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Livro reúne artistas e pesquisadores para debater a Contracultura no Brasil

Transas da Contracultura Brasileira, organizado por Isis Rost e Patrícia Marcondes de Barros, reúne artigos, poemas, entrevistas, depoimentos e ensaios. Traz nomes como Chacal, Jards Macalé, Luiz Carlos Maciel e os maranhenses Murilo Santos e César Teixeira, além de pesquisadores de diferentes locais do país.

Transas da Contracultura Brasileira resulta do encontro de duas pesquisadoras ligadas na efervescência cultural dos anos 1960 e 1970, Isis Rost, gaúcha radicada em São Luís, e Patrícia Marcondes de Barros, paulistana que vive atualmente em Londrina. Elas reuniram vasto material, que alinha entrevistas e depoimentos de personagens expressivas daqueles anos – tempos de explosão criativa, transformações comportamentais profundas e também de muita repressão política – com textos de pesquisa.

Capa do livro Transas da Contracultura Brasileira


“É um passeio por nomes da literatura, do jornalismo alternativo, da música, das artes cênicas e do audiovisual, quase sempre mais próximos do lado B e da experimentação, numa linguagem direta, sem os excessos teóricos e insossos dos textos acadêmicos”, afirma o professor Flávio Reis, que responde pela coordenação editorial do projeto.

Na primeira parte, temos entrevistas e depoimentos de Luiz Carlos Maciel, Ricardo Chacal, Jards Macalé, Helena Ignez, ao lado dos maranhenses Cesar Teixeira e Murilo Santos, integrantes da primeira turma do Laborarte, e de Edmar Oliveira, participante da cena que se desenvolvia em Teresina, além de uma entrevista realizada por Joca Reiners Terron com Régis Bonvicino sobre Walter Franco.

A segunda parte reúne pesquisadores e colaboradores de diferentes cidades como Teresina, São Luís, Londrina, Rio de Janeiro e São Paulo. Os textos enfocam aspectos diversos da efervescência cultural entre os anos 1960 e 1980, da Tropicália ao movimento Punk, nas áreas de poesia, música, cinema, imprensa alternativa e teatro. Entre os poetas convidados, Celso Borges, Cesar Carvalho e Durvalino Couto Filho.

Um dos ícones da contracultura, Chacal é parte do livro “Transas da Contracultura Brasileira”


“A concepção gráfica do projeto se aproxima do universo das publicações alternativas, ponto em comum entre eu e Patrícia, que conheci em 2018. Desde o ano passado existia a urgência de um projeto que resgatasse, neste período sufocante que atravessamos, os elementos transgressores da contracultura. O livro teve seu pontapé inicial quando nos encontramos pessoalmente pela primeira vez no Rio de Janeiro, em fevereiro, já no dia da entrevista com Chacal”, afirma Isis Rost, que assina o projeto gráfico e a diagramação de Transas da Contracultura Brasileira”. 

O e-book é mais um lançamento da Editora Passagens e estará disponível para download gratuito a partir do dia 26 de julho no blog da Editora Passagens editorapassagens.blogspot.com

O livro abre com um poema de Celso Borges anunciando os ingredientes e o sabor do caldeirão da contracultura.

Olhali Olhalá
Wally alado
No colo de Jorge Salomão
Tresloucado
No caldeirão da contracultura
Meu poema também cabe?
Quem sabe
Deitando e rolando no Gramma
No Drops de Abril de Chacal
Que tal
No coração samurai de Catatau
E coisa e tal
meu poema
Olé olá
No parangolé Tropicália de Oiticica
Que delícia
Meu poema enfim
Nos paletós de Francisco Alvim
Quem sabe
Maio 68 nos muros de Berlim
Meu poema lero lero
Ainda cabe até o fim
Na boca de Cacaso eu quero
Dentro de mim um anjo da contracultura
Que nas asas de Ana C. César
Sobrevoe aquela manhã azul de Ipanema
Queda para o alto
Meu poema
Meu treponema não é pálido nem viscoso
na fumaça de um fino
meu poema
panamérica de Agripino
colírio no olho do sol
quem sabe
nas bancas de revista
Warhol na capa mijando no urinol
de Duchamp
Roda, roda e avisa
Um minuto pros comerciais
Alô, alô, Tristeresina
Vai ver Torquato
Na discoteca do Chacrinha
Vai, Drummond, ser guache
Nas aquarelas da contracultura
Quem sabe!
Quem sabe desfolho a bandeira
Na parte que me cabe
Quem sabe?
Quem sou?
Eu sei
Eu não sei
Por isso
Meu poema vai
e voa
em vão
meu poema nem Seu Sousa
vai e vem e vaia
o caldeirão
da contracultura
não
Me segura que vou dar um traço

