Por Licia Cristina da Hora, professora do Instituto Federal do Maranhão (IFMA).
Roda de conversa, leitura, escuta e música no vinil integram a programação de “Poéticas: Mulheres e Memórias”, sexta-feira (12), das 18h às 20h, no Low.
No comando da organização deste evento está um grupo de mulheres escritoras e artistas (veja imagem destacada). Elas articularam o espaço da arte, poesia e música para se sentarem à calçada e bater um papo sem pressa sobre suas ancestrais.
O local do evento é a casa de música Low, um Clube de Vinil recém inaugurado, no bairro Cohajap. O espaço tem realizado encontros de pessoas para ouvir música ao modo antigo, só no vinil. Em 2024 o Low promoverá atividades com outras linguagens artísticas articuladas com a música no “velho” tocador analógico.
Nesta primeira sessão de “Poéticas: Mulheres e Memórias” contamos com as autoras Rai Soares, Carol Libério, Áurea Maranhão e Jane Maciel. Veja o perfil das obras e das autoras:
“A Mulher que pariu um peixe”, de Rai Soares, é um livro sobre memórias, de muitas histórias que a avó da autora contava no povoado de Campinho, em Pinheiro. Severa Rosa é o nome da guardadora de memórias. Rai se entrelaça na narrativa destas histórias, ora como Neta, ora como mulher, se apropriando das lições de sua avó, olhando a firmeza e coragem de Severa em um tempo que os negros começavam a aprender o que era liberdade. Este livro nos apresenta uma linguagem típica da baixada maranhense, delicioso de ler e contar, mas é também um livro que nos convoca a pensar sobre o quanto nossas ancestrais caminharam para que nós mulheres estivéssemos no lugar que hoje lutamos para avançar.
Rai Soares é maranhense, neta de Severa Rosa, mãe de Pedro e Akil, professora da UFF. Escreve contos, poesias e se aventura pela pintura e desenho.
“Herança”, de Carol Libério e Áurea Maranhão, é uma obra resultante de uma pesquisa realizada entre os anos de 2015 e 2016, dando origem a uma exposição fotográfica que ocorreu na Galeria Sesc. É um livro sobre as trajetórias das avós das autoras, mas não somente, é também um livro de memórias de crianças, adolescentes e de mulheres adultas na vivência poética, afetuosa, contraditória e de luto de Carol com Vitória e de Áurea com Maria Elza. No livro a audiência vai encontrar uma fotografia linda destas quatro mulheres reunidas. A escrita, com várias imagens ao longo da obra, nos aproxima de lugares, cheiros, sensações, risadas e da dor do luto. A narrativa nos convida a pensar sobre quem somos e no que nos tornamos a partir de nossas avós. É um livro de heranças, no melhor sentido da partilha da vida. Não é sobre dividir bens, é sobre como preservar memórias.
Carol Libério é neta de Vitória, mãe de Lila, fotógrafa, poeta e professora da UFMA.
Áurea Maranhão é neta de Maria Elza, mãe de Antônio, atriz e diretora de filmes.
“O Ritornelo”, de Jane Maciel, chega nesta roda de mulheres para tecer o tempo, o ritmo, o movimento do olhar sobre o cotidiano, sobre as ruas, a natureza e a vida. “O Ritornelo” poderia ser um convite de Severa, de Vitória e Maria Elza para contemplar a vida de uma forma desapressada. Jane escreveu este livro de poesia por anos, sem pressa de publicá-lo. A autora reúne nesta obra poemas que estimulam experiências sensoriais, ela pede silêncio, depois o grito surdo, em seguida nos diz: respira calmamente! Pede para sonhar e relembrar, intuir, abrir o peito e lamber feridas. “é tão preciosa a experiência que é preciso salvá-la a cada segundo” (O Ritornelo).
Jane Maciel é mãe de Diana, poeta, fotógrafa e professora da UFMA.
Pensando bem, eu acho mesmo que estes livros são um convite das nossas avós pra gente se sentar na beira da calçada com muita parcimônia e observar o que se passa diante dos nossos olhos.
Vamos escutar o que estas mulheres têm a nos dizer e vamos dialogar com elas.
Veja abaixo o material de divulgação do evento: