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Eduardo Braide declarou mais de R$ 1 milhão em bens e Duarte Junior R$ 646 mil

Candidato do Podemos tem apartamento na “Península” avaliado em R$ 628 mil. O republicano possui casa no valor de R$ 361 mil, no bairro Quintas do Calhau

Somado, o patrimônio dos candidatos que disputam a Prefeitura de São Luís em 2020 é de R$ 1 milhão, 713 mil, 620 reais e 62 centavos.

De acordo com os dados registrados na Justiça Eleitoral, o deputado federal Eduardo Braide (Podemos) declarou como bens no menor valor uma conta corrente com apenas R$ 74,37 (Setenta e quatro reais e trinta e sete centavos) e patrimônio máximo um apartamento de R$ 628.206,73 (Seiscentos e vinte e oito mil, duzentos e seis reais e setenta e três centavos), localizado na “Península”, metro quadrado mais caro de São Luís, no edifício José Gonçalves dos Santos Filho (imagem destacada).

Os bens totais somam R$ 1.067.620,62 (Um milhão, sessenta e sete mil, seiscentos e vinte reais e sessenta e dois centavos).

Veja aqui e também na imagem abaixo os bens declarados por Eduardo Braide

Filho de político – o pai Carlos Salim Braide foi presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão – Eduardo Braide declarou ainda “quotas ou quinhões de capital” com o seu genitor e o irmão Fernando Salim Braide no valor de R$ 73.333,33 (Setenta e três mil, trezentos e trinta e três reais e trinta e três centavos).

Já Duarte Junior tem menos posses. Mas, apesar de usar no bordão publicitário de campanha um apelo à vida modesta – “filho do povo, igual a você” – o candidato apresentou uma declaração de bens com R$ 646.000,00 (Seiscentos e quarenta e seis mil reais).

O bem de menor valor é o saldo em conta corrente totalizando R$ 25.000,00 (Vinte e cinco mil reais) e no teto dos bens o candidato registrou uma casa situada na rua Lago Verde, valendo R$ 361.000,00 (Trezentos e sessenta e um mil reais), localizada no bairro Quintas do Calhau.

Veja aqui e na imagem abaixo os bens declarados por Duarte Junior

Vamos seguir acompanhando a evolução patrimonial dos dois candidatos. Ambos têm pretensões eleitorais futuras e é fundamental monitorar a movimentação dos bens de cada um.

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O bolsonarismo das pessoas gentis

Quando Fernando Haddad e Jair Bolsonaro disputaram a presidência, em 2018, uma certa claque profetizou nas redes sociais o discurso “eles não”. Esse bordão era compartilhado por gentes finas, elegantes e sinceras, alguns até frequentadores dos ambientes “cult” de São Luís.

Diferentemente do bolsonarista raiz, que vai logo disparando os xingamentos “Lula ladrão” ou “A culpa é do PT”, o eleitor cool da direita é sofisticado, circula nos ambientes alternativos, transita no meio cultural da esquerda e até pisa em algum bar descolado da Praia Grande.

Esses eleitores refinados têm seus representantes e ocupam lugares estratégicos nos cargos de gestão, nas elites administrativas do Estado, nos empreendimentos das marcas de sucesso, nas comunidades científicas, nos púlpitos das igrejas e, sobretudo, nos três poderes onde as coisas são decididas.

“Eles não”, em tradução direta, significa igualar um professor universitário civilizado a um ser ignóbil, homofóbico, misógino, racista e elogiador de torturadores, entre outros adjetivos não pronunciáveis.

O raciocínio é mais ou menos esse: tornar os diferentes iguais (“eles não”) para justificar a opção pelo degenerado, sem macular a escolha. É o disfarce perfeito.

Trata-se de algo diferente do bolsonarista cego de ódio, que não apresenta sequer um argumento, a não ser a sua crença de que “a culpa é do PT”

Para os analistas do discurso, “Eles não” é uma forma camuflada de opção pela direita sem pronunciar o discurso raivoso.

Entre esses bolsonaristas existem aqueles que odeiam o setor público, mas adoram um cargo arranjado no esquema clientelista, ganhando muito para não trabalhar. Mas, sempre mantendo a pose elegante.

Às vezes é aquela pessoa muito bem vestida, polida, sorridente, limpa, galante, bondosa; enfim, educada.

Parte desse eleitorado, adepto do lavajatismo, “evoluiu” para o bolsonarismo e está sempre armada para repetir que o desastre do atual governo não é bem assim…

Já o bolsonarista grosseiro, fácil de identificar, você bate o olho, apura o ouvido e reconhece logo. Ele grita “fora PT” e cruza o sinal vermelho, não respeita a faixa de pedestre, ocupa a vaga do deficiente ou do idoso no estacionamento, fura a fila do banco, burla o fisco e joga lixo na rua.

O outro, aquele tipo sofisticado que postou nas redes sociais “eles não”, é bem mais refinado. Fala baixo, costuma respeitar as regras básicas da civilização e tem bom convívio social.

São tipos diferentes no comportamento, mas iguais na opção.

“Eles não” vai sempre torcer o nariz para qualquer governo humanista com o mínimo de intencionalidade voltada para a justiça social.

É um tipo de gente que topa qualquer coisa (até mesmo Bolsonaro!), menos Lula, o PT, o protagonismo dos pretos, dos índios, das mulheres, da Bolsa Família, da comunidade gay e dos pobres em geral.

A velha aristocracia escravocrata está no meio de nós e, às vezes, nem percebemos.

