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Roberto Fernandes: uma instituição no rádio

Quem vive apaixonado por rádio AM sabe como é difícil encarar a morte de Roberto Fernandes, vítima do novo coronavírus nesta terça-feira 21 de abril. No momento em que escrevo passa na tela do computador o filme da minha vida de ouvinte, boa parte dela acompanhando os dois programas mais expressivos ancorados por esse grande profissional: Roda Viva, na Educadora AM; e Ponto Final, na Mirante AM.

Com tantos dispositivos sofisticados de comunicação, eu ainda sou do tipo que acorda e liga o velho aparelho portátil todos os dias. Ouvir rádio é como rezar, comer e beber. É um alimento indispensável no cotidiano.

E na minha caminhada de ouvinte muito tempo foi dedicado a Roberto Fernandes. Bem antes do meu primeiro emprego de jornalista em Assessoria de Comunicação eu já curtia os programas jornalísticos e as transmissões esportivas no radinho de pilha do meu pai, em nossa pequena quitanda, na Feira do João Paulo.

Depois a minha escuta ficou mais focada e atenta, percebendo como o rádio AM é um vigoroso instrumento de conexão da audiência com os gestores públicos e os entes privados. Aos poucos o meu gosto por esse fantástico meio de comunicação despertou a minha curiosidade acadêmica, resultando na tese de doutorado na PUCRS com o título “A palavra falada em pulsação: produção e recepção dos programas jornalísticos nas emissoras de rádio AM, em São Luís”.

A feitura da pesquisa, elaborada com tantas fontes no trabalho de campo, teve em Roberto Fernandes um manancial de informações. Aquele homem ocupado e importante era sobretudo um cara generoso que me recebeu uma tarde no seu apartamento para uma longa conversa sobre rádio com 1 hora e 39 minutos de duração (ouça aqui).

Todo esse relato serve para falar da minha gratidão e do meu respeito por Roberto Fernandes. Eu aprendi muito ouvindo ele. E quantas vezes tive a chance de falar no seu programa sobre temas de interesse público.

Entre tantas alegrias que Roberto Fernandes proporcionou à sua audiência, quero registrar a primeira vez que um ouvinte e fã (veja acima) falou no rádio com seu locutor preferido. Seu Nildo, um homem simples, morador da comunidade Taboa, na ilha de Mangunça, em Cururupu, é um dos “invisíveis” que só tem o rádio como amigo e companheiro naquelas comunidades onde nem a luz elétrica chega.

No outro vídeo (abaixo), seu Vaguinho, morador da ilha de Guajerutíua (Cururupu), fala sobre a importância do rádio AM ao longo de toda a sua vida.

Sempre digo para meus alunos que um dos segredos do sucesso na mídia é ter os pés no chão. Roberto Fernandes era famoso, reconhecido e celebrado, mas nunca deixou de ser um profissional simples, tranquilo, honesto e com a dose certa de humildade.

Quando ele mudou de emissora, saindo da Educadora AM para a Mirante AM, houve uma verdadeira comoção no rádio. Muitos ouvintes telefonaram para lamentar, reclamar, criticar e até chorar, argumentando que o estilo e a liberdade do apresentador não seriam mais os mesmos quando ele fosse trabalhar no Sistema Mirante de Comunicação.

A audiência tinha certo receio do que poderia acontecer com Roberto Fernandes trabalhando na rádio do sistema de comunicação de propriedade da família liderada por José Sarney.

Ele mudou de empresa, mas seguiu as suas referências éticas construídas ao longo de uma carreira sólida e respeitável. Na Mirante AM/Globo manteve a simplicidade e o carisma que cultivou na sua antiga casa – a Educadora, pertencente à Igreja Católica.

Aquele homem que tinha o poder da voz e a posição institucional do locutor carregava também uma característica fundamental do comunicador – saber ouvir.

Tanto no programa Roda Viva quanto no Ponto Final ele preservou o bom trato junto à audiência, sabia considerar os diferentes níveis de posicionamento dos ouvintes, sempre respeitando o senso comum e a fala mais elaborada, sabendo ser duro quando necessário, porque o rádio é também o lugar das discordâncias.

Ele não era apenas um jornalista e radialista, era uma instituição nesse meio de comunicação tão importante para a cidadania e a democracia.

A voz de Roberto Fernandes silenciou, mas a sua força espiritual no rádio segue vibrante, servindo de exemplo e referência para outros tantos profissionais, ouvintes e às novas gerações de radialistas.

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O problema da “obviedade”: breve ensaio sobre O Poço

Por Marco Rodrigues, filósofo

“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não se tornar também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”. (Friedrich Nietzsche)

A condição humana, em sua tomada de consciência, depara-se em dado momento com as seguintes inquietações, quiçá irrespondíveis: por qual razão e, para que propósito, existimos no fim das contas? Em latência essas perguntas permanecem, durante a vida inteira, mesmo que sob os escombros do frenesi das ocupações, ou ainda, das convicções e crenças, que turvam e emulam o olhar numa direção dispersa e difusa. Por mais que haja diversas narrativas que atribuam sentido à existência, acabam por sucumbir na hora derradeira do caos, quando a incerteza passa a corroer a alma. Tal problemática aparece de forma complexa em “O Poço”, uma intrigante obra cinematográfica, sob a direção de Galder Gaztelu-Urrutia. O que se propõe aqui analisar é apenas um recorte, a maneira ensaística, de uma obra fílmica dotada de diversas variáveis e representações que permitem uma hermenêutica de vicissitudes múltiplas.

A trama se inicia ao som de música erudita, numa requintada cozinha, que funciona com o maior rigor e cuidado o preparo dos mais finos e variados pratos, sob a supervisão de um atencioso Chef de Cuisine. À primeira vista, imagina-se um restaurante de alto padrão. O controle de qualidade demonstra-se impecável, numa precisão mecânica, apresentando de forma satírica as ilusões que são construídas a partir dos ideais sofisticados de cultura e de civilidade. Mas toda essa suntuosa produção tem por objetivo a alimentação dos detentos do Poço, servida com requinte numa plataforma que desce diariamente e para em cada andar, num breve instante para que cada dupla se sirva, ao longo de 333 níveis. Esse apreço com o preparo não objetiva a promoção da dignidade humana e de seus direitos, nisso consiste sua ironia. Pouco interessa o que acontece em seguida, cumpriu-se uma tarefa. Não é difícil supor que os detentos dos níveis mais baixos não terão o que comer, mas não porque a comida seja insuficiente. O modo glutão de Trimagasi (Zorion Eguileor), logo na primeira aparição da plataforma, evidencia essa compreensão frente à perplexidade de Goreng (Ivan Massagué), uma vez que, estando no nível 48, descobre que resta ter que se alimentar de tudo o que sobrou da voraz indiferença de 94 pessoas dos 47 andares acima. Os “de cima” não respondem aos “de baixo”, logo os “de baixo” não têm porque reportarem-se aos “de cima”, o que se reproduz em cadeia ao longo dessa estrutura.

