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Obras em São Luís refletem atraso de quatro séculos

Para além das avenidas largas e o desmanche dos retornos, a cidade “invisível” está mais poluída e as mudanças no Plano Diretor podem transformar a ilha em uma bomba relógio

Em setembro de 2024 a capital maranhense vai completar 412 anos com um monstrengo da engenharia chamado “Bacabeirinha”, uma referência da barbárie arquitetônica contemporânea.

O elevado que estragou uma das mais belas paisagens de São Luís é a cara do atraso do Maranhão.

Mas, o retrocesso tecnológico e na infraestrutura da cidade pode ser observado também na gestão de Edivaldo Holanda Junior, que se reelegeu com a promessa de ônibus com ar condicionado e a construção de praças em terrenos baldios.

Tal qual uma cidade provinciana, qualquer obra vira uma grandiosa revolução na “ilha do amor”.

Intervenções normais nas outras capitais, que já fizeram praças e avenidas, são uma gigantesca novidade em São Luís.

O significado do atraso se dá em pelo menos dois sentidos imediatos e outro mais profundo.

Primeiro é o tempo longo – mais de 400 anos – para a cidade ter os equipamentos básicos de uma capital, como as praças.

Segundo é o tipo de cidade, feita para o transporte motorizado, como se o alargamento de avenidas e as intervenções nos retornos destinados aos veículos velozes seja algo monumental.

É preciso repetir que mobilidade não se restringe aos equipamentos motorizados. Inclui necessariamente o conjunto de humanos na fruição da cidade, entre eles os pedestres, os idosos, as pessoas com deficiência e os usuários de bicicletas para variadas finalidades.

Ao contrário de uma urbe sustentável, celebra-se uma concepção de cidade que privilegia carros e motos, pouco arborizada, sem calçadas decentes, nenhuma passarela, com faixas de pedestre mal posicionadas e mais violenta para os públicos não motorizados.

O provincianismo em São Luís é tão grande que Edivaldo Holanda foi reeleito como o prefeito das praças e Eduardo Braide é o candidato dos retornos desfeitos e das avenidas largas.

Nesses quatro séculos, a cidade já passou por todos os tipos de gestão, até mesmo as mais desastrosas de Gardênia Gonçalves e João Castelo, que foi também governador e senador, e só não se reelegeu prefeito porque criou de última hora um monstrengo projeto de VLT.

Plano Diretor

Aqui está o sentido mais profundo, mencionado anteriormente. Enquanto o prefeito Eduardo Braide conserta as avenidas, a Câmara Municipal aprofunda as mudanças no Plano Diretor.

Entre as mais graves está a diminuição da área da zona rural em cerca de 30%, com o objetivo de entregar vastos territórios para a indústria pesada e o alargamento do complexo portuário.

As conseqüências da eliminação de uma grande parte da zona rural são graves:

1 – O aumento dos já elevados índices de poluição do ar e das águas do Golfão Maranhense, que circunda a ilha de São Luís;

2 – A contaminação dos peixes e mariscos;

3 – Aumento da temperatura, no contexto das mudanças climáticas globais;

4 – Redução das áreas de recarga de aqüífero e, em decorrência, das águas subterrâneas (lençóis freáticos) que abastecem os poços da Caema e os reservatórios privados;

As mudanças silenciosas na cidade “invisível”, ou seja, aquilo que não está na propaganda das redes sociais do prefeito, tem efeitos drásticos na vida de um milhão de pessoas.

Mas a gestão municipal não está preocupada com isso. O prefeito candidato à reeleição fala para o público que pilota uma frota de 250 mil carros, aproximadamente.

Eduardo Braide calcula votos e não importa se a cidade vai explodir de calor, se vai faltar água ou se os pedestres e as pessoas com deficiência terão mais dificuldades no cotidiano da cidade feita para os veículos motorizados.

São Luís já é uma selva. Este caldo cultural é facilmente percebido nos estacionamentos, onde a maioria não respeita sequer as vagas das pessoas com deficiência.

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