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Um amor flertado no busão

“Ferrinho do amor” rendeu um casamento de 25 anos. Conheça a história do love de Concita Boliviana e Raimundo Nonato

Todos os dias, nos idos de 1999, a professora Maria da Conceição Lima Sousa saia de casa para dar aula na escola Julio de Mesquita Filho. Naquele itinerário, o transporte era a linha de ônibus São Raimundo-Cohab, pilotada pelo motorista Raimundo Nonato Oliveira Silva, funcionário da empresa Menino Jesus de Praga.

Busão vai busão vem, até que um dia começaram a trocar gentilezas. Ela, vez por outra, ao entrar no ônibus, segurava o “ferrinho do amor”, jargão muito conhecido entre os profissionais do transporte coletivo para identificar o ponto de apoio do passageiro próximo ao motorista, atrás da cadeira de pilotagem.

O motorista Nonato aos poucos foi conquistando Conceição

A viagem sempre acontecia à noite. Durante o dia, Conceição trabalhava vendendo purificador de água, de porta em porta, em diversos bairros de São Luís.

Ele já tinha separado duas vezes e ela, na época, filosofava que morar junto ou casar “não ia mais dar certo”.

Naquele tempo a ex-noviça (como assim?!) já havia finalizado um relacionamento com o primeiro namorado e marido. Eles iam ser freira e padre, respectivamente. “Eu tinha entrado no convento e ele no seminário. É uma longa história”, revelou.

Em síntese, a vocação religiosa fracassou e, fora da igreja, eles namoraram dois anos, noivaram mais três e ficaram casados seis anos, 11 meses e 15 dias.

Flanela e o “ferrinho do amor”

Já com Raimundo Nonato o flerte foi mais rápido. Ele nunca esquece o “lance da flanela”, que Concita lembra como se fosse hoje. “Chovia muito. Eu estava muito gripada e quando desci do ônibus ele me emprestou a flanela com a recomendação para eu colocar na cabeça e não me molhar”, detalhou.

Conceição gostou a gentileza e, ao desembarcar, aproveitou a oportunidade para mostrar a localização da sua casa, próximo da avenida principal onde o busão passava na hora de recolher.

No dia seguinte, lavou a flanela, secou e completou a astúcia: “Botei um pouquinho do meu perfume e passei no ferro para quando ele fosse usar sentir o meu cheiro”.

Daí em diante, já com o aroma da paquera, as gentilezas foram progredindo.

Certo dia ela pegou o ônibus lotado, com uma pasta (escarcela) na mão. Ficou um bom tempo em pé, segurando no estratégico “ferrinho do amor”. Quando a lotação folgou, a professora tentou passar a catraca, mas ele pediu para ela sentar e conversar. A partir daí a paquera fluiu…

O namoro desembocou em um casamento duradouro

Ambos, na época, argumentavam não ter tempo para namorar porque trabalhavam muito, até que certa vez Nonato apareceu na casa dela de surpresa, justamente no dia em que a pretendente estava fazendo uma faxina e recepcionou o motora “toda desarrumada”.

Familiares e a juíza festejaram o casamento

A conversa progrediu e começaram a namorar, apenas para fazer um teste. “Uma semana ele dormiu na minha casa e na outra eu dormi na dele. E deu certo até hoje. Depois de alguns anos juntos, casamos”, sintetiza.

Aquela paquera no busão rende um casamento que já dura 25 anos e quatro meses.

Rádio e futebol

Raimundo Nonato, Concita Boliviana, a sua irmã Celia Lima e este
repórter: boas lembranças do rádio e de uma história de amor

Outra coisa uniu muito o casal. Ele gostava da revista Placar, especializada em futebol, e ela passou a se interessar pelo assunto para aproximar os gostos do marido, abastecendo a casa com revistas e jornais esportivos.

Ambos tiveram também outra afinidade – o rádio. No tempo das emissoras AM, Conceição passou a ser conhecida pela reputação de ouvinte falante nos programas jornalísticos e esportivos. Até hoje, mesmo com a extinção das rádios AM, ela é a famosa “Concita Boliviana”, torcedora do Sampaio Correa.

Concita Boliviana nunca gostou de bebida alcoólica e fez um truque para acompanhar o pretendente no convite para tomar uma cerveja. Ao chegarem na churrascaria, ela despistou alegando um tratamento de saúde e naqueles dias não podia beber, mas acompanhou Nonato no bar.

“Viver junto não é fácil. Às vezes precisamos ceder”, ensina a professora.

Hoje, ambos aposentados, curtem a maturidade da melhor maneira possível. O companheirismo é a chave do sucesso.

7 respostas em “Um amor flertado no busão”

Muito massa! As vidas e trajetórias, não de personalidades, mas de qualquer pessoa, são fantásticas e apaixonantes. O “ferrinho do amor” e a “flanela perfumada” são lindas imagens. Continue a nos contar histórias como essa, Ed Wilson.

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