Categoria: Política
O jornalista, secretário de Formação do PT no Maranhão e pré-candidato a deputado estadual, Luiz Henrique, vem percorrendo todas as regiões do estado com uma mensagem de esperança, renovação e força junto à militância petista. Firme na defesa de Lula, Dilma e das conquistas alcançadas nos mandatos presidenciais do PT, ele tem diálogo permanente com as bases em diversas atividades do partido. Nas suas incursões pelos mais longínquos municípios está conhecendo melhor as experiências e os potenciais produtivos do Maranhão, seja de empresas ou de comunidades rurais quilombolas.
Na Secretaria de Formação, Luiz Henrique segue determinado no trabalho de levar mais oportunidades de qualificação aos militantes e dirigentes do partido. Uma delas é o Curso de Difusão de Conhecimento, articulado junto à Fundação Perseu Abramo, que já foi realizado em Coelho Neto, Pedreiras e será replicado em Imperatriz, para a região tocantina, e em São Luís.
Nessa entrevista, Luiz Henrique faz um balanço da situação do PT, analisa os desdobramentos do golpe e especula sobre os cenários de 2018.
Blog – Qual a situação do PT atualmente, após o golpe que tirou o mandato da presidente Dilma Roussef? Está acuado ou ainda pulsa?
Luiz Henrique – O PT pulsa forte. E ainda bem que assim seja. O PT é tão necessário para a jovem democracia brasileira e creio que o povo percebeu isso muito rapidamente, bastou um ano e alguns meses pós-golpe parlamentar e derrubada da presidenta Dilma. De repente nos vimos em um retrocesso de direitos e conquistas duramente conseguidos. Há pouco mais de um ano, em uma bem orquestrada narrativa da Globo e grande mídia, estávamos carimbados e identificados como partido da corrupção. Hoje voltamos a ser, aos olhos do povo, o que realmente somos, um partido identificado com direitos e a luta dos interesses da classe trabalhadora. Pesquisa recente aponta que somos líderes no item partido confiável para 19% da população. O segundo lugar tem 5%. O PT pulsa forte. E, como partido de massa e quadros, se reinventa. O tempo de ficar acuado, passou.
Blog – O fenômeno Lula é determinante no PT. Alguns analistas chegam a dizer que o lulismo é maior que o PT. Você concorda com essa avaliação?
Luiz Henrique – Lula um dia vai passar e será memória e história, o PT não. Em grande medida Lula e PT se confundem, criador e criatura se harmonizam. O Partido dos Trabalhadores não é só o pensamento, história, conceito, concepção, ideais e luta de Lula. Ele também é minha história, a trajetória de milhões de brasileiros, o ideal de tantos militantes, vivos ou que já não estão entre nós, como Chico Mendes, de pessoas que nem são filiadas ao PT. Aliás, costumo dizer que o maior número de filiados não é o que consta no cadastro do partido, mas o que está nas ruas. Gente que não sabe que é PT, mas é; os que têm vontade de ser; e os que têm consciência que são, sem vínculo de filiação.
Lula sintetiza e encarna essa luta, essa história, esse projeto de país que defendemos. Lula tem o traço pessoal do carisma, da fala compreensível às massas. Lula é um fenômeno político da natureza. Daqui a 100 anos estarão falando de Lula, pelo que é, pelo que fez como presidente, pelo que representou para a consolidação democrática do Brasil, e por realizar um outro país possível, com inclusão social. Contudo, o PT não é um legado de Lula. É o contrário, Lula é que é um legado petista. O PT é maior do que ele.
Blog – Nas suas andanças pelos municípios do Maranhão, o que mais incentiva você a permanecer no PT?
Luiz Henrique – O aceno positivo de cabeça da maioria das pessoas do povo, com quem temos conversando, toda vez que falo da nossa experiência de governo, quando comparo o que fomos para o povo e como era a vida no passado e no presente.
Reafirmo que estou no caminho certo, quando ouço uma senhorinha dizer que se decidirem prender Lula, ela vai pedir para ficar na cadeia no lugar dele… Ouvi isso nas minas andanças. Dona Francisquinha, uma mulher do povo, dizendo que ela e os filhos ficaram livres foi de prisão maior, que era a fome, a falta de perspectiva. Hoje, diz ela: “tô alimentada e tenho filho doutor. 10 anos de cadeia pra mim é nada”.
A seu modo, o povo sabe que Lula pode ser preso, não por erros, que nesse caso do tal triplex não cometeu, mas pelos acertos e opção de seu governo na direção do povo, gente como dona Francisquinha, de quem escutei essa declaração. Isso é que me dá a certeza da luta e do lado que estou. Assim, sigo petista.
Blog – Poderia citar um exemplo de petistas ainda autênticos e como estão fazendo o partido com base em princípios?
