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Museu Casa Histórica de Alcântara lança exposições virtuais

O Museu Casa Histórica de Alcântara, unidade vinculada ao Instituto Brasileiro de Museus –Ibram, utilizando a plataforma Tainacan, estará fazendo o lançamento de duas exposições virtuais no dia 18 de maio do corrente ano, data em que se comemora o Dia Internacional de Museus.

As exposições farão parte da programação da Semana Nacional de Museus com o objetivo de sensibilizar a população sobre a importância dessas instituições como espaços de memória.

A exposição de longa duração mostrará cerca de 600 peças do acervo do museu, abordando as atividades comerciais e sociais que funcionaram no sobrado entre os séculos XIX e XX a partir de móveis, pratarias, vidrarias de farmácia, alfaias, peças de vestuário e demais objetos de valor histórico que pertenceram à família Guimaraes.

Já a exposição temporária, Memória Viva, trará o registro fotográfico de moradores, artista, famílias e representantes da identidade alcantarense.

A parceria entre o Museu Casa Histórica de Alcântara, o Instituto Brasileiro de Museus e a equipe da Universidade de Goiás visa a difundir os acervos das instituições culturais do Brasil para fins de pesquisa e garantir os direitos culturais em tempos de isolamento social.

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Josué Montello: memórias das trupiadas de bumba-meu-boi em São Luís

Fonte: Agenda Maranhão

Prenúncio dos festejos de São João, maio é o mês de recolhimento das chuvas grandes e aparição mais intensa do sol no Maranhão. Nessa época, na zona rural de São Luís e por toda a Baixada e no Litoral, os grupos de bumba-meu-boi intensificam os ensaios aquecendo os pandeirões com grandes fogueiras nas brincadeiras de sotaque da ilha, zabumba e costa de mão.

Esse tempo de preparação e festejo tem uma memorável passagem na obra “Os tambores de São Luís”, do escritor Josué Montello. No vídeo abaixo, o jornalista Ed Wilson Araújo interpreta um trecho do livro, tendo como cenário o Centro Histórico.

Os ensaios treinam as toadas e as trupiadas dos batalhões para se apresentarem nos arraiais. Uma cena emblemática se repete nesse tempo, nos sábados à noite, quando os homens desentocam dos povoados do interior da ilha de São Luís e caminham para os terreiros dos ensaios carregando suas matracas e pandeirões. As mulheres, chamadas mutucas, também seguem o ritual.

A festa em homenagem a São João, São Pedro e São Marçal tem seu esplendor em junho, mas tudo começa logo em abril, no Sábado de Aleluia, e aquece mesmo em maio, quando o sol seca a madeira e as fogueiras iluminam os quatro cantos da ilha onde o povo se reúne para bater matraca, esmurrar os pandeirões e entoar as famosas toadas.

Em 2020, com a pandemia, não teremos aglomerações. Os festejos juninos ficarão apenas nas nossas memórias e nas redes sociais. Mas no ano que vem, como sempre dizem as toadas, o boi volta a brincar.

Foto destacada capturada neste siteFacebookTwitterWhatsApp

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Brasil, tão longe… bem perto?

Por Frédéric Pagès 

Brasil: durante a pandemia, a crise se aprofunda. Mas, na realidade, trata-se de dois fenômenos – a turbulência política e o coronavírus – muito mais ligados do que parece. Pois é preciso repetir que o fascismo não é uma opinião como outra qualquer. É uma doença sócio-política hoje alimentada pelo fenômeno das fake news – as “notícias infectas” – que adicionam pestilência à ferida, rumores perversos que agem como vírus.

O fascismo fascina. Existe uma forma de coerência na conduta de Bolsonaro, que transgride permanentemente todos os costumes, liberta seus instintos primários de agressividade, grosseria, brutalidade… E o bom povo que não ousa, o rebanho dominado está no circo: um palhaço mal-educado cospe em seu lugar na mídia desdenhosa ou condescendente – que, diga-se, muito ajudou Bolsonaro num dado momento de sua ascensão – e manda esses intelectuais, donos de um “saber” a que ele não tem acesso, se foder e calar seus pretensiosos bicos.

Assim, ao fazer pouco caso das regras comuns e desafiar a lei – ele faz, diariamente, apologia da ditadura e da tortura, algo teoricamente proibido – Bolsonaro se apresenta como dono da situação, que ataca quando e como quer, especialmente porque, no momento, não encontra um verdadeiro interlocutor.

Porque outra característica do fascismo é que ele, muito frequentemente, paralisa seus oponentes. Eles parecem quase sempre mornos, pequenos, medíocres e um tanto insignificantes frente a tamanha arrogância.

É uma espécie de choque de energias. Bolsonaro, Trump, mas também Putin, de certa forma, e Orban, Salvini, Duterte e cia… são como que sustentados pelas pulsões obscuras que libertam e autorizam, e pouco importa o que dizem exatamente, pouco importa se mentem, uma vez que o fazem descaradamente – isto é, sem vergonha – na lata, na dinâmica dessas forças sombrias… porque seu público é, muitas vezes, formado por pessoas dominadas pela vergonha, que se consideram derrotadas e se entusiasmam pela autoconfiança inabalável de seus “heróis”.

Tudo isso torna a tarefa da oposição complicada, difícil e dura. Porque estamos deixando a esfera da racionalidade para entrar no reino das fantasias, dos arquétipos, mitos (“Mito”, como gritam os apoiadores de Bolsonaro) e impulsos arcaicos. E neste universo, a energia que liberamos tem muito mais importância e impacto do que aquilo que tentamos explicitar.