SERVIÇO

Transas da Contracultura Brasileira

Organizado por Patrícia Marcondes de Barros e Isis Rost

Editora Passagens – São Luís, 332 páginas

Coordenação editorial – Flávio Reis

Projeto gráfico e diagramação – Isis Rost

Download gratuito a partir do dia 26 de julho no blog da
Editora Passagens: editorapassagens.blogspot.com

Imagem destacada / divulgação / Poeta Ana Cristina Cesar é uma das referências do livro

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Bodó

*Por Luiz Henrique Lula da Silva
Jornalista, membro da Apoesp (Associação de Poetas e Escritores de Pedreiras), ex-presidente da Abraço Maranhão e deputado estadual suplente

Tem histórias que você não pode, nem deve guardar só pra si. Essa semana o planeta terra, nessa dimensão da vida humana, perdeu um grande ser, um dos melhores da espécie, que se foi muito, muito mesmo fora do combinado. E é inspirado em Samuel Barreto, um notório e exímio contador de histórias, estórias e causos, alguém que tinha sempre o que dizer e contar, não guardando para si o que sabia e tivesse vivido que resolvi contar Minha História com João do Vale.

Um belo dia, em pleno expediente da fábrica que eu gerenciava (Colchões Corcovado), em Pedreiras, me entra na sala da administração, esbaforido, Daniel Lisboa, gerente de produção da empresa, compositor e cantor, e me diz: João do Vale tá na cidade. Você não disse que desejava conhecê-lo? Ato continuo só perguntei onde estava, e se ele, Daniel, poderia me levar até onde João. Eram 11h da manhã e lá fomos nós pra casa de Teresa Parga e Serejo, ela prima-irmã de João e Serejo seu grande amigo (a língua do Serejo tá jeitinho que você deixou…).

Teresa nos recebeu e foi até a cozinha perguntar se João permitiria minha conversa com ele. Logo estava sentado na cozinha, observando João já “calibrado” com as primeiras doses de cachaça daquela manhã, saboreando um peixe, que vim saber em seguida ser Bodó. Peixe comum nos rios maranhenses, como rio Mearim que banha Pedreiras e região. Pela devoção, voracidade e elogios de João, era o peixe que mais apreciava.

Feita a primeira abordagem, pergunto quando poderíamos marcar uma entrevista. Queria poder ouvir João naquele ambiente seu, em seu lugar, em volta dos seus amigos de Pedreiras. Qual não foi minha surpresa quando ele disse: Agora! Pode perguntar.

Pego de surpresa, peço a Daniel ir à fábrica e trazer um gravador. Enquanto o gravador não chega, falamos sobre bodó, dominó (João gostava muito de jogar dominó) e Serejo. João me oferece uma dose, e eu recuso, mas comento: só tiver uma cerveja, eu quero. João dá o comando pra Teresa Parga – Teresa, o repórter é bruguês! Serve o homi!
Pronto, a partir dali estávamos íntimos, passei a ser o bruguês.

O gravador chega, início a conversa, e pergunto o que sem dúvida, ele já havia respondido outras inúmeras vezes: como foi a trajetória? Primeira música? Quem cantou? A experiência do show Opinião, Carcará? etc, etc, etc. Só uma pergunta lhe causa incômodo, quando indago como ele conheceu Chico Buarque. Rispidamente, a resposta vem na ponta da língua – A pergunta não é como conheci Chico Buarque? A pergunta é como ele me conheceu.


