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Crime de golpe de Estado: jornalismo local precisa combater a desinformação

Agência Tambor – Ameaças de ruptura democrática, violência contra instituições e uma rede de mentiras coordenadas estão presentes no atual cenário político brasileiro. O recente e necessário julgamento do Supremo Tribunal Federal, que condenou uma organização criminosa comandada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, reforça a urgência de combater a desinformação e de preservar a memória democrática no país.

A defesa de um sistema de governo onde o poder vem do povo ganha força com o fortalecimento do jornalismo crítico e pelo enfrentamento de discursos que recorrem a falsos inimigos para justificar golpes de Estado. Uma realidade já vivida em 1964, como alerta o jornalista e professor da UFMA, Ed Wilson Araújo.

Ed Wilson, que também é membro da Agência Tambor, esteve no programa Dedo de Prosa, falando sobre a importância do momento e do esclarecimento dos detalhes e da gravidade que o permeia.

[Assista a entrevista na íntegra ao final desta matéria.]

Informação é poder

Hoje, o Brasil enfrenta uma complexa rede de inimigos, que inclui organizações criminosas de extremistas de direita, assim como as máquinas de desinformação digital e os setores econômicos e financeiros que as financiam.

A ameaça se estende a setores de uma mídia tradicional conservadora e a influências externas, como a articulação da extrema direita liderada por Donald Trump, que estimulam a desestabilização política na América Latina

Crime é tratado como crime

Planejaram o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. Isso não pode ser relativizado.

O plano “Punhal Verde-Amarelo” que detalha uma tentativa de golpe atribuída a generais do Exército Brasileiro, com suposto apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, é brutal. O plano incluía ações extremas, como o assassinato.

De acordo com o Código Penal, a simples tentativa de assassinato já configura crime, mesmo sem a consumação do ato (artigo 121). No Brasil, se alguém planeja ou tenta matar outra pessoa, mas não consegue finalizar a intenção (porque a vítima se defende, alguém intervém, ou a arma falha, por exemplo), estamos diante de tentativa de homicídio – é delito previsto por Lei.

A tentativa de golpe liderada por Bolsonaro não contou com o consenso das Forças Armadas, o que impediu a consolidação da ruptura, inclusive, das mortes planejadas. “Ainda bem que setores militares não se submeteram a essa lógica. Mas é preciso estar alerta: a cada vez que a democracia brasileira se fortalece, surgem novas ameaças”, alerta Ed Wilson.

Foi uma tentativa de destruir a democracia brasileira. E o jornalista recorda que, em 8 de janeiro de 2023, a invasão e depredação dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal mostraram ao mundo a dimensão do risco.

A desinformação

A desinformação foi peça-chave na conspiração, assim como havia sido no golpe de 1964. “Os meios de comunicação de massa fabricaram um imaginário de que o país estaria ameaçado pelo comunismo. Hoje, vemos a mesma narrativa falsa circulando nas redes sociais e aplicativos de mensagens”, explica o professor.

O jornalista critica também a postura ambígua da mídia tradicional. “As grandes redes nunca foram progressistas. Elas querem a democracia, mas uma democracia comandada pelo mercado, pelas elites. Não querem Bolsonaro, mas também não querem transformações profundas que ampliem direitos para todos”, pontua.

É consenso, o julgamento do Supremo foi uma vitória, mas ainda insuficiente. E o professor destaca: “É fundamental punir não só os executores do golpe, mas também financiadores e articuladores midiáticos. Se não houver responsabilização ampla, os riscos permanecem”.

Lembrar é resistir

A memória é parte essencial da luta democrática. “Muitas pessoas morreram para que estivéssemos aqui. Quem não conhece a história está fadado a repetir erros. Por isso, a comunicação popular, como a Agência Tambor, tem um papel vital na preservação da memória e no combate às mentiras.”

Para ele, a resistência também se faz na informação. “Enquanto o Jornal Nacional exalta o agronegócio, nós mostramos seus efeitos nocivos sobre comunidades tradicionais. É graças à democracia que podemos manter esse jornalismo alternativo vivo, contra-hegemônico e comprometido com a sociedade”, afirma.

A entrevista completa com Ed Wilson Araújo você confere no programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.

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