Hoje, os povos, enganados, massacrados, esmagados pelos mecanismos predatórios da globalização selvagem, tornam-se presas fáceis desses manipuladores de instintos e consciências. Pois as frustrações acumuladas, as humilhações permanentes, as vergonhas hereditárias… pesam muito na balança.

Observemos tudo isso – no Brasil, nos EUA, na Rússia – com muita atenção. Meditemos sobre o que é possível fazer aqui, imaginemos com ousadia e generosidade, saindo de nossos pequenos egoísmos rotineiros. O desafio é considerável.

E estaríamos muito enganados, na França e na Europa, se acreditássemos que estamos imunes a isso.

Frédéric Pagès é cantor e escritor. Vive, há mais de 40 anos, entre a França e o Brasil, tendo idealizado diversos projetos culturais franco-brasileiros.

* Tradução de Clarisse Meireles

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Ação judicial do deputado Bira do Pindaré suspende a remoção dos quilombolas da área da Base de Alcântara

Fonte: Câmara dos Deputados

O juiz federal Ricardo Felipe Rodrigues Macieira, da 8ª Vara Federal Ambiental e Agrária de São Luís, determinou nesta terça-feira (12) a suspensão de todas as ações governo federal relacionadas a execução do processo de realocação das comunidades tradicionais que vivem na área destinada à ampliação ao Centro de Lançamento de Alcântara. A liminar foi proferida em ação movida pelo deputado Bira Pindaré (PSB/MA), Presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Comunidades Quilombolas.

A decisão vale até a conclusão do processo de consulta prévia, livre e informada, das comunidades afetadas. A consulta, prevista da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), é uma antiga reivindicação dos quilombolas de Alcântara. 

Histórico

Em 2019 o Brasil firmou com os Estados Unidos acordo para lançamento de foguetes do Centro de Lançamento de Alcântara, promulgado em fevereiro de 2020.

O território quilombola existe na região desde meados do século XVIII. Hoje, é formado por 150 povoados, com cerca de 12 mil habitantes. Estima-se que expansão do Centro, para cumprir o acordo com os EUA, implicaria no deslocamento de 2 mil quilombolas de 27 comunidades.

Em julho de 2019 e em dezembro de 2018, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias fez diligência às comunidades atingidas. A CDHM também promoveu, entre 2018 e 2019, três audiências públicas sobre o tema. Em outubro de 2019 o Congresso Nacional aprovou o acordo.

Deputados Helder Salomão, presidente da CDHM e Bira do Pindaré, presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Comunidades Quilombolas. Foto: Hamilton Castanhede.

No dia 27 de março de 2020 foi publicado ato, pelo governo federal, que determinava providências de remoção e reassentamento das famílias quilombolas atingidas pela expansão do CLA.

No início de abril, os deputados Helder Salomão (PT/ES), presidente da CDHM; Bira do Pindaré (PSB/MA), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Comunidades Quilombolas; Rodrigo Agostinho (PSB/SP), presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Patrus Ananias (PT/MG), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Soberania Nacional; Nilto Tatto (PT/SP), presidente da Frente Parlamentar Mista em Apoio aos Objetivos de Desenvolvimentos Sustentáveis da ONU, e Marcio Jerry (PCdoB/MA), presidente da Subcomissão Permanente do Centro de Lançamento de Alcântara, já haviam solicitado a autoridades a anulação das medidas. Os parlamentares argumentaram o descumprimento da consulta prévia e informada às famílias prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho; a falta de estudos de impacto socioambiental; a garantia constitucional, já confirmada pelo STF, do direito dos quilombolas às suas terras tradicionais; e a incompatibilidade de qualquer despejo coletivo em período de isolamento social decorrente da pandemia do novo Coronavírus.

A Força Aérea Brasileira (FAB) e a Agência Espacial Brasileira (AEB) assinaram segunda-feira (11), em Brasília (DF), o Acordo de Cooperação definindo atribuições e processos de trabalho na fase de implantação e na fase de operação do futuro Centro Espacial de Alcântara (CEA). As medidas previstas pelo acordo, agora, estão suspensas em face da liminar.

Saiba mais sobre a situação dos quilombolas e a Base de Alcântara na reportagem do jornalista Ed Wilson Araújo, publicada no Uol

Pedro Calvi / CDHM

Imagem destacada /divulgação / Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas)

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IBGE divulga dados sobre a saúde no Maranhão

O IBGE divulgou a distribuição de leitos de UTIs (unidades de terapia intensiva), respiradores, médicos e enfermeiros nos municípios maranhenses. Os dados têm por referência dezembro de 2019 e foram gerados em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para contribuir com as ações de enfrentamento à Covid-19. As informações estão disponíveis para consulta em mapas interativos do hotsite covid19.ibge.gov.br.

O levantamento partiu do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde 2019 (DataSUS), que reúne as redes pública e privada, e das Informações de Deslocamento para Serviços de Saúde 2018, cujos dados foram antecipados pelo IBGE.

Maranhão tem 8 leitos de UTI para cada 100 mil habitantes

O Maranhão possuía, no ano passado, um dos menores índices de leito de UTI por habitantes do país. Esse indicador registrava 8 leitos por 100 mil habitantes no estado, o mesmo índice verificado no Pará e no Tocantins.

Os números eram superiores apenas aos de Roraima, que apresentou índice de 4 leitos de UTI, o menor do país; do Amapá e do Acre, com 5 leitos; e no Amazonas e no Piauí, com 7. Já a Unidade da Federação que registrou o maior número de leitos de UTI, fundamentais para o atendimento de pacientes graves com Covid-19, foi o Distrito Federal, com 30 leitos por 100 mil habitantes.