Finda a entrevista, que viria a ser publicada na íntegra no Jornal Pequeno, mais uma vez sou pego de surpresa com um convite inusitado. Já são 3 da tarde e ele pede carona para a casa de uma tia em Trizidela, hoje cidade, à época o bairro de Pedreiras, do outro lado da ponte.

Claro, respondo!

A parada lá é rápida, tempo suficiente para encher de cachaça uma garrafinha de guaraná Antárctica, mais duas cervejas no juízo do bruguês, para ele em seguida não mais pedir, mas determinar – vamos pro Lago da Onça. Vou te levar onde não deixei nem Vanucci ir.

João se referia a um especial que ele acabara de gravar para a TV Globo, dirigido pelo talentoso Augusto Cesar Vanucci, que seria exibido dias depois.


Lago da Onça é o povoado, a beira do rio Mearim, onde João do Vale nasceu e foi celebrado em uma de suas canções, de título Pé do Lajeiro. E lá fomos nós, literalmente pra terra de João. Ele descalço, meio molambento, porque era próprio dele viajar sem mala e como dizia minha mãe, com a roupa do corpo.


O povoado era paupérrimo, as casas, todas, sem exceção, eram de pau a pique (casas de barro, como se diz por aqui), algumas cobertas de palha, mas a maioria de telha.

Entramos em uma delas, e João chama pelo dono. Não sei dizer se era Mané, Pedro ou Romão de sua canção Minha História, ou nenhum deles, me falha a memória, o certo que se abraçaram, festejam o reencontro e o anfitrião diz um – Eita, João! Tu por aqui.

João me apresenta ao amigo: esse aqui é bruguês, é repórter e tá fazendo uma entrevista comigo. Trouche (assim, com essa pronuncia), trouche ele aqui pra mostrar meu santuário.

Do nada revira o tamborete com acento de couro de boi, cabra, ou sei lá de que bicho pra cima, e se põe a batucar. Faço o mesmo com o meu. Ficamos os dois em uma batida desconexa, tocando nada com coisa nenhuma, ambos já meio “tontinhos”. João com a cachaça da terra e bruguês das cervejas Antarcticas da casa de Teresa e da tia de João.

Já eram muitas horas da madrugada, quando depois de algumas incursões pelas ruas do Tamarindo (Trizidela) e da golada (Pedreiras), exausto, bebo bosta, pedi arrego e disse ao trôpego de cachaça João Batista do Vale. João, vamos pra casa! Deixei-o onde o havia encontrado, na casa de Teresa.


Ficamos amigos, ele continuou bebendo cachaça, e o bruguês até hoje bebe cerveja.

Vou beber João, vou beber Samuel Barreto.

Essa é minha história com João do Vale, inspirada em Samuel Barreto.

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Em prévias, PSOL confirma Guilherme Boulos em São Paulo e Franklin Douglas em São Luís

O PSOL realizou prévias para escolhas de seus candidatos a prefeito nas cidades de São Paulo e São Luís, no último final de semana, 18 e 19 de julho.

Em São Paulo,  com 61% dos votos foi decidida a chapa Guilherme Boulos e Luíza Erundina para concorrer à prefeitura da capital paulista.

Em São Luís, com cerca de 60% dos votos,  prevaleceu a escolha do professor Franklin Douglas e do líder comunitário José Ribamar Arouche como candidatos a prefeito e vice.

Durante as prévias, como forma de garantir o distanciamento social, o partido disponibilizou álcool gel, dividiu a votação em três locais, Cohab, Angelim e Centro, para evitar aglomeração.

Afirmando a sua democracia interna, o partido movimentou sua militância para a melhor escolha ao pleito municipal 2020. O PSOL segue agora para a confirmação de sua chapa de vereadores em São Luís.   

