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São Luís contra as árvores

nessa terra

em se derrubando

tudo pode

Fartamente agraciada com títulos (Patrimônio Cultural da Humanidade, Atenas Brasileira, Cidade dos Azulejos, Ilha Magnética, Ilha Rebelde, Capital Nacional do Reggae …) povoada de muita gente boa, com os maiores requintes intelectuais, em São Luís brotam poetas até dos paralelepípedos da Praia Grande.

É tanto deslumbramento e o eterno gabar-se de uma cidade cult que às vezes divago assim: criança ludovicense já nasce recitando Gonçalves Dias em francês.

Se essa cidade existe, não está nos números.

No 1º turno da eleição para a Prefeitura de São Luís, em 2020, os três primeiros colocados, homens brancos da política tradicional – Eduardo Braide (Podemos / 37,81% dos votos), Duarte Junior (Republicanos / 22,15%) e Neto Evangelista (DEM / 16,24%) – com as suas respectivas coligações, somados, obtiveram 390.146 sufrágios do total de 553.499 votos válidos.

A capital do Maranhão votou em massa na direita. Veja abaixo:

Essa enxurrada de votos é uma espécie de “eu autorizo” para certa mentalidade ambientalmente retrô, que governa a capital do Maranhão há muito tempo, sob o lema de uma cidade feita para os carros, sem direitos para os pedestres, idosos, pessoas com deficiência e ciclistas.

É a mesma mentalidade que massacrou nas redes sociais a bem intencionada petição idealizada por um grupo de artistas e jornalistas para demover a Havan da maldição de enfiar na Ilha Magnética uma réplica da Estátua da Liberdade.

Nas redes sociais, por ampla maioria, a petição foi numericamente derrotada pelos comentários mal educados da extrema direita apoiando o mau gosto do monstrengo ianque.

Por falar atrocidades, o ex-prefeito João Castelo devastou o último arvoredo do Anel Viário, a pretexto de implantar o famigerado VLT. E se tomarmos os exemplos contemporâneos, o ódio contra as árvores segue o ritmo de guerrear contra a cobertura vegetal da cidade.

O legado do VTL: árvores mortas. Fotos: Ed Wilson Araújo

O problema não é apenas cortá-las para fazer intervenções no trânsito. Algumas obras (à exceção do VLT mencionado) são muito necessárias para facilitar a mobilidade, mas não se pode esquecer de plantar e replantar sempre.

Ocorre que, em São Luís, derruba-se muito e planta-se pouco ou o plantio tem interferências políticas, a exemplo do projeto de fincar árvores ao longo da avenida dos Portugueses (trecho urbano da BR-135), através de uma parceria entre a Prefeitura de São Luís e a Acib (Associação Comunitária Itaqui-Bacanga), resultando em desperdício de mudas e de dinheiro.

Parceria da Prefeitura de São Luís e Acib resultou em
mudas mortas na avenida dos Portugueses

E não adianta dizer que a iniciativa privada planta árvores de boa vontade. Quando você olhar grades de propaganda em torno de mudas, geralmente evocando a Suzano Papel e Celulose, desconfie que é algum Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para compensar agressões ambientais devastadoras provocadas pela megaindústria de celulose em algum lugar longe da capital.

Muda morta da Suzano, em área nobre de São Luís (Renascença II)

Uma das poucas e exitosas experiências de arborização em São Luís vem dos movimentos sociais, através do Comitê da Praça das Árvores do Cohatrac IV, que cuida dos espaços públicos do bairro e tem uma ação concreta na defesa da Área de Preservação Ambiental (APA) do Itapiracó.

Das ações simples, como regar as árvores, até a realização do Empório Social (um verdadeiro mutirão de práticas cidadãs), o Comitê da Praça das Árvores é uma ação política que precisa ser vista e incorporada na execução de políticas públicas.

Comitê da Praça das Árvores faz plantio e rega plantas nas margens da APA Itapiracó

Comecei falando sobre árvores para chegar na floresta, ou seja, a cidade toda ameaçada pela mais recente revisão do Plano Diretor e a iminente tramitação da Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano.

O “novo” Plano Diretor, aprovado na Câmara dos Vereadores, vai radicalizar o processo de transformação de São Luís em uma cidade portuária e industrial, mero entreposto de commodities para o mercado internacional, como se aqui fosse um dos lixões dessa parte costeira do oceano Atlântico.

A legislação urbanística “inovadora” vai aniquilar cerca de 37 % da zona rural de São Luís para implantar investimentos associados aos interesses diretos e indiretos da Alumar, Vale, Eneva e do Porto São Luís, entre outras.

Tirar uma expressiva cobertura vegetal da zona rural terá implicações drásticas em toda a cidade: aumento do calor e doenças, mais poluição e menos área de recarga de aquíferos, colocando em risco a alimentação dos lençóis freáticos e o futuro abastecimento de água na capital.

Não se trata de ser “contra o desenvolvimento”. Trata-se de fazer uma pergunta: que desenvolvimento é esse que NUNCA melhora os indicadores sociais e econômicos de São Luís, se ao lado de tantos títulos cult somos os piores em quase tudo entre as capitais do Nordeste??!!.

São Luís está muito poluída. E pode piorar, segundo diversos alertas em dados apresentados pelo advogado Guilherme Zagallo durante entrevistas à Agência Tambor.

Em tempos de mudanças climáticas, com tantas evidências e sinais de tragédias ambientais, São Luís está na contramão da História declarando guerra às árvores.

13 respostas em “São Luís contra as árvores”

O que dizer dessa leitura da realidade concreta resultante dessa perspectiva do capitalismo em sua face mais selvagem? Muito obrigada professor por nos sacudir tirando-nos desse lugar de acomodação. Cada planta regada ou plantada, nos instiga trabalhar as nossas forças, e seguirmos nesse movimento de luta e resistência. Gratidão por ser esse pensador social tão necessário.

Infelizmente, a cidade ainda, não está ocupada com esses projetos de melhoria do meio ambiente. A critica é assertiva. M.bom, o ex. da praça das arvores!👏👏🌳

Sou paisagista, e tenho viajado por aí, e quando chego a minha ilha, 🏝️ sem brincadeira, as vezes, meu peito aperta de contemplar o descaso.
Plano direto existe mesmo ou plano destruidor do que ainda nos resta? Deixo aqui minha indignação com tanta politicagem em nossa cidade.

Um belo exemplo, de simples e assertivas ações, de iniciativa popular, mas com ótimos resultados ecológicos e ambientais, além de alertar e desenvolver nossa consciência de cuidar da casa comum, nossa responsabilidade. Parabéns ao projeto da Praça das árvores.
Acompanho de Açailândia, no Sul do Maranhão.

Fico muito triste quando não vejo política ambiental e nossa cidade sem respeito a Natureza. Um calor terrível. Ar poluído e a inercia de gestores

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