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Do romance “A peste” ao coronavírus: a literatura em tempos em epidemia

Por Marco Rodrigues, escritor e filósofo

A literatura não ficciona com o objetivo de transpor a realidade. A ficção não é uma simples alegoria do real, nem mesmo o real é matéria absoluta da ficção. Na verdade, torne-se inútil tentar dissolver essa possível dicotomia. Se compreendermos o real como aquilo que não podemos nos dissuadir, então o que dizer da ilusão enquanto aquilo que se acredita ser real quando, na verdade, não passa de simulação? A questão não é ser capaz de compreender em que instante esse liame tão tênue de fato impõe uma verdadeira divisão, alguma distinção suficiente, mas sim o que verdadeiramente importa no fim das contas, nessa tensão quiçá indelével. Esse paradoxo retroalimenta o fazer literário, o qual nos lança oscilantes de lá para cá, permitindo desobscurecer não o que está por ventura oculto, mas o que indiferente se faz na maior parte das vezes, mesmo encontrando-se pulsante diante de todos.

Em “A peste” (1947), o escritor e filósofo Albert Camus parece nos apresentar essa interessante dimensão que a literatura impulsiona. A obra começa descrevendo o quão tacanha e tranquila, embora frenética em sua rotina de trabalho, é a pequena cidade argelina de Oran, cujos concidadãos levam uma vida cotidiana e aparentemente sem grandes aspirações, a não ser enriquecer. Para Camus, trata-se apenas de uma cidade moderna, como qualquer outra, a qual se caracteriza por ser “aparentemente sem suspeitas”, como se nada fosse capaz de levantar a desconfiança mínima de que possa haver alguma coisa a mais para se ambicionar viver. Uma existência inteira não questionada não permite ampliar-se. Inteiramente tomados pelo hábito que se alicerça na rotina, automatizam-se na redução às suas atividades e raras distrações.  Na seguinte passagem, essa imagem se mostra do seguinte modo:

Dirão sem dúvida que nada disso é característico de nossa cidade e que, em suma, todos os nossos contemporâneos são assim. Sem dúvida, nada há de mais natural, hoje em dia, do que ver as pessoas trabalharem de manhã à noite e optarem, em seguida, por perder nas cartas, no café e em tagarelices o tempo que lhes resta para viver. Mas há cidades e países em que as pessoas, de vez em quando, suspeitam que exista mais alguma coisa. Isso, em geral, não lhes modifica a vida. Simplesmente, houve a suspeita, o que já significa algo. Oran, pelo contrário, é uma cidade aparentemente sem suspeitas, quer dizer, uma cidade inteiramente moderna. Não é necessário, portanto, definir a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente, no que se convencionou chamar ato de amor, ou se entregam a um longo hábito a dois. Isso tampouco é original. Em Oran, como no resto do mundo, por falta de tempo e de reflexão, somos obrigados a amar sem saber.

O que nos faz convite ao pensar é exatamente o que se diz na conclusão desse raciocínio: “por falta de tempo e de reflexão, somos obrigados a amar sem saber”. Então, o questionamento que precisa ser empreendido é o seguinte: o que é necessário saber para que apenas não nos devoremos ou possamos cair no insípido do hábito, para que com isso, por fim, seja possível sem obrigação amar?

Antes dessa passagem, o narrador declara que “uma forma cômoda de travar conhecimento com uma cidade é procurar saber como se trabalha, como se ama e como se morre”. O “como” revela a natureza do sentido da existência, ou ainda, de tudo o que de certo modo máscara sua ausência de significado. Porém, é necessário deter-nos no último termo. A morte muito raramente parece ser uma grande preocupação quando nada parece ameaçar a vida, o que não significa dizer, por outro lado, que desse modo a vida esteja em evidência. Para isso, é preciso a eclosão de um grande acontecimento, cuja intensidade possa de modo voraz colocar em questão a vida diante do abismo de seu maior antagonismo, a morte. Com efeito, é exatamente o que ocorre com a chegada da peste.

Tal como na cidade chinesa de Wuhan, principal foco do coronavírus, Oran também é isolada completamente, por conta da peste. Ninguém pode sair ou adentrar a cidade. A doença é descrita como altamente violenta e letal. Tudo começa quando milhares de ratos aparecem e, em seguida, começam a morrer. Sem demora, também diversas pessoas vão sendo ceifadas pela doença, gradativamente. Sitiados, veem o desespero despertar sentimentos e preocupações jamais antes conscientes numa rotina banal, ou inexpressáveis por falta de contexto favorável a tais elucubrações. Uma epidemia nos obriga, sem dúvida, a refletir sobre o que estamos fazendo de nós mesmos, sobre o que temos nos tornado.

A experiência diante da morte de entes queridos, principalmente de crianças no esplendor da inocência, permite fazer emergir a possível ideia de uma total ausência de sentido para a existência. Essa consciência, apresentada no ensaio “O Mito de Sísifo” (1941), é o absurdo, uma importante chave de leitura da obra de Camus. Uma das consequências do absurdo é o suicídio. A outra é a compreensão que demonstra que o sentido da existência não é previamente dado, nem descoberto, mas livremente construído e estabelecido pelo próprio apelo humano. Com essa ambivalência, o romance nos faz vislumbrar o que há de mais elevado no pânico e no terror da desesperança diante da peste, mas, também, não deixa de apontar para uma ínfima e ainda possível esperança em continuar a lutar pela vida, numa resiliência quase incontornável.

Semelhante ao coronavírus, a peste se propaga na ficção de forma assustadoramente veloz, contudo de modo diferente, pois o grau de contaminação é proporcional à ocorrência de mortalidade. Chega-se ao ponto de não haver mais lugar para enterrar os cadáveres, tornando assim impraticável conduzir a vida em sua normalidade. De modo análogo, o coronavírus vem desencadeando terrível onda de paralisação em diversos setores da sociedade, inviabilizando diversas atividades e serviços, retirando do fluxo comum, outrossim, as nossas cidades modernas dependentes da rotina de produção permanente. Tal fenômeno reabriu recentemente, inclusive, nos E.U.A o debate sobre o papel do Estado e traz de volta a necessidade de uma saúde pública diante de políticas neoliberais de privatização, pondo em xeque a lógica do Estado mínimo, principalmente naquilo que se considera essencial à garantia da existência coletiva.

Em contrapartida, é preciso ressaltar que “A peste” é, além disso, uma metáfora para a ocupação nazista na França durante a II Guerra. Em tempos obscuros, despontam-se “pestes” também ideológicas, seguida de seus “ratos”, não apenas aquelas biologicamente nocivas.  Isso torna a obra de Camus um clássico exatamente pela perenidade de sua narrativa. É dessa maneira que a literatura nos eleva para além dos limites da mera ficção, expondo-nos a vida em suas mais diversas matizes e sutilezas.

Tão repentina quanto a sua aparição, no fim do romance a peste desaparece. Sendo anunciada a sua erradicação ao público, festeja-se nas ruas a reabertura da cidade, bem como o reencontro com os entes queridos separados pelo estado de sítio, e o retorno à rotina normal. Porém, Camus deixa-nos a necessidade da suspeita, aquela que na maior parte das vezes nos falta, uma vez que os mais perigosos “ratos” e as mais terríveis “pestes” parecem sempre permanecer a espreita e a espera, nutrindo-se da distração e, mais uma vez, da falta de “tempo e de reflexão”. Assim, dá-se o desfecho da obra, e sua incrível e importante mensagem filosófica:

Na verdade, ao ouvir os gritos de alegria que vinham da cidade, Rieux lembrava-se de que essa alegria estava sempre ameaçada. Porque ele sabia o que essa multidão eufórica ignorava e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada. E sabia, também, que viria talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz.