Foto / divulgação: Mesa apuradora das prévias do PSOL em São Luís

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Nota de pesar pelo falecimento de Luís Fotógrafo, da rádio comunitária Cultura, de Encruzo

A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão manifesta pesar pelo falecimento do companheiro Elisabeto Soares Sousa (Luís Fotógrafo ou Luís Soares), diretor da rádio comunitária Cultura FM, de Governador Nunes Freire (Encruzo)

Nascido em 02/10/1963, ele faleceu em São Luís terça-feira (21 de julho) de 2020, aos 56 anos de idade, vítima de complicações decorrentes do covid19.

Luís Soares e a esposa Marineude

Luís Soares deixa esposa, quatro filhos e um neto. O corpo foi recebido com muitas homenagens de amigos, familiares, admiradores e ouvintes da rádio comunitária Cultura FM.

Em nome da Abraço Maranhão, desejamos força e fé aos entes queridos de Luís Soares e que Deus, na sua infinita misericórdia, o receba em paz.

São Luís, 22 de julho de 2020

A Diretoria

Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão

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“É indispensável para a educação pública”, afirma Bira do Pindaré sobre o Novo Fundeb

O vice-líder do PSB na Câmara dos Deputados, Bira do Pindaré (PSB), voltou a defender o Novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). O parlamentar cobrou que a proposta seja colocada em pauta o mais urgente possível. 

Para ele, o Novo Fundeb é indispensável para a educação pública brasileira e representa mais de 63% dos recursos para educação, o que equivale a mais de R$ 157 bilhões. O deputado argumentou que caso o Fundo não seja votado, a educação pública paralisa e não conseguirá atender os milhões de brasileiros e brasileiras que dependem exclusivamente dela. 

“Falo isso com muita propriedade porque estudei em escola pública a vida inteira e, se não fosse a educação pública, eu não teria chegado até aqui. De modo que é fundamental que a gente possa dar esse passo na construção de um Fundeb Permanente, que possa garantir a ampliação de escolas de tempo integral, que hoje representa apenas 17% das escolas brasileiras”, salientou. 

Bira acrescentou ainda que os estados e municípios dependem da aprovação do Novo Fundeb “O meu querido Maranhão e a minha querida São Luís dependem inteiramente disso para melhorar a estrutura das escolas, para valorizar os professores, professoras e demais profissionais da educação, para garantir uma condição e uma oportunidade de enfrentamento e redução das desigualdades sociais que são gritantes em todo país”, enfatizou. 

Segundo o deputado, a redução e até mesmo erradicação dos problemas sociais, ainda mais evidenciado pela pandemia, perpassa pelos investimentos em educação pública, gratuita e de qualidade, com acesso democratizado. Ele lembrou que a educação é o discurso fácil de todo candidato em eleição, quando diz que a classificam como prioridade. 

“Chegou a hora de provar que a educação é prioridade, aprovando o novo Fundeb. O relatório da professora Dorinha está pronto. Não é o texto ideal, mas apresenta avanços importantes e nós precisamos reconhecer os esforços de todos aqueles que lutam e sonham com uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos e todas nesse país. Novo Fundeb Já! É isso que queremos para o Brasil, para o Maranhão e para a nossa querida São Luís”, concluiu. 

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Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo retoma atendimento ao público

O atendimento aos pacientes foi retomado nesta semana no Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo, na Vila Palmeira. Neste primeiro momento, estão sendo chamados para as consultas os pacientes que estavam agendados antes da pandemia e da suspensão do serviço. O retorno dos atendimentos acontece seguindo todas as recomendações sanitárias de segurança para evitar o contágio pela Covid-19. 

“Todos os atendimentos na unidade foram retomados, só que de forma reduzida. A ginecologia, por exemplo, voltou com 70% do atendimento. É a maior demanda atualmente, pois o Genésio Rêgo é uma das unidades de referência na assistência à saúde da mulher. As demais especialidades voltaram 40% da sua capacidade”, frisou a diretora administrativa do Centro, Aline Almeida. 

A diretora acrescenta que todos os cuidados necessários estão sendo tomados. “Esse cuidado é desde quando a pessoa tem acesso à unidade, no estacionamento, até quando o paciente chega ao ambulatório. É feita uma triagem, o paciente chega com horário marcado. As cadeiras estão sinalizadas e tem a triagem com a enfermeira, que faz a medição da temperatura, afere a pressão e as pessoas ainda são submetidas a um questionário que vai ajudar na avaliação para diagnóstico da Covid-19”, explicou a diretora administrativa. 

