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Braide “já ganhou”?!

As lições mais elementares da política são resumidas em duas premissas que, na maioria das vezes, acabam em derrota.

Uma: o candidato cantar vitória antes do tempo.

Outra: entrar na disputa com o sentimento de derrota diante de um adversário forte.

Achar que já ganhou ou perdeu são dois erros que todo político conhece.

Para além dessa obviedade, é necessário observar os dados, os fatos, os movimentos das candidaturas e a conjuntura.

Os dados (pesquisas), por enquanto, têm pouca relevância. A campanha efetiva e ostensiva só começa a tomar corpo no início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, quando o público vai prestar mais atenção no processo.

Embora a internet seja um espaço de propaganda permanente, o público só passa a ter um interesse focado na eleição quando a campanha chegar aos meios convencionais. Aí sim, aquelas pessoas desinteressadas na eleição passam a conhecer as candidaturas e formar opinião, que depende de vários fatores. Será o momento da atenção seletiva.

Por outro lado, forçar a barra agora com uma pesquisa inserindo a “não candidata” Roseana Sarney tem um efeito apenas passageiro para induzir o eleitorado. E nada mais.

Enquanto aguardamos os dados reais, de preferência dos institutos confiáveis, os números não informam algo relevante.

Já os fatos dizem muito. O prefeito pré-candidato à reeleição, Eduardo Braide, tem obras na cidade. Ninguém pode negar que ele é uma das referências de gestor obreiro como foram na década de 1970 Haroldo Tavares e Jackson Lago nos dois primeiros mandatos (1989-1992 e 1997-2000).

Assim, não há dúvidas de que o prefeito é o favorito, mas não ganhou nada ainda. Ele mesmo sabe disso e vai fazer uma convenção discreta, sem oba oba, conhecedor que é do jogo bruto da política.

Quem precisava fazer uma convenção gigante e alcançou esse objetivo foi o deputado federal Duarte Junior, o principal opositor da atual administração.

A sua demonstração de força foi atingida. Reunindo 12 partidos, o evento superlotou o ginásio Castelinho, prestigiado pelo governador Carlos Brandão e figuras expressivas do seu primeiro escalão, presidentes de partidos, deputados federais e estaduais, o ministro dos Esportes André Fufuca, a presidenta da Assembleia Legislativa, a senadora Eliziane Gama, o presidente da Câmara Municipal, vereadores e candidatos de todos os naipes com as suas respectivas comitivas.

Detalhe: a ausência sentida do vice-governador Felipe Camarão, indicativo preocupante.

Ademais, Duarte Junior vai partir para a campanha com um ativo político notável, denominado “time de Lula”, representado na chapa majoritária pela candidata a vice-prefeita Isabelle Passinho, recém-filiada ao PT.

Se houver concretamente um interesse do grupo político familiar do governador Carlos Brandão em dominar a Prefeitura de São Luís, o candidato Duarte Junior será um adversário forte de Eduardo Braide.

E não custa nada repetir uma tese incontestável: o poder eleitoral do Palácio dos Leões. Se eles, leões, entrarem na campanha, o favoritismo do prefeito vai enfrentar um animal político bastante selvagem.

Eduardo Braide pode ser abatido, sim!

É preciso observar também os sinais de hoje com reflexos no futuro. As obras do prefeito, a sua visibilidade, o desempenho nas redes sociais, a euforia intensa de uma eventual vitória no primeiro turno catapultam Eduardo Braide para disputar o Palácio dos Leões em 2026.

Há um certo temor da chamada “classe política” diante do efeito Braide e a sua intenção de ser governador do Maranhão. Por isso, é natural que ele seja abatido, abortado ou ferido em 2024.

Por ferido entenda-se uma vitória difícil no segundo turno e não um passeio no parque logo em 6 de outubro.

Uma disputa em dois turnos deve ser colocada no cenário por vários motivos. Além do rugir dos leões, é preciso observar o nocivo crescimento do eleitorado de extrema direita. Esse voto pode ser capturado, por exemplo, pelo candidato Wellington do Curso.

Nem sempre um fenômeno se repete nas mesmas proporções, até porque cada eleição é diferente da outra, mas é importante lembrar o efeito Lhaesio Bonfim na eleição para o governo do Maranhão, em 2022.

Saindo da minúscula São Pedro dos Crentes, ele ultrapassou uma raposa do naipe de Weverton Rocha e ficou em segundo lugar na disputa.

A eleição de 2024 é um tipo de prévia de 2026, quando a polarização será extrema.

Agora, as duas ondas estão se formando. Duarte Junior, nesse momento acolhido pelo Palácio dos Leões, deve colar o seu discurso no “time de Lula”, argumentando o alinhamento de forças nacional, estadual e municipal para governar a capital.

Assim, a extrema direita não pode ser desprezada nas outras composições, com alguns pesares. Há dúvidas sobre um fenômeno do tipo Lhaesio Bonfim em São Luís.

Wellingon do Curso, embora seja bolsonarista, não incorpora na íntegra o falso discurso moralista “deus (minúsculo mesmo, porque não é o Deus verdadeiro), pátria e família.

O crescimento dele é uma dúvida.

Eduardo Braide, sabedor da brutalidade do jogo, tem um conjunto de obras para mostrar.

Essas obras custaram e ainda escoam muito dinheiro. Não se sabe até que ponto a oposição conservadora de Duarte Junior está disposta a apurar e denunciar e o uso da montanha de recursos públicos investidos em São Luís, caso sejam constatadas irregularidades.

Algumas perguntas são relevantes.

Houve corrupção na gestão do atual prefeito?

Uma eventual prova de que houve malversação de recursos vai interferir na definição do voto?

Esse tema – corrupção – será explorado pelos estrategistas de campanha?

Duarte Junior deve ter pesquisas qualitativas mensurando os cenários para montar o seu ataque.

O favorito, por enquanto, só pensa em surfar nas suas obras. E, quando a onda é muito grande, corre-se o risco de uma queda fatal.

Analisados os fatos, os movimentos das candidaturas e a conjuntura, ainda na fase de pré-campanha, eu prefiro ficar com os versos do poeta José Accioly Cavalcante Neto, na canção “A natureza das coisas”, interpretada por Flavio José:

“Se avexe não
Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada”

Isso enquanto aguardamos a campanha no rádio e na TV e as pesquisas reais. Então, o jogo será jogado para valer.

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