Imagem destacada / Capa do livro A Peste, escrito por Albert Camus (Foto: Reprodução/BestBolso) capturada neste site

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Governo do Maranhão monitora 205 casos suspeitos de COVID-19

A Secretaria de Estado da Saúde (SES) comunica que, desde o início do monitoramento, notificou 243 casos de possível infecção por COVID-19. Destes, 205 casos suspeitos são acompanhados por equipes do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), 22 foram descartados por diagnóstico laboratorial. Dezesseis casos foram excluídos após a investigação apontar que não atendiam aos critérios de definição de caso suspeito de COVID-19. Até o momento, não há casos confirmados. 

Quando analisados os casos notificados de COVID-19, a razão de sexos aponta 151 (62,1%) casos em mulheres e 92 (37,9%) casos em homens.  

O Centro de Testagem do Maranhão, localizado na Policlínica Diamante, está recebendo casos suspeitos de Covid-19 para a coleta de material para a realização dos exames laboratoriais e orientações sobre as medidas que devem ser tomadas até o resultado do exame. O Centro de Testagem funciona de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 18h.

Fonte: Secap / Secretaria de Comunicação e Assuntos Políticos

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Reviravolta no Cajueiro: Governo do Maranhão anula decreto que gerou despejos para a construção de porto privado

Fonte: Comissão Pastoral da Terra / CPT

As duas famílias mais antigas na localidade Parnauaçu (território do Cajueiro), em São Luís (MA), que resistem à pressão da empresa portuária TUP Porto São Luís S/A, do Poder Judiciário e do Governo do Estado, celebram a anulação do Decreto no 002/2019 emitido ano passado pela Secretaria de Estado de Indústria e Comércio – SEINC. 

Elas e outras cinco famílias foram alvo de ações de desapropriação movidas pela empresa portuária, respaldadas pelo decreto governamental. A nulidade do decreto significa que todos os processos judiciais continham uma ilegalidade na sua origem, o que gera um grande imbróglio jurídico que pode responsabilizar o próprio Governo do Estado.

O caso do Cajueiro ganhou grande repercussão na mídia nacional e internacional por várias denúncias de irregularidades envolvendo a implementação do empreendimento que une esforços do Governo do Estado do Maranhão e da empresa portuária (com envolvimento de capital chinês), além da violência praticada contra comunidade (despejo de agosto de 2019) e também pelo processo ser alvo de investigação envolvendo a grilagem de terra de instituições como Delegacia Agrária e Ministério Público Estadual. O Ministério Público Federal, por sua vez, ingressou com Ação Civil Pública, em 2018, pedindo a anulação do licenciamento ambiental. O Conselho Nacional de Direitos Humanos acompanha as denúncias, assim como as Defensorias Públicas e o Ministério Público Estadual.

O problema das ações judiciais

Em todas as 07 ações judiciais de desapropriação, ainda em 2019, o juiz Marcelo Oka, que responde pelos processos do caso na Vara de Interesses Difusos e Coletivos da Capital, concedeu liminares de despejo forçado, tecnicamente chamadas de decisões de imissão na posse. Tais decisões somente puderam ocorrer pela existência do decreto de utilidade pública, agora anulado.

A validade do decreto vinha sendo questionada judicialmente pela Promotoria Agrária e pela defesa técnica das famílias alvo das desapropriações voltadas à construção do porto privado. O Ministério Público do Estado já havia pedido nas ações judiciais, desde 2019, a declaração de nulidade do decreto no 002/2019, assinado pelo Secretário de Indústria, Comércio e Energia, Simplício Araújo, por não haver previsão legal para a delegação do ato de emissão de decreto expropriatório, competência privativa do Governador do Estado, conforme previsão do art. 64, III da Constituição do Estado do Maranhão.

Por exercício de autotutela, no último dia 12.03 (quinta-feira), foi publicada no Diário Oficial do Estado, a anulação do Decreto 002/2010-SEINC, através de ato realizado pela própria SEINC. As ações de desapropriação fundamentadas neste decreto perderão seu objeto e deverão ser extintas pelo Judiciário. As famílias, que foram gravemente prejudicadas, poderão mover ações judiciais contra o Governo.

Para entender o caso

Em 2019 foram ajuizadas pela empresa WPR São Luís Gestão de Portos e Terminais Ltda (atual TUP Porto São Luís S/A), sete ações judiciais de desapropriação, interpostas mediante autorização da SEINC constante no Decreto de Utilidade Pública no 002/2019, agora anulado. Cinco famílias já tiveram suas casas destruídas esse ano pela empresa privada com base nesses processos de desapropriação. Outras duas famílias resistem e ainda estão no local, com a esperança de permanecerem no lugar onde vivem há décadas. 

No documento publicado pela SEINC no Diário Oficial do Estado, dia 11 de março de 2020 (decreto nº 002/03/2020), consta que “visando evitar ação judicial com consequente insegurança jurídica, resolvo (Secretário Simplício Araújo) anular o referido Decreto (002/04/19) como se segue: Art. 1º. Fica anulado o Decreto n° 002, de 30 de abril de 2019, que declara de utilidade pública, para fins de desapropriação e realização de obras essenciais de infraestrutura de interesse nacional, em favor da TUP PORTO SÃO LUÍS S.A., necessários à viabilização da construção e operação do Terminal Portuário denominado Porto de São Luís, na modalidade Terminal de Uso Privado – TUP. Art. 2º. O processo administrativo de criação do Decreto n° 002, de 30 de abril de 2019 será enviado à Procuradoria Geral do Estado do Maranhão para que realize a sua devida análise e eventual continuidade”. 

As famílias de João Germano da Silva (Seu Joca, 86 anos) e de Pedro Sírio da Silva (88 anos), moradores do Cajueiro com mais de 40 anos de história no território, permaneciam questionando a legalidade da ação de desapropriação movida contra elas.

Operação de despejo em residência no Cajueiro gerou comoção

Suspeita de grilagem de terra envolvendo a empresa portuária

Há suspeita de um forte esquema de grilagem da terra onde se pretende instalar o denominado “Porto São Luís”. O Ministério Público Estadual, através da Promotoria Especializada em Conflitos Agrários, também coloca em cheque a validade do documento imobiliário apresentado pela empresa portuária. A suspeita é que exista uma organização criminosa que teria grilado terras na região e agido para o empreendimento avançar. Uma força-tarefa do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Estado foi montada para investigar essa e outras possíveis irregularidades.

A Justiça determinou a realização de perícia a ser realizada pelo Instituto de Criminalística do Maranhão – ICRIM nos livros cartoriais onde há registros referentes ao título de propriedade da empresa. A perícia está em vias de ser realizada e se houver comprovação da fraude a empresa perderá a propriedade dos 200 hectares em que pretende construir o porto. Isso também pode provocar o questionamento do despejo coletivo ocorrido em agosto de 2019 no Cajueiro, em que 22 famílias foram brutalmente desalojadas.

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Não desistas

Mario Benedetti

Suporta, ainda há tempo

Para alcançares e começares de novo,

Aceita tua sombra,

Sepulta teus medos,

Liberta o lastro,

Retoma o voo.

Não desistas porque a vida é isso,

Continua a viagem

Persegue teus sonhos,

Liberta o tempo

Contorna as ruínas,

E descobre o céu.

Não desistas, por favor, não cedas,

Ainda que o frio queime,

Ainda que o medo corroa,

Ainda que sol se esconda,

E se cale o vento,

Ainda há fogo em tua alma

Ainda há vida em teus sonhos.

Porque a vida é tua e é teu também o desejo

Porque tu tens amado e porque te amo

Porque existe o vinho e o amor, com certeza.

Porque não há feridas que não se curem com o tempo.

Abre as portas,

Remove os ferrolhos,

Abandona as paredes que te protegem,

Vive a vida e aceita o desafio,

Recupera o sorriso

Ensaia uma canção,

Baixa a guarda e estende as mãos

Abre as asas

E tenta novamente

Celebra a vida, recupera o paraíso.

Não desistas, por favor, não cedas,

Ainda que o frio queime,

Ainda que o medo corroa,

Ainda que o sol se ponha e se cale o vento,

Ainda há fogo em tua alma,

Ainda há vida em teus sonhos

Porque cada dia é um novo começo,

Porque esta é a hora e o melhor momento.

Porque tu não estás só, porque eu te amo.

Imagem destacada: Benedito Lemos Junior

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UFMA suspende as aulas por 30 dias e adota outras medidas de prevenção à pandemia covid19

O Reitor Natalino Salgado Filho, nos uso de suas atribuições criou o Comitê Operativo Emergencial – COE/UFMA, considerando a necessidade de estabelecer ações de proteção em face aos eventos de proliferação e disseminação do Coronavírus.

Dentre as ações a serem realizadas no âmbito da Universidade Federal do Maranhão em virtude da situação decorrente, podemos destacar as medidas de prevenção a seguir a partir de terça-feira (17):

• Viagens internacionais suspensas por 120 dias;

• Viagens nacionais suspensa por 60 dias;

• Servidores docentes, técnicos-administrativos, terceirizados e discente que realizaram viagens internacionais ou nacionais, a serviço ou particulares, mesmo que assintomáticos deverão executar suas atividades remotamente até o décimo quarto dia;

• Suspender por 60 dias todas as visitas à Universidade Federal do Maranhão de pessoas oriundas do exterior e de outros Estados;

• Suspensas as atividades, reuniões e eventos por 120 dias, inclusos eventos de extensão, artísticos e culturais, concessões de grau e títulos honoríficos, exceto por videoconferência ou outro meio eletrônico;

• Defesas de tese, dissertação, monografias e suas qualificações deverão ocorrer por videoconferência, em locais sem climatização e sem a presença de convidados;

• As aulas presenciais em salas de aula estão suspensas por 30 dias, priorizando o desenvolvimento remoto das atividades acadêmicas, evitando impacto no calendário acadêmico;

• Às colações de grau 2019.2 que ainda não foram realizadas estão canceladas, e serão realizadas de maneira especial e por curso sem a presença de convidados e em local aberto;

• As atividades do Restaurante Universitário estão suspensas por 30 dias em razão da rotatividade e aglomeração de pessoas, como potencial risco à saúde;

• Será desmobilizado por 30 dias a permanência dos estudantes nas Residências Estudantis, e proporcionada assistência estudantil adequada;

• As atividades da Universidade da Terceira Idade- UNITI estão suspensas por 90 dias, tendo em vista seus integrantes constituírem grupo de risco;

• As Bibliotecas funcionarão das 08 às 20hs somente para empréstimo e devolução de acervos, os espaços de estudo individual e coletivo estarão fechados e impedidos de uso;

• O Hospital Universitário já publicou plano de contingência ao Covid-19 em seu site;

• As atividades de internato e estágios curriculares no âmbito do Hospital Universitário estão suspensas por 30 dias;

• Todas as determinações do Comitê Operativo de Emergência- COE/UFMA entram em vigor a partir desta terça-feira (17).

Imagem destacada / Portal da UFMA em São Luís / Paulo Soares

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Os guardiões da floresta se preparam pra guerra

Por Celso Borges 

15/03/2020

Um índio não descerá de uma estrela colorida e brilhante, numa velocidade estonteante, como diz a canção de Caetano Veloso. E se o fizer um dia, muito além da poesia de nosso cancioneiro popular, é pouco provável que seja um descendente do povo Guajajara, que vive atualmente na região sudoeste do Maranhão, numa terra de 413 mil hectares que equivale a três cidades de São Paulo. São cerca de 20 mil indígenas cada vez mais acuados pela indústria predadora dos madeireiros e plantadores de soja da região. Acuados e condenados, porque quase ninguém parece muito preocupado com o destino deles nos próximos anos.

Mas os Guajajara resistem, tentando carregar suas estrelas aqui mesmo na terra, entre as árvores centenárias que ainda restam e o mel das abelhas que os alimenta. Impávidos que nem Muhamad Ali, mas não tão infalíveis como Bruce Lee, eles resistem como guerreiros, guerreiros da floresta. O cineasta Taciano Brito, 30 anos, está contando essa história por meio do filme WAZAYZAR – Guardiões da Vida, em fase de montagem. Ele convive com os Guajajara há quase três anos e essa convivência mudou a sua vida, como homem e como artista. Começou a filmá-los em meados de 2017 e de lá para cá vem aprendendo a verdadeira história desses povos, tudo muito distante daquilo que lhe foi ensinado nas salas de aulas.

Este não é o primeiro documentário de Taciano, antes ele dirigiu Marina, em 2016, sobre a vida de uma mulher, negra, de Cururupu, que vive na periferia de São Luís. O novo trabalho é antes de tudo uma denúncia e conta como o povo Guajajara vem resistindo à invasão de madeireiros e aos ataques que estes vêm desferindo contra a floresta e a natureza. “Dinheiro no mundo jamais vai comprar a honestidade que eu tenho com a vida de meus parentes”, afirma Laércio, principal personagem do filme e um dos líderes dos guerreiros.

O objetivo do diretor é que WAZAYZAR (nome ancestral do povo Awá Guajáetnia nômade, uma das últimas ainda não contactadaque significa os donos do cocar) fique pronto até o final de 2020 para ser exibido em festivais nacionais e internacionais. Não tem sido fácil fazer o filme porque até agora a obra não recebeu apoio de lei de incentivo alguma, embora o projeto tenha sido feito e apresentado ao poder público nas esferas estadual e federal. “Que Bolsonaro me rejeite, eu até entendo, mas esse silêncio do governo republicano de Flávio Dino é inaceitável”, afirma.

Nesta entrevista, Taciano Brito fala também sobre a experiência mística despertada por este trabalho. Filho de uma família espírita, convive desde pequeno com os espíritos dos índios. No começo, ainda criança, não entendia o que estava acontecendo, tinha medo, mas a vivência do filme trouxe novas revelações que o aproximaram mais ainda desse universo. “É a primeira vez que falo isso publicamente”, confessa.

Taciano Brito, diretor do filme WAZAYZAR - Guardiões da Vida, em fase de montagem Foto by Jesus Peres

Taciano Brito, diretor do filme WAZAYZAR – Guardiões da Vida, em fase de montagem
Foto by Jesus Peres

1- Como começou tua relação com os Guajajara?

Foi por meio de um grande amigo, o Alexandre Cantuária, na época coordenador do Departamento de Saúde Indígena, vinculado ao Ministério da Saúde. Ele é uma pessoa muito querida na comunidade e vivia me contando histórias e situações que passava com os Guajajara. E eu dizia pra ele que tinha vontade de conhecer aquele povo, por conta inclusive da minha linha espiritual, porque sempre trabalhei mediunicamentecom caboclos indígenas como guias. Em 2017, fui para uma reunião estadual com lideranças na aldeia Lagoa Quieta, em Arariboia, a segunda maior terra indígena do Maranhão, que faz fronteira com cinco cidades, entre elas Amarante, Bom Jesus da Selva e Arame, a duas horas de Imperatriz. Todas com uma presença muito grande da indústria madeireira. Arariboia é uma fonte gigantesca de madeira, com muitas árvores centenárias. Muito dessa área foi destruída, isso vem acontecendo desde a época do projeto Carajás, nos anos 1970 e 1980, que segundo os índios foi o estopim para todos os males. Carajás não passa por lá, mas foi por onde tudo começou. Nesse encontro conheci o local, que hoje é a minha casa, na aldeia, onde depois fui batizado. Fui muito bem recebido e fiz algumas amizades, entre elas o cacique Silvio Guajajara, que depois se tornou o primeiro coordenador indígena da Funai. É um grande amigo meu, ele e Fabiana, sua esposa, que me ajudaram muito na minha entrada ali. Outra amizade importante foi a Kari, alfabetizada na aldeia, que saiu de lá com 15 anos, fez faculdade de Direito na UFMA e hoje realiza um trabalho de mestrado sobre mulheres indígenas em situação de cárcere, na UnB (DF). Foi ela quem me motivou a fazer esse documentário. Passamos a noite conversando e no dia seguinte comecei a pegar os depoimentos, já pensando no filme e entendendo as problemáticas deles: invasão territorial, queimadas e conflitos internos por conta dos próprios indígenas que vendem madeira. Há muitos foragidos, imigrantes, traficantes que chegam lá, casam com uma integrante da aldeia e convencem alguns a fazer parceria com madeireiros. Existe também o conflito interno entre os indígenas por causa de falta de dinheiro, de fome etc. É uma situação complexa, difícil, principalmente por causa da influência dos brancos.

2- Qual foi o cronograma das filmagens?

Fiquei uns quatro dias no encontro e depois voltei algumas vezes pra filmar. A primeira gravação foi na Festa do Mel, em meados de 2017, uma celebração ancestral que não acontecia há muitos anos. Um dos grandes líderes e mestres da cultura, o Vovô Vicente, com 104 anos na época, teve a ideia de voltar a fazer a festa, passar os ensinamentos aos mais jovens para que ela não morresse. Tudo isso vai ser mostrado no filme, a importância da relação com a natureza, de manter a floresta viva. O mel é o produto mais importante dessa cultura, mas ele está cada vez mais difícil de encontrar. Filmamos também outras duas grandes festas dos Guajajara, a do Moqueado, ou da Menina Moça, e a Festa dos Rapazes. São celebrações que simbolizam o rito de passagem de homens e mulheres. A gente gravou todo o ritual, os cantos, cheios de misticismo. O filme mostra a importância dessas celebrações para a cultura deles e a luta dos guardiões para que tudo isso continue.

Ritual da festa do Mel, uma das principais celebrações dos Guajajara. Foto by Taciano Brito

Ritual da festa do Mel, uma das principais celebrações dos Guajajara. Foto by Taciano Brito

3- Em 2015 houve na região o maior incêndio da história de terras indígenas no Brasil, que queimou mais de 60% do território. Os incêndios continuam frequentes?

Os indígenas dizem que os incêndios têm aumentado por causa do desmatamento.  Quanto mais a floresta é fechada por dentro, mais ela é úmida e há menos possibilidades de incêndio. Quanto mais descampada, com mais área seca, por conta da destruição dos rios, da devastação, tanto de madeireiros como de fazendeiros, que estão assoreando as nascentes, aí é muito mais fácil que os incêndios existam. Em 2017 houve outro grande incêndio, isso significa menos caça e alimento. Às vezes um incêndio não é criminoso, mas provocado a partir de um incêndio simples que não é controlado a tempo e acaba se alastrando.

4- Qual é a situação atual?

Existe um pequeno grupo nômade naquela região, os Awá Guajá, que não tem nenhum contato com a civilização, por escolha própria. Eles estão praticamente encurralados, mas têm boa convivência com os Guajajara, que respeitam e defendem o espaço deles, considerado o coração daquela terra. No caso dos Guajajara, eles vivem entre dezenas de fazendas de não indígenas e são impedidos de ultrapassar os limites estabelecidos em sua própria terra,  ameaçados por placas de “Perigo! Não ultrapasse a cerca”. Vale lembrar que essa região foi  demarcada pelo poder público federal como área estritamente indígena.  Os indígenas dizem: “a gente não mata quando eles invadem nossa terras, mas se passarmos das cercas podemos ser mortos”. Em menos de cinco anos, 13 lideranças indígenas foram assassinadas por causa  dessa luta pela manutenção da integridade e cultura dos Guajajara. É quase uma guerra civil acontecendo. O filme quer mostrar com esses rituais o que a destruição está ameaçando. Eles não estão conseguindo mais cobrir suas casas pela falta de palha. Tem de cobrir de lona.

5- Tu sabias da existência dos Awá Guajá antes de ir pra lá?

Não, descobri lá. Eles são nômades, de 60 a 100 indígenas, que não fizeram nenhum contato. Porém, na década de 1980, um grande grupo da mesma etnia foi contactado pelos brancos e chegou a ser fotografado por Sebastião Salgado, que os apresentou para o mundo. Outro artista, o cineasta Andrea Tonacci, fez um filme sobre Carapiru, sobrevivente de um massacre dos fazendeiros.  No começo eu queria muito colocá-los no filme, mas no decorrer do processo fui vendo que talvez não seja preciso. Não há contato dos Guajajara com os Awá, até mesmo porque as línguas são diferentes, apesar do mesmo braço lingüístico, o tupi. Mas eles convivem muito bem. Os Guajajara os tratam como um tesouro.

6- Como surgiram os Guardiões da Floresta?

A ideia surgiu em 2008, depois de um massacre feito pelos madeireiros na aldeia Lagoa Comprida, onde a gente tava filmando. Morreram algumas pessoas, entre elas Seu Tomé, que era uma grande liderança. Deram tanto tiro na cara dele que ele ficou desfigurado. Isso marcou muito os indígenas e, aí, criaram os Guardiões. A terra é formada por nove regiões. Cada uma delas tem um coordenador regional e um coordenador geral dos guardiões. Os principais líderes são Laércio, Olímpio e Paulo, todos muito visados pelos madeireiros. Paulo foi assassinado em novembro de 2019.

7- A equipe acompanhou alguma operação dos guerreiros?