A capital São Luís apresentou índice de 32 leitos por 100 mil habitantes. O município de Imperatriz, com 40 leitos, registrou o maior índice do estado. Dos 217 municípios maranhenses, 206 não possuíam leitos de UTI, em dezembro de 2019.

Número de respirador por habitante é o segundo mais baixo do país

O cruzamento de dados também revela a distribuição de respiradores, equipamentos que realizam ventilação mecânica em pacientes com dificuldades respiratórias graves, nas unidades de saúde do país.

O Maranhão possui um dos índices mais baixos, com 13 respiradores por 100 mil habitantes. O Piauí apresentou o mesmo índice (13). O índice dos dois estados só é maior que o registrado no Amapá (10). Distrito Federal lidera, com 63 respiradores por 100 mil habitantes.

No estado, apenas 65 municípios dispunham desse equipamento. Os outros 152 municípios maranhenses não possuíam respiradores. São Luís apresentou índice de 48 respiradores por 100 mil habitantes, o maior do estado. O mesmo índice foi registrado nos municípios de Matões do Norte e Turiaçu.

Maranhão tem o menor índice de médico por habitante

Os dados mostram que os estados com menos médicos estavam concentrados nas regiões Norte e no Nordeste do Brasil. Em 2019, o Maranhão e o Pará registraram os menores indicadores, 81 e 85 médicos por 100 mil habitantes, respectivamente. O Distrito Federal possuía a melhor distribuição de médicos do país, com 338 profissionais por 100 mil habitantes.

O maior índice, dentre as cidades maranhenses, foi registrado na capital, com 206 médicos por 100 mil habitantes; seguido por Imperatriz, com 183.

Distribuição de Enfermeiros

No indicador enfermeiro por habitante, o Maranhão também figura entre as Unidades da Federação com os números mais baixos. O Estado tem o 6º menor índice do país: 106 enfermeiros por 100 mil habitantes.

O Pará tem o menor índice de enfermeiros: 76. Em seguida estão Alagoas e Goiás, com 101, Sergipe com 102, e Amazonas com 103 profissionais por 100 mil habitantes. A existência de profissionais de enfermagem proporcionalmente ao tamanho da população é maior no Distrito Federal. São 198 profissionais por 100 mil habitantes.

Já, dentre os municípios do Maranhão, o maior índice foi verificado em São Luís (216), seguido por Presidente Dutra (213) e Imperatriz (184). Presidente Médici, com 14 enfermeiros por 100 mil habitantes, apresentou o índice mais baixo do estado.

Fonte: IBGE / Supervisão de Disseminação de Informações

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Era uma vez um foguete antes da base dos foguetes

Celso Borges

Quando o diretor Glauber Rocha veio a São Luís no final de 1965 para filmar a posse de José Sarney como governador eleito, não havia nenhuma tradição de cinema local, nenhum movimento que pudesse se alimentar ou dialogar, direta ou indiretamente, com o cineasta baiano. A câmera do filme Maranhão 66, foi feita por Fernando Duarte. Nos créditos, ele divide a cinegrafia com Gláuber Rocha.

Isso, por si só, já garantiria uma citação na história do cinema maranhense, mas a importância de Duarte aumenta por que logo depois, em 1968, ele faria a fotografia de um dos primeiros curtas filmados em São Luís, Alcântara Cidade Morta, dirigido por Sérgio Sanz e provavelmente produzido pelo Instituto Nacional do Cinema, segundo o cineasta Murilo Santos.

https://www.youtube.com/watch?v=Lfk6m4iwNog

O texto do curta é assinado por Armando Costa e narrado pelo ator Cecil Thiré. Tem trilha marcante do violonista Baden Powell e mistura imagens de barcos, sobradões antigos e peças sacras do Museu de Alcântara. É interessante destacar que no final do filme, de pouco mais de 10 minutos, aparecem imagens de um foguete da Gemini V * sendo lançado de uma base, que não tem relação alguma com a base de Alcântara, que se estabeleceria na cidade pouco mais de 10 anos depois.

O mesmo Fernando Duarte voltaria a São Luís, em 1977, para dar um curso na área de cinema, a convite de Mario Cella, da Universidade Federal do Maranhão. Este seria o segundo curso na área que acontecia na cidade. Cinco anos antes, nos primeiros dias de ocupação do Laborarte, o engenheiro de som Stênio Gandra, irmão de Cirano Gandra, integrante do departamento de som do grupo, daria uma primeira oficina, além de gravar imagens do prédio do Labô, que acabaram perdidas. 

Em 1976, Mario Cella convidaria o fotógrafo e cineasta Murilo Santos para ficar à frente do recém criado Cine Clube Universitário, que funcionava numa sala da faculdade de Farmácia, no Largo de São João. Quando Fernando Duarte chegou aqui em 1977, sugeriu a mudança do nome para Cine Clube Uirá, homenagem ao primeiro longa metragem gravado em São Luís, em 1972: Uirá: um índio à procura de Deus. O Cine Clube motivou a criação da Jornada Maranhense de Super 8, que depois se transformaria no Festival Guarnicê de Cinema.

Mario Cella foi um personagem importante culturalmente naquele momento. Italiano, chegou ao Brasil na primeira metade dos anos 1960 e em pouco tempo estava ensinando filosofia na UFMA. Na década seguinte foi diretor do CEAC e do DAC, órgãos da UFMA responsáveis pela criação do Coral da Universidade, grupo musical Terra e Chão e do grupo de teatro Gangorra, entre outras ações culturais.