Imagem destacada capturada aqui

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Feira solidária mobiliza apoiadores das bancas de revista

O despejo das bancas de revista do Renascença II gerou uma rede de solidariedade para as mulheres “jornaleiras” que trabalhavam no local há mais de 20 anos e perderam sua única fonte de renda.

Nesse sábado (21) será realizada a I Feira Solidária, evento organizado com o objetivo de colher doações para ajudar as “jornaleiras”, enquanto o novo local das bancas está sendo preparado para reacomodá-las (veja abaixo).

O evento vai acontecer na praça Duque de Caxias, no bairro João Paulo, em frente ao quartel do exército, das 8h às 14h.

“Nesta ação cultural, as proprietárias das bancas de revistas poderão vender seus produtos, receber doações de livros e revistas para serem vendidas na própria feira e, o mais importante, receber o nosso carinho e apoio moral”, esclareceu a comissão organizadora do evento.

A programação da I Feira Solidária terá exposição e vendas de livros e revistas raras de histórias em quadrinhos (HQs), venda e troca de figurinhas dos álbuns Marvel 80 anos, Chaves/Chaplin Colorado, Batman, Brasileirão 2020 e muitos outros.

No momento cultural os frequentadores poderão participar de roda de conversa sobre a Semana da Consciência Negra, sarau do reggae e outras atividades com artistas de São Luís.

Entenda o caso das bancas

Duas bancas de revista instaladas na avenida Miércio Jorge, no Renascença II, foram retiradas pela Prefeitura de São Luís, através da Blitz Urbana, cumprindo determinação do Ministério Público.

Durante a remoção, houve resistência das jornaleiras e de várias pessoas dos movimentos sociais que se juntaram para defender as bancas e a sobrevivência das famílias.

Após a retirada, iniciou o processo de negociação envolvendo a Prefeitura de São Luís, o Ministério Público, as jornaleiras, a Defensoria Pública do Estado e o poder Judiciário, através da Vara de Interesses Difusos e Coletivos.

No acordo celebrado entre as partes as bancas serão realocadas no estacionamento do shopping Trocipal, próximo ao quiosque Açai. A Prefeitura de São Luís já começou a montar a base de concreto para reinstalar as bancas no local designado.

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Dia da Consciência Negra e Luta Antirracista

Luiz Eduardo Neves dos Santos[1]

“O racismo não é um ato ou um conjunto de atos e tampouco se resume a um fenômeno restrito às práticas institucionais; é, sobretudo, um processo histórico e político em que as condições de subalternidade ou de privilégio de sujeitos racializados é estruturalmente reproduzida[2]”.

Impera no Brasil uma normalidade na forma subalternizada como o negro ocupa lugar na sociedade. Assim, ver “pessoas de cor” em estratos sociais inferiores é percebido como algo dentro da ordem das coisas, seja pedindo esmola na rua, limpando espaços públicos e privados ou residindo em lugares sem o mínimo de infraestrutura e dignidade humana. Isto se deve a uma ideologia arraigada pelos séculos de escravidão que o país viveu a maior parte de sua História. Características de uma sociedade escravocrata são muito mais comuns em nosso cotidiano do que se pode supor, elas se manifestam e se reproduzem no discurso dominante, na mídia, nos espaços de poder, nos comportamentos, enfim, em todas as esferas da vida social, daí seu caráter estrutural e sistêmico.

É preciso reconhecer e afirmar que a escravidão no Brasil não se constituiu apenas num rentabilíssimo negócio, ela imprimiu marcas profundas na sociedade brasileira, possíveis de serem vistas até os dias de hoje. Moldou ações e atitudes, estabeleceu discrepâncias socioeconômicas, fez do tom de pele e dos traços fisionômicos um modo de diferenciação essencial e ordenou comportamentos de autoridade, mando/obediência e subserviência, num sistema hierárquico bastante visível.

A abolição em 1888 não foi uma ação benevolente do Império, embora a imagem de Isabel tivesse permanecido no imaginário popular por décadas como “a redentora dos escravizados”. Segundo as historiadoras Lília Schwarcz e Heloísa Starlin[3], a própria maneira como a abolição foi apresentada oficialmente – como um prêmio e não como uma conquista – levou a uma percepção equivocada de todo esse processo, marcado pelo envolvimento decisivo dos próprios escravizados na luta. Luiz Gama, André Rebouças, José do Patrocínio e tantos outros agentes que combateram o regime escravocrata foram colocadas em papeis secundários ou mesmo silenciadas pelos registros historiográficos posteriores.

A “libertação” dos negros não apagou os mais de três séculos de resistência dos escravizados, representada por insurreições, revoltas, aquilombamento, assassinatos de senhores e feitores e toda uma série de ações que desafiaram o sistema, caracterizado, de forma equivocada e abstrusa, como um tanto suave[4] e menos cruel[5] se comparada a outras realidades, como a dos operários europeus, negros da sul africanos durante o Apartheid e a dos negros no sul dos Estados Unidos. É preciso admitir e reafirmar que o regime de escravidão brasileiro foi extremamente cruel e violento. Os negros escravizados eram submetidos a toda uma sorte de castigos, suplícios e torturas, seus corpos ficavam deformados após sessões de chibatadas. Suas peles eram expostas ao ferro em brasa, não era raro encontrar negros cativos sem orelhas, tipo de castigo comum para os que fugiam.

A tortura senhorial era legalizada, já que o escravo era uma mercadoria, uma propriedade, o seu dono fazia dele o que bem entendesse. No entanto, se o escravizado cometesse crimes e atos violentos contra seu senhor, era punido severamente, passando a ser considerado um sujeito nos termos da lei. O historiador Yuri Costa, ao analisar essa contradição, chegou a afirmar que “o escravo foi, na história da humanidade, a única propriedade punível[6]”. Alguns objetos simbolizavam a violência brutal direcionada aos escravizados. O chicote e o pelourinho são os mais conhecidos, mas existiam também as correntes nos pescoços, as palmatórias, as máscaras de flandres[7], as forcas, entre outros.