No questionário são feitas perguntas para saber se a pessoa teve febre ou sintomas de gripe nos últimos dias ou então se está se sentindo mal. As medidas adotadas também contribuem para evitar aglomeração no centro de saúde. Três horas é o limite máximo estabelecido para revezamento de pacientes, para evitar aglomerações e higienizar poltronas e cadeiras. 

Uma das pacientes já atendidas no centro de saúde foi Joana Célia, de 58 anos. A moradora do São Francisco foi consultar com o gastroenterologista. Ela teve a Covid-19 e, após a doença, não deixou de sentir ardor no estômago, garganta e ainda persiste a sensação de queimação. Ela foi para a sua primeira consulta após se recuperar da doença. “Gostei do atendimento. Vim marcar a consulta e já consegui vaga. Fiquei mais aliviada com a volta dos serviços. Precisamos nos cuidar”, ressaltou a dona de casa. 

A unidade de saúde, administrada pela Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares (EMSERH), disponibiliza atendimento em mais de 10 especialidades. Entres elas: ginecologia, mastologia, pneumologia, nutrição, exame de ultrassom, além de ser uma das unidades de saúde com referência no atendimento a casos de hanseníase. 

“Estamos neste momento atendendo os pacientes já agendados no sistema, na fila de espera e retornos, com raras exceções. A pessoa que precisa de um exame laboratorial, quando sai do consultório, já é agendado. Sai com a requisição em mãos, com a data e horário, tudo acertado”, reforçou Aline Almeida.

Fonte: Governo do Maranhão / Agência de Notícias.

Foto destacada: Ruy Barros

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Projeto Vidas em Conexão promove assistência e inovação social na pandemia

A pandemia afeta diferentemente as pessoas. Famílias que já se encontravam em situação de vulnerabilidade sentem mais fortemente os efeitos dela.

Por isso, o Instituto Maranhão Sustentável/ IMAS, em parceria com outras organizações, tem articulados esforços e atuado para minimizar os efeitos da pandemia em três frentes de ação:

Assistência Material

Desenvolvendo rede de assistência comunitária através de campanhas de doação de cestas básicas articulando a atuação de lideranças locais à aquisição nos pequenos comércios, dinamizando a economia nas comunidades e minimizando os efeitos de deslocamentos. Já foram múltiplas iniciativas de cooperação com destaque para a Fundação Banco do Brasil, o Instituto Cores do Mará e a 2ª Vara de Execuções Penais de São Luís, MA. Mas especialmente as doações espontâneas reiteradas tem conseguido dar sustentação à iniciativa.

Essa linha de ação caminha para se ampliar com ações de capacitação para melhor uso e aproveitamento integral dos alimentos e consequente mais promoção de segurança alimentar. Só em Raposa já foram atendidas cerca de 400 famílias beneficiadas.

Soluções tecnológicas de baixo custo

A pandemia nos impõe novos hábitos e convivência social. Isso é especialmente importante em regiões onde as comunidades se encontram em condições socioeconômicas e ambientais que a fragilizam, tais como a pobreza, a educação e saneamento ambiental precários.

Para enfrentar esse cenário, estamos estudando soluções sanitárias de baixo custo para implantar em comunidades vulneráveis buscando minimizar os efeitos da Covid-19 nas periferias, assim, ampliando as condições para adoção de práticas de higiene e prevenção da doença.

A primeira foi um Lavatório Público, desenhado pelas Arquitetas Jana Lopes e Mariana Valporto, com flexibilidade para instalação com e sem ponto de água; materiais acessíveis e adaptáveis e de fácil montagem e manuseio. O IMAS já está instalando e testando a eficácia dos lavatórios em diversos pontos da Ilha de São Luís, em que pequenos comércios e associações adotam (cooperando com a montagem, instalação e/ ou manutenção) para seu uso. Agora, prospectando parceiros para ampliar o alcance do Projeto.

