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Pela vida e pela paz no campo maranhense

Yndara Vasques, comunicóloga e empreendedora no Jornalismo Social

O Maranhão terá uma semana movimentada. Duas grandes ações de combate à violência no campo serão realizadas: a Comissão Nacional dos Bispos estará em MISSÃO por meio do Mutirão pela Vida dos Povos do Maranhão Enfrentamento à Violência no Campo e a realização da AUDIÊNCIA “Violência no Maranhão”. Uma organização do Conselho Nacional de Direitos Humanos e da Frente de Proteção Integrada do Maranhão FPI (Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Defensoria Pública da União e Defensoria Pública do Estado do Maranhão).

São ações importantes e estratégicas que funcionam como instrumento de pressão e de proposição de políticas públicas que visam diminuir os conflitos no meio rural. Ações que semeiam o esperançar e enchem de esperança grupos étnico-raciais, minorias políticas e classes econômicas subalternizadas, como povos indígenas, quilombolas,  quebradeiras de coco babaçu, população negra, sertanejos, pequenos agricultores e trabalhadores rurais.

São ações que se somam a decisões judiciais como a recente sentença da Justiça Federal que arquivou o inquérito policial contra oito indígenas da etnia Akroá Gamella, sediados em Viana, na Baixada maranhens. O inquérito foi estruturado a partir de um absurdo jurídico e do racismo institucional. Com rara exceção, em relação a maneira arbitrária  e violenta como o Executivo, Legislativo e Judiciário tratam a MINORIA, o inquérito foi arquivado, afastou a criminalização dos indígenas, garantiu Direitos aos povos originários, além de tratar o caso de forma coletiva.

E quando trago o conceito de MINORIA trago a reflexão de que o histórico no país a trata como aquela sem ausência de poder do que como quantitativo populacional. É a recorrente tentativa de nos fazer crer que tudo isso é natural. Tão natural e banalizada como querem tornar comum à violência e a mortes oriundas dos conflitos fundiários e da defesa dos biomas que constituem a riqueza natural do nosso país. Não se pode admitir o direito à propriedade, em detrimento do direito à vida.

A violência no campo é elitizada, difusa, política, simbólica, com alto grau de letalidade e com agentes “legitimados”. Por meio do “modelo de desenvolvimento”, baseado no latifúndio, devastam a biodiversidade, exploram as riquezas minerais, os recursos hídricos e desrespeitam povos dos campos, das águas e das florestas.

O poder econômico dita as normas. Pistoleiros e milícias organizadas, formada com participação das polícias civis e militares, são contratados por uma minoria para amedrontar e matar a maioria. O mesmo dinheiro que mata é o que serve para aparelhar a máquina repressiva estatal e comprar a omissão de membros do Judiciário, o que reforça o caráter de impunidade. Há ainda o raro acesso dessas populações a esse Poder, resultando em uma descrença na eficácia da Justiça para resolver conflitos ou mesmo para garantir direitos constitucionais, como o direito da função social da terra.

É preciso desconcentrar terra e poder. É preciso garantir a segurança dos povos e comunidades tradicionais, dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e suas famílias. É preciso implementar mecanismos punitivos mais eficientes, garantindo julgamento e condenação, acabando com a impunidade. É preciso que os Direitos Sociais e Fundamentais sejam predominantes em detrimento dos interesses pessoais, financeiros e políticos que  exploram, escravizam, ameaçam, torturam e matam aqueles e aquelas que ousam lutar contra esses privilégios.

Enquanto sonhamos com essa realidade, é preciso tornar ainda mais comum a realização de audiências públicas e missões que denunciem tais violações de direitos humanos e do não acesso à terra sofrida pelas minorias.

Bem-vindos a essa terra diversa pela cultura, pelo bioma, por sua gente!

Imagem destacada: Mulher observa casa destruída na zona rural do Maranhão / Foto: Yndara Vasques

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