Sim, em setembro de 2019, um pouco antes do Paulo morrer. Foi ali que o conheci, a gente acompanhou toda a missão, desde a preparação, a pintura, as orações, tudo, antes de sair. Andamos de quatro a cinco horas de carro até chegar no coração da terra, local mais visado, onde os Awá Guajá vivem. Alguns ficam ali, cuidando do acampamento, caçando e fazendo a comida, e os guerreiros vão atrás dos acampamentos dos madeireiros. Eles já têm os locais mapeados. Em alguns acampamentos a gente chega de carro e em outros têm de fazer uma caminhada.  Passamos três dias andando 30 km diariamente, sol quente, comendo farinha com água, pouca água, atrás de acampamento madeireiro pra fazer o cerco, amarrar os caras, botar fogo no caminhão e levá-los pra delegacia. A gente tava nesse processo, mas tive que voltar pra Imperatriz com minha equipe porque nossa passagem de avião já tava comprada. Eu soube que um dia depois a missão foi um sucesso, prenderam os invasores e os entregaram na delegacia, mas três dias depois estavam soltos. A gente acabou não fazendo esse registro.

8- Existe algum diálogo entre madeireiros e indígenas?

Não, porque quem representa os madeireiros não aparece, são os ricos, alguns políticos da região, que geralmente são donos de madeireiras. Os caras que estão lá são apenas peões, que estão sendo pagos para fazer aquilo.

9- Tentaste conversar com eles em algum momento?

Não, é perigoso. Tem muita grana envolvida no negócio que eles defendem. Não iriam querer colocar a cara deles.

10- O contato com os Guajajara mudou a tua visão dos indígenas?

Na verdade houve uma desconstrução. Tudo o que eu achava que era, não correspondia àquela realidade que vi e vivi. Esse é um dos meus grandes objetivos com o filme, mostrar às pessoas que quase nada disso que a gente pensa sobre eles é verdade. Estar hoje numa terra indígena, em 2020, não é nada do que eu imaginava. Todo o nosso imaginário foi construído por uma visão completamente errada do que seriam os indígenas. O que aprendemos na escola é coisa do passado, totalmente diferente de hoje. Não adianta imaginar os indígenas como eram antes, pelados, dentro de uma oca, isso não existe. Tem aldeia que a construção é tipo Minha Casa Minha Vida. Mas eles não deixam de ser índios por isso. A questão da cor e dos traços também. Eu conheci várias indígenas brancas, louras e de olhos claros, mas que falam a língua, que praticam a cultura de lá, por isso são indígenas também. São filhas de indígenas com europeus, não têm traços índios, mas estão lá, falando a língua fluentemente e praticando a cultura desses povos.  E outra: são mais de 300 povos, cada um com sua história, com suas diferenças. É uma complexidade muito grande, não dá pra dizer que tudo é índio. Por isso é que eles não gostam de serem chamados de índio, porque botam todos no mesmo saco. Só aqui no Maranhão são 12 etnias diferentes, com línguas, ritos e culturas diferentes. Outra acusação contra eles é de que são preguiçosos. A questão é que o tempo deles é completamente diferente do nosso. Eles não criam a mesma estrutura de trabalho que a gente, de oito horas diárias. Acordam e fazem o que têm de ser feito, no tempo deles, e o tempo deles é outro. Como diretor, tinha de me adaptar ao tempo deles e não o contrário, por uma questão de respeito. Às vezes eu queria gravar, mas ficava tomando banho no brejo com eles. E eu falava isso pra minha equipe. A gente precisa vivenciar os momentos, não estamos aqui só pra gravar. Porque se não, não cria a liga e aí fica uma coisa superficial, sem verdade. Quando eu chegava, passava um, dois dias até tirar a câmera pra começar a filmar. Ia na casa de um, de outro, dormia na rede, tomava banho de rio. Eles fazem parte de uma outra cultura e a gente tem de respeitar essa cultura. Sempre que vou lá eu aprendo, por isso ouço muito e falo pouco. O filme tem essa verdade.

 Laércio, um dos líderes dos Guardiões, que sobreviveu ao atentado. Foto by Taciano Brito

Laércio, um dos líderes dos Guardiões, que sobreviveu ao atentado. Foto by Taciano Brito

11- Qual a população Guajajara atual?

Entre 15 e 20 mil, na região de Amarante, Grajaú e Barra do Corda. Nas aldeias mais tradicionais, os povos falam sua própria língua. Dificilmente eles vão falar português contigo. Mas em outras, em que a influência não indígena é grande, poucos ainda falam suas línguas originais. São mais de 150 aldeias. Em geral, são muito calorosos, te tratam bem, mas nas aldeias mais antigas, os idosos são um pouco arredios, isso até eles confiarem em ti. Somente uma vez sofri uma resistência maior, foi na filmagem da Festa dos Rapazes, na aldeia Cajá. Passei por uma situação constrangedora e precisei me impor. Eles começaram a falar na língua deles e quando isso acontece é porque as coisas estão ficando feias. Ficam irritados e temos de manter a serenidade. Nessa situação específica aconteceu que as pessoas que foram comigo não eram tão conhecidas deles, mas depois tudo se resolveu. O problema é que eles estão cansados de ver muita gente chegar lá, querendo filmar, fazer pesquisa etc., mas o retorno disso é nenhum, nada acontece e a situação deles piora cada vez mais. Isso também foi um ponto de reflexão.

12- Os povos indígenas têm relação mais próxima com os órgãos oficiais?

Sim, inclusive em alguns momentos, órgãos como Funai e Ibama, deram apoio às operações, mas só que o processo era extremamente burocrático. Os guardiões ficavam inquietos pela demora das respostas a qualquer pedido que faziam. É impossível esperar três meses pra conseguir uma autorização ou liberação de combustível. No atual governo a coisa ficou pior ainda. Então, eles resolveram ir pra cima e fazer, e criaram uma associação, até mesmo para poder conseguir recursos por outras vias. Eles conseguiram um quadriciclo, conseguem gasolina, mas ainda é muito pouco.

13- Qual a diferença do atual governo em relação aos anteriores?

Nunca foi muito diferente. Agora está mais escancarado, porque os madeireiros sabem que não vai haver punição. Invasão sempre existiu, nunca houve empenho por parte de nenhum governo federal para acabar com ela. Isso é algo que precisa ser dito. Não começou agora, vem acontecendo há vários anos. Claro, em governos anteriores houve algumas assistências, inclusive demarcação, mas as invasões só pioram.

14- Vocês passaram por algum momento tenso durante as filmagens?

Houve dois momentos bem tensos e distintos. O primeiro foi na chegada, na gravação da Festa do Mel. Antes, a gente foi buscar o mel na floresta. Na cerimônia eles utilizam uma quantidade muito grande do produto, fazem um canjirão de mel pra banhar a galera.  Constroem um barracão e penduram 40 litros no teto para a celebração. Foi aí que eu conheci o Laércio, uma das lideranças dos guardiões. Nesse momento ele se revelou o personagem principal do filme. Foi ele que conduziu inicialmente a coleta do mel e a festa foi feita na aldeia dele. No caminho, encontramos com outros índios e quando a gente disse que iria pegar o mel produzido pelas abelhas italianas, um deles falou: – Vou nada! Aí o Laércio me explicou que essas abelhas são extremamente perigosas, só perdem para as africanas. Depois de horas de caminhada, achamos um pé de pequi cheio de mel. Antes de começar a tirar, fazemos uma fumaça para inebriar as abelhas. Aí a gente corta a árvore e abre uma parte pra retirar o mel de dentro. O detalhe é que você não pode matar nenhuma delas. Se fizer isso, as outras caem em cima. Aí, adeus! E as esporadas doem pra caralho. Eu peguei seis, fora as mordidas de formiga. É algo muito tenso. E as filmagens são feitas em close, com a câmera praticamente em cima de Laércio. E o enxame em cima da gente. Depois, com a fumaça, a situação melhora um pouco.  O mel vale ouro para os indígenas, é o principal alimento dos parentes isolados, como eles dizem. Fazem tudo com aquilo. “Pra tirar isso aqui da gente, eles vão ter que me matar primeiro”, me disse o Laércio. Isso é o filme.