Por outro lado, Goreng faz um questionamento que, por prematuridade, pode acabar passando despercebido, mas que é o fio condutor para as implicações mais importantes do filme. Trimagasi explica que em breve haverá menos pessoas, como se isso fosse uma forma de consolo ou alívio. “Por que haverá menos gente?”, é o que Goreng pergunta. Ao contrário do “óbvio” que se poderia esperar, Trimagasi responde: “não direi que é óbvio, pois não é”.

Essa crise inaugura algo que até então parecia impossível, o diálogo, e consequentemente o despertar de um pensamento crítico que direciona todo o conflito. “Há três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo, e as que caem”. Essa definição parece óbvia? “Óbvio!”, diria certamente Trimagasi, o que por ventura é o que responde na maior parte das vezes, como um bordão. Todavia, não há nada de óbvio nisso. Está em cima, ou em baixo, não é a questão. Bem diferente do que se possa supor, O Poço não é um filme óbvio. Essa é a sua sutil provocação, um distrator. Ninguém é de cima ou de baixo; na verdade, ninguém é, fundamentalmente, de lugar algum. Ocupa-se um espaço, um lugar, mas apenas de modo provisório. Não há classes sociais, e a luta não é de classes. Todos os meses os detentos acordam em um novo andar, de cima ou de baixo, sem que se possa escolher quaisquer desses níveis. Não há garantias, enquanto durar a pena, a qualquer detento. Esses três tipos de pessoa não se definem como “produto do meio”, pois o ambiente é exatamente o mesmo, oscilando amiúde os seus graus, pois, quanto mais se desce, pior é a descoberta que cada um realiza e faz, a partir de si mesmo, em contraposição aos outros que operam igualmente em suas descobertas díspares e ambíguas.

Porém, o que se descobre não é a revelação de alguma natureza mais própria, mas de possíveis de suas condições, que se constroem a cada diferente nível. São muitos os limites humanos que se deslocam, numa lógica perpendicular. “O homem é o homem e a sua circunstância”, bem como compreende Ortega y Gasset, filósofo espanhol, uma vez que as circunstâncias não são o meio, mas um conjunto de variáveis que se interpõem. Brutalidade, violência, canibalismo, estupro, indiferença, egoísmo, são potências à disposição de qualquer um, e mesmo aquele que jamais imaginou ser capaz de realizar tais coisas, vê-se abruptamente cair nessas vilezas, de uma forma ou de outra, por diferentes razões. Goreng, por exemplo, pratica de violência e experimenta carne humana, apesar do asco e do absurdo que isso possa representar. Basta lembrar, também, que evitara comer no início e, ao tentar guardar um fruto para outro momento, é penalizado, descobrindo que resistir à tentação de se alimentar poderia ser um erro… Seu pecado original de modo reverso, onde se precisa experimentar da árvore do conhecimento?

Outrossim, a existência humana não é um discurso, muito menos ainda o que se pode ter em mente enquanto crenças e ideologias, mas também não é apenas o que se faz dela eventualmente. A ausência de interlocução entre os “de baixo” com os “de cima”, e vice-versa, intensifica a barbárie e retroalimenta as idiossincrasias que, atingindo um estado solipsista, garante intacta a conservação da estrutura vertical sem hierarquia do Poço. Tanto o senso de coletividade, quanto a intensificação do narcisismo, podem legitimar um determinado sistema. É igualmente provável que se possa sucumbir em ambos os casos, exatamente quando a dimensão política desaparece. Não há mais uma política ali, embora haja um arquétipo de Estado e algum poder exercido, o que significa dizer que a ética se torna muito pouco provável, pois a moral que se engendra não resulta de uma atividade relacional, mas de sua recusa. Não é por ventura que as luzes verdes e vermelhas expõem a automação que inviabiliza a atitude reflexiva. Apenas atende-se a comandos regulares de condicionamento, nada parece mais mediar as condutas. A coerção é dada pelo ensimesmamento de cada um, o que condena suas próprias consciências à escravidão autoinduzida. Por isso, essa prisão é chamada de Centro Vertical de Autogestão (CVA), podendo-se inclusive adentrá-la voluntariamente. É uma edificante soberania consumada por idiotas, na semântica grega da expressão, ἰδιώτης (idiṓtēs), cujo sentido é plural embora não tenha conotação coletiva. Trata-se, trocando em miúdos, do que popularmente se diz: “cada um por si”. Certamente essa pretensão de individualidade firma um tipo de pacto da mediocridade espontâneo e não declarado, tal como se realiza nessas atividades ridículas de coaching, cujo método psicológico barato estimula a positividade maléfica do acreditar em si mesmo.

Diferente do que considerara Sartre, em “Entre quatro paredes”, em O Poço o inferno não são os outros. Ora, são 333 andares, sendo 2 pessoas em cada um, multiplicando-se esses dois números temos o seguinte resultado: 666. Isto faria o inferno de Dante até razoável, para alguma redenção. Sendo assim considerado, é o número da besta o que, amiúde, metaforicamente ilustra a composição de um outro tipo de inferno, que se evidencia e se estabelece nas próprias consciências e não por intermédio das relações interpessoais. “O inferno sou eu”, poderiam dizer, todavia assumir a própria decadência poderia ser letal, por insuportabilidade, o que demonstra a perspectiva daqueles que caem. Olhar para si e descobrir a própria insignificância, não é tarefa fácil.

