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Escola de amestrados, país de robôs!

O Brasil está mergulhado em um pântano cultural que puxa para o fundo e mata algumas esperanças. Outras, pela dinâmica da História, não se deixarão tragar. É isso que nos anima em meio às notícias ruins.

A investida dessa vez é uma derivação do projeto Escola Sem Partido, vindo à tona pelo comunicado do Ministério da Educação às escolas, para que os estudantes cantem o hino nacional e sejam filmados, a pretexto de “incentivar a valorização dos símbolos nacionais”. Ainda por cima, os alunos teriam de ouvir uma carta cujo desfecho seria o bordão publicitário da campanha presidencial de Jair Bolsonaro.

O objetivo é claro: matar o sentido pleno da educação como prática de liberdade e desconstruir o Estado laico, regido por uma Constituição de 30 anos.

Diante das críticas, o ministro Ricardo Vélez Rodríguez recuou e disse que não era bem assim. Mas, não nos espantemos se a elite pensante do governo voltar à carga com algo mais radical: além de cantar o hino nacional, os estudantes terão de ler trechos da bíblia.

Sob o manto de um suposto nacionalismo e apego aos valores cristãos, o atual governo brasileiro apresenta ideias e propostas antiquadas, como se o passado fosse gerar a salvação da pátria.

Isso não ocorre por acaso. É preciso entender o contexto.

A onda conservadora que destrói a República no Brasil é fabricada na mesma forma que gerou criaturas como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, turbinado pelo discurso que disseminou notícias falsas e ódio.

Na campanha e na gestão, Trump tem um fantasma e um alvo, respectivamente: a América voltará a ser grande e os inimigos são os mexicanos e os muçulmanos.

Mutatis mutandis, o Brasil voltará à glória do passado e os inimigos são a esquerda e o materialismo cultural.

Nesse contexto macropolítico, o governo ataca a escola para criar uma geração de estudantes amestrados e pais robotizados, alimentados pelas fake news que grassam como uma praga destruidora da capacidade de pensar e refletir.

Basta ver o episódio recente que atribuiu à esquerda a “proposta” de distribuir uma mamadeira erótica para as crianças.

Assim, a tentativa de perfilar estudantes para cantar o hino nacional chega a ser um desprezo pela educação diante de muitos problemas a resolver. Com tantas escolas sem teto nem material didático, salas sem professores, docentes com baixos salários, condições de trabalho precárias, desvio de dinheiro público nos fundos constitucionais, escolas sem água potável nem quadras esportivas… eis que o MEC está preocupado com (pasmem!) a cantoria do hino nacional.

Entendamos também a proposta do Ministério da Educação como parte da estratégia de comunicação do governo para desviar o debate sobre os grandes temas: a reforma da Previdência, a economia e a geopolítica.

Se fosse nacionalista e patriota, o governo estaria a defender as nossas reservas de petróleo e o patrimônio nacional, não se perfilando às investidas dos Estados Unidos para usurpar a maior riqueza mineral da Venezuela.

Caso este governo fosse realmente patriota e nacionalista, não estaria tentando aprovar a reforma previdenciária que vai criar uma legião de miseráveis no momento em que a proteção do Estado é fundamental – a velhice.

O plano ideológico da onda conservadora é um pacto geracional pela mediocridade. Amestra as crianças na escola para levá-las ao matadouro sem resistência quando estiverem idosos.

Isso é desumano.

Imagem do site El País: Estudantes perfilados fazem saudação nazista a Hitler

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