Rede de Comunicação Comunitária

Ainda em processo, a Rede visa divulgar amplamente as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para enfrentar a pandemia, além de desenvolver campanhas para o incentivo aos hábitos de higiene e vida saudável; gerar e difundir informação acessível acerca das medidas de apoio emergenciais a comunidades de baixa renda; buscando criar canais de comunicação eficientes, inclusive entre poder público e comunidade, ativando o protagonismo jovem feminino, oportunizando ferramentas de comunicação mais acessíveis e contextualizadas à realidade local.

SERVIÇO:

Instituto Maranhão Sustentável

Site: https://www.maranhaosustentavel.org.br/vidas-em-conexao

@maranhaosustentavel

Coordenação do Projeto Vidas em Conexão

Luzenice Macedo (98)9 9974-9366 

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A agonia de Upaon-Açu

Luiz Eduardo Neves dos Santos, Geógrafo, Professor Adjunto I da Universidade Federal do Maranhão (UFMA/CCHNST-Pinheiro)

Passadas duas décadas do século XXI, São Luís insiste em possuir uma sina incômoda: a da inoperância da gestão administrativa com sua consequente incapacidade no fomento de políticas públicas urbanas includentes. O resultado assombroso em não desempenhar esta tarefa é o de se viver em uma cidade fragmentada espacialmente, em que diferentes classes sociais se distribuem em territórios muito bem definidos e delimitados. 

Destarte, esta fragmentação congrega, num extremo, territórios com condomínios verticais e horizontais, enclaves em lugares onde a rua é apenas lugar de passagem – predominantemente de veículos automotivos – que margeia os muros altos e eletrificados, e dá acesso aos portões automáticos das propriedades. De outro lado, abrange os territórios periféricos, onde a rua é como uma extensão das casas, os bairros possuem intensa sociabilidade, as relações de vizinhança são ricas, conflitivas e por vezes também solidárias, há todo um tecido socioespacial com características específicas, próprias da cidade informal, com suas regras e normas, já que a presença do poder público é residual.

Embora se observe nítidas diferenças em territórios do espaço intraurbano ludovicense, delimitadas por distinções infraestruturais e de serviços aparentes, resultado de relações de poder, nota-se problemáticas onipresentes na quase totalidade do município e causa espanto a omissão dos poderes políticos instituídos, que parecem alheios às adversidades. 

Uma das mais impertinentes problemáticas ludovicenses é o deficitário abastecimento d’água. Composto por 3 sistemas de abastecimento interligados (Italuís/Sacavém-Batatã/Paciência I e II), com 285 poços profundos, São Luís padece com falta de água em milhares de lares cotidianamente, não é raro, por exemplo, que tubulações do Sistema Italuís – que abastece 60% da capital maranhense – sofra rupturas, afetando a vida de milhares de pessoas. 

Por isso, é bastante comum ainda que territórios na ilha, dotados de populações de todas as classes sociais, sejam abastecidos com carros-pipa, um negócio que se tornou lucrativo na cidade em virtude das graves falhas no abastecimento, fato que nos remete à Ana Jansen, figura poderosa da aristocracia maranhense no Oitocentos, detentora do monopólio da água em São Luís na época, período em que seus escravos vendiam água em carroças, oriunda das fontes de suas propriedades no Apicum e no Vinhais.

Não bastasse as deficiências no abastecimento de água, São Luís sofre por não tratar grande parte de seu esgoto. De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), São Luís possuía 47,7% da cidade ligada à rede coletora em 2018, ou seja, menos da metade da cidade estaria coberta pelos serviços de esgotamento sanitário, e apenas 11,04 % do esgoto era tratado. Não à toa, a balneabilidade das praias na cidade se encontra em estado quase sempre crítico, imprópria, a maior parte do ano, para o banho.