FOTO DESTACADA Gemini V foi o terceiro voo tripulado do Projeto Gemini, realizado em agosto de 1965 , onde pela primeira vez foram usadas células combustíveis como energia para as naves Gemini, antes movidas à bateria. A missão também foi a primeira da história a registrar um eclipse lunar. O voo teve a duração de oito dias no espaço, o dobro da missão anterior. Isto foi possível devido as células combustíveis, que geravam eletricidade suficiente para voos mais demorados, uma invenção fundamental para as futuras missões Apollo. (fonte:Wkipedia)

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Fake news e os sabotadores do Brasil

Luiz Eduardo Neves dos Santos [i]

Geógrafo, Mestre em Economia (UFMA), Doutorando em Geografia (UFC) e professor Adjunto do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Todos os dias vemos nos noticiários e nas redes sociais, falas, frases e gestos agressivos e indecorosos por parte do presidente do Brasil direcionados à pessoas públicas, instituições, jornalistas, opositores políticos, ex-aliados e até mesmo àqueles que são parte de sua própria gestão.

A situação que vivemos é assustadora. Um sujeito desprovido de qualquer civilidade, bom senso ou o mínimo de educação, sempre à procura de um inimigo para confrontar, idólatra de ditaduras sanguinárias, avesso aos direitos humanos, ocupa o cargo político mais importante do país. Foi um legislador que em quase três décadas pouco ou nada contribuiu com ideias e projetos no parlamento nacional, no entanto em 2018 chegou ao poder via voto popular.

Não se pretende dissecar aqui os diversos fatores que o levaram a chegar ao poder, embora se reconheça que seja decorrente de algumas condições: a forte rejeição ao petismo, um desejo por mudança presente em setores específicos da sociedade, um anseio – contestável diga-se de passagem – pelo combate implacável à corrupção, a crise econômica e uma campanha maciça e bem orquestrada nas redes sociais pela disseminação em massa de notícias falsas.

O escritor espanhol Rafael Chirbes[ii] escreveu que “o medo excita o mal”, a linguagem do medo se transformou em uma poderosa arma política geradora de ódio. Nos anos 1930, Góes Monteiro, Mourão Filho e Plínio Salgado em conluio com o presidente Getúlio Vargas, se utilizaram desta linguagem ao espalhar a notícia da existência de um documento que atestaria um plano comunista revolucionário em curso no país, nele incluía assassinatos de civis e militares, prisões políticas, sequestros, assaltos, depredações e claro, a deposição de Vargas. O Plano Cohen – referência ao líder comunista húngaro Bela Cohen – como ficou conhecido, amedrontou a população na época e justificou o golpe que inauguraria o Estado Novo em 10 de novembro de 1937. Em 1945, no fim da ditadura Vargas, veio à tona a verdade, o Plano Cohen não passara de uma mentira.

Em 2002, o PSDB se utilizou da mesma estratégia do medo na disputa entre os candidatos José Serra (PSDB) e Lula (PT), a atriz Regina Duarte, hoje Secretária de Cultura, chegou a fazer um vídeo à época de grande repercussão, afirmando que tinha medo da vitória do petista, caso vencesse, poderia levar o Brasil a perder a estabilidade da moeda, com a consequente volta da inflação e a desvalorização cambial, ou seja, uma crise que boa parte da população conhecia bem. O tiro desta vez saiu pela culatra, Lula foi eleito naquele ano.

A ideologia do medo mais uma vez se fez presente na campanha de 2018, fomentando a disseminação e a prática do ódio. As famosas fake news estiveram no centro deste processo, tinham e ainda tem por objetivo atiçar as emoções das massas, mexer com seus medos, medo do comunismo, medo do Outro, dos pobres, dos negros, dos indígenas, dos homossexuais, medo da violência, etc. Não por acaso, cresceu no Brasil a ânsia por segurança, com a consequente fuga para a vida privada e para os enclaves fortificados[iii], à medida que grupos evangélicos também se expandem, capturados pelo discurso sedutor de igrejas que prometem aos fiéis uma vida de prosperidade e com bens materiais.

 O conteúdo das notícias falsas, por mais absurdos que possam parecer e são, atingem as crenças e as convicções que muitos possuem, seus idealizadores se aproveitam da ingenuidade, do desconhecimento e do preconceito de grupos conservadores (religiosos ou não) e reacionários, tocando em pontos sensíveis de suas existências; o alvo foi e ainda é o pensamento progressista, seus expoentes e suas pautas.

Desta forma, as fake news digitais produzem e reforçam ideologias, derivadas de um sistema discursivo ubíquo na vida social da população brasileira, encontrado em toda parte em virtude do fácil acesso às tecnologias[iv]. Nos aplicativos que trocam mensagens há grande quantidade de textos, vídeos, imagens e notícias de blogs, portais e jornais.

Alguns exemplos de fake news são emblemáticos, como a informação que o ex-deputado federal Jean Wyllys fazia apologia ao casamento de crianças com menos de 10 anos de idade, incentivando assim a pedofilia; também como no caso do filho do ex-presidente Lula, acusado de ser dono da empresa Friboi e proprietário de uma Ferrari de ouro; ou ainda na difamatória “notícia” que a vereadora Marielle Franco, assassinada brutalmente em março 2018, possuía estreitas ligações com o tráfico de drogas. A informação que as urnas eletrônicas nas últimas eleições foram fraudadas foi outro conteúdo amplamente divulgado por grupos de extrema direita. Todos os boatos tiveram imenso alcance, sendo acompanhados de textos infames e montagens grotescas e, por incrível que pareça, ainda povoam o imaginário de muitos.

Como asseverou Christian Dunker[v], ao analisar as massas digitais, há uma impossibilidade de se fazer escutar por argumentos ou fatos na atual vida social brasileira, a batalha discursiva é encharcada por uso de notícias falsas e dogmas que fragmentaram e romperam laços, bem como dividiram grupos.

