Fonte: Portal Intercom
Imagem destacada capturada aqui
Pesquisadores(as) e especialistas reunidos no Encontro Latino-Americano de Inteligência Artificial (Khipu 2023), realizado entre os dias 6 e 10 de março na Universidad de La República, em Montevidéu, Uruguai, divulgaram uma declaração sobre o impacto da inteligência artificial (IA) na América Latina.
O texto, que já foi assinado por mais de 300 pessoas, elenca preocupações com o avanço da IA e ações consideradas fundamentais para que seu impacto na região seja o mais positivo possível, tais como: garantia dos direitos humanos; melhoria das condições de trabalho e combate ao desemprego; integração cultural e participação latino-americana no desenvolvimento de tecnologia; e soberania dos países da região para regulamentação da IA.
Confira abaixo a declaração na íntegra.
Confira todos(as) os(as) signatários(as) aqui e, para assinar a declaração, acesse este formulário.
DECLARAÇÃO DE MONTEVIDÉU SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SEU IMPACTO NA AMÉRICA LATINA
Montevidéu, 10 de março de 2023
Os abaixo assinados, inicialmente reunidos na Khipu, o Encontro Latino-Americano de Inteligência Artificial, conhecemos o potencial produtivo dos sistemas de inteligência artificial, bem como os riscos que acarretam seu crescimento impensado. Em nosso papel como pesquisadores e desenvolvedores desses sistemas afirmamos que:
● As tecnologias em geral e os sistemas de Inteligência Artificial (IA), em particular, devem ser colocados ao serviço dos seres humanos. A melhoria da qualidade de vida, das condições laborais, econômicas, de saúde e bem-estar geral devem ser a nossa prioridade.
● A implementação da IA deve obedecer aos princípios orientadores dos Direitos Humanos, isto é, respeitar e representar diferenças culturais, geográficas, econômicas, ideológicas, religiosas, entre outras, e não reforçar estereótipos que aprofundem desigualdades.
● Por definição, a IA não deve prejudicar os seres humanos, e seu impacto ambiental deve ser minimizado. A avaliação e mitigação de riscos e impactos devem fazer parte do processo de concepção e devemos implementar ferramentas para prevenir, detectar muito cedo ou mesmo suspender a implementação de tecnologias cujos riscos são inaceitáveis.
● O impacto dessas tecnologias no emprego é um assunto que requer preocupação. A melhoria da produtividade deve ter uma correlação direta com a melhoria das condições de trabalho e da qualidade do trabalho, com atenção especial às populações mais vulneráveis. Qualquer transformação do mercado de trabalho deve dar atenção prioritária ao problema do desemprego e da precariedade, com medidas proativas e eficazes.
● A diversidade cultural deve ser tida em conta nos processos de concepção e treinamento de modelos de IA, já que o comportamento humano é moldado por diversos contextos. Caso contrário, corre-se o risco de excluir e minimizar o patrimônio cultural latino-americano que reivindicamos.
● É urgente integrar plenamente as particularidades das culturas latino-americanas na criação de tecnologias de IA para a região; uma criação pensada para e com latino-americanos, valorizando sua participação na pesquisa e no desenvolvimento, e não apenas como meros produtores de dados brutos ou anotações manuais de baixo valor agregado.
● É fundamental avançar na maior soberania dos países latino-americanos em relação às questões estratégicas e à regulamentação da IA. Esforços para formar pessoas do mais alto nível e desenvolver o pensamento crítico, como Khipu, são cruciais para essa soberania.
Propomos desenvolver critérios e padrões que nos permitam classificar essas tecnologias de acordo com seus riscos, de forma clara e transparente, a fim de promover políticas públicas que protejam o bem comum, sem obstruir os benefícios do desenvolvimento tecnológico. Desde a concepção de uma solução tecnológica baseada em IA, e não após a sua criação, devemos perguntar qual é o valor social que ela traz e os riscos envolvidos, com um olhar informado sobre a idiossincrasia latino-americana. Também é necessário analisar e comunicar honestamente suas limitações, sem exagerar suas capacidades ou fazer falsas promessas. Não há valor social em tecnologias que simplificam tarefas para poucos, gerando alto risco à dignidade de muitos, limitando as suas possibilidades de desenvolvimento e seu acesso aos recursos.