A sessão de autógrafos acontece nesta sexta-feira (12), às 18h, no auditório Mário Meireles, no Centro de Ciências Humanas (CCSo-UFMA), após lançamentos em Manaus (onde ele é professor de História da Música na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Santarém, Belém, Porto Velho e Boa Vista.
Este livro mergulha fundo na história dos trabalhadores músicos amazonenses. Propõe-se investigar as transformações históricas produzidas por estes músicos no processo de sua integração dependente e monopolística ao capital global. A música amazonense desenvolveu-se através das transformações nas formas de produção e reprodução da vida material, processos de imigração vertiginosos e por meio de novas relações de produção, distribuição, troca e consumo de música.
Gradativamente, novos estilos e padrões de instrumentação alinhados com a indústria capitalista da música foram se estabelecendo. Na década de 80, quando ocorreu o fenômeno de produção discográfica da música amazonense, os trabalhadores músicos migrantes já viviam em Manaus vivenciando a música popular urbana assim como sua influência sobre o meio rural.
A experiência de vida dos músicos amazonenses é de grande importância na construção deste conhecimento histórico, pois revela a transformação da região, que foi de uma situação de ruralidade pré-industrial a uma formação urbano-industrial dependente, moderna e globalizada. Os músicos dessa geração viveram essa transição, pois nasceram em cidades do interior do Amazonas e construíram suas vidas na capital Manaus, sem abandonar os vínculos com suas cidades natais. Os saberes, costumes e práticas culturais das populações rurais em fluxo migratório a Manaus passaram por transformações próprias do processo de desenvolvimento integrativo da região ao capitalismo monopolista. É no sentido da valorização desta construção que sustentamos esta investigação.
A imigração é um determinante importante nesse trabalho pois revela um intercâmbio musical significativo entre a geração de músicos que tocavam na cidade e nos interiores. No texto, é possível observar a trajetória histórica dos músicos migrantes que chegaram no Amazonas assim como daqueles que saíram do estado em função de sua inserção na produção fonográfica.
A condição de migrantes destes músicos permite pensar sua música como um processo em movimento dialético dentro da expansão capitalista da reiião e não apenas como uma tradição cultural fechada.
Tal circulação musical ocorre no mercado musical formado entre as apresentações realizadas na capital Manaus a partir dos anos 50, dentro dos clubes, hotéis, boates e lupanares, e as cidades dos interiores no contexto das festas de santo e outras ocasiões festivas. O papel da indústria, da rádio e do comércio local também são considerados elementos fundamentais no conjunto geral da luta de classes vivenciada por esta parcela da classe trabalhadora.
O conjunto factual levantado nos últimos anos levou a produção do livro Das Beiradas ao Beiradão: a música dos trabalhadores migrantes do Amazonas. Através de uma historiografia marxista da música nosso caminho metodológico sinaliza um novo conjunto de determinações significativas, enriquecendo definitivamente as investigações já realizadas até este momento.
Bernardo Mesquita é professor de história da música brasileira pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Coordenador do canal Música na Práxis.