Luiz Henrique – O que não falta ao PT são bases autênticas. Quer ver um exemplo: todos devem lembrar de Valdinar Barros deputado, mas antes de tudo Valdinar é um trabalhador rural. Sabe onde era comum encontrar Valdinar depois que ele perdeu eleição? Na roça. Valdinar ia pra roça, resolver no seu lote de terra, conquistado na luta na região de Imperatriz, o sustento de sua família. Agora imagina qualquer deputado de qualquer outro partido viver essa experiência?!.
Valdinar é apenas um exemplo de que o PT teve a ousadia de eleger um lavrador para ser um dos 42 deputados do Maranhão e, ao não se reeleger, voltar a ser o que é, sem ascender econômica e socialmente por conta de uma função pública. O que acontece com o companheiro Valdinar é recorrente no PT. Olívio Dutra, depois de ser governador do Rio Grande do Sul, voltou a ser caixa de banco Banrisul, onde era servidor.
Hoje Valdinar está contribuindo com sua experiência parlamentar e de vida com a prefeitura de São Francisco do Brejão, como secretário de Agricultura, mas não tenho dúvidas que se precisar voltar pra lida na enxada, o fará. Ao seu modo revela sua consciência de classe.
Quer ver outro exemplo, há poucos dias atrás o PT de São Roberto, que compunha o governo municipal, com três Secretarias Adjuntas (Obras, Saúde e Agricultura); uma Secretaria titular e outros postos, todos pediram exoneração dos cargos, haja vista o prefeito condicionar a permanência dos petistas na gestão, mas tendo que votar em candidatos a deputado federal e estadual dos compromissos assumidos por ele, prefeito. A resposta do autêntico PT de São Roberto foi não!. Eles têm compromisso e fidelidade é de votar em candidaturas do PT. Aí não contaram conversa, saíram todos dos 21 cargos de confiança que ocupavam. Quer mais autêntico e movido a princípios que isso? Será que não fará falta o que ganhavam? Claro que sim, mas primeiro os princípios.
Blog – A tendência Mensagem ao Partido fez recentemente um encontro e mudou a denominação para Resistência Socialista. Ainda é possível reencantar o PT com o socialismo?
Luiz Henrique – O reencantar é diário. Como disse antes, um partido como nosso, cuja força motriz é o povo e sua base social organizada em sindicatos, ONGs, movimentos ligados a terra, como MST; ou a comunicação, como Abraço; ou ao meio ambiente; a cultura, vive de se reinventar.
As histórias de vida que acabo de citar são ou não encantadoras? Desafiadoras? O surgimento de uma nova corrente política, como agora a Resistência Socialista, é também um reinventar, um reencantar. É um balançar na zona de conforto do PT e de pessoas. A palavra tem poder; assim, quando sustentamos a denominação de uma força política interna ao partido na resistência e no socialismo, estamos nos afirmando.
O capitalismo é hegemônico no mundo desde que o mundo é mundo, mas é o socialismo que liberta o homem da opressão, da miséria. No Brasil o socialismo nunca foi tão necessário. Os ventos de ódio, intolerância e quebra de direitos e conquistas são fortes e ameaçadores. Somente o muro do socialismo, a consciência de classe, será capaz de barrar as extremas desigualdades do capitalismo.
Blog – O que é o curso Difusão de Conhecimento e como está sendo recebido nas bases do PT?
Luiz Henrique – A Difusão do Conhecimento é uma iniciativa da Fundação Perseu Abramo, entidade da estrutura petista de organização, que resolveu fazer um curso, com duração de três meses, um curso a distância, aberto à sociedade e não só aos quadros partidários. A finalidade é dar condições de análise crítica da história contemporânea, explicando como o mundo se move na perspectiva dos interesses do grande capital e da classe trabalhadora. O curso visa contribuir com a capacidade de criticidade da população na interpretação desse processo.
Blog – Qual o papel da Secretaria de Formação do PT nesse cenário de crise e pós-golpe?
Luiz Henrique – Em qualquer circunstância, o papel de uma Secretaria de Formação é fundamental. Ainda mais quando enfrentamos um ambiente com essa complexidade. Portanto, nosso papel é formar nossos quadros para intervir com clareza e conhecimento de causa nos desafios a nós apresentados pela conjuntura. É disseminar o debate interno, para que a partir daí ele ganhe espaço na sociedade. É sustentar, com base e dados, o projeto de país que nós queremos, do mundo que desejamos. É preparar nossos quadros na defesa do nosso legado de governo e concepção.
Tenho pautado a postura da Secretaria de Formação nessa perspectiva. Já realizamos duas etapas do curso no Maranhão, formando duas turmas de 80 participantes cada, a do leste, cuja aula inaugural foi em Coelho Neto, e agora, neste final de semana, no Mearim, em Pedreiras. Até o final do primeiro semestre, iremos realizar mais duas etapas: São Luís, previsto para 1º de junho; e dia 3 de junho em Imperatriz, cobrindo assim a região tocantina.