Um sistema longo e perverso como este só poderia originar uma sociedade autoritária, violenta e racista. O pós-abolição não trouxe benefícios aos libertos, que foram abandonados à própria sorte. Ao longo da história da república brasileira, mais fortemente nas primeiras décadas, o negro foi desvencilhado dos propósitos do Estado – ele não possuía propriedade, era analfabeto, passava fome, vivia pouco – o que reforçou preconceitos e naturalizou desigualdades que permanecem até hoje.

As teorias do determinismo social e racial, importadas da Europa no início do século XX, também ajudaram muito a colocar o negro como inferiorizado, tendo como pressupostos, “o poder de perpetuar estruturas de dominação do passado colocando em seu lugar novas formas de racialização, as quais buscavam justificar biologicamente diferenças que eram históricas e sociais[8]”. A degeneração da raça como ideologia científica e política possibilitou, por exemplo, o que Robert Nisbet denominou de “teoria do progresso[9]”, de cunho racista e determinista, já que a base do desenvolvimento e do progresso ocidental era por direito e competência, responsabilidade do branco.

Mas, assim como na escravidão, as populações negras não estiveram passivas em relação a seus dramas, a Revolta da Chibata em 1910 é um exemplo conhecido de resistência. Oficiais de baixa patente da Marinha – em sua maioria negros e mestiços – se rebelaram contra seus superiores brancos, tomando o controle de quatro navios de guerra na baía de Guanabara, ameaçando bombardear a cidade do Rio de Janeiro. Reivindicavam o fim dos maus tratos e das torturas que sofriam frequentemente, escancarando o racismo violento presente nas forças armadas da época.

Em 1931, em São Paulo, é criada a Frente Negra Brasileira, que reuniu milhares de negros, num “verdadeiro movimento de massa, chegando a atingir o número expressivo de 20 mil sócios em vários Estados[10]”. Com o fim do Estado Novo, outros grupos começam a se organizar, formando entidades importantes na história da busca de melhores condições e direitos para os negros. Destacaram-se a União dos Homens de Cor e o Teatro Experimental do Negro. Com a abertura política no fim dos anos 1970, o Movimento Negro Unificado (MNU) fortalece as lutas e reivindicações por direitos no mesmo momento em que crescia os clamores pela redemocratização do país.

A Constituição de 1988 se tornou um marco importante a partir das lutas e reivindicações do ativismo negro, o que assegurou a inserção dos artigos 215 e 216 que versam sobre a proteção às manifestações culturais afrobrasileiras, considerando-as patrimônio nacional; o artigo 68º das disposições transitórias reconhece o direito à territórios remanescentes de quilombos e o artigo 5º, inciso XLII, tornou a prática de racismo crime sujeito à prisão. Em 1996, o Estado brasileiro reconheceu Zumbi dos Palmares como herói Nacional[11]. E em 2011, um dia como hoje, o 20 de novembro, data da morte de Zumbi em 1695, foi instituído pela Lei Federal de nº 12.519 como dia Nacional da Consciência Negra, uma reivindicação histórica do MNU.

No século XXI houve ainda uma modificação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tornando obrigatório no currículo do ensino básico as temáticas ligadas à “História da Cultura Afrobrasileira e Africana”, além da consolidação de políticas afirmativas de acesso às universidades públicas por parte da população que se declara negra. Aliado a isso, em 2010, foi aprovado o Estatuto da Igualdade Racial, tendo como objetivo fixar direitos aos afrodescendentes brasileiros nos mais diversos setores da sociedade. É preciso afirmar que tais avanços são, antes de qualquer coisa, produto constante da lutas e da organização do movimento negro, articulado nas mais diversas frentes de atuação.

Apesar do fortalecimento de direitos nos últimos anos direcionados aos negros, ainda há muito a se conquistar. O racismo é uma realidade bastante comum no Brasil, desde as relações mais cotidianas ao plano institucional. Não por acaso que, há quase vinte anos, Milton Santos escreveu que “ser negro no Brasil é frequentemente ser objeto de um olhar vesgo e ambíguo. Essa ambigüidade marca a convivência cotidiana, influi sobre o debate acadêmico, e o discurso individualmente repetido é também utilizado por governos, partidos e instituições[12]”. Alguns exemplos são recorrentes, uns sutis, outros mais incisivos. Ver negros em posições sociais de destaque causa estranhamento a muitos, a presença deles em certos espaços de consumo e poder, por vezes, causa reações de desconfiança e vigilância. Na publicidade, poucos anúncios associam seus produtos aos afrodescendentes. Na grande mídia, nossa presença é a exceção. Cultos de religiões de matriz africana são vistos por certos grupos da sociedade como coisa demoníaca e os ataques violentos se multiplicam.

O racismo se reproduz também na linguagem, nas palavras e nos discursos. “Preto de alma branca”, “preto de traços finos”, “cabelo ruim”, “mercado negro”, “denegrir”, “a coisa tá preta”, “mas eu tenho amigos negros”, “por que não tem dia da consciência humana?”, “o próprio negro é racista”, “o negro se vitimiza muito”, “da cor do pecado”, são tristes exemplos de como o racismo se manifesta no Brasil, muitas vezes até de forma inconsciente, herança do poder dominante e opressivo do branco nos anos de escravidão, enraizado na cultura brasileira através do vocabulário.

