O golpe e os seus desdobramentos trazem algumas lições. Uma delas, sobre comunicação e luta política no Brasil.
O PT, que insistiu no erro de privilegiar a Globo com fartas verbas publicitárias durante os mandatos de Lula e Dilma, parece ter caído na real.
Nestes momentos mais difíceis, quando o golpe avança, quem dá voz real a Lula é a radioagência Brasil de Fato (ouça aqui), vinculada ao site homônimo, originado da versão impressa nos idos de 2003, durante o Fórum Social Mundial de Porto Alegre.
A radioagêcia Brasil de Fato é uma prova concreta de que os movimentos sociais de esquerda estavam certos quando pregavam a democratização da comunicação.
Durante todo este sábado, a radioagência Brasil de Fato fez a cobertura das mobilizações de São Bernardo do Campo, onde Lula estava entrincheirado.
Em boa parte do Maranhão, os ouvintes puderam acompanhar a cobertura, graças à rádio Timbira AM 1290 Khz, que retransmitiu a programação da Brasil de Fato. Ótima sacada!
Detalhe: a cobertura foi ancorada por duas mulheres, Camila e Carla, com ótimo desempenho.
No sábado chuvoso, a Brasil de Fato/Timbira AM, na faixa de 1290 Khz, rivalizava com a Jovem Pan na faixa 1340 Khz, emissora-ventríloco da burguesia difusora do Brasil.
As duas disputavam não só conteúdo sobre a cobertura de São Bernardo do Campo. Elas rivalizavam também no estilo.
Na Brasil de Fato, Carla e Camila, locutoras equilibradas, deram um show na verborragia lavajateira da emissora vizinha, onde os comentários do historiador Marco Antonio Vila beiravam o esgoto.
Pelas ondas da Timbira AM/Brasil de Fato, milhares de pessoas no Maranhão tiveram a chance de ouvir uma cobertura fora da narrativa preconceituosa e odienta Jovem Pan.
Esse é o sentido principal da democratização da comunicação. A audiência não pode nem deve ficar refém de uma só voz, na qual predomina a visão dos oligopólios da mídia.
A audiência precisa exercitar o direito de escolha, ter opções, porque o direito à fala não pode ser propriedade e exclusividade dos “intelectuais” da Jovem Pan.
Espero que Lula saia da cadeia, seja candidato, ganhe as eleições e faça autocrítica. Ele e o PT tiveram muitas chances de construir as mínimas condições de alavancar o processo de democratização da comunicação no Brasil, mas não fizeram.
Preferiram cortejar a família Roberto Marinho e os outros barões da mídia, achando que eles eram correligionários do pragmatismo petista.
Engano total. A Casa Grande jamais admitirá a ascensão da Senzala.
Lula também erra. Ele não é Deus! Espero que tenha outra chance para acertar na política de comunicação.
Imabem: Brasil de Fato / Julia Dolce