Laércio colhendo mel para a grande Festa do Mel. Foto by Taciano Brito

Laércio colhendo mel para a grande Festa do Mel. Foto by Taciano Brito

O outro momento tenso foi depois da morte de Paulo, o Lobo, em novembro do ano passado. A gente tava indo pra lá, encontrar com ele pra acompanhar outra missão na tentativa de pegar as imagens dos caminhões dos madeireiros. Mas ele foi assassinado no dia anterior, morreu exatamente no local em que fomos em setembro. Paulo e Laércio foram caçar sozinhos e os pegaram numa emboscada. Pararam pra descansar um pouco e os assassinos chegaram de surpresa. Rolou um tiroteio e acertaram o Paulo em cheio. O Laércio ainda levou dois tiros, mas escapou e teve que correr 12 km até chegar à aldeia mais próxima. Um capanga dos madeireiros também morreu no confronto. Na noite anterior, Laércio me contou que eles ouviram os Awá cantando, como se estivessem festejando a chegada da chuva.

15- Fala um pouco sobre o clima durante o funeral.

Chegamos na hora do funeral, uma tristeza terrível. Todos eles ali, próximosa a família, o pai dele, Zé Maria, de 70 anos, um dos principais cantores de toda a terra indígena: “não sei mais nem se vou continuar cantando. Perdi meu primeiro filho, que me ajudava, trabalhador”, me disse ele; a mulher de Paulo, 16 anos, que mal fala português, com um filho de dois. Paulo tinha 26 anos. Durante e depois do enterro, fiquei com muito medo, porque as imagens divulgadas nas TVs nos noticiários nacionais e internacionais foram feitas por mim e por dois profissionais da agência Reuters, que também estavam acompanhando a missão. Eu tava a cinco, dez minutos de um povoado lotado de madeireiros e era o único branco ali com uma câmera. Era muito fácil para eles descobrirem quem estava filmando. A gente recebeu áudios em grupo dizendo que eles iriam entrar na aldeia e matar todo mundo. Como houve a morte de um branco no confronto com Paulo e Láercio, eles ficaram ameaçando. Isso pra eles é uma afronta muito grande, mesmo eles estando dentro da terra demarcada. Foram momentos difíceis.

16- O que muda no filme com a morte de Paulo?

Na verdade, não muda muita coisa. Só reforça aquilo que a gente vem falando no filme todo. O assassinato dele é só mais uma prova. O fio condutor, os guardiões e sua história, vai continuar da mesma forma, mas vai ter um momento em que vai ser revelado que o Paulo morre, mas não vai ser logo no início. Quero contar a história dos guardiões, mostrar as festas e a relação entre eles com essas cerimônias, a missão, até chegar no ápice, as festas, quando eles cantam e dançam juntos numa grande força espiritual. Essa celebração é como se eles estivessem se preparando pra guerra. Essa é a vida deles, a resistência. Resistência aos incêndios, às mortes, às invasões, às derrubadas. Vou mostrar cenas de arquivos, declarações horríveis contra eles etc. Essas pessoas deviam era ir pra lá aprender com os indígenas, com a sabedoria deles, sobre a terra, sobre o vento, e não querer exterminá-los. Ou isolá-los, colocá-los como exóticos, como se estivessem num zoológico. É preciso interagir com os indígenas, conhecê-los, se interessar por aquilo que eles têm pra dizer. Mas os brancos madeireiros e alguns produtores preferem dizimar tudo para plantar soja em cima.

17- Nesses quase três anos o que de mais importante tu levas dessa convivência?

Eu me identifico com a cultura indígena, isso é uma referência espiritual. Meu guia de frente, espécie de anjo da guarda, é um índio. Chama-se Caboclo João da Mata e tem outros, Tupinambá, Sete Flechas. Sempre tive essa ligação. Nasci numa família espírita, tinha mediunidade, via muitos espíritos quando criança e sentia muito medo. Lembro de gostar muito de arco e flecha, mas de uma maneira muito superficial, sem entender. Nunca me aprofundei. E comecei a trabalhar desenvolvimento mediúnico, diretamente com incorporação de espíritos indígenas, em trabalhos de cura dentro do centro espírita. E isso nem é muito comum porque o espiritismo normalmente não trabalha com esse tipo de entidade. Quando houve o contato com o Alexandre Cantuária é como se eu sentisse que tinha chegado a hora. Sinto como uma missão. Eu gosto dos povos tradicionais, quilombola, ribeirinho, quebradeira de coco, indígena, é isso, eu já tava nessa linha. Mas de todo o processo, acho que o meu batismo, no dia do meu aniversário, em 2019, dia 6 de setembro, teve um significado muito grande pra mim. A Cynthia Guajajara, irmã do Silvio, foi quem me batizou. Ela é minha mãe, me deu um nome, À’rawì, e é uma grande liderança de base em todo o país. Ganhei meu cocar, meu maracá, cantei, dancei, uma experiência foda!

 Taciano Brito e sua mãe Cynthia, logo após o batismo do cineasta. Foto by Jesus Peres

Taciano Brito e sua mãe Cynthia, logo após o batismo do cineasta. Foto by Jesus Peres

18- Como eles acompanham esses rituais, de quem vem de fora da aldeia?

Todos ali me conheciam, é como se fosse uma família, minha casa. Foi uma cerimônia que aconteceu depois da festa, mais tranquila, com umas 30, 40 pessoas. Eu me sinto mais bem tratado lá do que na casa de vários parentes meus. Acolhimento, afeto, troca, existe um processo, todo mundo cantando e celebrando.

19- Analisando racionalmente a situação, tu achas que há um caminho para o extermínio ou, no mínimo, para a descaracterização total do que é ser indígena?

Do jeito que tá indo, se não existir uma mudança radical, com certeza. Falo isso em relação a tudo, inclusive da implosão do planeta como um todo. Questão ambiental, recursos hídricos, aumento de temperatura etc. A gente foi pro outro lado e cada vez vai ficando mais difícil de voltar. Se conseguíssemos parar o processo agora, ainda teríamos alguma esperança. Mas como é que a gente vai recuperar a Amazônia depois de destruí-la? Tem uma fala do Laércio muito linda no filme: “A gente não tá defendendo isso aqui só por causa da gente, mas também pelos netos de quem está querendo nos matar, só que eles não entendem”. É um depoimento simples, genial, impressionante! O Laércio tem 34 anos e um poder de comunicação e de magnetismo muito fortes. Sabe concatenar tudo de maneira simples, direta. Não é uma utopia, é a realidade, ele tem consciência da complexidade da situação e sabe do que tá falando.

20- Quem tá bancando o filme? Vocês se inscreveram em editais, leis de incentivo, Rouanet ?