Na maior parte das vezes, são os “de cima” que mais se precipitam, entrando assim em cena o fenômeno do suicídio. Por essa razão, é que Trimagasi afirma que o nível 48 é um bom nível, pois muito acima não se “tem muito o que esperar… e muito o que pensar”. Com efeito, essa espera, que não tem muito o que esperar, denomina-se desespero, ou seja, é a esperança negando-se ser ela mesma uma espera. O que pressente a maioria dos detentos são os efeitos de elpís, o único dos males a permanecer na caixa de Pandora, segundo o mito grego. Mas não era a esperança? Não, essa tradução é imprecisa, precária e tendenciosa. Em grego antigo, elpís é “Antecipação”, isto é, a capacidade de saber o que irá acontecer conosco no futuro, ou ainda, sobre o destino. “Antecipação” não é “esperança”, mesmo que represente uma outra forma de espera. Porém essa habilidade, ao permanecer na caixa, vedado ao conhecimento dos homens, permite que se possa imaginar o que nos espera, e com isso almejar alguma destinação feliz, o que finalmente pode ser chamado de esperança, do latim spes (espera), exercida pelo esforço do acreditar. Todavia, não saber e ter que refletir sobre o que está porvir também nos põe diante da incerteza, o que profundamente intensifica a amargura sobre às expectativas desse pensar, o que em nada tem de óbvio.

O pensamento pode se tornar uma dimensão perigosa, principalmente quando ocorre no encontro inoportuno com a vazio que flui da angústia, na proporção da instabilidade acerca do que guarda o futuro. Imaginar onde se acordará no próximo mês é, certamente, o que põe em crise esperança e antecipação. Portanto, não é o suicídio a consequência de uma causa, não acontece por conta de uma razão – mas quando se carece de quaisquer razões. Relações de causa e efeito são sabotadas, tornando a compreensão lógica ineficiente e ingênua. Comete-se suicídio, provavelmente, na ausência de um motivo, e não quando se possa ter algum. Sem dúvida, trata-se de uma falsa obviedade.

Por outro lado, quando é compreendido algum motivo, a revolta ou a conformidade podem ser fundamentos, a exemplo, respectivamente, de Goreng e Trimagasi. É a partir dessa dubiedade que o livro “Dom Quixote” se torna mais útil que a “samurai plus”. Mesmo aparentemente impossíveis as causas pelas quais se pode lutar, é preciso ainda assim colocar-se diante delas, mesmo que cada nível do CVA não passe de moinhos de vento. Com relativa certeza, não é óbvia nenhuma formulação utópica, o que desperta ampla suspeita sobre as propostas que contrariam a obviedade do real estabelecido, cujo rigor de sua sistemática enfraquece iniciativas de subversão. É por esse motivo que Trimagasi pergunta a Goreng se ele é “comunista”, pejorativamente. Essa inquirição explica o que representa a desilusão que se observa atualmente, pois, quando alguma iniciativa de política social e de solidariedade é proposta, entende-se, na maior parte das vezes, por assistencialismo esquerdista, como se asseverar sobre o bem comum já não fosse uma ideia pensada desde os filósofos gregos. A autogestão destrói a empatia, na mesma medida que cria, inadvertidamente, um sentido meritocrático falso e que se descobre fracassado. Não há resistência quando se executa a autopersuasão, o que estende uma teia de relativismo formado por fios dogmáticos, onde cada um considera o próprio ponto de vista como a única medida de todas as coisas. Exatamente por essa condição, é que a obviedade se estabelece por não reconhecer a diferença fundamental que permitiria a necessária abertura ao outro.

A imagem do inferno se maximiza, não apenas porque Goreng acordara no nível 202, mas porque descobre haver muito mais abaixo, e não apenas 200, diferente do que houvera declarado Imoguiri (Antonia San Juan). A antiga funcionária do CVA pouco sabia do que se tratava o seu trabalho, talvez isso tenha impulsionado, junto ao câncer e a impotência de seus discursos, sintomas de despropósito que terminaram em suicídio, o que garantiu a sobrevivência de Goreng, canibalizando-a. O que é importante nisso, de certo modo, é que outra obviedade é solapada. Não há o que poderia ser óbvio naquilo que não se conhece propriamente, e muito menos ainda naquilo que se acredita conhecer. Muitos equívocos podem ser cometidos em nome de uma certeza, ou até mesmo de uma aposta de fé, pior ainda quando através de achismos. Naturalmente, esse problema permite se pensar que nada garante que não houvesse menores de idade naquelas instalações. Nada também garante que a manutenção intacta da panna cotta resultaria em alguma mudança.

Apesar dessa conjuntura distópica, o errante Goreng, o messias Dom Quixote, e Baharat (Emilio Buale), seu Sancho Pança desventurado, perseveram ao reconhecer a essência trágica do mundo, através de um inconformismo que ignora, de forma demasiado humana, tudo o que parece completamente óbvio.

Imagem destacada retirada no site cineclick

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Advogado defende bloqueio total em São Luís para conter coronavírus

Fonte: Agência Tambor

O advogado Diogo Cabral esteve no Radiojornal Tambor, no último dia 13 de abril, falando sobre a crise do Coronavirus no Maranhão.

Diante do agravamento da crise, em São Luis, nós ouvimos novamente o advogado.

Em suas novas respostas, Diogo chegou a defender “bloqueio total” (lockdown), no processo de isolamento social.

O lockdown está previsto em decreto emitido pelo governador Flávio Dino.

As perguntas foram enviadas por Whatsapp. Leiam abaixo a integra da entrevista.

Uma parte da população de São Luis, por ignorância ou irresponsabilidade, está se comportando como se não houvesse pandemia. Como você avalia isso?

Ao meu ver há vários fatores e grupos.

Há setores populares que vivem de forma precária, não tem moradia digna, não tem trabalho formal, dependem de parcos recursos diários e se submetem, mesmo com o elevado risco de contaminação, ao trabalho cotidiano. Assim estão milhares de maranhenses. Como prevalece no Estado um elevado grau de pobreza e ausência de proteção social ampla, serão as maiores vítimas dessa pandemia. Muitos maranhenses sequer têm recursos para compra de sabão e água encanada acaba sendo também um privilégio na maioria dos lares do estado. Nesse mesmo grupo, prevalece desinformações de vários níveis. Muitos sequer sabem ler e escrever. Outros, são bombardeados por fake News.

Há um setor, em específico, formado sobretudo por pessoas que tem elevado poder aquisitivo, com casa, plano de saúde e que desenvolvem atividades econômicas de médio e grande porte que são aderentes do Bolsonarimos que repetem as infâmias do ébrio presidente da república, que vociferam, que espalham fake News, que dizem a coronavirus é uma gripezinha. Esses setores conseguem, em razão das diversas redes que estão inseridos, mobilizar muita gente que está descumprido as recomendações das alta autoridades sanitárias, muitos inclusive comentem uma série de crimes por estimular a permanência nas ruas, abertura de todas as atividades comerciais. Esse grupo não será afetado de forma massiva, porque tem acesso a recursos das mais diversas formas, plano de saúde.

