Imagem ilustrativa capturada no site pplware
Noite úmida na porta de uma loja de conveniências. Sob trapos de roupas sujas, um corpo esquelético, cambaleante sobre tornozelos inchados, agitava para um lado e outro uma vasilha ordinária de alumínio encardido.
Os olhos de pânico embutidos na cova funda do rosto davam a dimensão da dor daquele homem faminto que ainda encontrava forças para implorar minimalisticamente num bordão: “cinco centavo pá cumê”
Isso mesmo! Ele pedia esmola de 5 centavos para comprar comida no país de uma das maiores taxas de juros do mundo, onde um ex-presidente ostenta joias suntuosas, sua família compra imóveis com dinheiro vivo e figurões do Judiciário negociam sentenças milionárias para soltar traficantes internacionais de alta periculosidade.
“Cinco centavo pá cumê” é o grito de um miserável torturado pela indiferença, massacrado na desesperança, destruído pela ganância desenfreada do ultraliberalismo e da corrupção.
Fedido a capitalismo selvagem, aquele corpo destruído exalava enxofre. Ele era o próprio odor da morte, fudido por tudo e todos.
“Cinco centavo pá cumê” é o último apelo de quem não tem mais nada a perder.