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Turismo: Café Donzelo é atração especial na Serra da Ibiapaba

Foto: Site do Espaço Tuturubá

Quem imagina o Nordeste apenas com sol, calor e praias, precisa ser surpreendido pelo friozinho gostoso da Serra da Ibiapaba, no Ceará.

As belezas do lugar ultrapassam as paisagens exuberantes que a estrada proporciona, surpreendendo a cada momento os viajantes e moradores desse belo território povoado de cidades pequenas e aconchegantes.

Para contratar viagens, fale com o guia Daniel Castro (@danielguiatour), que faz pacotes tanto para a região serrana quanto para o litoral (Camocim e Jericoaquara).

Em Viçosa, por exemplo, não deixe de fora a padaria e restaurante Pão da Vida, parada obrigatória para fazer um delicioso lanche e logo depois visitar a Igreja do Céu ou Nossa Senhora das Vitórias, um lugar incrível de religiosidade e vista panorâmica da encantadora cidade.

Viçosa também é conhecida pelos engenhos de produção de cachaça artesanal e pelo Festival do Mel, Chorinho e Cachaça, realizado em junho.

Já Ubajara tem opções de trilhas, banhos de cachoeira, mirantes e passeio de teleférico (bondinho), seguido de visitação a uma caverna misteriosa.

O café da serra

Outra atração imperdível em Ubajara é o Espaço Tuturubá, uma cafeteria artesanal muito aprazível, onde você pode ter uma boa prosa com Francisco José Gomes, produtor do saboroso Café Donzelo.

“Aqui é um espaço para jogar conversa fora”, convida Gomes.

O Espaço Tuturubá fica 870 metros de altura em relação ao nível do mar, na Serra da Ibiapaba, região propícia para o cultivo do café arábico em área sombreada pela mata.

A produção é totalmente artesanal.

Para falar sobre o Café Donzelo, Francisco Gomes busca as memórias dos seus antepassados para contar sobre a riqueza de alimentos da serra, lugar de acolhida dos sertanejos fugidos da fome e da seca.

“A serra tem alimento o ano inteiro”, orgulha-se o cafeicultor.

As origens do Café Donzelo estão naquele tempo em que os agricultores se reuniam depois da colheita para pilar o café, ou seja, separar a casca do grão e depois fazer a torra utilizando a trempa (fogueira com três pedras grandes) e um tipo de madeira especial queimar.

A peneira e o alguidar também compunham a maquinaria cafeeira muito presente na Serra da Ibiapaba.

Os antepassados de Francisco Gomes tinham uns requintes especiais e segredos no ato de preparar um delicioso café, apreciado pela vizinhança pelo cheiro e sabor deliciosos.

Depois de ler esse texto, você ficou curioso para saber o porquê do nome Café Donzelo??

Mate sua curiosidade assistindo aos dois vídeos abaixo:

Francisco Gomes: prosa e café na Serra da Ibiapaba
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Índios, farinha e os franceses nos primórdios de São Luís

Ed Wilson Araújo

As origens de São Luís são contadas por duas narrativas. Uma parte dos historiadores sustenta a tese da fundação e colonização portuguesa. Outros estudiosos argumentam a primazia dos franceses.

Na minha condição de simples jornalista eu não me atrevo a opinar sobre as duas versões nem tenho conhecimento teórico para aderir a nenhuma delas.

Meu interesse pontual nesse texto é apenas resenhar a importância da farinha na relação entre os franceses e os índios do Maranhão, quando da tentativa de implantar aqui a França Equinocial, no início do século XVII.

Os relatos estão presentes na obra “Os papagaios amarelos”, de Maurice Pianzola, uma das referências bibliográficas para entender, em parte, a fundação da cidade.

Pianzola fundamenta seu relato baseado em cartas, documentos e registros dos conquistadores, entre eles o monge Yves d’Évreux, o padre Claude d’Abbeville, o cavaleiro (tenente-coronel) François de Razilly, o tenente-general Daniel de La Touche (senhor de La Ravardière) e o nobre Charles de Voux, entre outros.

Um dos trechos da obra de Pianzola faz referência à farinha como ingrediente essencial da guerra, que incluía também a habilidade dos índios na fabricação de canoas para o deslocamento entre os rios.

“Delibera-se, e é para constatar que resta justo o suficiente de farinha para a viagem de volta ao Maranhão. É preciso dar marcha à ré com todo o exército, deixando apenas uma antena composta de dois escravos tabajaras munidos de farinha para um mês…” (p. 72)

Ao discorrer sobre o deslocamento dos franceses no reconhecimento do território e na conquista dos povos indígenas, Maurice Pianzola diz:

“Trata-se realmente de uma expedição guerreira, posto que se propõe a ir mais além dos territórios ocupados pelos tupinambás, aliados tradicionais dos franceses.

A partir desse momento, nosso capuchinho não mais sairá da praça da aldeia. Quer ver tudo com os próprios olhos e compreender tudo. Passa horas entre as mulheres e as moças que enchem cofos de farinha de mandioca depois de terem-na torrado mais tempo do que normalmente, e misturam-na com especiarias para conservá-la. Prova a farinha fazendo careta, em meio aos risos, pois acha-a menos saborosa do que a farinha fresca, mas sem dúvida alguma de mais leve digestão.” (p. 74)

No tópico “Da partida dos franceses para ir ao Amazonas”, o autor descreve a expedição comandada por Daniel de La Touche, citando uma carta do capuchinho Yves d’Évreux:

“No ano, pois, de mil seiscentos e treze, no mês de julho no oitavo dia, o senhor de La Ravardière partiu do porto de Santa Maria do Maranhão, saudado por vários canhoneiros e mosquetaços disparados do forte de São Luís, como é hábito entre a gente de guerra, levando consigo quarenta bons soldados e dez marinheiros.”

Leva também, à guisa de reféns e segundo o costume nunca se sabe o que pode acontecer, vinte dos “principais selvagens”, e sua lancha, escoltada por algumas canoas indígenas, margeia prudentemente a costa e mete-se entre um rosário de ilhas e arrecifes. Arriba primeiro em Cumá, onde esperam por ele várias canoas carregadas de guerreiros e farinha, e depois chega aos Caietés, onde estão agrupadas vinte aldeias tupinambás.” (p. 76)

Como se pode observar, a farinha originária da cultura alimentar indígena está presente na segurança nutricional do povo Maranhense desde os primórdios da colonização, sendo um mantimento indispensável para abastecer as aldeias e os conquistadores nos processos de luta, dominação e resistência.

REFERÊNCIA

PIANZOLA, Maurice. Os papagaios amarelos. Brasília: Senado Federal, 2008

Imagem destacada / ilustração da chegada dos franceses em São Luís