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O voto é livre

A democracia, mesmo com as suas imperfeições, nos dá liberdade para escolher. Diante da urna, temos as candidaturas e as opções de anular ou votar branco. São as regras do jogo.

Nas eleições para a Prefeitura de São Luís, as três candidaturas melhor colocadas expressam uma cidade conservadora. Somados, os deputados Eduardo Braide (Podemos / 37,81%), Duarte Junior (Republicanos / 22,15%) e Neto Evangelista (Democratas / 16,24%) tiveram 390.146 sufrágios do total de 553.499 votos válidos no primeiro turno.

Os três são filhos do mesmo útero da política tradicional e conquistaram mandatos nos velhos moldes: clientelismo, fisiologismo e patrimonialismo.

Sobraram no segundo turno Eduardo Braide (Podemos 19) e Duarte Junior (Republicanos 10).

Por razões óbvias, o 19 está descartado. Resta o 10.

Respeito a opção das pessoas que vão votar em Duarte Junior, sob o argumento de que ele representa o antibolsonarismo e reforça o campo político do governador Flávio Dino (PCdoB).

Quero apenas lembrar um, entre tantos fatos semelhantes.

Em 2014 Roberto Rocha foi eleito senador nos braços de Flávio Dino.

Na época, o discurso era de que precisávamos derrotar a oligarquia de José Sarney, que tinha como candidato ao senado Gastão Vieira (PMDB).

Veja você a inversão dos papeis. Roberto Rocha (RR) rompeu com Flávio Dino e hoje é o principal representante do bolsonarismo no Maranhão. Isso estava escrito, mas em nome do antisarneísmo valia até o voto em RR.

O resultado, estamos vendo… Roberto Rocha é um dos fiadores de Eduardo Braide.

E Gastão Vieira, demonizado pelo carimbo sarneísta, derrotado para o Senado em 2014, candidatou-se a deputado federal em 2018 já convertido ao comunismo maranhense. Ficou na segunda suplência, mas foi efetivado na Câmara Federal graças a um acordo que retirou Rubens Junior (PCdoB) de Brasília para ser candidato a prefeito de São Luís e entregar o mandato ao ex-sarneísta.

Detalhe: Gastão Vieira, do PROS, é dinista no Maranhão, mas vota com Bolsonaro em Brasília.

Chegamos em 2020 em situação parecida: votar na direita para combater algo pior.

Se Eduardo Braide tem como fiador Roberto Rocha, Duarte Junior tem Josimar de Maranhãozinho (PL) dentro da chapa, representado pela sua sobrinha, Fabiana Villar (PL), candidata a vice-prefeita de São Luís.

Duarte Jr e a dobradinha campeã de votos em 2018: Detinha e Josimar

Josimar de Maranhãozinho e sua esposa Detinha foram eleitos respectivamente deputado federal e deputada estadual com as maiores votações na eleição de 2018: ele com 195.768 votos e ela 88.402 votos.

Além da sobrinha candidata a vice-prefeita, o sobrinho, Aldir Junior (PR), foi reeleito vereador em São Luís com 4.855 votos.

Maranhãozinho não é apenas um representante da política tradicional. Ele é uma grande frente conservadora que saiu da eleição de 2020 com quase 30 prefeitos eleitos e diversos vereadores em todas as regiões do estado.

Ele tem força eleitoral, poder econômico e deseja ser governador do Maranhão. Precisa desenhar em qual campo político Maranhãozinho estará em 2022?

Votar em Duarte Junior pode ser algo como adquirir um eletrodoméstico e depois de pouco uso perceber um defeito de fábrica. Aí vai ter de reclamar no Procon.

Por falar em reclamação, alguém precisa dar um pito no PDT, partido da base do governo, que já migrou para o 19 e está pronto para permanecer ad infinitum na máquina da Prefeitura de São Luís, caso Eduardo Braide seja o vencedor.

Merece um corretivo também o presidente da Assembleia Legislativa, Othelino Neto, do PCdoB, que se mandou para Barreirinhas e não segue a orientação do governador.

Como se diz, a conjuntura é dinâmica e o jogo é bruto.

Em resumo, o bolsonarismo está disseminado nas duas candidaturas, com as suas respectivas tonalidades. Qualquer que seja o vencedor, 19 ou 10, a cidade está derrotada faz tempo. O futuro de São Luís é antigo. Basta ver o nível dos debates…

Votei em Flávio Dino para prefeito (2008), governador (2010, 2014 e 2018) e serei eleitor novamente em 2022.

O voto é obrigatório, mas temos a liberdade da escolha. E política não é religião, nem seita.

Reitero meu respeito pelos eleitores e eleitoras de Duarte Junior, mas meu voto é nulo.

Eleição passa e a luta continua. Vamos seguir defendendo a cidade, o plano diretor civilizatório, apoiar os movimentos sociais e as legendas do campo democrático, somar forças com o povo e seguir em frente no combate ao bolsonarismo.

11 respostas em “O voto é livre”

É isso, meu amigo… Estamos sem opção nesse cenário… A lógica da politicagem fisiologista tomou conta dos espaços, que se limitam ao jogo dos cargos nas secretarias e às disputas eleitoreiros, já prevendo o jogo nas próximas eleições… E mais uma vez o bem da cidade (coisa pública) fica no esquecimento…

Compreendo sua decisão, companheiro. Porém penso que o voto nulo, embora sendo uma opção, não contribui em nada. Abster-se é fortalecer o pior lado. Por mais que seja ruim o candidato 10, o 19 fortalecerá o sarneísmo tão perverso para o nosso estado.

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