A gente já tentou de inúmeras formas, lei de incentivo estadual, edital federal, empresa privada direta, tudo. Tem uma empresa, a Oito Comunicação, que tá tocando isso. E a gente também está se preparando pra fazer as apresentações, inclusive internacionais. O teaser do filme (https://www.youtube.com/watch?v=y6cuk7Re628&feature=youtu.be) tem legendas em inglês, tudo focando nessa abrangência. A gente conseguiu alguns apoios diretos de empresas pequenas, além do apoio das coprodutoras que entraram com a gente, Fábrika Filmes, de São Luís, e Unloop Filmes, do Rio de Janeiro.

21- No caso da lei de incentivo estadual, vocês tiveram o documento de aprovação pra tentar a captação?

Em 2018 a gente escreveu um projeto lindo, feito por um pós doutor, Ramuzyo Brasil, e botou no Minc. Teve uma ótima nota, mas logo depois o ministério foi extinto. Aí, colocamos na lei de incentivo estadual, em fevereiro de 2018, com carta de intenção de patrocínio. Eles dão um prazo de três meses para entrar na reunião da comissão que avalia os inscritos. Dois anos depois e o projeto nunca entrou na pauta dessa reunião para que eu pudesse ou não receber o certificado. Fui na secretaria mais de cinco vezes, falei com todas as pessoas, até com o governador, ao lado de várias representantes da área de cinema. Ele falou que a demora era por causa da demanda, mas que o secretario, na época o Diego Galdino, iria dar continuidade ao processo e coisa e tal. Isso em junho de 2019. Até hoje! Depois disso conversei com o novo secretário, Anderson Lindoso, com a secretária adjunta, com a responsável pelo edital e ninguém resolveu nada. Depois da morte do Paulo, várias pessoas ligadas ao cinema, daqui e de fora do país, me perguntaram por que o projeto não tinha avançado e eu não soube responder. Acho que se esse filme tivesse sido feito e lançado ano passado, a gente poderia ter evitado algumas mortes. Em dezembro, mandei uma mensagem pra secretária ajunta, Caroline Veloso, perguntando a razão pela qual o governo não se interessava por um projeto como esse. Ela não me respondeu. No dia seguinte chegou uma ligação pra mim, eu tava na aldeia, me convocando para uma reunião em cima da hora. Aí, claro, falei que não poderia porque tava filmando. Marcamos pra semana seguinte e o atual secretário não resolveu porra nenhuma. Disse que o projeto entraria na pauta da reunião de dezembro, mas até hoje não tive nenhuma resposta. Já mandei várias mensagens e nada. Cheguei no meu limite, não posso fazer mais nada e não quero mais depender do Governo Estadual pra tocar meu projeto. Foda-se! Vou batalhar outras formas de conseguir grana pra finalizar. Quero ver a cara deles quando o filme estiver participando de um festival internacional importante. Vou levar comigo o Laércio. A voz será dele, muito além do filme, pra denunciar pessoalmente pro mundo inteiro o que tá acontecendo no Maranhão. E o governo, nem seu Sousa.

Celso Borges – poeta, roteirista e jornalista, 11 livros de poesia lançados, entre eles Pelo Avesso (1985), Música (2006), Belle Époque (2010) e O futuro tem o coração antigo (2013)

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As músicas desconhecidas de Belchior e Frédéric Pagès

Ed Wilson Araújo

Os alunos têm sempre algo a ensinar para os professores. Esse é o principal sentido de Paulo Freire. E foi assim na primeira aula da disciplina Roteiro para Rádio de 2020. Durante a interação com os estudantes, informei a turma sobre o evento “Diálogos Insurgentes”, que teria a participação dos artistas Frédéric Pagès e Celso Borges.

Ao anunciar o evento contei aos alunos que Pagès, quando jovem, participou ativamente do movimento Maio 68. Logo depois o aluno Ailton Lima sacou uns versos da música Os profissionais, de Belchior, cuja letra é uma crítica ácida aos jovens rebeldes que se converteram em yuppies.

Eu nunca tinha ouvido Os profissionais e fiquei impressionado diante da inventividade do saudoso Belchior com aquela música cantada em um ritmo totalmente estranho ao seu estilo. Isso, por si só, já seria uma provocação?!

Logo na primeira estrofe, ele pergunta e responde:

Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Hoje, rei da vaselina,
Correu de carrão pra China,
Só toma mesmo aspirina
E já não quer nem saber.

A música é atualíssima para entender os recuos de alguns rebeldes que se entregaram ao sistema, convertidos aos seus próprios interesses, ajoelhados diante da luz feiticeira do vil metal. Na vasta floresta dos idealistas, Belchior distingue os revolucionários dos “yuppies sabor baunilha”, parâmetro para o “herói de boutique / dos chiques profissionais”.

Realizado pelas secretarias de Direitos Humanos (Sedihpop) e Ciência e Tecnologia/Inovação (Secti), os “Diálogos Insurgentes” das águas de março trouxeram ao palco o tema “arte e resistência”, abordados por Frédéric Pagès e Celso Borges em um animado bate-papo com a plateia, no teatro Alcione Nazaré.

Em tempos de avanço das forças conservadoras e do obscurantismo, a dupla palestrante colocou a arte em seu devido lugar, ou fora de qualquer enquadramento, visto que na interpretação de Borges e Pagès a criação estética é visceral e transgressora. Quando age, engendra sedução, inquietude e subversão, carregando a imensurável força de reencantar a realidade. Em tudo isso, arte tem poder!

No dia seguinte aos “Diálogos Insurgentes”, Frédéric Pagès participou da roda de conversa “Literatura (en)cantada: empoderar-se da língua”, juntamente com a professora Joelma Correia (UFMA) e o músico Wesley Sousa. O trio tratou com carinho as relações entre Pedagogia e arte para um auditório lotado e perseverante, no campus do Bacanga.

Pagès relatou sua afinidade com o pensamento de Paulo Freire e Darcy Ribeiro, sintetizando a longa jornada do processo de formação do ser humano: “Educação é tarefa para a vida inteira”, cravou.

Em Diadema, na grande São Paulo, o francês desenvolveu um projeto com jovens da periferia, construindo junto com rappers o protagonismo de um refinado material didático sobre Literatura, envolvendo texto, música e performance.

No experimento de Diadema, a pedagogia sonora é o esteio da Literatura que, cantada, encanta. Assim, um texto Machado de Assis ganha vida na música. Esse trabalho de transposição passa por um navegar de corpo e alma no universo das palavras corporificadas na voz dos intérpretes rappers.

Escritor, cantor, compositor e produtor, Frédéric Pagès desenvolve suas atividades na música e na Literatura entre a França e o Brasil há 40 anos, período em que participou de inúmeros projetos culturais de intercâmbio entre os dois países.

Entre outras “artes”, em 2019 Pagès se autoproclamou presidente da França, inspirado no ator brasileiro José de Abreu.

Na sua estada em São Luís ele apresentou canções e poemas no pocket show “Passion Brésil”, versão sintética do espetáculo homônimo estreado recentemente, em Paris, celebrando quatro décadas de relação com a cultura brasileira, que também dá título ao seu CD lançado em 2019.

Veja abaixo vídeos do cantor.

Leia mais sobre a carreira de Frédéric Pagès aqui

Do que vi e ouvi de Pagès, deu para perceber que ele não se enquadra na crítica precisa de Belchior sobre os rebeldes que se perderam no meio do caminho.

Oh! L’age d’or de ma jeunesse!
Rimbaud, “par delicatesse
J’ai perdu (também!) ma vie!”