Mesmo que essa irresponsabilidade e ignorância esteja sendo praticada por uma minoria (por exemplo, 30% a 40% da população de São Luis), quais os estragos que isso pode provocar no Maranhão e, particularmente, na Ilha?

A doença mudou de perfil no Brasil e no Maranhão. Há ainda uma predominância de pessoas doentes nos bairros de classe média elevada e ricos de São Luís, como o Renascença, Calhau, Ponta D”areia. No inicio, as notícias revelam os tratamentos na rede particular, como o Albert Einstein de São Paulo e a UDI e HSD de São Luís. Contudo, com o passar dos dias, percebemos que o vírus se espalha por parte significativa da periferia de São Luís e para pequenas cidades desestruturadas do Estado do Maranhão. Hoje, 13.04.2020, temos 45% das UTIS da rede pública estadual ocupadas. Quase a metade da capacidade. Lembramos que o primeiro registro em São Luís ocorreu em 20.03.2020. Hoje na cidade de São Luís, de acordo com os dados da Secretaria de Saúde do Estado, temos 478 casos no Estado e em São Luís 393. Já ocorreram 32 óbitos em menos de um mês, todos na ilha de São Luís, o que a torna a 5ª cidade do país com maior número de óbitos proporcional. Teremos uma carnificina nunca antes vista. Estimo, no atual ritmo de contagio, que ocorra colapso na rede pública de saúde em menos de 40 dias.

De modo bem objetivo, você acha que devemos considerar a possibilidade de implantação de toque de recolher na Ilha de São Luis? Por que?

Como consequência do direito fundamental de locomoção (art. 5o, XV e LXVIII, da Constituição da República) e da proibição da distinção entre brasileiros (art. 12, § 2o, da Constituição da República), é garantido a todo residente no Brasil a livre circulação em território nacional. As formas de exercício de tal direito, contudo, comportam algumas possibilidades de limitação, cujos elementos – especialmente aqueles relacionados a estados de emergência de saúde pública ou calamidade pública, como o que enfrentamos agora. Assim, tem-se que as medidas de restrição à circulação de pessoas são em tese possíveis, uma vez previstas em instrumentos normativos legítimos e considerando que não há ofensa ao texto constitucional.Quanto ao toque de recolher, especificamente, o regulamento do regime de quarentena (Lei n. 13.979/2020, Portaria n. 356/2020/GM/MS e Portaria Interministerial n. 5/MS/MJSP) é adstrito aos objetivos de saúde pública que almeja e suas medidas são vinculadas à finalidade de enfrentamento à infecção por Covid-19, devendo a tomada de decisão das autoridades competentes se basear em propósitos de natureza sanitária e epidemiológica. A quarentena não se confunde, porém, com o chamado “toque de recolher”, que consiste, segundo definição colhida do Dicionário Priberam da Língua Portugues, em “proibição, determinada como medida excepcional por governo ou autoridade, de os civis permanecer na rua a partir de determinada hora. Nesse contexto, não há previsão legal de “toque de recolher” pelos referidos instrumentos, de modo que o ato administrativo que, em qualquer esfera, os decrete é ilegal quanto ao seu objeto. Contudo, outras medidas podem ser utilizadas. O decreto estadual Nº 35.731/2020 prevê em seu art. 12, parágrafo único a realização de bloqueio total (lockdown), que também não deve ser confundido com toque de recolher. Ao meu ver, o Governador Flávio Dino deveria usar dessa opção, dado o crescimento exponencial de casos sobretudo na Ilha de São Luís.

E a comunicação? A utilização ostensiva de carro de som, não seria ser uma alternativa?

Carro de som, vinhetas em rádio AM e FM, vinhetas para whatsapp, anúncios em outdoors. Temos que ter uma comunicação massiva, permanente e que deve ser convincente. Aos meu ver, o uso de mensagem massiva de SMS/whatsapp poderia ser uma forma de informar a população sobre os dados diários. Isso é possível de ser feito. Fazer funcionar sistemas de informação direta, destacando a concentração dos casos por bairros. Os números são pessoas. E cada vez mais próximas. As rádios comunitárias podem cumprir essa tarefa fundamental, por isso elas não podem ser criminalizadas, como são há anos. Elas devem ser estimuladas a funcionar e inclusive receber repasse de recurso público para divulgação de ações educativas.

Na Semana Santa, houve torneio de futebol na região da Via Expressa, em São Luis. E várias lojas seguem abrindo suas portas…
Como você acha que deve ser a participação da Polícia Militar, diante de aglomeções? Ou diante de ações irresponsáveis da iniciativa privada? Principalmente de setores não essenciais? E nas periferias?

Ao meu ver deve haver uma maior fiscalização das atividades econômicas que estão proibidas de funcionar. Ao meu ver, localmente, o prefeito Edvaldo Holanda deveria disponibilizar servidores que possam realizar essa tarefa emergencial, em parceria com o Estado,o Poder de Polícia municipal deveria agir com maior ênfase. Deveria haver canais de denúncias/aplicativos para que as pessoas pudessem realizar comunicação sobre aglomeração, funcionamento de atividades que estão proibidas. Ao mesmo tempo, haver investimento em campanhas educativas de largo alcance, com uso direto de mensagem via SMS ou whatsapp. Ao meu ver, essa não é tarefa da PM, que deve ser utilizada de maneira excepcional, em último caso. As ações educativas na periferia são fundamentais. E igualmente importante as ações de proteção social. Um exemplo simples. Verificar quais imóveis do Programa Minha Casa Minha Vida estão ociosos e cadastrar a população em situação de rua. Estabelecer em parceria com a sociedade civil a distribuição de alimentos, de itens de higiene pessoal e donativos. Ampliar uma rede de solidariedade. Diferentemente da Europa e de parte do EUA, temos uma população empobrecida, desempregada, sem acesso a saneamento básico, sobretudo na periferia. Para finalizar, é urgente a revogação da Emenda Constitucional Nº 95. Ela é responsável pela desestruturação do SUS. E é preciso taxar as grande fortunas.

Publicado originalmente na Agência Tambor

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Em meio à pandemia, Conselho de Enfermagem atrasa a expedição de registro para novos graduados

Vários profissionais de Enfermagem recém-graduados em instituições de ensino superior estão encontrando dificuldades para obter o registro profissional devido à falta de agilidade do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) no Maranhão para expedir a documentação.