Blog – 2018 será um ano fundamental para a política. Quais os seus palpites para a situação de Lula?
Luiz Henrique – Creio que dificilmente Lula será preso. Prender Lula sem prova, só com a convicção do Moro e do MPF, é desmoralizar de vez a Justiça. Fará Lula ficar maior do que ele é. A prisão vai trazer todos os olhares do mundo para o Brasil e matar a nossa jovem democracia, que nada será, senão um simulacro do estado democrático. A prisão pode transformar Lula, de novo, em um preso político. Mas hoje, ao contrário de ontem, aos olhos do Brasil e do mundo, ele não é um anônimo. Prender Lula pode ser o que a bala que matou Vargas representou: o estopim para a intifada tupiniquim, pode provocar a revolta dos anônimos, como da dona Francisquinha, que se submete até a ficar presa no lugar dele. Para eles, 10 anos é nada. Pra nós petistas também.
Até o momento a sociedade, até porque está dividida, tem permanecido anestesiada, diante da seletividade da Justiça em relação às punições ou tentativas, a Lula e a petistas, mas se prenderem Lula sem provas, vai faltar presídio no Brasil. A porta da cadeia estará aberta para os tantos Gedel, Paulo Preto, Aécio Neves, Azeredo, Moreira, Jucá, Temer e sua gangue. Contra eles, ao contrário de Lula, há malas e até apartamento de dinheiro e provas em abundância.
Há alguns meses, escrevi um artigo e afirmei que não há eleição sem Lula. Mesmo que consigam impedir a candidatura, não impedirão que ele aponte seu voto. Traduzindo: seu voto será o sinal de quem ele indica para substituí-lo em 2018. O Brasil vai virar milhões de Lulas, a substituir o voto que ele não poderá dar em si mesmo.
Penso também que dependendo do tamanho que Lula chegue em agosto, se chegar com a força descomunal das ruas, ele será candidato, porque a elite é tudo, menos doida e burra. Vai preferir governar com Lula do que deixar ele governar com o povo, ou seja, creio que Lula ganha eleição com Lula ou sem Lula. Lula só perderá se não tiver eleição. Isso é possível? Sim, infelizmente é possível.
Blog – Em relação ao cenário maranhense, qual a sua avaliação sobre a posição do PT nas eleições de 2018. Vai repetir a aliança com Flávio Dino?
Luiz Henrique – Se depender do meu voto como dirigente e como delegado no encontro de tática eleitoral, sim. Flávio Dino representa no Maranhão o que Lula representa no país, precisa da unidade das forças populares, democráticas e de esquerda. Não há dúvidas que o Maranhão é outro. Quando me perguntam qual o legado do governo Flávio Dino, não me restrinjo às políticas implementadas, tais como Mais IDH, IEMA, Escola Digna, finanças austeras, que permite pagamento de salários e serviços, crescimento PIB, em muitos anos, agora o maior do país. Nada disso. O que me convence é a opção de pela primeira vez experimentarmos o republicanismo. Um estado sem dono, por isso voto Flávio Dino.
Mas, tem sempre um “mas”, precisamos pensar também nos interesses do PT. Não dá pra não ter protagonismo. Com o cenário que se apresenta, não dá para o PT ser menor que os partidos golpistas DEM, PRB, PPS e demais especulações possíveis. Temos militância, história, tempo de TV e Lula. Precisamos debater qual o espaço digno do PT nessa composição. Pelo beiço, não.
Blog – E o cenário das eleições proporcionais? O partido vai assegurar as bancadas atuais ou ampliará?
Luiz Henrique – O PT vai só para eleição proporcional, há consenso de não fazer coligação. Com as candidaturas que temos, para deputado estadual elegeremos dois deputados, com possibilidade de um terceiro se ampliarmos a chapa e uma boa campanha de legenda, puxada por Lula ou por uma candidatura ao Senado. De igual modo, para federal, até em razão da legislação, que aproveita a sobra, se o partido não atingir o quociente eleitoral, faremos um deputado federal. Qualquer ampliação é possível, mas dependerá da chapa e legenda. Nesse cenário, em todas as bolsas de apostas, tenho ficado bem posicionado.
Blog – Por que você está disponibilizando o nome para ser avaliado em 2018?
Luiz Henrique – Nem foi uma decisão minha. Claro que passou por mim, mas a decisão foi do mesmo agrupamento político que elegeu o deputado Zé Carlos por duas vezes. É uma decisão avalizada por dois dos sete prefeitos petistas e demais lideranças da Resistência Socialista, tendência política que milito internamente no PT.
