O senador Roberto Rocha (PSDB) vai pensar duas vezes antes de tocar em frente o projeto (nº 465/2018) de alteração no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM).
Na primeira tentativa de debater a proposição, em uma audiência pública realizada sexta-feira (1º de novembro), em Santo Amaro, o parlamentar sentiu o tamanho da rejeição popular.
Roberto Rocha foi seguidamente vaiado na chegada, durante a audiência e até mesmo quando se retirava da cidade, tendo de entrar no seu carro com apoio de escolta da Polícia Militar.
Cartazes e palavras de ordem com tons de rejeição ao projeto e ao senador deram o tom da reunião. Havia tanta gente que o evento, iniciado na Casa de Artesanato, teve de ser deslocado para Clube do Mota, a fim de comportar centenas de moradores de Santo Amaro, Primeira Cruz e Barreirinhas, os três municípios com territórios na área do PNLM.
Os moradores se deslocaram da Casa de Artesanato para o Clube do Mota em passeata, entoando cantos, palavras de ordem e até o hino nacional. “O parque é nosso, não queremos que transforme em negócio” foi frase mais incisiva.
Na população transborda um forte sentimento de que o projeto do senador Roberto Rocha tem o objetivo de beneficiar a especulação imobiliária, visto que o PNLM é uma das regiões mais cobiçadas do Maranhão e está no caminho da Rota das Emoções.
Moradores, ambientalistas, movimentos sociais, pesquisadores, organizações dos povos e comunidades tradicionais observam no projeto uma intenção de transformar a região em um negócio atrativo para a rede hoteleira e as suas ramificações no setor das empreiteiras, bancos e capital estrangeiro, onde só quem ganha são os ricos.
Roberto Rocha, fazendeiro na região sul do Maranhão, sabe o que diz.
Em um de seus pronunciamentos durante a audiência, sinalizou uma certa intenção especulativa no local. “Desci de helicóptero num lugar tão bonito que deu vontade de comprar um terreno, além do que o que eu já tenho”, revelou o senador. Mas, diante da repulsa do plenário, tentou contemporizar: “vou parar porque acho que já falei até demais”.
Uma leitura crítica do projeto visualiza as contradições. Na métrica amplia o tamanho do PNLM, mas retira o chamado “filé”; ou seja, as áreas mais propícias aos grandes empreendimentos imobiliários.
Nessa lógica serão excluídas do parque 23 comunidades do total de 60 povoações onde vivem aproximadamente 5 mil trabalhadores e trabalhadoras rurais da agricultura familiar, extrativistas, marisqueiras, pescadores, artesãs e criadores de animais de pequeno e médio porte.
Vivendo em harmonia com os recursos naturais do PMLM, essas comunidades temem que o projeto de alteração nos limites provoque uma explosão imobiliária e consequentemente impactos sócio-ambientais nocivos à biodiversidade dos territórios de Santo Amaro, Barreirinhas e Primeira Cruz.
Nesse contexto, a repulsa ao PSL nº 465/2018 foi geral no evento de Santo Amaro.
A audiência também foi esvaziada de uma prometida pompa da representação política oficial. No release distribuído pela assessoria de Roberto Rocha estava prevista a participação dos outros dois senadores do Maranhão: Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (Cidadania, ex-PPS). Nenhum dos dois compareceu e nem mesmo o relator do projeto no Senado, Elmano Férrer (Podemos), do Piauí
Deputados estaduais e federais também não compareceram. Sem apoio da bancada maranhense e rejeitado pelo povo, Roberto Rocha caminha sozinho no parque e pode até se perder na imensidão das dunas tocadas pelo vento, que sempre muda a paisagem do lugar.