Ed Wilson Araújo
A morte de Pelé inspira dizer que temos um rei da política. É Lula. Ele chega ao terceiro mandato superando a prisão, as perdas de um neto, da ex-esposa Marisa Letícia e de um irmão.
Um ser humano que passou por tudo isso e se apaixona, casa novamente, fala de amor, refaz a vida, ganha uma eleição de forma épica e volta ao palco principal da política admirado no mundo inteiro não é só uma pessoa, é uma entidade, um corpo político coletivo, uma ideia que não pode ser aprisionada.
Quando ele partir, ficará o lulismo, símbolo do pragmatismo humanitário porque fez a opção pelos pobres.
Ao anunciar o ministério completo, Lula fez analogia ao time escalado por Tite para a Copa do Mundo de 2022. O técnico da seleção brasileira convocou os melhores craques, mas não levou a taça.
No fim da apresentação da sua equipe ministerial, deu o recado: vamos ganhar.
A política é feita de contradições. No time de Lula há uma composição heterogênea, da esquerda a uma parte do Centrão, corroborando a tática eleitoral na estratégia da governabilidade.
Lula é o Pelé da política, mas não é santo. Ele foi candidato a presidente e não ao papado. Por isso está correto na composição do governo com uma parte dos seus algozes.
O ministério, apesar de algumas impurezas, está hegemonizado pelo campo democrático-popular em uma conjuntura de desafios gigantes.
E não basta fazer uma boa gestão. É preciso bloquear o avanço da extrema direita, que foi derrotada eleitoralmente, mas está viva na mentalidade do eleitorado, parte dele incauto e a outra banda fanática.
Eis o sentido mais apropriado para discutir o papel do Partido dos Trabalhadores na perspectiva da hegemonia na Frente Ampla e do seu maior desafio – recompor a democracia no Brasil.
Lula entra na História como o maior presidente de todos os tempos; no entanto, ele vai passar e o partido segue.
O que será do PT sem Lula?
Tudo mudou profundamente das origens da legenda até o impeachment da presidenta Dilma Roussef.
Ao longo desse tempo, o partido não tinha experimentado o golpe, os níveis grotescos de desinformação e o crescimento da extrema direita turbinado pela nova cultura do mundo digital.
Esse novo cenário impõe ao partido alguns desafios e velhas lições do passado: retomar o trabalho de base, zelar pelo primado da formação política, compreender e agir sobre os mundos evangélico e digital.
Apenas o partido burocrático e de mandatos não vai dar conta de atenuar a avalanche dos conservadorismos tradicional e surreal.
Olhemos para os evangélicos em um domingo de sol, caminhando de casa em casa, entregando panfletos, conversando com as pessoas…
Esses indivíduos mais simples alimentam gigantescas estruturas de poder econômico e religioso disseminados nas igrejas neopentecostais e nos pastores pop star, habilidosos nos usos e abusos das redes sociais.
Lula é um fenômeno de popularidade sem nunca ter usado um e_mail. Não haverá outra liderança nas esquerdas com esse perfil nos próximos 100 anos.
Enquanto o campo democrático apega-se ao lulismo, centenas de pastores influenciadores vão surgindo a cada dia, obtendo um crescimento assustador entre a juventude, principalmente.
Mas os crentes também fazem eventos presenciais, distribuem folhetos nas ruas e paradas de ônibus. É uma militância permanente, incansável e metódica.
Sem as ruas, a formação política e a inserção no mundo digital o PT olha ainda atônito as habilidades perversas dos seus inimigos.
A grande tarefa do partido, como intelectual orgânico coletivo, passa por uma retomada do seu sentido primordial de ser uma chama permanente de esperança, palavra que alimenta sonhos, mas se realiza também na materialidade da política feita de gente olhando face a face e à distância, pelas telas.
Tomando de empréstimo a letra de um jingle “São milhões de Lulas povoando esse Brasil”, seria o caso de emendar: são milhões de militantes antenados por esse Brasil.
O PT precisa sempre pensar grande. E agora é perceber que necessitamos ser maiores que Lula.
Imagem destacada: multidão vestida com tons de vermelho estica sobre a cabeça bandeiras gigantes do Brasil, durante ato da campanha eleitoral de 2022, em Teresina (PI). Foto: Ricardo Stuckert
6 respostas em “O PT maior que Lula em 2026”
maior que lula seja a minha classe
consciente do que lhe falta fazer:
na luta – e por toda a humanidade
superar o deus capital e seu poder
se quisermos mesmo a verdade
(sempre maior que lula e o pt)
Eita rima porreta!
Brilhante leitura política. O desafio é esse: PT do tamanho de LULA em 2026. Desafio do PT e do próprio LULA.
Obrigado, avante!
Para q o PT seja maior q o Lula em 2026 é preciso q as suas estruturas sejam permeáveis, capazes de refletir sobre as grandes questões políticas do momento e favorecer o surgimento de novas lideranças. O grande mérito de Lula é saber ouvir os reclames do povo, antes de tudo, e aprender com eles.
O PT precisa ser essa organização q aprende.
“- Quem estará contigo na trincheira?
– E isso importa?
– Mais do que a própria guerra!
(Ernst Hemingway)