Os companheiros compreendem que estou pronto para exercer um mandato de deputado estadual, que posso contribuir com o PT e com um governo de esquerda, como é o governo Flávio Dino. Estão nesse projeto coletivo homens e mulheres, juventude, lideranças de vários segmentos sintonizados na concepção de que podemos disputar o futuro, que precisamos estar à altura do pós-Flavio Dino. Esses fatores me fizeram candidato.
Muito mais que a escolha de um nome, existe um projeto coletivo em torno da defesa da educação pública de qualidade, da reforma agrária, da questão ambiental, das minorias, dos quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco, ou seja, outro modelo de desenvolvimento para o estado, que priorize os recursos naturais, a vocação local de cada região.
Blog – Qual é o sentido da política na sua vida?
Luiz Henrique – A política é intrínseca a todos e todas. Todo mundo faz política. Fiz política eclesial na igreja; quando estudante, no movimento secundarista; política no movimento social, sou ex-presidente da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão; faço política partidária desde 1989, quando me filiei no PT, e tive que esperar um ano para que acatassem meu pedido no diretório municipal de Pedreiras. Assim sigo. Quando me perguntam porque me dedico à política, respondo que toda pessoa honesta costuma ter preconceito na ocupação desse espaço. O problema, como disse Luther King, é o silêncio dos bons. Se não ocuparmos esse espaço, os bons sempre reclamarão dos maus, do que fazem da política. Se depender de mim, vamos disputar com eles, os maus políticos, para a política ser espaço dos bons.
Ed Wilson Araújo
Se política fosse guiada por lógica, José Reinaldo Tavares (sem partido) seria o primeiro candidato ao Senado na chapa do governador Flávio Dino (PCdoB).
A coerência e a correspondência, princípios da lógica, recomendariam ao governador retribuir o apoio que obteve do então governador José Reinaldo Tavares, em 2006, quando Flávio Dino elegeu-se deputado federal.
Tavares considera-se o avalista do ingresso de Dino na política. Não só isso. Ele computa à sua ruptura com José Sarney todo o sucesso das oposições que levou Jackson Lago (2006) e Flávio Dino (2014) ao Palácio dos Leões.
Coloca-se ainda na balança a regra de que todo ex-governador naturalmente vai para o Senado. Foi assim com José Sarney, Epitácio Cafeteira, João Alberto, Roseana Sarney, Edison Lobão e João Castelo.
Apenas José Reinaldo ficou fora. Para ele, está passando da hora e esperava ser candidato com o aval e a proteção do Palácio dos Leões, mas não encontrou viabilidade e anunciou o racha.
Uma coisa é a lógica; outra, a condução das alianças partidárias obedecendo à regra do pragmatismo eleitoral.
Nesse enquadramento, José Reinaldo não tem a moeda principal: o controle de um partido. Ele ainda tenta se filiar ao DEM, mas a legenda já está na mira do Palácio dos Leões.
Além de não ser “proprietário” de um partido, Tavares optou por caminho oposto ao do governador durante todo o processo que levou ao impeachment de Dilma Roussef (PT).
Enquanto Dino assumia publicamente a defesa da presidente petista e também de Lula, Tavares alinhava-se ao golpismo e à sustentação do governo Michel Temer (PMDB), votando “sim” às reformas trabalhista e previdenciária (esta não concluída).
Esse dado da conjuntura nacional precisa ser observado, mas não é critério universal para compor a chapa ao Senado, visto que o governo corteja a deputada federal Eliziane Gama (PPS), que também votou favorável ao impeachment.
Mais uma vez, a lógica não funciona, até porque o governo compõe com vários deputados golpistas, a exemplo de Pedro Fernandes, André Fufuca e o próprio Juscelino Filho, que controla o DEM no Maranhão e pode ser uma barreira aos planos de José Reinaldo Tavares.
O racha provocado pelo desentendimento entre o governo e o deputado postulante ao Senado ainda pode ter conserto.
Muita gente ficou surpresa e traumatizada com o anúncio da ruptura. Para mim, é tudo normal. Trata-se apenas do jogo de forças na disputa por espaços no modo pragmático de fazer política.
José Reinaldo não tem preferências ideológicas. Ele está além do bem e do mal. Nasceu e cresceu sob a proteção da oligarquia liderada por José Sarney, depois aliou-se a Flávio Dino e, sem apoio, busca outro caminho, provavelmente na eventual chapa com Eduardo Braide (PMN) disputando o governo.
A ruptura ainda depende do controle do DEM e do cenário nacional. Se Tavares se firmar no controle do partido, com mão de ferro, pode compor com Braide.
Se perder o DEM para Flávio Dino, pode até voltar humilhado a uma candidatura de deputado federal sob a proteção do Palácio dos Leões, apenas para não ficar sem mandato.