Editorial do jornal Vias de Fato cobra explicações sobre a permanência da divulgação de um evento pró-ditadura militar na Assembleia Legislativa (Alema). O presidente da Casa, deputado Othelino Neto (PCdoB), assegurou que a organização do evento sequer fez solicitação para realizá-lo nas dependências da Alema e que, se for feita a solicitação, será negada.
Falta, no entanto, uma nota oficial do poder Legislativo para ser distribuída nos meios de comunicação esclarecendo a opinião pública sobre a situação, porque a propaganda da extrema direita, envolvendo o nome do parlamento maranhense, continua.
Veja abaixo o editorial do jornal Vias de Fato.
Parlamento, ditadura, crimes e fake news
Não é possível ser tolerante com a intolerância. Não pode haver condescendência com os que defendem a barbárie. É preciso combater com firmeza aqueles que querem fraudar a história. A questão aqui é civilizatória.
Estamos falando do golpe de Estado dado no Brasil em 1.º de abril de 1964; que implantou uma ditadura sangrenta e hoje é exaltada pelo atual presidente do nosso país e alguns de seus seguidores.
Um exemplo disso foi uma atividade marcada para a Assembleia Legislativa do Maranhão, favorável ao golpe e a ditadura. O anúncio foi feito por uma livraria, que se apresentou como promotora do evento, ao lado de uma organização de extrema-direita. A ação foi marcada para o próximo dia 4 de abril, às 16 horas, no auditório Fernando Falcão, na sede do parlamento maranhense.
Nas redes sociais, a reação foi imediata. E diante da rápida repercussão negativa, o deputado estadual Othelino Neto (PCdoB), atual presidente da Casa, publicou em uma rede social, na noite do dia 28 de março, que considera “aviltante atos que reverenciam o golpe militar de 64”, afirmando também que “a Assembleia nem sequer recebeu pedido de cessão de espaços internos para esse evento”.
E ficam no ar as perguntas: baseado em quê anunciaram um evento na Assembleia com hora, local e palestrantes definidos? Foi uma provocação? Mais uma fake news? Quiseram criar um fato? Vão dizer que Othelino está mentindo? A livraria tem algum documento? Tem alguma liberação ou solicitação do espaço? Como anunciar um evento sem qualquer garantia que ele aconteça? É coisa de maluco? Ou piada de péssimo gosto? Enfim, por que um auditório da Assembleia aparece como sendo o local desse evento?
É bom que tudo isso seja devidamente esclarecido, até porque a exaltação da ditadura é hoje, cada vez mais, um problema sério em nosso país. O desastre decorrente do processo eleitoral brasileiro em 2018 deixou isso claro. A ditadura militar implantada no Brasil, a partir de abril de 1964, ainda precisa ser eficientemente denunciada. Existe muita desinformação, muita mentira.
Estamos falando de uma ditadura homicida, responsável por uma série de assassinatos. Um regime que promoveu inúmeras sessões de tortura, com requintes de crueldades, envolvendo até crianças, estupro de mulheres; incluindo mulheres grávidas! São crimes de lesa humanidade! O circo dos horrores foi rotina.
A ditadura liquidou a liberdade de expressão, fechou parlamentos, cassou mandatos, restringiu o Poder Judiciário, afastou juízes, censurou a imprensa, acabou com eleições, proibiu a organização social, calou artistas, prendeu e/ou expulsos do país inúmeros democratas. Muitos perseguidos e torturados recorreram ao suicídio. E vários desapareceram sem que ninguém, entre parentes e amigos, soubessem até hoje do seu paradeiro.
Sendo assim, em nome de todas as mulheres e homens, crianças e adultos que foram vítimas daquela ditadura, em nome de milhares e milhares de famílias que sofreram com aquela covardia absoluta, nós repudiamos toda e qualquer apologia a esse famigerado regime.
Em relação aos parlamentos brasileiros, eles precisam melhorar; melhorar muito! Mas com todas as suas distorções, contradições e problemas; eles precisam ser preservados enquanto instituições. Por isso, nunca fará sentido uma Assembléia Legislativa servir de palco, para aqueles que buscam justificar as atrocidades cometidas por uma ditadura.
- Editorial Jornal Vias de Fato (31/03/19)