A realidade perversa do racismo no Brasil é representada também pelas desigualdades sociais, a população negra possui renda duas vezes menor que os grupos de brancos, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)[13] em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A taxa de homicídio de jovens negros[14] com idade entre 15 e 29 anos no Brasil chega a 185 por 100 mil, número três vezes maior que os jovens brancos. A população carcerária brasileira é a terceira maior do mundo[15], totalizando 773 mil pessoas, sendo dois terços dos presos negros, homens e pobres.

O racismo intransigente do bolsonarismo

A chegada de Jair Bolsonaro e seu grupo ao poder tem se mostrado uma grande ameaça aos direitos conquistados nos últimos anos pelas populações afrodescendentes. Antes de assumir o cargo, ainda em campanha, o hoje presidente já se posicionava contra políticas afirmativas ao dizer que “todos são iguais perante a lei”. Em uma entrevista concedida ao programa Roda Viva, declarou não haver dívida histórica com os negros por conta da escravidão e ainda asseverou: “se for ver a História realmente, os portugueses nem pisaram na África, eram os próprios negros que entregavam os escravos”.

Já chegou a dar a seguinte declaração, pouco antes do segundo turno, durante uma entrevista a uma emissora de TV do Piauí: “não há a menor dúvida de que as políticas de ações afirmativas reforçam o preconceito. As cotas raciais são um equívoco. Isto não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitada da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Tudo é coitadismo no Brasil. Vamos acabar com isso”, concluiu.

Em abril de 2019, já no cargo de presidente, Bolsonaro ordenou pessoalmente que o Banco do Brasil retirasse do ar uma campanha publicitária com a participação de jovens negros, que se mostravam com tatuagens, usando anéis e dreadlocks. Os jovens apareciam felizes e empoderados. A peça comercial não agradou o chefe do Executivo por ter “diversidade demais”[16], o que acabou culminando na exoneração do então diretor de Comunicação e Marketing do banco, Delano Valentim.

Outro fato relacionado ao atual governo que tem causado repercussão aconteceu em 13 de maio do corrente ano, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, atacou Zumbi, que segundo ele é uma invenção da esquerda e do marxismo cultural, expressão recorrente na boca de conservadores, reacionários e extremistas da direita. Camargo chegou a dar a seguinte declaração em suas redes sociais: “Zumbi é herói imposto pela ideologia que a grande maioria dos brasileiros repudia. Negros, questionem, critiquem e não o aceitem passivamente!”. Disse ainda: “Herói da esquerda racialista; não do povo brasileiro. Repudiamos Zumbi!”. Para ele, a verdadeira heroína dos negros é a princesa que assinou a lei Áurea.

Camargo também já chamou o cantor e escritor Martinho da Vila de vagabundo e a cantora Alcione de barraqueira, só para citar dois exemplos. Disse ainda que o “movimento negro é uma escória maldita”. Recentemente retirou os nomes de Marina Silva e Benedita da Silva da lista de personalidades negras da Fundação e ameaçou retirar mais nomes, como artistas do calibre de Elza Soares e Gilberto Gil. Sergio Camargo, no alto de seu parasitismo à frente da Fundação Palmares, tenta a todo custo chamar atenção da mídia, relativizando o racismo e menosprezando a luta histórica e aguerrida dos negros no país.

A gestão bolsonarista, de fortes traços fascistas, tem como um de seus objetivos principais forjar uma guerra cultural e ideológica a partir da criação de narrativas falaciosas sobre temas como a escravidão e racismo, reforçando a ideia de meritocracia, de que todos são iguais, reproduzindo noções de “vitimismo” e “coitadismo” em relação aos negros, ocultando em seus discursos as desigualdades gritantes presentes no país. O Executivo nacional se exime da responsabilidade de fomentar políticas públicas que promovam cidadania e acesso à direitos pelos afrodescendentes, como por exemplo, a demarcação e a legalização de territórios para comunidades quilombolas.

Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”

A conhecida frase de Angela Davis possui um significado bem relevante, ela precisa não somente ser repetida, mas praticada. Ser antirracista é tomar atitudes concretas contra as injustiças de uma sociedade fundada no preconceito racial, é ter uma postura propositiva e reativa contra o racismo diário e institucional. É não aceitar violências simbólicas e práticas, se colocar contra opressões, não se acostumar com os bolsões de pobreza e miséria das cidades brasileiras.

Não aceitar mitos como o da democracia racial também é ser antirracista, bem como contestar a naturalização das divisões sociais, que camufla as perversidades de uma sociedade violenta, ideologicamente baseada “na exploração econômica, na dominação política e na exclusão cultural[17]”. Ser antirracista é conhecer a história de um país que em mais de 300 anos de opressão ao negro, praticou um verdadeiro genocídio contra a humanidade.

É preciso compreender que o capitalismo neoliberal ao qual estamos submetidos configura-se como um perigoso sistema destrutivo, que visa à acumulação acima de tudo. Ele possibilita uma exposição contínua à violência direcionada às massas oprimidas e marginalizadas, uma concreta ameaça existencial. A racionalidade neoliberal tenta aniquilar a arena pública dos direitos e da cidadania, enquanto fortalece o espaço privado dos interesses financeiros. Ser antirracista é lutar contra as atrocidades praticadas pelo grande Capital, que reifica nossas relações, num processo contínuo de neoliberalização da vida, comandando e ditando as regras de nossas condutas e interferindo nas nossas subjetividades.