Pelo exposto, é correto afirmar que a divulgação de notícias falsas não morreu com o fim das eleições, elas são o modus operandi do governo Bolsonaro, há fortes indícios da existência de um denominado “gabinete do ódio”[vi] em Brasília, uma milícia virtual que atua de modo a disseminar não somente informações caluniosas – por meio de disparos com perfis falsos nas redes – contra desafetos, ex-aliados, ministros do STF, deputados, artistas, etc. mas também a divulgar notícias no mínimo duvidosas e/ou maquiadas em favor das realizações do governo vigente. À frente deste lamaçal de mentiras estariam os filhos do presidente[vii], blogueiros e empresários, estes últimos, financiadores de disparos nas redes sociais[viii].

O presidente Bolsonaro contribui bastante para disseminação de informações falsas e/ou duvidosas, seja nas suas redes sociais, ou nas declarações que faz cotidianamente na porta de entrada do Palácio da Alvorada. O presidente costuma utilizar um linguajar tosco e desrespeitoso, sobretudo com a imprensa, desde que a pandemia começou no Brasil, tem falado absurdos de repercussão mundial. Ao ser questionado por jornalistas sobre as mortes causadas pelo coronavírus no Brasil, já disse coisas como: “não sou coveiro”[ix] e “E daí, lamento. Quer que eu faça o que? Sou Messias, mas não faço milagre”[x]. Amiúde, manda jornalistas calarem a boca, profere palavrões contra a imprensa e estimula apoiadores a destratar repórteres. Ele possui bastante desconhecimento sobre diversos temas e assuntos[xi], isto inclui uma absoluta repulsa pelo conhecimento científico, como no caso das queimadas na Amazônia[xii], do derramamento de óleo no litoral brasileiro e mais recentemente sobre a pandemia do COVID-19[xiii].

Em recente texto, Michael Löwy[xiv], alertou sobre essa lógica “negacionista” de Bolsonaro em relação à pandemia, caracterizando-a como Neofascista, fenômeno contemporâneo denominado por Umberto Eco[xv] nos anos 1990 de Fascismo Eterno ou Ur-fascismo, de caráter conservador, que cultua as tradições, recusa a modernidade e atua fortemente, com seus discursos, às massas frustradas, agora aglutinadas nas redes sociais.

O neofascismo bolsonarista é adepto do neoliberalismo, assinalado por Perry Anderson[xvi] como uma ampla e profunda vitória ideológica conservadora e um desastre econômico. As políticas econômicas de austeridade, a redução dos orçamentos públicos, as privatizações, a manutenção e a expansão de privilégios ao sistema financeiro estão na ordem do dia na gestão atual e a justificativa para tais posicionamentos é a crise econômica, que precisa ser combatida, exigindo quase sempre sacrifícios da população mais empobrecida e assalariada, discurso que camufla seu grande objetivo, facilitar a acumulação a um punhado de megaempresários.

 Nem mesmo as milhares de mortes causadas pelo COVID-19 no Brasil e no mundo, que mostram como o Estado e os serviços públicos tem sido relevantes no combate à doença, sensibilizaram os integrantes do Executivo nacional, que sob os auspícios do ministro Paulo Guedes, já vislumbram impor medidas econômicas que atingirão em cheio trabalhadores, servidores públicos e os milhões de autônomos e desempregados no pós-pandemia.

Somado a tudo isto, Bolsonaro usa o cargo para proteger os filhos, investigados em casos de corrupção como lavagem de dinheiro e peculato. Não à toa tem interferido no trabalho da Polícia Federal, por ela possuir trabalhos adiantados sobre crimes relacionados às fake news, com possível envolvimento de sua prole e tendo seu tácito consentimento[xvii]. Além disso, nomeou um Procurador Geral fora da lista tríplice, que tem agido de forma a arquivar diversas denúncias[xviii] contra ele.

O presidente demonstra imaturidade política para o cargo, é incapaz de dialogar com setores diversos, mente com frequência, não respeita aqueles que dele discordam, ataca e xinga jornalistas, agride a democracia ao incentivar grupos que defendem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, acirra os ânimos, reforça e aprofunda a polarização política e desdenha de uma doença mortal que já ceifou a vida de milhares de brasileiros.

Bolsonaro e seu grupo trabalham incansavelmente para sabotar o Brasil. Indígenas, artistas, quilombolas, camponeses, gays, sindicalistas, marginalizados das metrópoles, biomas como a Floresta Amazônica e o Cerrado, empresas públicas estratégicas e lucrativas, recursos minerais valiosos, eventos artísticos e culturais, estudantes e professores de escolas e universidades públicas, dentro outros, são seus principais alvos, estão sob constante ameaça, pois o que importa verdadeiramente aos sabotadores no poder do Brasil são os interesses imperialistas dos Estados Unidos[xix], a plena saúde do mercado financeiro, a expansão do agronegócio e o lucro das grandes corporações. 

Mas toda sabotagem exige grandes riscos, com perdas e danos, principalmente quando existem estúpidos e egocêntricos por trás dela.


[i] Geógrafo, Mestre em Economia (UFMA), Doutorando em Geografia (UFC) e professor Adjunto do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

[ii] CHIRBES, Rafael. Crematório. Barcelona: Anagrama, narrativas hispânicas, 2007. 424p.

[iii] CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de Muros: Crime, Segregação e Cidadania em São Paulo.São Paulo: Editora 34/EDUSP, 2000. 399 p.

