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Detalhes tão pequenos de nós três: Miriam Leitão, o filho-repórter da Rede Globo e a nora no golpe contra a democracia no Brasil

Muita coisa ainda precisa ser explicada para montar o quebra-cabeças do impeachment da presidenta Dilma Roussef, em 2016, seguido da condenação e prisão do ex-presidente Lula, em 2018.

Os dois fatos, combinados, revelam uma armação grotesca do parlamento, do judiciário e da mídia para destruir as instituições brasileiras, atropelando o Estado Democrático de Direito e os princípios elementares da República.

Parte do golpe é computado à ação coordenada dos meios de comunicação, sob a liderança das Organizações Globo, tendo amplo apoio dos outros conglomerados de mídia.

A operação Lava Jato, hoje totalmente desmoralizada, teve seus momentos de glória nas escaladas dos telejornais globais, onde pontificavam várias personagens elevadas à condição de portadores da verdade.

Uma delas é a estrelada Miriam Leitão, voz autorizada do jornalismo econômico, atuando na Rede Globo como franco-atiradora encarregada de estraçalhar todos os dias a política econômica dos governos do PT.

Miriam Leitão é a mãe do repórter Vladimir Neto, autor de um livro que se tornou uma espécie de “bíblia” da Lava Jato.

Miriam Leitão, Sergio Moro e Vladimir Netto celebrando o best seller

O livrão de capa branca e título em letras pretas garrafais tem na estampa uma foto do ex-juiz Sergio Moro olhando para o alto, como se estivesse encarando o próprio Deus.

Intitulado “Lava Jato: o juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”, o livro é uma xaropada de elogios ao magistrado.

Capa do best seller de Vladimir Neto: a bíblia da Lava Jato

A obra inclusive serviu de inspiração para a série “O mecanismo”, dirigido por José Padilha, efusivamente lançada antes da eleição presidencial de 2018, no auge da onda lavajateira que tomava conta dos país.

No seu best seller de bajulação a Sergio Moro, o filho de Miriam Leitão retrata o magistrado como um profissional que age com “rigor e coragem” ao conduzir a Lava Jato “com maestria” e como integrante de uma geração de juízes “que trabalha com afinco em busca de resultados”.

Moro é tratado no livro de Vladimir Netto como juiz de resultados

Outro detalhe importante: o filho de Miriam Leitão, Vladimir Netto, é casado com a jornalista Giselly Siqueira, uma profissional da informação que ocupou cargos estratégicos no sistema de justiça brasileiro, conforme abaixo:

  • Assessora de Imprensa da OM Comunicação, de agosto de 1999 a novembro 2001, sendo essa empresa a responsável pelas ações de divulgação da Ajufe (Associação dos Juízes Federais), corporação onde atuava o ex-juiz Sergio Moro;
  • Secretária de Comunicação do Ministério Público Federal / PGR, de agosto de 2005 a agosto de 2013, nas gestões de Antônio Fernando de Sousa e Roberto Gurgel, no período da Ação Penal 470 (Mensalão) e Ação Penal 707 (Caixa de Pandora);
  • Secretária de Comunicação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de agosto de 2014 a julho de 2016, na gestão de Ricardo Lewandowski; 
  • Assessora-chefa de Comunicação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de julho 2016 a fevereiro de 2018, durante a gestão de Gilmar Mendes;

Em seu perfil no Linkedin, Giselly se apresenta como Consultora na “Vnetto” Comunicação. Em tempos de pejotização, “Vnetto” é a abreviatura de “Vladimir Netto”.

Quando Sergio Moro deixou a Lava Jato para assumir o Ministério da Justiça, a convite do presidente Jair Bolsonaro, adivinhe caro(a) leitor(a), quem foi convidada para assumir a Assessoria Especial de Comunicação?

Ela mesma, Giselly Siqueira, a esposa de Vladimir Netto e nora de Miriam Leitão.

Sua permanência na chefia da comunicação do ministro Sergio Moro foi rápida. Ela pediu demissão em julho de 2019, no auge das revelações da Vaza Jato pelo The Intercept Brasil, apontando o ex-juiz da República de Curitiba como peça central de um conluio operado junto aos procuradores da Lava Jato, tendo Deltan Dallagnol como principal interlocutor, com o objetivo de condenar sem provas e prender o ex-presidente Lula.

