Algumas pessoas ainda não sabem que o professor Sofiani Labidi pediu registro de candidatura à Reitoria da Universidade Federal do Maranhão (Ufma) na recente consulta prévia, realizada em junho de 2019. A solicitação foi negada porque o pretenso candidato estava demitido da Universidade, resultado de uma penalidade que se estendia desde 2014. Ao pé da lei, como professor de Dedicação Exclusiva à UFMA, ele não podia dar aula também no Ceuma.
Apesar do obstáculo administrativo, ele ingressou na Justiça mas perdeu, em definitivo, a chance de participar da consulta prévia.
A candidatura à Reitoria não vingou, mas o retorno aos quadros da Ufma é questão de dias, com recebimento de retroativos, inclusive. Faltam apenas algumas formalidades como a publicação da portaria de reintegração. Em entrevista ao Blog do Ed Wilson, ele afirmou que o processo da sua demissão foi ilegal, fruto de perseguição da gestão anterior.
Detalhe: a decisão judicial reintegra o docente, mas não invalida o PAD (Processo Administrativo Disciplinar) que o demitiu. Nesse entendimento, a investigação sobre a irregularidade (aulas concomitantes na Ufma e no Ceuma) pode prosseguir.
Apesar de não ter concorrido na recente consulta prévia de 2019, ele pensa em ser reitor. E manifesta com entusiasmo a intenção de disputar o cargo em 2023 ou mesmo chegar ao posto de magnífico por um eventual e ruidoso atalho. “Tenho saúde e idade”, celebrou, lembrando que fora candidato em 2015 contra a vontade do ex-reitor Natalino Salgado.
Assim, o que mais intriga a sequência de fatos no contexto da sucessão na Ufma é a solicitação do registro da candidatura de Labidi a reitor, mesmo ele sabendo que estava demitido e as chances de concorrer eram zero.
No jargão da política no Maranhão costuma-se dizer que até boi voa. Por falar em assunto de avião, o primeiro colocado na consulta prévia, Natalino Salgado, nem teve tempo de comemorar. Voou logo na madrugada do dia 27 de junho e amanheceu em Brasília, a tiracolo do deputado federal Aluísio Mendes (Pode), que intermediou uma reunião com o ministro da Educação Abraham Weintraub.
Pela ordem, os mais votados para a Reitoria foram Natalino Salgado, João de Deus e Ridvan Fernandes.
João de Deus, candidato da reitora Nair Portela, também teve um encontro com o ministro Weintraub. Segundo a notícia publicada no site da Ufma, a reunião tratou de demandas urgentes, apresentação de projetos, relatórios de obras e desafios da instituição. O diálogo foi mediado pelo deputado Juscelino Filho (DEM), líder da bancada maranhense na Câmara Federal.
O lobby no Ministério da Educação é meio caminho para o nome indicado chegar à mesa do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que tem a palavra final sobre a escolha dos reitores das universidades federais.
Pela regra, a lista tríplice ainda será formada no Conselho Universitário (Consun) da Ufma, órgão máximo deliberativo e normativo, convocado para o próximo dia 18 de julho. Nessa etapa os conselheiros podem compor os três nomes até mesmo com pessoas que não participaram da consulta prévia.
As práticas republicanas, o princípio democrático e o bom senso recomendam a escolha do primeiro colocado na consulta prévia, obedecendo à vontade da maioria.
Ocorre que, mesmo no caso de a lista ser formada com os três nomes mais votados, ninguém garante que Bolsonaro vá seguir as regras atuais da indicação dos reitores das universidades. Avesso à democracia, ele já deu algumas demonstrações de desprezo pela vontade da maioria em outras instituições de ensino superior, infelizmente.
Considerando o perfil de Bolsonaro, a intervenção é um fantasma que assombra a democracia e a autonomia das universidades federais.
Perguntado sobre uma remota possibilidade de vir a ser escolhido para um mandato intervencionista, Labidi fez contorcionismo para dizer que este método autoritário não é ideal, mas ele toparia. “Caso meu nome seja proposto eu aceitaria com o maior prazer porque nosso desejo é contribuir com a Universidade”, frisou.
O(a) leitor(a) pode pensar que as pretensões do professor readmitido sejam blefe. Afinal, como Labidi sentaria na janela do ônibus se o registro de sua candidatura foi negado administrativamente, ele ingressou na Justiça e perdeu!?
Fato é que Labidi se movimenta. Recentemente, durante a fracassada manifestação dos bolsonaristas a favor do ministro Sergio Moro, em São Luís, o professor fez pose para foto ao lado do seu amigo e também docente da Ufma, Alan Garcês, cedido ao Ministério da Saúde e com trânsito no governo federal.
Uma fonte de Brasília afirma que os dois amigos percorrem os gabinetes próximos ao clã Bolsonaro em busca de apoio, inclusive com os militares. Labidi reuniu até com um general do Batalhão de Infantaria de Selva. Em resumo, o professor está perto de ser reintegrado à Ufma. Parece animado e, nas entrelinhas, não desculpa seu algoz Natalino Salgado. Nos bastidores do campus do Bacanga comenta-se que ele é um pote até aqui de mágoas com o ex-reitor.
Foto destacada: Paulo Soares / O Estado do Maranhão