Hoje é um dia para reflexão, mas também um dia para chamar a atenção do Brasil em relação às desigualdades presentes no país. Nós negros somos parte de uma sociedade ideologicamente comandada por discursos e práticas hegemônicas que enaltecem a liberdade individual, o êxito profissional, a meritocracia e a autonomia, o que contribui para ocultar o verdadeiro caráter de nossa realidade, a de que somos fruto de uma sociedade autoritária, machista, misógina, violenta e racista. Por isso nossa tarefa primeira é reconhecer estas perversidades, que tem na História do Brasil sua explicação, para então resistir e construir, como vem sendo feito, estratégias contínuas de combate ao racismo estrutural e à opressão de grupos vulnerabilizados e marginalizados, lutando em busca de cidadania, de acesso à Educação, Saúde, moradia e oportunidades de trabalho digno, afirmando e consolidando nossas identidades, o direito à vivenciar e praticar nossa cultura nos mais diversos aspectos da vida cotidiana, apartada dos padrões impostos por uma sociedade de mercado.

Hoje, portanto, é uma data para não esquecer que a luta contra o racismo, em sentido amplo, deve ser a nossa razão de vida. Destarte, precisamos nos lembrar do legado dos que resistiram, combateram e levantaram suas vozes contra as opressões ao povo negro. Por isso, este texto é dedicado à memória de Zumbi, Dandara, Tereza de Benguela, Negro Cosme, Maria Jesuína, Maria Firmina dos Reis, Nascimento Moraes, Francisco José do Nascimento, Genoveva Pia, Maria Felipa, Luís Gama, José do Patrocínio, Carolina de Jesus, João Cândido, Abdias do Nascimento, Mãe Menininha do Gantois, Milton Santos e Marielle Franco!

[1] Geógrafo e Professor Adjunto I do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), CCHNST, Campus Pinheiro.

[2] ALMEIDA, Silvio. O que é racsimo estrutural? São Paulo: Editora Jandaíra, 2018. 256p.

[3] SCHWARCZ, Lília. M.; STARLING, Heloísa. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 694p.

[4] NABUCO, Joaquim. Minha Formação. São Paulo: Editora 34, 2012. 288p.

[5] FREYRE, Gilberto. Vida Social no Brasil nos Meados do Século XIX. São Paulo: Editora Global, 2008. 170p.

[6] COSTA, Yuri. A Transmutação da fala: uso e desuso de testemunhos de escravos nos tribunais do Maranhão Imperial. In: GALVES, M. C.; COSTA, Y (Orgs.). O Maranhão Oitocentista. 2. ed. São Luís: Café e Lápis/EDUEMA, 2015. 269-302p.

[7] Máscara de metal flexível geralmente com três buracos na frente – para olhos e nariz – fechada atrás da cabeça por um cadeado.

[8] SCHWARCZ, Lilia M. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 273p

[9] NISBET, Robert. História da Idéia de ProgressoBrasíliaEditora UnB, 1983. 364p.

[10] LEITE, Carlos R. S. C. A Frente Negra Brasileira. Portal Geledés. 14 de dez. 2017. Disponível em: <www.geledes.org.br/frente-negra-brasileira-2/> . Acesso em 10 nov. 2020.

[11] PRESIDENTE reconhece Zumbi como herói. Folha de São Paulo. Caderno Cotidiano. 21 nov. 1996. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/11/21/cotidiano/47.html> . Acesso em 10 de nov. 2020. 

[12] SANTOS, Milton. Ser Negro no Brasil hoje. In: SANTOS, M.; RIBEIRO, W. C. (Org.). O país distorcido. São Paulo: PubliFolha, 2002. 221p.

[13] CARDIM, Maria Eduarda; SANTA RITA, Bruno. IPEA: renda dos negros ainda é cerca de duas vezes menor que a dos brancos. Correio Braziliense. 16 de abr. 2019. Disponível em: < https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2019/04/16/internas_economia,749798/renda-dos-negros-ainda-e-cerca-de-duas-vezes-menor-que-a-dos-brancos.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2020.

[14] GARCIA, Diego. Homicídios entre jovens negros são quase três vezes maiores do que brancos e chegam a 185 por 100 mil. Folha de São Paulo. 15 de nov. 2019. Disponível em: <https:/www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/11/homicidios-entre-jovens-negros-e-quase-tres-vezes-maior-do-que-brancos-e-chegam-a-185-por-100-mil.shtml>. Acesso em 11 de nov. 2020.

[15] NASCIMENTO, Luciano. Brasil tem mais de 773 mil encarcerados, maioria no regime fechado. Agência Brasil. 14 de fev. 2020. Disponível em:< https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-02/brasil-tem-mais-de-773-mil-encarcerados-maioria-no-regime-fechado>. Acesso em 11 de nov. 2020.

[16] BOLSONARO veta campanha do Banco do Brasil marcada pela diversidade, e diretor é exonerado. O Globo. 25 abr. de 2020. Disponível em:< https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-veta-campanha-do-banco-do-brasil-marcada-pela-diversidade-diretor-exonerado-23621741>. Acesso em 12 de nov. 2020.

[17] CHAUÍ, Marilena. Ideologia da competência. Belo Horizonte: Autêntica/Editora Fundação Perseu Abramo, 2016. 221p.

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Nota oficial do PT afirma apoio a Duarte Junior

O PT de São Luís divulgou uma nota da Executiva Municipal assegurando o apoio da legenda ao candidato Duarte Junior (Republicanos), que vai disputar o segundo turno contra Eduardo Braide (Podemos).

A nota, em tom de repúdio, visa esclarecer a posição unificada do partido e rechaça a atitude isolada de um filiado de fora de São Luís que postou em uma rede social a convocatória de um ato pró-Eduardo Braide.

