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Comunidade “Formiga” enfrenta o agronegócio em Anapurus, no Baixo Parnaíba

Há cerca de 150 anos, as famílias originárias de Francisco Rodrigues do Nascimento e Maria Rodrigues do Nascimento vivem e produzem na localidade Formiga, na zona rural de Anapurus, no Baixo Parnaíba maranhense.

Atualmente, na área de 325 hectares os herdeiros cultivam pequena criação de gado, roça de mandioca, milho, arroz e feijão. A subsistência conta ainda com as criações de porco, galinha e bode, além de toda a riqueza de frutas nativas do cerrado: bacuri, pequi, murici, mangaba, côco, manga, buriti, goiaba, laranja, jenipapo, jaca, cana de açúcar, caju, tanja, banana, mamão, abacate, acerola, limão, cajá, palmito etc.

Todo o patrimônio dos descendentes ao longo do tempo foi construído com muito trabalho e a merecida paz, vivendo em harmonia com os recursos naturais. Mas, o sossego da família Nascimento foi interrompido em 2006, quando uma suposta venda de 148 hectares – parte do total de 325 hectares – provocou um conflito com a empresa Comercial e Agrícola Paineiras, subsidiária da Suzano Papel e Celulose.

Getúlio e Eva denunciam a violência contra as suas famílias

Um dos herdeiros da sesquicentenária família do povoado Formiga, Getúlio Rodrigues do Nascimento, 60 anos, explica que após a suposta venda houve duas tentativas de tomada irregular da área de 148 hectares. Na primeira vez a empresa que se apresentava como nova proprietária mandou retirar o arame da cerca, as telhas, a madeira e as portas de duas casas construídas no terreno e em seguida derrubou as habitações. Na segunda tentativa houve apenas o corte do arame. Nos dois episódios, segundo Getúlio Nascimento, a empresa não apresentou ordem judicial nem qualquer documento comprovando a aquisição da área.

Diante da violência, os herdeiros entraram com ação na Justiça para impedir novas investidas da empresa para tomar as terras. O litígio prossegue, sem decisão final. Outra herdeira da família, Maria Eva do Nascimento, coleciona vários documentos da família que asseguram o vínculo com a terra. Um dos registros em cartório é uma escritura de doação dos pais Francisco Rodrigues do Nascimento e Maria Rodrigues do Nascimento para os filhos (veja abaixo).


Para o jornalista Mayron Regis Borges, presidente da organização Fórum Carajás, que acompanha conflitos agrários em várias regiões do Maranhão, o caso do território Formiga é um dos efeitos da presença do agronegócio nos últimos 40 anos, na maioria dos casos mediante a compra de posses através de fraudes cartoriais.

Campos de soja e eucalipto nas proximidades do povoado
Formiga, em Anapurus, ameaçam a vida no Baixo Parnaíba

“Esse processo vem desde os anos 1970, quando o grupo João Santos se instalou no Maranhão com os megaprojetos de cana de açúcar a bambu em Coelho Neto e Duque Bacelar. Nos anos 1990 veio a Suzano e a invasão do eucalipto. Já a partir dos anos 2000 teve a expansão da soja”, pontuou Borges.

https://youtu.be/dEQcZDWmei8
Riacho na Barra da Campineira abastece o rio Preguiças, nos Lençóis Maranhenses

As famílias herdeiras seguem morando e produzindo no território Formiga, com apoio de entidades de defesa das comunidades tradicionais dispostas a enfrentar novas batalhas pela defesa dos seus territórios.

Imagem destacada / Águas do Baixo Parnaíba, na localidade Barra da Campineira, correm para o rio Preguiças, nos Lenç´´óis Maranhenses / Foto: Mayron Borges

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