Independente do bairro, se proliferam na cidade bueiros estourados, as vezes sem tampas, ruas e avenidas esburacadas, esgotos à céu aberto sem manutenção, galerias insuficientes para o escoamento das águas pluviais, além de fundos de vale aterrados e rios poluídos. Os eventos climáticos extremos recentes, como variações bruscas entre calor, umidade e chuvas torrenciais, além de ventanias e ciclones localizados, só contribuem para piorar a situação de uma cidade que agoniza. 

Nas últimas décadas a cidade se expandiu muito – agravando os problemas – tanto em direção ao norte (Calhau, Renascença I e II, Ponta D’areia, Ponta do Farol, etc.) e leste (Cohab, Cohatrac, Turu, Forquilha, etc.) do município, bem como para os territórios do Itaqui-Bacanga (Anjo da Guarda, Fumacê, Jambeiro, Gapara, Mauro Fecury I e II, etc.) e também em direção aos manguezais e para outras áreas de proteção ambiental. 

A cidade se esfacela em meio ao aumento das desigualdades, o solo urbano – principalmente nos bairros de antigos conjuntos habitacionais, incluindo outros territórios que estão situados ao norte do município – se tornou uma mercadoria caríssima, o que possibilita a presença de um estoque de vazios urbanos murados que não param de valorizar pela especulação, além empreendimentos habitacionais prontos que não conseguem ser vendidos facilmente. Isto provocou um direcionamento de loteamentos e construções de novos condomínios e habitações para o município vizinho de São José de Ribamar através de avenidas como a General Arthur Carvalho e também a Holandeses/MA-203, onde os estoques de terra são maiores e mais baratos. Por outro lado, esse processo determinou o afastamento ainda maior de populações empobrecidas que residem em lugares cada vez mais distantes e deficitários de transportes, saneamento e outros equipamentos urbanos.

Em meio ao aumento da pobreza urbana, refletida no aumento expressivo de aglomerados subnormais, no qual a capital maranhense possui uma vergonhosa posição de destaque em escala nacional, se encontra na Câmara dos Vereadores a proposta de revisão do Plano Diretor Participativo do município. Lembrando que, enquanto instrumento jurídico, o Plano Diretor é norteador da política de desenvolvimento e de expansão urbana nos limites municipais.

Passadas dezenas de reuniões no Conselho da Cidade (CONCID) para a construção da proposta, um campo de forças e disputas se formou, de um lado o poder público e o empresariado do ramo imobiliário agiram com interesses comuns em detrimento das necessidades concretas da maior parte da população da cidade, representada por outros setores da sociedade civil no CONCID. Houve audiências públicas que geraram também acirrados debates, por fim foi apresentado um projeto de lei que pode ser visto como excludente, já que possui como objetivo primacial oferecer garantias jurídicas a implantação de um terminal portuário privado na baía de São Marcos, capitaneado por uma parceria entre a China Communications Construction Company (CCCC), maior empresa de infraestrutura da China e a Construtora nacional WTorre.

As condições geográficas da baía de São Marcos se mostram bastante favoráveis à acumulação de capital, já que existem objetos técnicos no território brasileiro que permitem o escoamento de um produção agrícola e mineira (interligação das Ferrovia Norte-Sul e Carajás-São Luís) em larga escala para os mais variados mercados do mundo via golfão maranhense. O discurso desenvolvimentista oriundo das empresas é sedutor, prevê a geração de 4 mil empregos diretos e investimentos na ordem de até R$ 2 bilhões na cidade. 

Estado e Município agem para que o empreendimento vingue, por isso urge a aprovação do Plano Diretor que propõe transformar o que hoje é parte da Zona Rural e suas diversas comunidades em Zona Urbana. O poder público com apoio jurídico já usou forças policiais para retirar à força moradores que se recusaram a sair de territórios, como o emblemático caso do Cajueiro, pois estes estariam ocupando lugares de propriedade privada. Este fenômeno, chamado por David Harvey de “Ajuste Espacial”, permite a criação de condições para uma hiperacumulação de capital em lugares específicos, criando desordem e caos, como a expulsão de habitantes locais de seus territórios, degradação ambiental e consequentemente a produção de uma diferenciação geográfica que concentra e tensiona forças produtivas x força de trabalho.