O texto é assinado pelo presidente municipal do PT e vereador Honorato Fernandes, que foi candidato a vice-prefeito na chapa de Rubens Junior (PCdoB), posicionado em quarto lugar na disputa para a Prefeitura de São Luís.

A Executiva Municipal do PT segue o comando do governador Flávio Dino (PCdoB), que determinou aos aliados o apoio a Duarte Junior.

Veja abaixo.

Diretório Municipal do PT de São Luís

NOTA DE REPÚDIO

Em reunião da Executiva Municipal, realizada na última terça-feira (17), foi definido por 13 votos favoráveis e uma abstenção, o apoio do PT ao candidato Duarte Jr. no 2° turno. A questão foi debatida e a decisão tomada. O PT neste segundo está com Duarte Jr.

Logo, a manifestação individual de um cidadão que nem é filiado ao PT de São Luís não pode ser considerada como desejo da militância do partido, nem representar o PT Municipal.

A direção executiva repudia veementemente a atitude do filiado do Partido em prestar apoio ao candidato Braide usando o nome e símbolos do PT.

O nosso partido tem a tradição de tomar decisões democráticas e cumpri-las, logo, não procede ato da militância petista em apoio ao candidato das bases bolsonarista, Eduardo Braide.

Ressaltamos, essa é uma manifestação individual de um cidadão que nem filiado ao PT de São Luís é. A nossa decisão está tomada e marchamos junto com o governador Flávio Dino em apoio a Duarte Jr. no segundo turno em São Luís.

CEM – Comissão Executiva Municipal do PT de São Luís

Honorato Fernandes

Presidente do PT de São Luís

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Artigo de Emílio Azevedo avalia o cenário eleitoral de 2020

Nós nas eleições de 2020

Emilio Azevedo*

Estou absolutamente convencido – ao ver a presença da extrema-direita no Brasil – que qualquer aprimoramento democrático passa por eleições.

Essas mesmas eleições devem fazer parte de um processo maior, onde um campo democrático precisa ampliar as organizações de base, intensificando o investimento em formação política e em mobilização popular.

As eleições devem ser um momento a mais de mobilização social, voltada para o interesse da maioria. Estamos longe disso… Mas temos que tentar, avançar, rever utopias, plantar novas sementes, regar as que já existem e, também, participar das disputas eleitorais.

Disputei o mandato de vereador de São Luís, neste ano de 2020. Nossa candidatura mostrou muita força política e insuficiente poder eleitoral. Fizemos apenas dois meses de campanha. Foi muito pouco. Isso refletiu nas urnas.

Tivemos o apoio incondicional de figuras notáveis, incluindo pessoas que tem seus nomes gravados na história de nossa cidade, com atuação nas áreas da educação, arte, cultura, saúde e sindical. Essa lista de apoios é bem razoável e não vou cair na tentação de listar os nomes, pra não correr o risco de omitir alguém. Todas e todos foram fundamentais. Mas se fosse enumerá-las, começaria por Irmã Anne, minha amiga, companheira e uma das apoiadoras desse projeto eleitoral. Do alto dos seus 96 anos, ela me ligou pra dar valorosos conselhos. Confesso que emociona ter o respeito, o apoio público e a confiança de várias pessoas pelas quais temos a mais profunda admiração. Anne é só um exemplo.

Tivemos também o apoio de amigos e amigas de longa data, de professoras e professores, assistentes sociais, de gente ligada a jornal e rádio, estudantes, pessoas simples, de jovens, trabalhadoras e trabalhadores que tem esperanças na política. Agradeço aqui a todas elas! São pessoas pelas quais tenho muito carinho, respeito.

Agradeço a todas que abriram suas casas e tentaram mobilizar suas comunidades a partir da Morada do Sol, Anjo da Guarda, Sá Viana, Vila Embratel, Madre Deus, Centro, Vila Passos, Caminho da Boiada, Liberdade, Bairro de Fátima, Coroadinho, Redenção, Sacavém, Vila Palmeira, Angelim, Apeadouro, João Paulo, Cohab, Cohatrac, São Bernardo, São Cristovão, Residencial Apaco, Cidade Operária, São Francisco, Renascença, Quintas do Calhau, chegando ao Maiobão.

Nossa ação na campanha

Denunciamos com o jornal Bandeira de Aço (uma homenagem a música de Cesar Teixeira, censurada pela ditadura), a grave questão envolvendo hoje o Plano Diretor de São Luís. É um assunto que muita gente ainda não entende, mas que precisa ser tratado. É uma das leis mais importantes de uma cidade, que precisa ser renovada de dez em dez anos, está vencida em São Luís desde 2016 e brevemente será encaminhada pela prefeitura, para ser avaliada pela Câmara Municipal.

Se o próximo prefeito repetir o comportamento ruim de Edivaldo Holanda, em relação ao Plano Diretor, nós teremos que reforçar bastante a resistência social, para evitar mais problemas relacionados a abastecimento de água, poluição, aumento do calor, despejo forçado de comunidades, entre outras mazelas. A indústria pesada e poderosas empresas da construção civil querem se apoderar do Plano Diretor de São Luís, que é a Lei que planeja nossa cidade. Isso é uma ameaça.

Com nossa candidatura a vereador, também atuamos em escancarada oposição a extrema-direita e, em particular, a liderança que hoje é exercida por Jair Bolsonaro, no Brasil.

Denunciamos também na campanha o gravíssimo problema da compra de votos, que segue interferindo estupidamente na eleição da Câmara Municipal de nossa cidade, degenerando consideravelmente nossas possibilidades democráticas. Vejo o Coletivo Nós (PT) como a exceção mais evidente a essa regra, entre os eleitos neste pleito de 2020, para o parlamento de São Luis. Ligados a Pastoral da Juventude da Igreja Católica, esse coletivo nos fez lembrar os melhores momentos do Partido dos Trabalhadores.

