Por Emilio Azevedo
Publicado originalmente no site da Agência Tambor em 17/05/2020
O futebol maranhense está de luto. O ex-jogador Bimbinha faleceu, no ultimo dia 15 de maio, aos 63 anos. Ele tornou-se famoso, em São Luis, a partir do final da década de 1970.
Reginaldo Castro, apelidado de Bimbinha, passou a maior parte de sua carreira no Sampaio Corrêa. Um ponta esquerda veloz, ele ficou conhecido pelo bom futebol e também pelo tamanho: tinha pouco menos de 1m e 50cm, calçando chuteira tamanho 34.
Virou lenda o fato de que ele teria passado, junto com a bola, por entre as pernas do lateral Zé Maria, do Corinthians, na época titular absoluto da Seleção Brasileira.
Encontrei com ele em 2015, pouco antes de um jogo da nossa Bolívia Querida. Era Campeonato Brasileiro (Série B), o time tava embalado e a torcida comparecendo em peso. Bimbinha tava trabalhando de ambulante, vendendo água, do lado de fora do Castelão.
Aquela situação me deu um estalo. De um lado tínhamos o êxito momentâneo do Sampaio, do outro as evidentes dificuldades do antigo ídolo.
Apesar do sucesso no futebol, ele nunca ganhou uma remuneração justa no esporte. Um fato comum, num país de cultura escravista.
Reginaldo Castro, o craque Bimbinha.
Bimbinha foi chamado de “alegria do povo”. Na carreira de jogador, foi como um gladiador explorado, jogado às feras dentro de uma arena. Ao longo da vida, Reginaldo foi mais um dos milhões de brasileiros marginizados, vítimas da brutal desigualdade, que até hoje marcam o país.
Em nosso encontro repentino, em 2015, eu lhe disse que era jornalista, que gostaria de entrevistá-lo e pedi seu telefone.
Naquele mesmo momento, disse pra Rejane, minha companheira que estava comigo na ocasião, que ele era uma estrela do futebol e que eu estava “quase” lhe pedindo um autógrafo.
Bimbinha ficou inicialmente desconfiado com meu entusiasmo.
Em seguida, mostrou-se feliz com o papo e com a possibilidade de uma entrevista.
Quando eu era criança, vi Bimbinha incendiar a torcida no estádio Nhozinho Santos. Ele tava começando a carreira. Ainda não existia o Castelão.
Em 1984, ele fez o gol do titulo do campeonato maranhense, já no Castelão, que havia sido inaugurado em 1982.
O Sampaio ganhou de 1 x 0 do MAC, naquela final de 84. Eu e meu pai, Américo, éramos uma das 15 mil pessoas que estavam lá. E vibramos muito com o gol do pequenino Bimbinha, aos 10 minutos do segundo tempo.
O time boliviano de 84 era formado por Giordano, Nestor, Rosclin, Santos e Gildam; Meinha, Mateus e Beato; Joãozinho, Renato e Bimbinha. O treinador era o gaúcho Júlio Arão.
Aquele título abriu caminho para um pentacampeonato estadual do Sampaio, o único da gloriosa história boliviana.
Um tempo depois do nosso encontro no arredores do Castelão, liguei para Bimbinha, para tentar fazer a entrevista. Mas ele já estava com problemas de saúde, o que impediu o nosso encontro. Depois, perdi o contato dele.
Recentemente, no Mercado Central, peguei o telefone de Ivanildo, outro ex-jogador do Sampaio. Ele acenou com a possibilidade de me levar, novamente, ao antigo ídolo boliviano.
Bimbinha morava num quarto, na área Itaqui-Bacanga, região onde nasceu. Lá ele teria sido encontrado em estado grave, desmaiado, indo logo depois a óbito. Não foi informado se a atual pandemia de Covid 19 determinou a sua morte. Ele era diabético e tinha problemas renais.
Mesmo sem conhecê-lo, me entristeci com a notícia. Ficou a lembrança!
Ficaram os encantos – quase místicos – que o Sampaio de Bimbinha me causaram quando criança.
Valeu Reginaldo!