Os fatos concretos são esses:

1 – Miriam Leitão, comentarista de ponta da Rede Globo, atuou para dinamitar a política econômica dos governos petistas;

2 – Vladimir Netto, filho de Miriam Leitão, escreveu um tratado de puxa-saquismo do então juiz Sergio Moro, obra tratada como a “bíblia” da Lava Jato;

3 – A jornalista Giselly Siqueira, ocupante de cargos influentes no sistema de justiça, teria informações privilegiadas sobre investigações.

Por fim, cabe uma pergunta: imagine um jantar em família na casa de Miriam Leitão, com o filho e a nora… sobre o que eles conversavam nos anos de 2016 a 2018?

Miriam Leitão só não imaginava que o golpe desembocaria em Jair Bolsonaro. Então, ela própria passou a ser alvo das hostilidades e da intolerância do monstro que, direta ou indiretamente, ajudou a criar.

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Ataque ao Jornalismo é estratégico para o bolsonarismo

Ed Wilson Araújo

Entre as variadas capacidades de produzir aberrações, Jair Bolsonaro vem fazendo sucessivos ataques não só aos repórteres que cobrem o presidente e os atos governamentais. Seu alvo maior é a instituição Jornalismo e, paralelamente, a Ciência.

São ataques frontais às duas formas de produção de conhecimento que o bolsonarismo quer “dispensar”.

Quando desqualifica a Folha de São Paulo e agride as Organizações Globo, duas empresas afinadas com a direita e o liberalismo, Bolsonaro quer colocar na vala comum o Jornalismo.

Há uma orientação planejada dentro do governo para que algumas figuras, lideradas pelo presidente, façam ataques diretos aos repórteres com o claro objetivo de desqualificar a profissão de jornalista e os conteúdos veiculados nos meios de comunicação.

Nem Miriam Leitão, uma legítima representante da direita sofisticada, cogitou na pior das hipóteses ser vítima de algo tão grotesco como a última agressão de Bolsonaro aos jornalistas: “raça em extinção”.

O objetivo é claro: desqualificar os relatos jornalísticos e trocá-los pela crença ou fakenews. Soma a isso a negação da Ciência. Combinadas, essas duas violências germinam uma legião de fanáticos que só enxergam e entendem o que querem ver e “saber”, independente da verdade ou das provas concretas.

Bolsonaro é o representante máximo do obscurantismo que dispensa o Jornalismo como forma de mediação social. Ele vai direto ao seu público, sem intermediários, fala o que quer, sem filtros, e mente o quanto pode.

Não basta mentir. Tem de desqualificar o Jornalismo e a Ciência.

O bolsonarismo elegeu, entre seus inimigos, o Jornalismo como forma de conhecimento da realidade. Por outro lado, ataca a Universidade e tudo que a institucionalidade acadêmica representa: ensino, pesquisa, extensão, criatividade e pensamento crítico.

Onde não há instituições, brota a barbárie. O ataque ao Jornalismo visa destruir um dos pilares da democracia.

Não por acaso o espírito lavajateiro cresceu junto com a onda bolsonarista embalada na mentira.

Os movimentos de contornos fascistas repetem uma tragédia anunciada. A ciência, a política e a estética livre são inimigos primordiais dos intolerantes, avessos à verdade e ao encantamento.

O espelho deles quebra quando encaram os fatos concretos da realidade.

Assim, fizeram campanha disseminando fakenews. É uma forma de piorar as coisas. Se outrora manipulavam os fatos para distorcer os enredos, agora retrocedem ao nível da mentira deslavada.

A onda obscurantista é desumana. Os propagandistas de fakenews, do terraplanismo e de outras aberrações como a ineficiência da vacina são capazes de negar até a própria existência, embora haja testemunhas oculares do parto e o registro do nascimento em cartório. Contra Descartes, diriam: “minto; logo, não existo”.

Os movimentos de inspiração fascista são um terreno infértil, onde só brota o ódio e a intolerância. A verdade é uma ofensa. Eles não conseguem sequer lidar com um princípio básico do Iluminismo aplicado ao Jornalismo – a transparência, uma conquista da Modernidade no curso das revoluções burguesas.

Imagem destacada / Foto: Evaristo Sá / AFP