Reservei o entardecer e começo da noite deste sábado (19 de maio) para escutar – e não apenas ouvir – o novo disco de Lena Machado: “Batalhão de Rosas”. Digo escutar porque apreciei a obra atentamente (folheando o encarte), não de forma distraída como é de praxe, mas com o ouvido cheio de pensamentos sobre a arte desta intérprete que poderia ser trilha de novela, ilustrando aquelas cenas exuberantes do pôr do sol de Ipanema.
Digo isso porque a arte é universal, seja ela extraída de uma banca de comida na feira da Praia Grande ou em um restaurante chic de Dubai.
Ao folhear o miolo do “Batalhão de Rosas”, com as músicas de fundo, senti a força de uma voz que canta trazendo à tona as entranhas dos sentimentos traduzidos nas letras.
Além dos clássicos de Joãozinho Ribeiro (Asas da Paixão), Cesar Teixeira (Namorada do Cangaço, Boi de Medonho, Flanelinha de Avião) e Bruno Batista (Batalhão de Rosas), o disco traz a poética de Didã (Banca da Honestidade) em uma composição sobre a labuta das mulheres guerreiras que fazem da gastronomia de rua e dos mercados a sobrevivência de famílias inteiras.
“De Deus”, assinada por Bené Fonteles, costura uma ginga maneira como se ali na letra tivesse um drible de futebol, com a esperteza do verso final da primeira estrofe – “num passe…”.
Quando eu ouvi “Preta”, de Camila Cutrim e Fernanda Preta, logo lembrei de duas personagens marcantes na obra de Josué Montello: Benigna (Os tambores de São Luís) e Nadine (O baile da despedida), mulheres com o dom de enfeitiçar por vários significados: a voz, a cor, o gingado e o “enigma profundo”.
Zeca Baleiro e Swami Jr fornecem munição num bolero para Lena Machado deslizar feito um catamarã musical em “Duas Ilhas” – um texto filosófico sobre o amor e as suas dificuldades.
E quanto alento ao escutar “Bom dia”, letra de Alessandra Leão, demarcando o território feminino em um disco lírico e tribal, simultaneamente catapultado à condição de uma obra musical do mundo, universal.
Lena Machado é uma intérprete merecedora da nossa audiência, pela magia de uma voz que anima as almas das pessoas.
A produção e os arranjos são de Wendell Cosme, Israel Dantas e Wesley Sousa. O trio deu tom especial à obra musical.
Fico por aqui porque não tenho vocação para spoiler. Compre o disco e deleite-se.