Estou no PSB. E fizemos campanha com Bira e Letícia. Lamento muito o fato de não ter havido uma coligação articulando PSB, PT e PCdoB em torno do nome de Bira. Isso certamente levaria o deputado federal do PSB para o segundo turno e daria uma chance a São Luís de ter como prefeito um político que está acima da média da classe política local (falo dos que estão na disputa real pelo poder institucional).

Nossa aliança com Bira foi pensada de forma estratégica, para além dessa campanha, levando em conta o necessário enfrentamento ao bolsonarismo e ao fato dele comandar o melhor mandato, entre os 21 parlamentares maranhenses que hoje atuam em Brasília (basta ver a lista dos nossos “representantes”).

Encerramos esse pequeno artigo deixando claro o seguinte:

1 – A partir da semana que vem, no dia 23 de novembro, seguirei na militância política diária junto a comunicação alternativa, onde estou há mais de dez anos, organizado atualmente na Rádio Tambor, localizada no Centro Histórico de São Luís. E seguirei com a responsabilidade e a autonomia política de sempre.

2 – Vamos nos posicionar sobre este segundo turno da eleição municipal da nossa cidade, numa decisão onde tentaremos ouvir apoiadores da campanha e também o PSB.

3 – Trabalharemos para fazer do PSB uma alternativa real para o campo democrático e popular do Maranhão. Trata-se de um partido importante da esquerda brasileira, articulado em 1945, que no Maranhão tem ligações históricas com as pastorais sociais e o movimento sindical rural, que teve no Brasil figuras como Francisco Julião (das Ligas Camponesas), Patrícia Galvão (a Pagu), Ariano Suassuna, Miguel Arraes, João Mangabeira.

4 – A partir do jornalismo, da comunicação popular, nosso lugar continuará sendo a política. Continuará sendo na militância diária, ao lado das organizações sociais, dos educadores populares, periferias, dos movimentos, dos indígenas, quilombolas, lgbts, mulheres, artistas, sindicalistas, ambientalistas, estudantes, professoras, professores, pesquisadoras e pesquisadores. Seguindo nesse processo, nossa intenção é continuar interferindo e participando diretamente nos futuros processos eleitorais.

É isso! Deixo aqui um grande abraço a todas e todos. E é evidente que a luta continuará!

*Emilio Azevedo é jornalista

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Eleições 2020: São Luís é conservadora e provinciana

Ed Wilson Araújo

Nem Ilha Rebelde nem Atenas Brasileira. A capital do Maranhão vota em massa na direita. Está em curso uma renovação geracional tradicional protagonizada pelos “velhos atenienses” de rostos juvenis com as suas hastags #estoupronto e #boraresolver

As urnas abertas no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de São Luís reafirmaram a preferência da população por dois filhos de políticos tradicionais e um outsider. Os três primeiros colocados – Eduardo Braide (Podemos / 37,81% dos votos), Duarte Junior (Republicanos / 22,15%) e Neto Evangelista (DEM / 16,24%) – com as suas respectivas coligações, representam a direita local em tons diferentes do bolsonarismo.

Somados, eles obtiveram 390.146 sufrágios do total de 553.499 votos válidos dia 15 de novembro.

São Luís, outrora denominada “Ilha Rebelde”, porque teria uma tendência de voto progressista, deu uma guinada radical ao conservadorismo – prolongamento da marca dos dois mandatos do atual prefeito, herdeiro de 30 anos do mesmo grupo político entranhado na gestão da cidade.

O resultado também questiona o mito da Atenas Brasileira, fruto de uma suposta superioridade letrada de São Luís, cultuada pelo saudosismo de uma badalada efervescência cultural da cidade no século XIX.

Em que pesem o mérito e as qualidades dos nossos escritores, motivo de orgulho, o mito da Atenas Brasileira não corresponde à realidade. A maioria expressiva da população maranhense sequer sabia ler nem escrever e o conjunto da população estava alheio à invenção ateniense tupiniquim.

Apenas os letrados e o seu entorno reconheciam a grandiosidade intelectual ludovicense. O mito da Atenas Brasileira é uma invenção criada para emoldurar o glamour dos filhos da elite escravocrata do Maranhão que estudavam na Europa e depois voltavam à província.

E a maioria dos iluminados egressos do novo mundo não se preocupava com as barbaridades da sua terra natal.

Civilização e barbárie

Naquela sofisticada efervescência cultural do século XIX, em 14 de novembro de 1876, São Luís foi o palco de quatro atos de desumanidade contra um menino negro de oito anos.

Primeiro: o garoto foi torturado e assassinado.

Segundo: houve um sepultamento às pressas do corpo mutilado.

Terceiro: apontada como autora, Dona Anna Rosa Viana Ribeiro, típica representante da aristocracia provinciana, foi absolvida por unanimidade.

Quarto: o promotor do caso, Celso Magalhães, que levou a júri a douta Anna Rosa Ribeiro, foi execrado da cidade.

O rumoroso episódio ficou conhecido como “O crime da baronesa”.

Cena de garimpo no Centro Histórico de São Luís

Muitas reprises de atos semelhantes marcam a cidade. Recentemente, um empresário espancou e torturou um homem negro morador de rua, amarrou a vítima em uma caminhonete apeado como um porco e arrastou pelas ruas do Centro Histórico de São Luís, até a morte.

Passado presente

A tradição de cultuar o passado, como a invenção da Atenas Brasileira, está reproduzida em grande escala na tradição política clientelista do Maranhão.

