Publicado no site do NPC (Núcleo Piratininga de Comunicação)
[Por Sérgio Domingues] Bobby Sands era a principal liderança da comunidade dos homens-cobertor, criada na prisão de Long Kesh, em Belfast, em 1978. Ele e seus companheiros protestavam espalhando suas fezes nas celas que ocupavam.
É o que relata o livro “Vivendo nas Fronteiras do Capitalismo”, de Denis O’Hearn e Andrej Grubačić. Mas a resistência desses militantes do Exército Republicano Irlandês (IRA) também produziu momentos bonitos.
A atividade noturna favorita dos detentos era o “livro da hora de dormir”, em que os melhores narradores contavam histórias depois que os guardas deixavam a ala.
Do interior de suas celas, eles gritavam seus relatos, enquanto o restante ouvia e comentava.
Quando a história era boa, a narração podia se arrastar por muitas noites. Incluíam desde biografias de lideranças indígenas às aventuras de um desertor da marinha americana no Vietnã.
Dezenas de prisioneiros contrabandeavam centenas de histórias, poemas e desenhos todas as semanas. A produção cultural foi uma forma importante utilizada pelos homens-cobertores para se apropriar dos espaços prisionais e travar o confronto coletivo com as autoridades.
Sands compôs de cabeça o poema épico “O Crime de Castlereagh”, com mais de cem versos. Além de recitá-los para seus companheiros, ele os escreveu em papéis de cigarro e conseguiu contrabandeá-los para serem publicados.
Em 1980, Sands elegeu-se para o parlamento britânico, mesmo estando na prisão. Mas, logo depois, ele e mais nove companheiros morreriam em uma greve de fome.
Uma linda história de resistência em meio a tanta imundície. Não à toa, Sands costumava dizer a seus companheiros que aquilo que haviam construído era o mais perto que chegariam de um verdadeiro comunismo.