Um novo capítulo na história da comunicação começa a ser desenhado a partir da migração das emissoras AM para FM. Das seis antigas rádios AM (Educadora, Mirante, Difusora, Capital, Timbira e São Luís) resta apenas a Mirante, que também vai migrar ainda em 2024
A migração de AM para FM é fruto do Decreto nº 8.139, de 7 de novembro de 2013, dispondo “sobre as condições para extinção do serviço de radiodifusão sonora em ondas médias de caráter local, sobre a adaptação das outorgas vigentes para execução deste serviço e dá outras providências.”
No começo de 2024, mais duas emissoras desligaram os antigos transmissores e migraram para FM. A Timbira AM e a Educadora AM não existem mais. A primeira foi desativada às 15h08 do dia 2 de fevereiro 2024, uma sexta-feira. A segunda apagou o antigo transmissor às 15h de domingo (4 de fevereiro/2024).
Veja abaixo o vídeo narrado pelo radialista Robson Junior sobre o fim da Timbira AM.
Vinculada à Secretaria de Comunicação do Governo do Maranhão, a Timbira começou a operar hoje (9 de abril) definitivamente na nova frequência 95,5 Mhz.
A rádio Timbira AM (1290 Khz) foi uma das mais antigas emissoras do Maranhão, fundada em 1941. Antes dela existia a Rádio Difusora do Estado do Maranhão (prefixo PRJ-9), inaugurada em 14 de agosto de 1940, com um discurso do então interventor Paulo Ramos.
Controlada pela Igreja Católica, a ex-Educadora AM já migrou e pode ser sintonizada na FM em 88,3 Mhz.
Apenas a rádio Mirante segue na AM, sintonizada em 600 Khz, mas vai migrar para FM ainda em 2024. A emissora integra o Sistema Mirante de Comunicação, controlado pela família do ex-presidente José Sarney.
A Capital AM (1180 KHz) foi extinta em outubro de 2017, após a destruição dos equipamentos no parque de transmissão, em um ato de vandalismo atribuído a um grupo de sem teto que pretendia ocupar o terreno de propriedade da emissora. A concessão da Capital é vinculada à família do senador Roberto Rocha.
Em setembro de 2018 houve a migração da Difusora AM (680 KHz) para a FM 93.1 MHz. (leia mais aqui sobre a migração da Difusora AM)
A Pan News / São Luís AM (1340 KHz) foi desativada em setembro de 2020, migrou para FM e teria sido vendida pelo empresário Zildeni Falcão ao deputado federal Cleber Verde (Republicanos).
Veja na tabela abaixo o cenário da
migração das emissoras sediadas em São Luis
COMO ERAM | COMO ESTÃO | SINTONIA NA FM |
Educadora AM (560 KHz) | – já migrou e manteve o nome Educadora | 88.3 Mhz |
Mirante AM (600 KHz) | – vai migrar ainda em 2024 | 104.1 MHz |
Difusora AM (680 KHz) | – mudou o nome para Difusora News | 93.1 MHz |
Capital AM (1180 KHz) | – desativada em 2017 | – – – |
Timbira AM (1290 KHz) | – migrou e manteve o nome Timbira FM | 95.5 MHz |
São Luís (1340 KHz) | – mudou o nome para Massa FM | 98.5 MHz |
Ex-ouvintes assíduos de AM estão acompanhando a migração. É o caso de Edinho Sousa, morador do Quintas do Calhau, que gravou um vídeo (veja abaixo) manifestando a “satisfação de ser o primeiro ouvinte fiel a sintonizar a rádio Educadora na FM 88,3 Mhz”.
Metamorfose ambulante
Mesmo antes da migração, as emissoras já se adaptaram ao novo cenário tecnológico, incorporando o velho rádio ao ambiente digital das plataformas, redes sociais, aplicativos e múltiplas opções de interação com a audiência.
A Timbira, por exemplo, mesmo no tempo da AM, já se denominava TV.
Para o pesquisador Marcelo Kischinhevsky, a fase atual é do “rádio expandido”, que agrega linguagens, plataformas, mediações e consumo, levando em conta as práticas culturais e as inovações técnicas.
Com a migração, o cenário do rádio todo em FM vai ter alta competitividade e disputa pela audiência.
Ouvintes que já acessavam as FMs de tendência musical terão agora as opções de novas FMs, fruto da migração, cuja pegada principal é o jornalismo e o esporte.
As AMs em fase de extinção tinham longo alcance e programação preponderantemente jornalística e esportiva, com pouco uso do entretenimento.
As FMs, outrora marcadas pela programação musical, já haviam adotado conteúdo jornalístico em diversos horários.
Vantagens e desvantagens
Se por um lado a FM melhora a qualidade de som, atrai o público mais jovem e tem potencial para convencer os anunciantes, por outro a migração pode abrir um “vazio da audiência” nas populações dos lugares distantes das regiões metropolitanas, que terão dificuldades em sintonizar as FM nos rádios de pilha, por exemplo.
Os dois vídeos abaixo foram gravados com ouvintes de AM nas ilhas de Guajerutíua e Mangunça, no litoral ocidental do Maranhão. Os depoimentos demonstram as dificuldades de acesso às emissoras FM.
A situação nas ilhas ocorre porque as AMs podiam ser sintonizadas em longas distâncias e o desligamento vai deixar parte da audiência “sem rádio” até que nos lugares longínquos tenha uma boa oferta de internet. Nessa situação, os ouvintes poderão acessar qualquer emissora utilizando os aplicativos dos smartfones.
O acesso depende, no entanto, de bons pacotes de dados para utilizar os telefones móveis como substitutos dos aparelhos de rádio.
2 respostas em “O adeus às rádios AM de São Luís”
lembro bem destas ilhas
– dois mágicos paraísos –
ouvindo o rádio de pilha
enquanto comia mariscos
na mais bucólica sintonia
entre nós e o viver marinho
uma rima desse jeito
com toda fidalguia
merece nosso respeito
igual rádio de pilha