Jair Bolsonaro ganhou a eleição, mas o resultado das urnas não foi a “lavagem” prometida, assegurando a Fernando Haddad quase 45% dos votos.
Esse resultado é fundamental para pensar como será construída a oposição daqui pra frente.
Ainda há tempo para avaliar e refletir. Qualquer balanço imediato pode soar ousadia.
O PT, embora seja a legenda líder da chapa, precisa conduzir a unidade do campo democrático-popular ciente de que a votação de Haddad não é somente um comando de Lula, mas fruto da convergência de forças políticas e do eleitorado afinado à ideia da democracia.
Na massa dos votos de Haddad entraram eleitores de Ciro Gomes, Marina Silva, do PSOL, PSTU e até do PSDB.
Paralelo aos números, é fundamental colocar na avaliação a sábia reflexão do jornalista e professor Juremir Machado da Silva – “Bolsonaro é uma mentalidade” (veja abaixo).
Dentro de cada eleitor, no geral (existem exceções), está contida intolerância e a violência.
http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2018/09/11187/bolsonaro-e-uma-mentalidade/
Não se trata apenas de um candidato que ganhou a eleição. Ele, ao pé da letra, representa um sentimento de ódio, discriminação e repulsa ao diferente.
O fascismo de hoje tende a crescer amanhã.
Aí cabe a responsabilidade do campo democrático-popular – construir a unidade dos partidos sintonizados na democracia para fazer a resistência.
Enfrentar o resultado das urnas será uma tarefa delicada e vai exigir das legendas não alinhadas ao fascismo algo delicado – grandeza política para construir a unidade.
Não será muito proveitoso ao PT declarar-se dono da votação de Haddad. Os números do petista são fruto da convergência de vários segmentos democratas do país, incluindo eleitores de Ciro Gomes, Marina Silva e até do PSDB.
O engajamento do PSOL logo após o primeiro turno na campanha de Haddad e o voto crítico do PSTU têm um simbolismo fundamental para a defesa da democracia.
Haddad foi derrotado com a declaração de voto dos maiores algozes do PT: o ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa, carrasco dos petistas no “Mensalão”; e o ex-Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, homem forte no processo de desmonte do petismo.
Anotam-se também os pronunciamentos de figuras proeminentes do TSE e do STF. Ambos, assustados com os palavrórios arrogantes de Bolsonaro & família, tentam construir uma sensação de carta de seguro das instituições.
Embora ele jure obediência à Constituição Federal, não é certo que o vencedor respeitará a Justiça, o Ministério Público e a liberdade de informar e ser informado.
Detalhe: esta eleição é marcada pela exacerbação das fake news e ataque do vencedor aos ícones da mídia dominante no Brasil: Folha de São Paulo e Globo.
Em meio a esse caldo cultural, a votação de Haddad precisa se transformar em unidade do campo democrático.
Precisamos nos unir, mais que nunca, porque o Brasil será diferente. Piorado!
Isolado ou atritado, o campo democrático só vai beneficiar o adversário, que saiu das urnas fortalecido, mesmo que seja com base na mentira e da empulhação.
Imagem: Fernando Haddad fala aos apoiadores após a apuração (Paulo Whitaker/Reuters)