Algumas características do golpe civil-militar de 1964 precisam ser colocadas na balança para analisar o cenário atual em que o presidente Jair Bolsonaro ameaça uma ruptura institucional.
O que havia antes de 1964?
– Ampla campanha de comunicação organizada pelo complexo Ipes/Ibad contra uma suposta “ameaça comunista” no Brasil;
– Influência direta dos Estados Unidos na preparação da intervenção de 1964;
– Mobilização da opinião pública e manifestações de rua pró-golpe, a exemplo da Marcha da Família com Deus pela Liberdade;
– Sintonia entre as Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) para executar a intervenção militar;
Havia portanto uma convergência de atores políticos e militares, além do apoio expressivo da população, resultando a deflagração do golpe previamente organizado desde o início dos anos 1960.
O que temos em 2021?
– Um presidente rejeitado em todas as pesquisas de opinião;
– A economia em crise;
– A maioria da população já demonstrou em sucessivos levantamentos a derrota de Jair Bolsonaro na eleição de 2022;
– Não há consenso nas Forças Armadas sobre uma intervenção militar;
– Os Estados Unidos estão fora da disputa interna do Brasil nesse momento; ou seja, não participam diretamente da organização de nenhum golpe aqui;
Minoria barulhenta
Diferente de 1964, quando havia vários fatores convergentes, neste 2021 Jair Bolsonaro não tem a convergência das Forças Armadas.
No Congresso Nacional, os presidentes da Câmara e do Senado já se manifestaram contrários a qualquer ruptura institucional.
Os Estados Unidos estão mais preocupados em conter os seus problemas internos – a economia, a pandemia e o trumpismo – sem uma participação direta na política brasileira como havia na década de 1960.
No entanto, o bolsonarismo, embora minoritário, é alimentado por uma horda fanática capaz de tudo, inclusive de qualquer sacrifício ou ato tresloucado para manter o presidente no poder.
O bolsonarismo também computa a seu favor uma força considerável nas polícias militar e civil, desde a base (soldados e agentes), passando pelos escalões médios e alguns setores de comando.
Em síntese, a correlação de forças não indica hegemonia do bolsonarismo no conjunto da sociedade, mas dá pistas de que a minoria fanática e barulhenta pode ser perigosa.
Considerando o exposto, uma eventual ruptura institucional nesse momento está mais para quartelada.
Golpe, nos moldes de 1964, ainda não é visível no horizonte, mas pode evoluir para tal…