[iv] O número de smartphones no Brasil é maior que a própria população, existem 230 milhões deles e 210 milhões de habitantes. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2019/04/26/brasil-tem-230-mi-de-smartphones-em-uso.htm. Acesso em 29 abr. 2020.

[v] DUNKER, Christian. Psicologia das massas digitais e análise do sujeito democrático. In: ABRANCHES, Sérgio et al. Democracia em Risco? 22 ensaios sobre o Brasil de hoje. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 116-135.

[vi] Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/03/26/interna_politica,83

7799/gabinete-do-odio-vira-o-conselho-da-republica-durante-pandemia.shtml. Acesso em 29 abr. 2020.

[vii] Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2020/04/25/pf-identifica-carlos-bolsonaro-como-chefe-em-esquema-criminoso-de-fake-news.htm. Acesso em 29 abr. 2020.

[viii] Disponível em: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,empresarios-bolsonaristas-financiam-ataques-contra-stf-revela-inquerito,70003228062. Acesso em 29 abr. 2020.

[ix] Disponível em: https://veja.abril.com.br/politica/eu-nao-sou-coveiro-responde-bolsonaro-a-jornalista-na-porta-do-alvorada/

[x] Disponível em: https://www.poder360.com.br/coronavirus/bolsonaro-sobre-mortes-por-covid-19-e-dai-lamento-quer-que-eu-faca-o-que/

[xi] Disponível em: https://aosfatos.org/noticias/desde-a-posse-bolsonaro-deu-400-declaracoes-falsas-ou-distorcidas/. Acesso em 29 abr. 2020.

[xii] Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/bolsonaro-diz-que-desmatamento-na-amaz%C3%B4nia-%C3%A9-quest%C3%A3o-cultural/a-51334649

[xiii] Disponível em: https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/04/02/nao-e-tudo-isso-que-estao-pintando-diz-bolsonaro-sobre-a-pandemia.ghtml

[xiv] LÖWY, Michael. O Neofascista Bolsonaro diante da pandemia. In: Blog da Boitempo. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2020/04/28/michael-lowy-o-neofascista-bolsonaro-diante-da-pandemia/. Acesso em 30 abr. 2020.

[xv] ECO, Umberto. Fascismo Eterno. Rio de Janeiro: Record, 2018. 63p.

[xvi] ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, E.; GENTILI, P. (Orgs). O pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro, 1995. p. 9-23.

[xvii] Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/legislativo/bolsonaro-age-em-conjunto-com-o-gabinete-do-odio-diz-relatora-da-cpi-das-fake-news/. Acesso em 30 abr. 2020.

[xviii] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/pgr-arquiva-medidas-contra-bolsonaro-e-mira-reforco-de-caixa-para-enfrentar-pandemia.shtml. Acesso em 30 abr. 2020.

[xix] Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/14/politica/1552600455_614851.html. Acesso em 30 abr. 2020.

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Rodízio de veículos começa nesta segunda-feira em São Luís, Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar

Nesta segunda-feira (11), apenas veículos de placas terminadas em número ímpar poderão circular nas avenidas e demais vias da Região Metropolitana de São Luís. A decisão é de Medida Provisória nº 313, editada pelo governador Flávio Dino, e tem como objetivo reduzir o fluxo nas vias, somando às medidas de combate ao coronavírus adotadas pelo Governo do Estado. O rodízio vai até quinta-feira (14). 

O rodízio será aplicado em São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Pela medida, carros de placas finalizadas em número ímpar poderão circular na segunda (11) e quarta (13); já veículos de placas terminadas em número par, circulam na terça (12) e quinta (14). A frota atinge cerca de 500 mil veículos na região, destes, 420 mil só na capital. 

Estão excluídos do rodízio os taxistas e motoristas de aplicativos; veículos de profissionais da saúde e vinculados a órgãos da saúde, da segurança pública e Defesa Civil; da coleta de lixo; transporte coletivo; portadores de deficiência e doentes crônicos com mobilidade dificultada; do Poder Judiciário; de serviços funerários; transporte de alimentos e remédios; vinculados a serviços de energia, gás, combustíveis e saneamento básico; e veículos da imprensa.

Redução da circulação de veículos começa nesta segunda-feira (Foto: Ana Laura)

“Com o lockdown já tivemos uma redução perceptível da frota circulante nas rodovias estaduais e vias públicas, tanto na zona urbana, quanto rural. Com essa medida, a proposta é reduzir ainda mais a circulação de pessoas”, pontua a diretora do Detran-MA, Larissa Abdalla. O descumprimento acarreta em infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro e Lei Federal n° 6.437, que preveem notificações e multas.

Na sexta-feira (15), será antecipado o feriado estadual referente à adesão do Maranhão à Independência do Brasil – comemorado originalmente em 28 de julho. Com isso, a circulação já será reduzida; e saída e entrada da cidade permanecerão fechadas. Mesmo com a medida provisória, as regras do lockdown continuam valendo, ou seja, quem já não podia circular continua sem poder circular, independente da placa do veículo.

Foto destacada: Adriano Soares/Grupo Mirante

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Um vampiro no governo

Por Marco Rodrigues, filósofo e escritor

Relatos acerca de criaturas sanguessugas não são raros ao longo da história. Na mitologia grega, por exemplo, Λάμια (Lâmia) é uma representação significativa. Ela era descrita como uma belíssima rainha que, ao se envolver amorosamente com o grande Zeus, fora punida pela ciumenta e violentíssima deusa Hera, tendo como desfecho seus filhos mortos logo ao nascer. Conta-se, que a partir de então, tornara-se uma criatura vil e atormentada, devoradora insaciável do sangue de crianças e jovens. De modo análogo é Lilith, na mitologia judaica, associada a mortes inexplicáveis de recém-nascidos.