O atraso acontece em meio à pandemia do novo coronavírus e diante da grande demanda por profissionais de saúde na rede hospitalar pública e privada.

Ocorre que, com a pandemia, o Coren suspendeu o atendimento presencial e disponibilizou contatos por telefone e email para receber os pedidos de registro. No entanto, esses canais não estão funcionando com eficiência. “Tem gente que já mandou a papelada há mais de 15 dias, mas não obteve retorno. Já enviei minha documentação duas vezes. Os números de telefone informados para o atendimento a distância estão na caixa postal ou só chamam”, relatou um enfermeiro recém-formado.

Em condições normais, logo após a graduação o enfermeiro ou enfermeira encaminha a documentação para o Coren solicitando a expedição da habilitação e paga uma taxa no valor de R$ 452,00. Geralmente em cinco dias o procedimento estaria concluído. Mas, com as portas fechadas e sem agilidade nos canais a distância, o Coren está prejudicando a mão de obra egressa das universidades e faculdades.

“É uma demora absurda, no momento em que a sociedade mais precisa de profissionais de saúde regulamentados para o trabalho. Tenho amigos que se formaram juntamente comigo e esperam a resposta há mais de um mês e ainda não foram atendidos. E casos que todo dia reencaminha o mesmo e-mail para ver se obtém resposta, mas nada acontece. Precisamos estar regulamentados para exercer a profissão. É a segunda proposta de emprego que recebo e não possuo ainda registro para atuar na minha profissão, por conta de uma burocracia não resolvida.”, reclamou uma enfermeira recém-graduada.

As duas fontes não quiseram ser identificadas.

Recentemente, o governo federal determinou que os estudantes de Enfermagem, Medicina e Fisioterapia tivessem suas graduações antecipadas para agilizar o ingresso nas frentes de combate à pandemia. A professora doutora do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Sirliane Paiva, manifestou surpresa ao tomar conhecimento da morosidade do Coren. “Nesse momento precisamos de uma sincronia de ações. O governo antecipa as graduações, mas de nada vai adiantar se não tiver a licença. A seção do Coren no Maranhão está há um tempo sob intervenção, mas isso não é impedimento para acelerar os trâmites da documentação. Nós temos muitas faculdades de enfermagem no Maranhão e com certeza aconteceram muitas graduações e todos esses novos enfermeiros precisam do registro. Muitos estão dispostos a ir para a linha de frente, mas estão impossibilitados. Acho que o Coren deve dar um retorno imediato àqueles que estão solicitando seus registros profissionais”, cobrou Paiva.

Nossa reportagem ligou nos números (98561-6817, 98520-3406 e 98509-1087) e mandou mensagem para três endereços eletrônicos (negociacao@corenma.gov.br, transferencia@corenma.gov.br, atendimento@corenma.gov.br) disponibilizados pelo Coren. Os telefones estão em caixa postal. Às 15h41min de hoje (17 abr) uma das respostas ao e_mail do Blog do Ed Wilson informa que a denúncia seria encaminhada para a Assessoria de Comunicação (Ascom) do Coren.

Resposta ao email do Blog do Ed Wilson informa que a Ascom iria se manifestar

Posteriormente, em contato pelo aplicativo de mensagens WhatsAssp, a Ascom informou às 17h56min que estava providenciando uma nota de esclarecimento, mas até o fechamento dessa matéria (19h54min) a nota não foi enviada.

Após a publicação da matéria, às 20h, o Coren enviou a seguinte Nota de Esclarecimento, conforme abaixo:

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Vacinação pelo sistema drive-thru já aplicou mais de 25 mil doses

O sistema de vacinação drive-thru, instalado na área de prova prática do Departamento Estadual de Trânsito do Maranhão (Detran/MA), no Castelinho, imunizou, na quinta-feira (16), 2.341 pessoas com mais de 60 anos. Desta vez, o público alvo foram idosos com as iniciais R, S e T.

A coordenadora de Educação para o Trânsito do Detran-MA, Rositânia de Farias, ressaltou a adesão do público alvo ao sistema drive-thru. “Desde o início da campanha no último dia 30 de março, até está quinta-feira, já foram aplicadas mais de 25.690 doses de vacina. Esse dado mostra a eficiência do sistema e a grande procura da população por este tipo de atendimento”, afirmou.

O aposentado Rivaldo José Gonçalves destacou que a organização do drive-thru contribui para um atendimento ágil. “Quero parabenizar aos envolvidos por esse tipo de atendimento. Antes da vacina, já somos abordados e instruídos, a aplicação também é rápida, alem de não precisar sair de dentro do veículo”, disse.

Sistema de vacinação drive-thru (Foto: Divulgação)

Para a professora Solenilde Maria Alves, o sistema drive-thru é uma boa opção neste momento de pandemia. “O atendimento colabora para que não aconteça o contato e aglomeração de pessoas. Além de ser mais prático e rápido. Acredito que outras cidades do nosso estado deveriam adotar este tipo de procedimento”, declarou.

A campanha de vacinação é promovida pela Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS), com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPRv), Corpo de Bombeiros do Maranhão (CBMA) e Detran/MA, que está fornecendo a logística necessária para a vacinação utilizando o sistema de drive-thru.

De acordo com o cronograma divulgado pela Prefeitura de São Luís, nesta sexta-feira (17), serão vacinados idosos com as iniciais U, V, W, X, Y e Z.

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Uma transição em marcha?

Luiz Eduardo Neves dos Santos[*]

“Nós vivemos e morremos racionalmente e produtivamente”, escreveu o filósofo alemão Herbert Marcuse em 1964 na sua obra mais aclamada, O Homem Unidimensional. Nela o pensador faz uma poderosa crítica à sociedade industrial de então, em que os sujeitos se encontravam conformados com as estruturas preexistentes, normas e comportamentos. Estes sujeitos seriam submetidos ao controle de um poder dominante – em suas dimensões objetiva (trabalho técnico) e subjetiva (ideologia) – que moldaria e administraria suas emoções: desejo, medo, tristeza, alegria, aspiração, etc.  O homem unidimensional foi transformado em objeto, perdeu sua capacidade libertadora e autônoma, ou como Marcuse asseverou, a racionalidade individual foi devorada pela racionalidade tecnológica e científica.

