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Que o fofão nos proteja

Por Eduardo Júlio

Imagem / Divulgação: Bloco Serpentina é um dos exemplos de resistência do carnaval de São Luís

O carnaval tradicional de São Luís corre um sério risco de desaparecer nos próximos anos. A extrema-unção foi dada pelo Poder Público em 2024, que transformou a festa momesca numa imensa vaquejada ou rodeio.

Milhões de reais do contribuinte transbordando, indo pro ralo com uma programação vergonhosa.

Ah tá, o povo gosta e tal, os circuitos estão lotados como nunca dantes, mas sabemos: é a velha política do pão e circo, um direcionamento que não constrói, só destrói, nesse caso, especialmente, porque as atrações mais destacadas, tanto pelo Município quanto pelo Estado, não possuem qualquer identidade nem com o Maranhão nem com o carnaval brasileiro. Há exceções, mas são estrelas quase ofuscadas pelas atrações de massa.

Trazer artistas de outros estados pode ser importante para incrementar o carnaval da cidade. Em gestões passadas, Jorge Ben Jor, Paralamas, Maria Rita, Moraes Moreira, Elza Soares, Chico César, entre tantos outros que estão definitivamente fincados na história da música brasileira, abrilhantaram o carnaval de São Luís e estavam em sintonia com o conceito da folia e em harmonia com o espaço destinado aos artistas locais. Mas não é o caso dos últimos dois anos.

Também não basta escalar artista maranhense. É preciso separar o joio do trigo. Não adianta programar cópias e arremedos. É preciso levar em conta o fator originalidade.

Neste momento, brincadeiras e agremiações que resistem há décadas, algumas quase centenárias, como os Fuzileiros da Fuzarca, são desprezadas em nome de uma cultura de massa uniforme e predatória.

Há, ainda, manifestações que são patrimônio imaterial, protegidas por lei, como o tambor de crioula (os blocos tradicionais estão em processo de reconhecimento) que obrigatoriamente precisam ser apoiadas. E não é satisfatório criar uma programação que as contemple. É necessário que tenham visibilidade.

Hoje, nem mesmo o grande e popular Bicho Terra não é possível enxergar mais em meio a tanto ruído.

Novas gerações possivelmente nada vão saber a respeito das nossas brincadeiras originais. E as iniciativas contemporâneas como os blocos Só Safados e Serpentina, não são suficientes para subverter essa ordem. Precisaríamos de, pelo menos, dez blocos de rua nesses modelos para convencer o Poder Público.

E essa antipolítica cultural atinge não somente festas como o Carnaval e o sagrado São João. Há anos, muitos equipamentos culturais de São Luís (museus, galerias e centros culturais) estão quase completamente abandonados ou mesmo fechados, como o Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, outrora uma importante fonte de fomento cultural da cidade, ou o Odylo Costa, filho (que abriga cinema, teatro, biblioteca, sala de dança etc.), localizado na entrada da Praia Grande, no portal do Centro Histórico de São Luís.

Fechado e sem perspectiva de reabertura, o Odylo está fadado ao mofo, e, se nada de importante acontecer, ao desabamento num futuro próximo. Nesse caso, não existe qualquer transparência. Nada se sabe a respeito de seu destino. Talvez seja esse mesmo: o completo abandono e esquecimento.

Fora isso, artistas locais pedem socorro, alguns estão à míngua, sem receber os devidos recursos financeiros a que têm direito.

Por fim, voltando ao tema carnaval, a foto e a tomada bonita de drone dos circuitos da folia não vão mascarar o completo fracasso conceitual da política de cultura praticada aqui.

5 respostas em “Que o fofão nos proteja”

Bom dia.
Essa história tem raiz, pai, mãe
e filho! O que estamos vendo aos estertores de acontecimentos passados quando apareceram blocos e agremiações que surgiram tão somente para colocar nas ruas cortejos com repertórios de música baiana. Concordam ou sem cordam? Basta puxar pela memória das últimas 4 décadas. Lembrando, também, que estes mesmos baluartes da basófia foram prestigiados pela prefeitura como pelo governo do Estado.
Portanto, chegamos ao ápice! Agora, é ladeira abaixo!
Brasilônia, ilude!

Concordo também… ontem até fui na Litorânea e vi uma sequência relativamente boa: grupo Argumento (embora também levando muitas músicas afinadas com o Carnaval oficial…, Bicho Terra e Chiclete.
Mas, em geral, tem sido isso: o Carnaval em São Luís tá parecendo uma mistura do pior de Barretos, com o pior do Ceará e o pior de Goiás. Um horror… o governador e o prefeito são ignorantes, iletrados, desprezam a cultura maranhense, e certamente os secretários de cultura vão no mesmo rumo.

Eu já tinha me manifestado sobre o volume de dinheiro gasto em detrimento de poliitcas culturais de fato. Fica claro que este governo desconhece o sentido de Políticas culturais pois seu projeto é pura e simplesmente deixar o povo anestesiado para assim não reclamar da precariedade da rede hospitalar, Da precariedade da escolas sem bibliotecas e sem bibliotecários.
Da falta de perspectiva para os jovens que concluem su graduação e não são absorvidos pelo mercado e nem pelo setor público que não abre um concurso público. E assim ele vai fazer no São João e no próximo Carnaval. Aguardem

No São João passado ja havia empresas intermediando ontratos e recursos entre o poder público e grupos locais (como o tambor-de-criola do Itain) que recebeu uma propos de R$ 800,00 (oitocentos reais), quando sabiamos o caxe pago pela prefeitura era proximo a R$ (3.000,00 (tres mil reais.) “A proposta foi recusada”. Mais para contribuir no debate, essa pratica terá duas consequencias diretas e imediatas, importantes contribuições para o apagamento cultural no estado e a manutenção das veias abertas para a evasão de dinheiro público.

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