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Nilson estreia obra poética com “Pequeno caderno maranhense”

Novo livro da Cepe Editora, Pequeno caderno maranhense aborda questões como gênero e raça, no Maranhão, com humor crítico e um olhar anticolonial

O título do livro de Nilson de Souza, que se identifica apenas como “nilson” em suas obras poéticas, revela de forma evidente a sua fonte de inspiração. Publicado pela Cepe Editora, Pequeno caderno maranhense traz o universo do Maranhão no centro de sua escrita.

Nilson foge de temas e personagens costumeiramente exaltados na história e cultura tidas como oficiais e visibiliza, com um humor crítico e abordagem anticolonial, questões relacionadas aos negros e indígenas.

Esta opção se traduz nos versos selecionados para a contracapa da obra: “você se aplica ao trabalho sabendo que a sua ilha / foi erigida com o seu sangue / e com o seu sangue / se enche um oceano”. A obra é a primeira do poeta a ser publicada.

Pequeno caderno maranhense será lançado no próximo dia 13 de junho (quinta-feira), das 18h às 21h, na Sala Sesc de Exposições, em São Luís (MA). Antes da sessão de autógrafos, Nilson participa de um bate-papo sobre a obra com o historiador e músico Tonny Araújo, autor dos livros Caixa de raiva e O lugar do jazz na construção da música popular brasileira.

Com a publicação avalizada pelo Conselho Editorial da Cepe, Pequeno caderno maranhense resultou de um longo tempo de pesquisas e observações do dia a dia. “A ideia surgiu de um desejo antigo que eu tinha de fazer um livro escolar de História do Maranhão”, disse o autor, que, na infância, gostava de folhear os livros de História e se apaixonou pelos arquivos. A virada de chave do antigo para o atual projeto veio aos poucos, a partir da percepção do poeta de que suas vivências, bem como de sua família e de seus amigos, figuravam nos livros e arquivos de modo estranho ao que eles percebiam.

De acordo com o poeta, o que havia em livros e arquivos eram relatos de violência, clichês regionais, formas generalistas/estereotipadas de falar do bumba meu boi e das religiões que ele e as pessoas do seu entorno conheciam e frequentavam. “Então esse recinto lacunar, instável do arquivo negro e indígena maranhense virou uma espécie de obsessão minha, que contaminou a minha escrita e se tornou o meu objeto de pesquisa, e o resultado é um pouco do que consta nesse livro”, pontua. De certo modo, admite Nilson, existe “uma vontade de perverter ou corromper aqueles livros escolares da minha infância”.

A intenção do poeta de “perverter” a lógica oficial se revela nas primeiras linhas do primeiro poema do livro. Em prólogo, o verso inicial sai à queima-roupa: “Sabe quando eles usam essa capa completamente preta sobre a pele?”. E a resposta: “Pois bem / nós somos escuros, pois um útero nos quis assim”. A questão racial caminha junto a outras questões importantes, como a religiosa e as manifestações culturais, ora trazendo referências ao Tambor de Mina, conforme os poemas deni e vozerio, ora ao Bumba meu boi, manifestação de profunda relação afetiva do autor. O bisavô de Nilson era o Pai Francisco do Bumba meu boi da Maioba, fundado em 1897.

Além de poesias, o livro reúne reproduções de imagens – fotos, mapa e painel seculares – pinçadas pelo autor em suas pesquisas, transcrições de trechos de discos, de filmes, de documentários e de livros. A primeira parte da publicação, batizada de Módulo, conta com textos unicamente autorais, enquanto a segunda, Frequência, traz poemas elaborados a partir da escuta de rádios maranhenses e cópias de fragmentos extraídos de áudios e audiovisuais. Em tom crítico, os fragmentos recebem nomes de “ruídos brancos”. São cinco “ruídos” em meio a 23 poemas.

Editora assistente da Cepe, Gianni Gianni afirma que os poemas de Nilson apresentam o Maranhão como uma parte de um imenso país que nunca compreendemos plenamente. “Pequeno caderno maranhense, desde a concepção do autor, tinha o intuito de tensionar narrativas históricas hegemônicas e realiza essa tarefa a partir de um estilo que ora flerta com o fragmentário, ora encarna a estrutura da prosa”, analisa. O livro, segundo ela, é um projeto com muitas referências e citações, como boa parte da produção de poesia contemporânea, e que incorpora muitos elementos da oralidade.

Sobre o autor

Natural de São Luís (MA), Nilson é graduado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e bolsista para criação literária da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema). Alguns dos seus poemas foram publicados nas revistas Caliban (Portugal) e Totem & Pagu (Curitiba–PR). Em 2023, Nilson comandou uma oficina de escrita sobre o Bumba Meu Boi no Centro Cultural do Vale Maranhão.

SERVIÇO

O que: Lançamento de Pequeno caderno maranhense, com bate-papo do autor com o escritor e historiador Tonny Araújo

Quando: 13 de junho (quinta-feira)

Hora: das 18h às 21h

Onde: Sala Sesc de Exposições, Edifício Francisco Guimarães e Souza, na Avenida dos Holandeses, Quadra 4, s/n, Jardim Renascença II, São Luís/MA

10 respostas em “Nilson estreia obra poética com “Pequeno caderno maranhense””

controle pra poder manipular
como fazem no abrigo do ipa
em vez de catalizar e organizar
o protagonismo da gente sofrida

pois só socorrismo não basta
para estruturalmente mudar
no lugar de quem atrapalha
e da ignorância se aproveitar

já que só os de baixo sofrentes
podem somente juntos e unidos
fazer caminho e luta conscientes
para além do mortal capitalismo!

eis mais uma reação da natureza
por quem destrói em escala global
nas relações sociais sem justeza:
capitalistas não pagam por esse mal

ignorâncias medos e misérias
são as chaves para quem faz
a exploração social anestésica
contra a busca da verdade e da paz

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