Em outras tradições, pode-se destacar as seguintes figuras: o Tlahuelpuchi (México), provável inspiração para os vampiros da série de TV “Um drink no Inferno”; o Chiang-shih, que segundo o folclore chinês é capaz de drenar a força vital humana; o Nachtzehrer (Alemanha), cujo nome pode se traduzir por “devorador da noite”; o Yara-ma-yha-who (Austrália), que de acordo com as lendas aborígenes habitam os pés de figos e as fontes d’água, permanecendo à estreita de suas vítimas. Há muitos outros exemplos. Porém, a representação mais popularmente conhecida, através de várias obras literárias e pelo cinema, deriva das expressões eslavas upir e vampir, personagens oriundos das lendas dos países do Leste Europeu.

O que importa compreender, no fim das contas, em relação às perspectivas imaginárias do vampirismo, é a fascinação que a morte expectora através do simbolismo do sangue. Sangue é vida, tanto para Jesus quanto para Drácula, respectivamente: “Este cálice é a nova Aliança no meu sangue”; “Sangue é tudo de que você precisa. Só no sangue descobrimos a verdade”. Mas na natureza vampírica vidas precisam ser ceifadas para conferir o prazer da experimentação de quem já não vive exatamente. Não sendo possível morrer a vida perde o significado, o que gera plena insuportabilidade por meio de veias translúcidas que revelam uma insaciável sede. Uma profunda crise inexistencial os acomete, marcada por angústia e profundo ressentimento.

No imaginário cultural brasileiro, o primeiro vampiro deve ter sido Bento Carneiro, um dos mais famosos personagens do humorista Chico Anysio, que sempre era mal sucedido em suas empreitadas em busca de sangue. “Minha Vingança será malígrina!”, dizia ele. Não conseguia assustar ninguém, além de medroso, em companhia de seu servo, o corcunda zumbilóide Calunga. Por outro lado, há relatos que sugerem ataques verídicos de vampiros no Brasil. Dentre eles, destaca-se uma reportagem de 1973, cuja história foi rememorada pela Folha de São Paulo em matéria de 27 de fevereiro de 2018, com o título “Há 45 anos, taxista disse ter sido atacado por vampiro em São Paulo”. O tal vampiro, que se apresentara com o nome Baron Franks, segundo taxista, confessou ser médico, embora não mais exercesse a profissão. Por ter confessado problemas no carro, precisando chegar ao Paraná, o taxista oferece uma carona até uma cidade próxima. Ao chegar ao local, conta ter sido atacado pelo vampiro, e somente foi salvo por ter rezado ao Padre Cícero que, coincidentemente, é conterrâneo de Chico Anysio, o criador de Bento Carneiro, o vampiro brasileiro.

Não seria qualquer surpresa se descobríssemos, de repente, que Baron Franks seria Nelson Teich, o atual ministro da saúde, ou alguém próximo dele, proveniente de uma possível dinastia vampírica radicada no Brasil. A diferença é que não é inofensivo, e nem cômico, como Bento Carneiro. Sua falta de afinco diante de suas urgentes atribuições lança trevas sobre um cenário de morte.

O ministro da saúde está e não está no ministério. Na prática, não há ninguém. Foi escolhido para conduzir morosamente a grave crise acarretada pela pandemia. Sempre evasivo, impreciso e hipotético, sem qualquer proposta objetiva endossa a posição homicida de Bolsonaro sem precisar concordar na ordem do discurso. Estudou Gestão de Negócios na Universidade de Harvard, mas demonstrou imperícia com o simples uso da máscara, como se atestou em vídeo viralizado. Talvez isso demonstre sua natureza vampírica, deixando os dentes a mostra por pura necessidade de fluídos orgânicos. E quanto sangue de brasileiros, agora mais do que nunca, poder-se-á está à altura de sua língua sádica, que não hesitou em dizer: “Como você tem dinheiro limitado, você vai ter que fazer escolhas, vai ter que definir onde você vai investir” (…) “O mesmo dinheiro, é igual, só que essa pessoa é um adolescente que tem a vida inteira pela frente e a outra pessoa idosa que pode estar no final da vida.” Se o dinheiro é igual, sua isonomia é financeira, tão fria quanto a de um açougueiro de frigorífico. Sim, é isso que importa, investir. Ao ser cogitado a compra de mais ventiladores, ele conjecturou: “(…) aí de repente você dobra a sua quantidade de ventilador mecânico. O que você vai fazer com isso depois?”… Alguma semelhança com o “E daí?”

Essa absoluta insensibilidade flerta com a morte na mais absoluta sedução do senhor das trevas. Mas como poderia ser diferente? Ora, em algum momento a categoria médica, em sua maioria esmagadora bolsonarista, terá que responder a isso diante de sua história. Quanta falta de inteligência política, para uma classe que se acha elite, e que se dizem doutores, mesmo quando são desprovidos de doutorado. Não obstante, Mauro Luiz de Brito Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), uma espécie de sub-vampiro de Teich, quase um Nosferatu, fez questão de fazer corporativismo barato e mesquinho, em plena pandemia, em vídeo numa rede social oficial do CFM, em negativa diante da proposta de flexibilização do revalida, o que permitiria a médicos estrangeiros atuarem no combate à covid-19, como se o Brasil fosse assim tão bem servido de médicos, para se dá ao luxo de recusar tal medida caso se instaure um colapso absoluto no sistema de saúde. Isso é sem dúvida de uma arrogância descomunal, pois, além do baixo contingente de médicos, tal presidente de conselho faz pose de altíssimo pica-da-galáxia, como se as melhores faculdades de medicina do mundo fossem brasileiras.