Com algumas boas exceções nos três poderes, os filhos dos políticos conservadores reproduzem os legados dos seus predecessores. Eduardo Braide e Neto Evangelista preenchem esse critério na eleição de 2020, mas os exemplos idênticos são muitos há tanto tempo.

Entre mortos e feridos nas eleições 2020 salvou-se, na Câmara Municipal, uma candidatura coletiva do PT, o NÓS, no total de 31 vereadores.

No mais, está em curso uma renovação geracional conservadora protagonizada pelos velhos atenienses de rostos juvenis com as suas hastags #estoupronto e #boraresolver

Imagem destacada / Eduardo Braide, do Podemos e Duarte Júnior, do Republicanos, vão disputar o 2º turno em São Luís (MA) — Foto: Arte / G1

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Renovação na Câmara Municipal de São Luís será de 46%

A apuração da eleição em São Luís aponta 46% de novos eleitos.

Das 31 vagas, 14 garantiram a reeleição (veja abaixo em negrito), representando a manutenção de 54% dos atuais parlamentares.

Houve crescimento na bancada feminina. Em 2016 foram eleitas 3 (três) mulheres, aumentando para 5 (cinco) em 2020.

A novidade mais expressiva é a eleição do primeiro mandato coletivo, o NÓS (veja foto), formado por militantes do PT: Jhonatan Alves (candidato na urna) Flávia Almeida, Delmar Matias, Raimunda Oliveira, Enilson Ribeiro e Eunice Che Guevara Costa.

As candidaturas coletivas têm um nome registrado na Justiça Eleitoral, mas a campanha e o mandato são compartilhados pelos integrantes do grupo.

Osmar Filho (PDT) – 7.447 votos

Marquinhos (DEM) – 7.346 votos

Raimundo Penha (PDT) – 6.999 votos

Rosana da Saúde (Republicanos) – 6.984 votos

Nato Júnior (PDT) – 6.665 votos

Paulo Victor (PCdoB) – 6.035 votos

Astro de Ogum (PCdoB) – 6.016 votos

Beto Castro (Avante) – 5.885 votos

Edison Gaguinho (DEM) – 5.690 votos

Fátima Araújo (PCdoB) – 5.446 votos

Concita Pinto (PCdoB) – 5.319 votos

Chico Carvalho (PSL) – 5.221 votos

Octávio Soeiro (PODE) – 5.199 votos

Thyago Freitas (DC) – 5.082 votos

Aldir Júnior (PL) – 4.855 votos

Umbelinho Júnior (PRTB) – 4.755 votos

Marcial Lima (PODE) – 4.548 votos

Antonio Garcez (PTC) – 4.143 votos

Domingos Paz (PODE) – 3.930 votos

Andrey Monteiro (Republicanos) – 3.906 votos

Dr Gutemberg (PSC) – 3.480 votos

Chaguinhas (PODE) – 3.450 votos

Ribeiro Neto (PMN) – 3.310 votos

Silvana Noely (PTB) – 2.913 votos

Daniel Oliveira (PL) – 2.890 votos

Álvaro Pires (PMN) – 2.827 votos

Marcos Castro (PMN) – 2.607 votos

Karla Sarney (PSD) – 2.594 votos

Batista Matos (Patriota) – 2.506 votos

Coletivo Nós (PT) – 2.110 votos

Marlon Botão (PSB) – 2.013 votos

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Eleições 2020: Eduardo Braide e Duarte Junior vão para o segundo turno em São Luís

Conforme apontavam vários institutos de pesquisa, a eleição para a Prefeitura de São Luís será decidida em segundo turno dia 29 de novembro.

A nova etapa da disputa ocorrerá entre os candidatos Eduardo Braide (Podemos) e Duarte Junior (Republicanos).

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após 100% das urnas apuradas, o resultado é o seguinte:

Eduardo Braide: 193.578 votos (37,81% dos votos)

Duarte Júnior: 113.430 votos (22,15%).

Neto Evangelista (DEM): 83.138 votos (16,24%)

Rubens Júnior (PCdoB): 54.155 votos (10,58%).

Bira (PSB): 22.024 votos (4,3%)

Silvio Antônio (PRTB): 16.070 votos (3,14%)

Jeisael Marx (Rede): 14.144 votos (2,76%)

Yglésio Moyses (PROS): 9.816 votos (1,92%)

Professor Franklin (PSOL): 3.520 votos (0,68%)

Hertz Dais (PSTU): 2.173 votos (0,42%)

Brancos: 3,01%

Nulos: 4,48%

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“Máquina” eleitoral do PDT pode atropelar Duarte Junior

A última pesquisa do Ibope divulgada antes da eleição aponta Eduardo Braide (Podemos) em primeiro lugar com 37% e o indicativo de segundo turno disputado entre Duarte Junior (Republicanos) e Neto Evangelista (Democratas), ambos com 17%.

Abalado pelas informações de que teria contraído covid19 e seguia a campanha em contato com milhares de eleitores, Duarte Junior desidratou em parte seu eleitorado, além de ter ficado fora da campanha nos dias decisivos.

Neto Evangelista, por sua vez, tem a seu favor a gigantesca máquina eleitoral do PDT, legenda que domina a estrutura da Prefeitura de São Luís há 30 anos.

O PDT tem uma expertise em eleições e sabe como fazer para o voto chegar à urna.

A tendência, portanto, é de crescimento da candidatura de Neto Evangelista ainda nessa madrugada e no dia da eleição, quando a militância do PDT vai avançar sobre o eleitorado com toda a garra para ir ao segundo turno e, quem sabe, sonhar com mais tempo na administração de São Luís.