Em tradução direta:

Oh! A idade de ouro da minha juventude!
Rimbaud “por delicadeza
Perdi (também!) minha vida! “

O artista franco-brasileiro não parece cansado de guerra. Na sua maturidade, empunha na arte e no discurso as bandeiras do jovem ativista do Maio 68. Ele segue na marcha da utopia, encantando as pessoas com o poder mágico das palavras e dos sons.

Assim, as músicas (não mais) desconhecidas de Belchior e Frédéric Pagès (ouça aqui) agora fazem parte de um saboroso aprendizado.

Veja abaixo a letra de Belchior.

Os profissionais

Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Hoje, rei da vaselina,
Correu de carrão pra China,
Só toma mesmo aspirina
E já não quer nem saber.

Flower power! Que conquista!
Mas eis que chegou o florista
Cobrou a conta e sumiu
Amor, coisa de amadores
Vou seguir-te aonde f(l)ores!
Vamos lá, ex-sonhadores,
À mamãe que nos pariu!

Oh! L’age d’or de ma jeunesse!
Rimbaud, “par delicatesse
J’ai perdu (também!) ma vie!”
(Se há vida neste buraco
Tropical, que enche o saco
Ao ser tão vil, tão servil!)

E então? Vencemos o crime?
Já ninguém mais nos oprime
Pastores, pais, lei e algoz?
Que bom voltar pra família!
Viver a vidinha à pilha!
Yuppies sabor baunilha
Era uma vez todos nós!

Dancei no pó dessa estrada…
Mas viva a rapaziada
Que berrava: “Amor e Paz!”
Perdão, que perdi o pique…
Mas se a vida é um piquenique
Basta o herói de butique
Dos chiques profissionais.

I have a dream… My dream is over!
(Guerrilla de latin lover!)
Mire-se o dólar que faz sol
Esplim, susexo e poder,
Vim de banda e podes crer:
“Muito jovem pra morrer
E velho pro rock ‘n’ roll!”

Imagem destacada: Pagés foi ativista e escreveu livro sobre Maio 68
Foto capturada neste site

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Reflexões sobre Educação

Texto do estudante de Rádio de TV da UFMA, Teodoro Montenegro, construído a partir do evento “Literatura (En)cantada: empoderar-se da língua”, realizado dia 6 de março de 2020, no auditório central da Universidade Federal do Maranhão

“O Pequeno Príncipe” é um livro difícil de explicar. Talvez, porque a narrativa se construa dentro de quem lê, não importa se criança ou adulto: o que se encontra no livro não é uma estória já processada, mas sim uma estória vivida por quem lê. Esse era o método utilizado para alfabetização, o qual, magistralmente, explicavam Wesley Sousa, Joelma Correia e o convidado francês Frédéric Pagès, durante o evento “Literatura (En)cantada: empoderar-se da língua”. “Brincar com as palavras, não pensar com elas”. Essa frase foi dita pela (antes de tudo) alfabetizadora Joelma Correia, que afirmava ter encontrado nos franceses (inclusive no convidado) a fórmula de “entender a alfabetização das crianças”. Coincidência ou não, “O Pequeno Príncipe” é de um autor francês – Saint-Exupéry. Os palestrantes do evento foram responsáveis por fomentar a discussão sobre a educação no século 21, pondo em questão os métodos pedagógicos herdados do século passado, que também fez parte do processo de colonização do Brasil (que perdura até hoje).

O ensino no Brasil é cercado por quem possui o privilégio de mantê-lo. Em algumas escolas do Brasil, principalmente particulares, o ensino é padronizado, seguindo as normas capitalistas de ensino ao desempenho técnico e de trabalho, onde a histórias das minorias sociais muitas vezes é romantizada, quando não excluída. Sendo uma forma de ensino nada acessível para alunos que têm quaisquer dificuldades de acompanhar o ritmo das aulas, o aluno se torna refém da sua própria educação. Mostra-se mais cabível esse modelo “bancário”, denominado por Paulo Freire, onde o professor deposita informação no aluno a ser apenas reproduzida posteriormente, para a manutenção de estruturas sociais que insistem em preservar mais privilégios do que direitos igualitários. Nas palavras da própria Joelma Correia: “crianças de classe popular devem ser impedidas de serem idiotizadas”.

O que os palestrantes trouxeram para discussão foi uma forma universal de ensino. As brincadeiras da infância foram (e são) a melhor escola que o ser humano já teve. A criança improvisa um roteiro, descobre as vontades antes de seus nomes, as entendem de dentro para fora. Enfim, existem várias formas de explicar esse método, pois além de vários autores já o terem descrito (Walter Benjamin, em “O Narrador”, diz que o narrador é alguém que ensina, que consegue dar conselho, torna comunicáveis suas experiências), é um método que se desenvolve na sua própria natureza, como um diálogo entre o mundo exterior e o indivíduo. “Educação dialógica” foi o termo utilizado pelo educador Paulo Freire para descrever a educação à base de estimular a criança a aprender através de suas próprias experiências. A única forma possível é usando a sua própria realidade de ferramenta educativa. É uma forma compartilhada de ensino, há uma troca de ideias entre aluno e professor e entre aluno e aluno: a única forma de preservar algo é tornando-o comum a todos.

Isso, segundo a alfabetizadora Joelma Correia, é o que seria uma educação verdadeiramente acessível. Muito se fala, no âmbito político, em construir mais escolas, aumentar qualidade do ensino etc. Porém, o problema se encontra no “como?”, quais os métodos utilizados neste momento para a educação infantil e quais suas reais consequências – questiona a alfabetizadora (?). Torna-se extremamente necessária a discussão desses métodos pedagógicos, visto que o planeta Terra está entrando em colapso por todos os âmbitos: social, político, ecológico, econômico… E tudo isso tendo origem na educação que foi criadora e criatura de uma estrutura tóxica para quem a ela pertence, algo que (literalmente) nos é ensinado e que acaba sendo o próprio problema, por isso, também, que as experiências se tornam primordiais para o ensino como um todo.

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Em São Luís, PSOL cobra a elucidação dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes

Neste sábado (14), completam 2 anos que a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes foram brutalmente assassinados e o crime ainda é cercado de mistérios. Até agora os mandantes não foram revelados pelas autoridades policiais.

A pergunta não cala: afinal, quem mandou matar a vereadora e o motorista?

Em São Luis, como forma de chamar a atenção da sociedade para esse brutal assassinato, que é considerado por muitos como um atentado à democracia, o Diretório Municipal do PSOL vai realizar sábado pela manhã, a partir das 9h, na praça Deodoro (Centro), um ato de protesto, que contará com intervenções artísticas e culturais, além de panfletagem.

O ato também tem como objetivo cobrar da Justiça o total esclarecimento do crime. Os executores já estão presos e vão a júri popular; entretanto, passados dois anos, ainda não foram descobertos os mandantes e nem a motivação do brutal assassinato.

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Feira da Resex Tauá-Mirim tem nova edição na UFMA

A Feira da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim, com produtos cultivados na zona rural de São Luís, monta suas bancas na cidade universitária (campus do Bacanga) nessa quarta, 11 de março, a partir das 9h.

As bancas serão montadas na rua próxima ao prédio da pós-Graduação em Políticas Públicas.

Haverá a comercialização de produtos orgânicos de vários bairros de São Luís e também comidas típicas para a venda e consumo no local.