Sendo assim considerado, como oncologista, Nelson Teich navega sobre a metástase da ignorância do Governo Bolsonaro, cuja natureza corrobora perfeitamente às expectativas de qualquer amante da morte e degustadores de sangue.

Resta-nos, então, afiar as nossas estacas, recolher os dentes de alho, crucifixos e coletar o que resta de água benta das Igrejas, mesmo na ausência de algum Van Helsing. Fiquemos em quarentena, a fim de preservar o sangue vital da ameaça não de vampiros, mas de vermes que têm sido mais danosos que o vírus.

Calma, caríssimos leitores, não julguem que este filósofo surtou, não se trata de uma apologia à existência de vampiros, deixemos as teorias da conspiração para terraplanistas, olavistas e demais delirantes desqualificados. A questão aqui é demasiadamente séria, apesar da ironia…

Sem inteligência, não há salvação!

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Palavra da vez

* Eloy Melonio

Lockdown. É só o que se fala e se ouve aqui na Ilha do Amor.

Não bastasse a exagerada quantidade de anglicismos já integrados a nossa língua, parece que a imprensa e outros segmentos da atividade político-cultural têm um certo tesão por esses termos. O da moda na mídia é “lockdown”. Nas redes sociais, só se fala em “live”. No fitness (opa!), ― sei lá! ― um monte.

Um exemplo clássico dessa vocação é o da meninina perguntando à professora da 3ª série: “Tia, como se diz shopping em inglês?”

Antigamente nossas palavras originavam-se do latim, hoje uma língua morta. Culpa de D. João VI, que, em 1809, oficializou o ensino do inglês e do francês no Brasil, antecipando a decadência do latim e do grego, cujo declínio começou logo após a segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). Cheguei a fazer um ano de francês no ginásio, em 1967, no meu sempre-lembrado Colégio Municipal Luís Viana. Ainda me lembro da professora, uma loira de “fechar a escola”, e do “Parlez-vous Français?” Depois disso, só inglês.

“Lock”, em inglês, significa “trancar com chave, isolar”. É usado em vários sentidos. Nessa fase da pandemia de Covid-19, por extensão (substantivado com o acréscimo do advérbio down), significa “proibição da livre circulação de pessoas”, sistema primeiramente adotado aqui em São Luís-MA, a partir de 5 de maio, depois de uma decisão do poder Judiciário, seguida de decreto do Governo do Estado.

Pois bem, agora lockdown é a bola da vez, popularizada pelo ex-ministro Mandetta em suas intensas “coletivas de imprensa”. É óbvio que ele aprendeu a palavra com o pessoal da OMS, pois o termo já estava sendo usado em boa parte do mundo. E aí, é lockdown pra lá, lockdown pra cá. Até os vigias de minha rua já pronunciam o “palavrão” com uma naturalidade de dar inveja. É que eles precisam de um documento para passar nas barreiras da polícia quando vão e voltam do trabalho.

De repente, lembrei-me que lockdown tá na cabeça e na memória afetiva de duas personalidades de nosso mundo político. A primeira, o atual presidente da República; a outra, o ex-presidente Lula. No caso do atual, quanto mais Mandetta dizia “Fica no palácio, Jair”, mais o presidente se misturava à sua galera. E quanto ao ex, por uma razão mais justificável. Ficou preso numa salinha de 15 metros quadrados, na sede da PF em Curitiba por 580 dias. Aí, sim, um verdadeiro lockdown.

Pegando “carona” nessa coincidência, imaginei uma conversa telefônica entre os dois:

― Alô! É o Bozonaro?

― Quem? Aqui é o Bolsonaro, presidente da República do Brasil.

― E aí, seu presidente? Aqui é o Lula. Também já fui presidente por duas vezes. Tá lembrado, num tá?

― OK. Fala aí. O que é que tu tá querendo? Um ministério?

― Não, de jeito nenhum. É que o povo quer saber como é que tá esse negócio do isolamento social?

― Que isolamento porra nenhuma! Agora mesmo eu tô saindo pra padaria pra comprar uns pãezinhos.

― Padaria?! Mas, presidente…

― Sou livre pra fazer o que eu quiser, ir aonde eu quiser, na hora que eu quiser. Isolamento é pra quem tá, ou devia tá na cadeia.

― Tá falando comigo? Veja bem, se eu tô solto é por causa de uma decisão judicial.

― Tá certo! Enquanto esses caras do STF tiverem uma caneta na mão e nenhum juízo na cabeça, vão soltar gente que devia ficar na cadeia a vida inteira.

― É, presidente, pimenta no “olho” dos outros é refresco. Só sei que tá todo mundo comentando essa sua mania de quebrar as regras. Já tão até falando em impeachment.

― Tu tá me achando com cara de Dilma Rousseff, rapá?

― Não, absolutamente. Mas o meu amigo Dr. Moro tem provas que podem complicar sua vida.

― Tudo fake news. Coisa de desocupado.

― Ouvi dizer que vai ter lockdown aqui em Brasília. É verdade?

― Lock o quê?

― Lockdown, aquilo que fizeram comigo lá em Curitiba.

― Vai te coçar, malandro. Aqui quem manda sou eu. Preciso desligar agora porque vou falar com o meu povo lá na frente do palácio. Não sou o Milton Nascimento, né?, mas gosto de ir aonde o povo está. Fui!

― (Falando sozinho) Nunca antes na história desse lockdown

Com ou sem isolamento social, nossa velha cidade continua linda! E, na mídia nacional! Tudo por causa desse tal de lockdown.

*Eloy Melonio é professor de inglês, compositor, escritor e poeta.