Pode-se inferir que a crítica do saudoso filósofo da Escola de Frankfurt repercute em nossos dias com vigorosa potência, visto que há uma racionalidade que impera no mundo hoje, a do neoliberalismo, que também controla, administra e domina discursos e práticas não somente dos que detém o poder, mas também daqueles que são submetidos aos seus ditames.

Uma das dimensões da unidimensionalidade de nosso tempo é o que Dardot e Laval, na obra A Nova Razão do Mundo, chamaram de “o homem empresarial” ou “sujeito neoliberal”, o homem competitivo, que busca incessantemente o sucesso profissional, o homem bem sucedido e individualista. Não à toa se observa uma escalada assustadora dos chamados coaching, “profissionais” que possuem uma origem bem específica, o interior dos ambientes corporativos, mas agora invadem diversos setores da vida social. A banalização do coaching é um forte sintoma da ideologia do empresário de si mesmo e do desejo latente da realização pessoal. E mesmo que o sujeito seja empregado numa empresa, ele se sente parte dela, como “sócio” e/ou “colaborador”. Isto acontece também com motoristas de aplicativos e entregadores de comida pilotando motocicletas.

A racionalidade neoliberal nasceu como um projeto do grande capital na crise do fim dos anos 1970, disfarçado por um discurso sobre liberdade individual, meritocracia, autonomia, responsabilidade pessoal, virtudes da privatização e do livre mercado. Tal projeto tem alcançado êxito, haja vista a restauração do poder do capital, da expansão inédita da concentração de riqueza global, da servidão por dívidas dos trabalhadores, da proliferação da pobreza, tudo ao custo de toda uma sorte de doenças psíquicas derivadas dos modos degradantes da vida moderna e competitiva.

A subjetividade política e cultural do mundo vem sofrendo um grande impacto nas últimas décadas, já que seu modelo para a socialização da personalidade humana é o do oportunismo financeiro e do individualismo, caracterizado pelos prazeres e pelo gozo do consumismo hedonista, apontado por Milton Santos como “o grande fundamentalismo no nosso tempo”.

A pandemia do novo coronavírus tem apontado caminhos e possiblidades de superação da racionalidade neoliberal, mas é preciso cuidado com esta afirmação, já que em outras crises anteriores se cogitou o mesmo, mas o que se viu foi um fortalecimento dos alicerces neoliberais. A pandemia não é uma crise financeira, ela é a causa, talvez, do maior colapso econômico global da História, já que obriga grandes contingentes populacionais a estarem em isolamento social, provocando uma asfixia na produção, na circulação e no consumo de mercadorias, com reflexos significativos na perda de milhões de postos de trabalho no mundo.

Então, por que se pode apontar novos caminhos e possibilidades para superar a racionalidade neoliberal? A pandemia tem mostrado que a mercantilização da saúde é algo intolerável, a falta respiradores suficientes no mundo é só um exemplo. A saúde precisa ser vista como um bem comum, em que todos possam ter direito e acesso, isto vale para outros ramos, incluindo a pesquisa científica, o desenvolvimento de novas vacinas, insumos e tecnologias, tudo com subsídios estatais, de modo a não favorecer um punhado de empresas que visam apenas o lucro.

A pandemia coloca em xeque também o sentido de nossa existência, nossas relações de alteridade, de se colocar no lugar do outro, de refletir sobre a coletividade e o bem comum. Ela coloca a mão na ferida narcísica da sociedade, já que ataca nossa sobrevivência e nossas convicções, administradas e moldadas pela racionalidade neoliberal.

O atual momento histórico é único, ele nos mostra uma luz em meio à grande escuridão de nosso tempo, que não nos deixa enxergar o caminho da solidariedade, da ética, da cooperação, do senso de justiça, da autonomia, do respeito às diferenças e da alteridade.

A pandemia do COVID-19 ressoa como um alarme de incêndio ao fazer muito barulho, mobilizando pessoas – sobretudo os pobres e oprimidos – a refletirem, despertando-as de seus sonos profundos, já que desvela as condições objetivas, materiais e intelectuais para uma tomada de consciência, afim de que se possa, através da ação, superar o culto aos objetos técnicos, ao dinheiro e ao lucro e estabelecer inéditas relações com a coletividade e com o mundo, através de cada lugar e território do planeta. Certamente, se vivo estivesse, Marcuse elegeria as condições históricas atuais como propícias à uma grande transformação social e política, através do levante, da luta e da revolução e aí poderíamos reescrever sua frase do início deste escrito, colocando-a assim: nós vivemos e morremos solidariamente e pacificamente.

* Geógrafo, Professor Adjunto I da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus Pinheiro.

Foto destacada / Imagem ilustrativa produzida por CDC para Unsplash

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O uso do azulejo como objeto de higienização no Brasil colonial

Lavar as mãos e a limpeza do corpo em geral são duas anotações relevantes na obra “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre, texto fundamental sobre a escravidão e o patriarcado no processo de colonização do Brasil.

Para entender a introdução do azulejo associado a higienização é necessário observar o contexto histórico e as diferenças culturais entre os dominadores e os dominados.

Nos idos do século XV as primeiras levas dos colonizadores conheceram nos povos indígenas o hábito de tomar banho várias vezes por dia na fartura dos rios.

Já entre os europeus, os baixos padrões de higiene ainda eram notados entre as elites vários séculos depois do início da descoberta da América.

“Em princípios do século XIX – informa um cronista alemão citado por Lowie – ainda se encontravam pessoas na Alemanha que em toda a sua vida não lembravam de ter tomado banho uma única vez. Os franceses não se achavam, a esse respeito, em condições superiores às dos seus vizinhos. Ao contrário.” (FREYRE, 2003, p. 181-182)

Em substituição à lavagem das mãos a borrifação do álcool perfumado era uma das formas de atenuar a sujeira.

“O autor de Primitive society recorda que a elegante rainha Margarida de Navarra passava uma semana inteira sem lavar as mãos; que o rei Luis XIV quando lavava as suas era com um pouco de álcool perfumado, uns borrifos apenas; que um manual francês de etiqueta do século XVII aconselhava o leitor a lavar as mãos uma vez por dia e o rosto quase com a mesma frequência […] (FREYRE, 2003, p. 181-182)

Se os índios, acostumados ao banho várias vezes ao dia, tinham muito a ensinar sobre higiene aos colonizadores, em outros patamares as normas de higiene foram introduzidas pelos africanos, especialmente na Península Ibérica, quando da presença dos mouros.

