Cesar Teixeira
Triste destino de Judas:
ser punido todo ano
por ter defendido a arte
do sagrado no profano.
Amarraram os meus pulsos
e, do Laborarte expulso,
fui linchado por engano.
Culpado é o Messias
que a Bíblia não fez registro,
só nos deixou fake News,
abacaxis e ministros.
Depois virou farmacêutico,
motoqueiro hermenêutico.
Foi ele quem matou Cristo.
Se eu for prefeito do Inferno
vou proibir desaforo.
Pastores do Capiroto
não vão tirar o meu couro.
Bem antes das eleições
pediram quinze milhões
e uma barra de ouro.
Entrego as trinta moedas
que me deram prejuízo
ao pastor Milton Ribeiro,
mesmo que eu fique liso.
Porém, vou mijar de rir
vendo um cabra do Jair
expulso do Paraíso.
Pra ministra Cármen Lúcia,
que sacou o bacanal,
já carimbei o inquérito
da Polícia Federal.
Gilmar Santos e Arilton,
porta-estandartes do Milton,
não vão brincar carnaval.
Vou deixar um dinheirinho
pro Jair Renan lavar,
e a chave de um carro elétrico
para com Allan brincar.
Zero Quatro, eu reitero,
vai virar Recruta Zero
da comédia militar.
Essas florestas peladas
me deixaram triste paca,
por isso levo pra Kátia
minha peruca eslovaca.
Só quero passar-lhe o grude
bem longe de Hollywood
pra não receber um tapa.
A vida na Praia Grande,
no Desterro e no Portinho
é uma festa de São Braz
pra curar o gurguminho.
No arrepio do epitélio
deixo pro artista Hélio
um barril do santo vinho.
Lá no oásis da Feira
distribuí o panfleto
pra quem foge do trabalho,
da escola e do boleto.
Tem sorteio de bandeco
na gafieira do Deco
e o disc-jóquei é Noleto,
Comprei na mão de Rosana
um biquíni de croché
para a amiga Patativa
desfilar no cabaré.
Ela sempre inventa moda,
foi pra cadeira de rodas
de tanto fuder em pé.
Deixo um milheiro de telhas
pra Iria do Alvará
não ficar exposta a chuva
e polícia no seu bar.
Aconselho, por prudência,
bater Tambor na Agência
de Emílio na Beira-mar.
Flávio Dino foi esperto
na hora de inaugurar
restaurantes populares
em todo canto e lugar
com cardápio de respeito.
pois, caso não seja eleito,
já tem onde merendar.
Deixo pro Augusto Aras
uma gaveta inocente
onde possa esconder
mentiras, facas, correntes.
O procurador-geral
finge que enxerga mal
os crimes do Presidente.
Os ônibus licitados
pelo MEC infeliz
deixarei na Prefeitura
que envergonha o País.
Passagem cara, buraco,
transporte virando caco.
Retrato de São Luís.
Com a corda no pescoço
qualquer judas passa mal,
imagine os professores
da rede municipal.
Braide diz que dá aumento,
mas só de cinco por cento.
Tá escrito no jornal.
Deixo os meus pulmões furados
pra quem tem falta de ar,
o meu fígado talhado
pra quem quer se embriagar,
e também deixo, não nego,
meu culhão vasado a prego
pra quem for me torturar.
Eduardo Zero Três,
com três cus e sem culhão,
fez piada da tortura
que sofreu Míriam Leitão.
Com ele deixo a jiboia
pra curar a paranoia
desse malandro bundão.
A navalha da Ucrânia
com as mulheres deixei
pra cortar de vez a língua
desse tal “Mamãe Falei”.
– Tem cassação, lockdown,
deputado Arthur do Val,
no WhatsApp eu lhe avisei!
Sérgio Moro do Podemos
foi pro União Brasil,
mas sua candidatura
a presidente implodiu.
Deixei pra ele o Auxílio
do Eleitoral Domicílio
depois que a casa caiu.
Deixo pra Vladimir Putin
a máscara imperial.
Enterrou o velho Marx
e abraçou o capital.
Se invadir Cajapió
vai perder o mocotó
na porteira do curral.
Para Gabriel Monteiro,
o vereador tarado,
eu vou deixar lá na Câmara
um vídeo manipulado.
Processado por assédio,
na cadeia, sem remédio,
logo vai ser enrabado.
O nó da minha garganta
para a Funai eu envio.
A devastação e a morte
nas aldeias denuncio,
pois o garimpo ilegal
já está tornando banal
o sangue que desce o rio.
Pro Ibama deixo as cinzas
das árvores e dos bichos
que foram sacrificados
por ganância e capricho
de um nefasto ministério
que faz pasto e cemitério
nas matas botando lixo.
No município de Balsas,
onde a morte o fogo atiça,
vou colocar os grileiros
na balança da Justiça.
Dizem que o agro é pop
e a fome não dá Ibope
como a soja e a carniça.
A ex-ministra Damares
diz que um “capeta careca”
foi quem deixou o governo
todo levado da breca.
Subo a bandeira da paz,
caso Alexandre Moraes
raspe a sua perereca.
Deixo um milheiro de Bíblias
que o ministério faz
pra distribuir na igreja
com retratos de animais.
Bolsonaro é o jumento
do Mourão no casamento
com a burra do Satanás.
Petrobras, enfim, tirou
da cartola o seu Coelho
para abaixar o preço
do combustível no relho.
Bolsonaro só quer voto,
vou botar na sua moto
a água do meu joelho.
Deixo pro Maranhãozinho
emenda parlamentar
pra que os Fundos da Saúde
ele possa desviar.
Peculato é uma canja
que sai da mão do laranja
pro bolso do Josimar.
Liberal, Republicanos,
faces de um partido espelho,
agora querem tirar
o Maranhão do vermelho.
Parece piada pronta.
Como herança deixo a conta
de dois chatos no pentelho.
O vermelho com o verde
é uma singular mistura
para os confederados
de uma só candidatura
cuja textura não sei,
deixo ao neto de Sarney
o pincel da sepultura.
Deixo uma faca amolada
pra cada Federação
disputar sua fatia
no bolo dessa eleição.
Lá no Fundo Partidário
é o sangue do otário
eleitor que cai no chão.
“Cai partido e cai o voto,
cai o voto e cai partido,
cai meu verso quando eu boto
nos Dez de Queixo Caído”.
Disse um poeta arretado
do interior do Estado,
que passou despercebido.
Quero mandar um abraço
pra Tapera do Cordel,
que planeja salvaguardas
na terra, no mar e no céu.
Deixo ao compadre Gerô,
que a polícia matou,
estes versos no papel.
FIM