fundamental que atendeu milhares de pessoas pobres da área Itaqui-Bacanga e hoje é a cara do abandono.

Equipamentos sucateados no Neve deveriam capacitar jovens da Vila Embratel

Nas entusiasmadas assembleias departamentais, encaradas com muita dedicação e seriedade pelos docentes, é admirável o zelo com a distribuição das horas, as métricas da produtividade, a nota do curso, os projetos pedagógicos, a curricularização da extensão, a avaliação do MEC…

Aí, no dia seguinte, voltamos à realidade analógica das salas de aula sem data show fixo, a internet precária, alguns ambientes mofados, os laboratórios sucateados, os equipamentos defasados e até os programas de computador ultrapassados…

Dar aula, fazer pesquisa e extensão na UFMA são tarefas de Hércules e, em alguns casos, a labuta de Sísifo.

Somos trabalhadores. Merecemos respeito!

12 respostas em “Sobra dinheiro na UFMA?”

Quando há muitos recursos é possível camuflar os erros cometidos afagando um com uma passagem, outro com uma bolsa, com um aluno para fazer o trabalho numa coordenação que não tem servidor etc. Mas quando não há uma política que alicerce as ações, uma direção a ser seguida, chegamos a caos, que é aprofundado com a falta de recursos! A gestão Mudou os nomes dos setores para dá a impressão de que seria diferente, mas foi apenas mais e do pior! Acredito que vivemos o fim desse modelo equivocado. Que acomunidade acadêmica expresse sua indignação na consulta..parabéns pelo texto

Prezado Ed Wilson, ainda que na Assembleia de Comunicação Social um pré-candidato (Luciano) tenha explicitado que você o apoia e que o seu blog está à disposição de sua campanha, lamento que você aparentemente esteja iniciando uma trajetória de publicação de textos enviesados e parciais. Você sabe e é importante que seus leitores também saibam que a candidatura da professora Isabel Ibarra não é uma aventura pessoal à qual se agregaram seguidores. Em vez disso, ela vai apresentar e representar um programa que foi construído por várias pessoas, inclusive algumas que atualmente apoiam o seu pré-candidato e que decidiram romper com a Frente Ampla, que tem esse nome exatamente por não ser um movimento homogêneo. E que está comprometido, inclusive, em analisar de forma profunda o atual padrão de gastos na e da UFMA. Evidentemente há pessoas que romperam com o grupo do reitor Natalino, mas também há pessoas que sempre fizeram oposição a esse grupo. Eu, por exemplo, que fui candidato a reitor na última consulta e desde que ingressei na UFMA sempre ajudei a combater as políticas autoritárias e sem transparências de todas as pessoas que ocuparam a Administração Superior. Bem diferente, aliás, do seu pré-candidato, que é um “opositor” de última hora, que teve apoio da atual gestão para se eleger diretor do CCH e que até hoje guarda segredo sobre quem apoiou para reitoria em 2019. Você é uma pessoa bem informada e sabe de tudo disso. Como sabe também que entre os apoiadores do seu pré-candidato há várias pessoas que já fizeram parte do grupo do reitor Natalino. Portanto, meu caro, para que você e a agência de notícias que você ajuda a coordenar não se tornem iguais aos meios de comunicação tradicionais do Maranhão, sugiro que façam uma caracterização mais isenta das pré-candidaturas na UFMA. E já que estamos falando (corretamente) também de gastos e abusos de poder econômico e político na UFMA, uma possível boa pauta pode ser o padrão de campanha do seu pré-candidato…

Grato pela leitura e comentário e parabéns pela sua opção. Eu não tenho condições de apoiar uma candidata que passou nove anos na gestão, conhece os métodos e as práticas do natalinismo e só agora decidiu enxergar os erros na administração.

Uma pena que o texto tenha mais a ver com a campanha da professora cubana e pré-candidata Isabel Ibarra Cabrera, do que a intenção clara de denunciar as mazelas que ocorrem no interior do Campus do Bacanga. Como bem diz o texto, a professora participou da Gestão Superior por TRÊS MANDATOS. Fica a pergunta: somente agora, recentemente, percebeu que a UFMA tem problemas sérios que precisam ser urgentemente sanados? Durante esses três mandatos, a professora nada viu de irregular? Se viu, por que preferiu manter o silêncio? Ou, o que fez para reverter essas situações?
Esquisito, né?

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