Os mouros ou sarracenos são originários do norte da África (hoje Marrocos e Argélia). Convertidos ao islamismo, eles deixaram um legado em diversas áreas do conhecimento para a Espanha e Portugal: agricultura, matemática, astronomia, navegação, culinária, técnicas de construção, no vestuário e nos hábitos de higiene.

Gilberto Freyre registra, entre as contribuições dos mouros na engenharia, a introdução do azulejo.

“Os artífices coloniais, a quem deve o Brasil o traçado das suas primeiras habitações, igrejas, fontes e padrões de interesse artístico, foram homens criados dentro da tradição mourisca. De suas mãos, recolhemos a herança preciosa do azulejo, traço de cultura em que insistimos devido a sua íntima ligação com a higiene e a vida da família em Portugal e no Brasil. Mais que simples decoração […], o azulejo mourisco representava na vida doméstica do português e na do seu descendente brasileiro dos tempos coloniais a sobrevivência daquele gosto pelo asseio, pela limpeza, pela água, daquele quase instinto ou senso de higiene tropical, tão vivo no mouro.” (FREYRE, 2003, p. 300)

O ritual sanitário dos mouros incluía também os propalados “banhos de gamela” ou de canoa, ratificando o gosto pela limpeza do corpo, bem como a valorização da água corrente nas partes externas das casas-grandes.

Assim, o recorte da cultura moura sobre higiene introduziu o azulejo não só como peça decorativa, mas sobretudo como um revestimento capaz de dar mais frescor aos ambientes internos e por ser de fácil lustro e limpeza.

Do ponto de vista cultural, cabe mencionar, com base em Gilberto Freyre, o extremo contraste de hábitos profiláticos entre os mouros e os cristãos habitantes da Península Ibérica.

“Conde, em sua história do domínio árabe na Espanha, tantas vezes citada por Buckle, retrata os cristão peninsulares, isto é, os intransigentes, dos séculos VIII e IX, como indivíduos que nunca tomavam banho, nem lavavam a roupa, nem a tiravam do corpo senão podre, largando aos pedaços. O horror à água, o desleixo pela higiene do corpo e do vestuário permaneceram entre os portugueses.” (Freyre, 2003, p. 301)

Como se pode observar, determinados padrões culturais relacionados a higiene são diferenciados entre povos de variadas regiões mundo afora.

Os estereótipos, por sua vez, acabam reforçando certos preconceitos. No Brasil atual, as ofensas contra negros e índios, além de violentas e racistas, demonstram um profundo desconhecimento das práticas de higiene desses povos originários da América e da África que têm muito a ensinar para os brancos europeus.

Imagem destacada / azulejo português / capturada na dissertação de mestrado de “Azulejo na arquitetura brasileira: os painéis de Athos Bulcão”, de Ingrid Moura Wanderley (USP, 2006) disponível aqui

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Coronavírus: paciente comemora alta médica após 10 dias na UTI, em São Luís

“Eu só tenho a agradecer por estar indo para casa e também pela competência do serviço de vocês. Quem está na mesma situação, aguarde, pois, o seu dia também vai chegar”. Foram com estas palavras que o paciente Laércio Henrique Bezerra da Costa, de 62 anos, se despediu da equipe multiprofissional Hospital Dr. Carlos Macieira (HCM), após ter ficado internado por 10 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), devido infecção pelo novo coronavírus (Covid-19).

“Notícias como a da alta do senhor Laércio renovam as nossas crenças de que unidos venceremos. Todos os recursos, esforços e medidas adotadas pelo Governo do Maranhão visam reduzir os impactos deste vírus em nosso estado e, principalmente, salvar vidas”, disse o secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula. 

Tudo começou quando Laércio retornou de São Paulo no dia 17 de março, depois de ter ficado 12 dias na cidade. Alguns dias depois ele começou a sentir que algo não estava muito bem. Pelo fato de ser hipertenso, diabético, dialítico e com amputação de um dos membros inferiores, a situação se agravava ainda mais. 

Uma ambulância da SAMU foi acionada e levou paciente para a UPA da Cidade Operária onde recebeu confirmação de que havia sido infectado pelo Covid-19. Em seguida, o paciente foi transferido para a UTI do Hospital Dr. Carlos Macieira. Ao chegar na unidade de alta complexidade do estado, uma equipe multiprofissional já o aguardava para assim dar início ao tratamento. 

De acordo com o diretor geral do HCM, Edilson Medeiros, em razão das comorbidades a urgência no atendimento era maior. “O hospital é referência no tratamento dos pacientes graves, como é o caso do senhor Laércio. Por conta do quadro clínico, ele precisou de suporte de máscara concentradora de oxigênio e depois cateter nasal. Nós ficamos tristes com as perdas, entretanto todo paciente que recebe alta serve de combustível para equipe continuar lutando”, afirmou. 

Ainda segundo Laércio, o que mais o abalou não foi a notícia de que estava com o Covid-19, mas de ter ficado longe da esposa e dos familiares. “As pessoas que cuidaram de mim enquanto estive no hospital foram muito boas, principalmente os técnicos e profissionais de enfermagem. Quando recebi a notícia de que estava curado e que teria alta no dia seguinte eu fiquei feliz, mas nenhuma explicação descreve o sentimento de poder reencontrar a minha família”, compartilhou. 

Atualmente, o hospital dispõe de 20 leitos de UTI destinados exclusivamente para pacientes infectados pelo Coronavírus. No total, o Governo do Maranhão já criou 132 leitos de UTI e mais 120 de enfermaria novos, todos destinados a pessoas diagnosticadas com a doença nos níveis moderado e grave. 

No estado, os leitos estão distribuídos entre Hospital Dr. Genésio Rêgo, Hospital de Cuidados Intensivos, Hospital Macrorregional de Coroatá, Hospital Regional de Timon, Hospital Macrorregional de Imperatriz, Hospital Macrorregional de Presidente Dutra, além dos instalados no HCM.

Imagem destacada: divulgação / Secap / Agência de Notícias

Laércio comemora a cura e o retorno para a família

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Governo intensifica fiscalização na entrada e saída de São Luís

O Governo do Maranhão, por meio da Agência Estadual de Mobilidade Urbana e Serviços Públicos (MOB) e com o apoio da Polícia Militar do Maranhão, intensificou as fiscalizações na BR 135, no Terminal da Ponta da Espera e no Terminal Rodoviário de São Luís, a fim de dar cumprimento ao decreto 35.722, de 07 de abril do Governo do Estado, que restringiu viagens durante a Semana Santa no serviço de transporte rodoviário intermunicipal de passageiros e reduziu a quantidade de viagens do transporte aquaviário de ferry boat. A restrição atinge o transporte coletivo convencional, alternativo ou complementar, de fretamento ou turismo.

