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Juscelino Kubistcheck, Lula e apartamentos: “velho” Judiciário é o mesmo de hoje?

Ed Wilson Araújo

O que há de comum entre o tríplex do Guarujá e um apartamento na Vieira Souto?

Os imóveis, em diferentes épocas, foram atribuídos aos ex-presidentes Juscelino Kubistcheck e Lula, respectivamente.

E qual a influência do Judiciário na atribuição da propriedade a eles?

Uma das pistas para encontrar a resposta está no “Diário do Entardecer”, obra do escritor Josué Montello, que relata as confidências de Juscelino Kubistcheck diante da angústia de uma acusação que ele considerada indevida.

Mas, não só isso. JK revela detalhes sórdidos no submundo do Supremo Tribunal Federal (STF), à época.

Transcrevo abaixo um trecho do diário montelliano, tal qual está na imagem recortada, à página 114:

“Nos atropelos da viagem para Lisboa, não esqueço de levar meu abraço de despedida a Juscelino Kubistcheck, a quem devo outro abraço, mais forte e efusivo, por sua vitória no Supremo Tribunal Federal, o qual se negou, por unanimidade, a tomar conhecimento da acusação levantada contra o ex-Presidente, como suposto proprietário de um apartamento em que reside, na avenida Vieira Souto, e que teria sido adquirido ilicitamente, tendo como testa de ferro o ex-Ministro Sebastião Paes de Almeida.

Senti-o, em nosso último encontro, há quatro dias, tenso, abatido, e vejo agora que está novamente lépido, descontraído, otimista. E é ele quem me explica sua transformação:

– Passei uma semana atormentada. Imagine você que, na quarta-feira da semana passada, quando ia ser julgado o processo, um novo Ministro do Supremo, o Thompson Flores, nomeado recentemente pelo presidente Costa e Silva, pediu vistas. Fiquei certo de que era uma manobra política, destinada a pressionar o Supremo. Ali, como você sabe, tenho muitos inimigos – uns, por não ter nomeado Embaixadores; outros, por não ter atendido em pedidos menores. Diante disso, esperei o pior. Agora, ouça o que lhe vou revelar: eu dispus tudo para me matar, caso o julgamento do Supremo fosse contrário a mim.

E ante meu espanto:

– Eu não tinha outro recurso para provar minha honradez. A sentença iníqua estouraria como uma bomba em todo o mundo. Só o recurso extremo do Presidente Vargas, com uma bala no peito, como um ato político, poderia responder à iniquidade.” (Trecho datado em 16 de maio de 1968, no Diário do Entardecer).

Jk e Lula, guardadas as devidas proporções, foram objeto de intensas campanhas midiáticas e perseguições políticas, orquestradas com o velho carimbo da UDN, a elite patrimonialista e clientelista que domina o Brasil desde tanto tempo.

A memória política do Brasil está recheada de lances obscuros, alguns deles revelados apenas em documentos secretos, trazidos a tona após longas buscas investigatórias. As ossadas do cemitério clandestino de Perus são apenas um exemplo.

JK não recorreu ao suicídio, como chegara a cogitar. Ele morreu em um acidente de carro, em circunstâncias nunca explicadas na totalidade.

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