As fiscalizações irão prosseguir durante todo o período da Semana Santa

A restrição é mais uma medida para tentar conter a disseminação do novo coronavírus e passou a valer a partir de 07 horas da manhã de hoje (08), e vai vigorar até as 23h59 do dia 13 de abril, segunda-feira.

“Está proibida a saída e entrada de ônibus, micro-ônibus e vans que realizam transporte de passageiros, entre São Luís e as cidades do Maranhão. Essa medida restritiva é mais uma ação do Governo do Estado do Maranhão no combate à Covid-19 e visa salvaguardar a vida dos maranhenses, a saúde pública e a capacidade operacional da rede pública estadual de saúde”, declarou o presidente da MOB, Lawrence Melo. 

As fiscalizações irão prosseguir durante todo o período da Semana Santa, e as sanções para quem descumprir o decreto vão de multa que variam de R$ 100,00 até R$ 5.000,00 reais, além de retenção do veículo.   

Ferry Boat

A partir desta quinta-feira (09), o transporte aquaviário dos ferry boats passa a operar com novos horários. Até o dia 13 de abril, período que abrange a Semana Santa, serão realizadas seis viagens diárias. 

Para partidas do terminal da Ponta da Espera, em São Luís, os novos horários são 6h, meio dia e 18h. Já para quem quiser fazer a travessia do Terminal do Cujupe em direção à ilha de São Luís, os horários disponíveis de viagens são 8h30, 14h30 e 20h30.

“São Luís concentra mais de 95% dos casos de contaminação pelo novo coronavírus e a nossa rede de saúde, com toda as estratégias que estão sendo realizadas, ainda está absorvendo os casos, então, para evitar a saturação, a ideia é evitar a viagem. Quanto mais nos esforçarmos para cumprir os regramentos impostos pelo Governo do Estado, mais estamos contribuindo para salvar vidas. Quanto mais retardarmos a proliferação do vírus, mais rápido iremos voltar à nossa rotina normal”, pontuou Lawrence.

Fonte: Agência de Notícias / Governo do Maranhão

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Só uma questão de tempo

Eloy Melonio*

Já imaginou não ter tempo para fazer algo que não pode esperar?

Difícil? Não, porque o mundo parece viver na velocidade da luz.

Enquanto escrevo esta crônica, o Faustão anuncia, entre outras opções, A biografia de LIONEL MESSI (Leonardo Faccio, Ed. Generale). Surpreso, pergunto-me: Por que tanta pressa em publicar uma biografia?

Posso até me interessar pela autobiografia de Jô Soares, ou a biografia de Clarice Lispector. Mas do “argentino mais querido dos brasileiros”, segundo o próprio Faustão, não vejo lá muita lógica. O que um torcedor não sabe — de importante, claro! — da vida do craque do Barcelona?

A pressa de Messi, 32 anos, é um reflexo deste mundo que acelera o ritmo do tempo. Isso me lembra do bordão criado por Gionanni Improtta, personagem de José Wilker na novela “Senhora do Destino” (Rede Globo, 2004/2005): “O tempo ruge, e a Sapucaí é grande”. E percebo que as coisas estão cada vez mais inadiáveis em comparação com os padrões tradicionais.

Nem tanto. Pelo menos, por enquanto.

Nestes tempos de isolamento social parece que, de repente, tá sobrando tempo no nosso tempo. Estamos (quase) todos em casa. Alguns, mais atarefados do que nunca. Outros, sem nada pra fazer.

Com isso, a profecia de Raul Seixas nunca soou tão dramática. Da ficção poética para a realidade, Raulzito, antecipava, já em 1977, o que hoje estamos vivendo: “O dia em que a terra parou”. Outros também foram na mesma linha. O cantor e compositor Alexander Carvalho, ex-banda Daphne, na canção Caixa de Sapato, de 2003, faz sua exigência: Pare o mundo que eu quero descer.

Por que parar? Pra que descer? Estariam em descompasso com a pressa do mundo, ou tinham outra razão? Ou apenas brincando de arte profética para justificar a verve de Pablo Picasso: “A arte é uma mentira que revela a verdade”?

Verdade seja dita: a arte desfila elegante na passarela do tempo, ora imaginativa, ora filosófica.

E parece que paramos mesmo! No tempo e no espaço. E tudo tão rápido que nem acredito que já estamos na quarta semana da quarentena.

Conversando com um amigo sobre tanto tempo disponível, descobrimos o inusitado: nosso tempo não tá dando pra nada. Incrível, não?

Não sei se isso acontece com você, mas meu tempo diminuiu. Não sei o que está acontecendo. Talvez esteja me dedicando mais às tarefas da casa, às coisas a que antes éramos, de alguma forma, indiferentes ou relaxados. Trabalhos que precisam de revisão descansam na gaveta. Parcerias que deveria retomar, ficaram só na boa intenção. A velha estante continua intocada.

Dizem que o tempo “voa” quando estamos nos divertindo, e “para” quando temos todo o tempo do mundo. Em tempos de “muito” tempo, resta “pouco” tempo para coisas “rotineiras”, e sobra tempo para as novidades, as descobertas.

Quanto a mim, tenho separado mais tempo para passear com meu papagaio, brincar com nossa cadela, sentir o aroma do jasmim do meu terraço. E conversar (por cima do muro) com meu vizinho Davi, de 6 anos.

O certo é que, como diz o primeiro verso da canção “Tempo para amar”, em construção com meu parceiro Gerude, “Tá faltando tempo no meu tempo”.

Nessa escassez, fazemos um pedido:

Tudo o que quero agora

É só mais um minuto na minha hora

Mais uma hora no meu dia

Mais um dia na minha poesia

Enquanto a vida segue seu curso, aprendemos lições. Uma delas, de Fernando Sabino, que “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem”.

Espero que tudo isso passe rápido. E que logo estejamos de volta ao ritmo normal da vida.

Sem ter de usar o nosso tempo para “chorar” nossas dores.

Eloy Melonio é professor, escritor, poeta e compositor

Imagem destacada capturada neste site