Além do poder público, os rentistas urbanos locais também se mostram a favor da construção do Porto São Luís. Mas, quais os interesses dos empreendedores do ramo imobiliário local na sua construção? Durante as audiências públicas e nas atas das reuniões do CONCID eles defenderam e votaram no sentido de ampliar a Zona Urbana. Os construtores miram uma nova frente territorial para auferirem lucros e rendas, representado por um território passível de valorização, isto é, uma área retroportuária que ocupará 1,5 milhões de m² na porção sul e sudoeste de São Luís, um novo negócio que servirá de sustentáculo aos objetivos do grande capital. Tais agentes, em seus discursos nas audiências, chegaram a afirmar que, caso haja a instalação do terminal portuário, São Luís poderá se tornar uma espécie de “Singapura brasileira”, por terem em comum o fato de serem espaços insulares de extensões parecidas, de vocação portuária e posição geográfica estratégica, o que configura um verdadeiro estelionato discursivo, haja vista as profundas diferenças na estrutura político-econômica, social e cultural entre os dois territórios.

Desta forma, há um grande e permanente embate nas cidades brasileiras, o conflito entre o capital imobiliário e os trabalhadores, que por conta da intensa expansão da fronteira urbana, transformam as maneiras de subsistência e habitação dos pobres, empurrados cada vez mais para lugares insalubres, inseguros e distantes. A legislação urbana de São Luís tem cumprido este nocivo papel, seja com os empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida em espaços isolados e sem infraestrutura no município, seja oferecendo as condições para a ocorrência da reprodução ampliada do capital, como no caso do Porto São Luís.

Portanto, é necessário expor o que vem acontecendo com a gestão e o planejamento urbano na grande ilha do Maranhão, que agoniza pelas desapropriações e despejos, pela violência e morte de habitantes pobres e pretos, que é incapaz de fomentar uma política pública estrutural de regularização fundiária, de criação novas habitações de interesse social e de captar e destinar recursos para a implantação de espaços de lazer, saúde e educação na periferia. É preciso agir de forma integrada ao pensar a cidade, unindo os diversos entes da federação em busca da alocação de recursos para mirar o essencial à cidade: os direitos usurpados historicamente das populações carentes, geralmente pessoas negras, qual seja o direito à moradia digna, à água potável, ao saneamento básico, ao ensino público em escolas de qualidade com merenda escolar diária e serviços de saúde pública acessíveis.

O poder público, sobretudo a Prefeitura de São Luís, é omissa em relação aos pobres e marginalizados da cidade, a consolidação da legislação urbana nas últimas quatro décadas ainda não serviram para mudar as estruturas da sociedade ludovicense. Embora se reconheça tentativas importantes, como a da instauração de Zonas de Interesse Social (desde o Plano Diretor e o Zoneamento de 1992) ou uma ampliação da participação de diferentes e diversificados setores e agentes da sociedade civil na formulação das leis (por conta do advento do Estatuto da Cidade a partir de 2001), na prática, a legislação tem sido inoperante em questões essenciais, como a não efetivação de instrumentos urbanísticos para dirimir desigualdades no espaço urbano. Da mesma forma, as leis se mostram eficientes em atender interesses da esfera privada, principalmente às ligadas ao setor imobiliário, como na ampliação no número de pavimentos destinados exclusivamente a estacionamentos em edifícios no ano de 2011, uma modificação ilegal na lei de Zoneamento.

Não se pode deixar de mencionar os movimentos de resistência na cidade, entidades sociais organizadas, intelectuais, rádios comunitárias, jornalistas, ativistas, sindicatos, ONG’s, populações atingidas por injustiças, e alguns setores da justiça e do Ministério Público tem assumido papeis centrais nas discussões sobre as leis e por isso, atuando de forma a fazer denúncias e contestações sobre quaisquer arbitrariedades e ilegalidades.

Somente assim, com intensa participação, sabendo atuar nas múltiplas arenas do debate público, se apropriando dos conhecimentos políticos e técnicos e compreendendo as contradições do lugar e sua articulação com o mundo, poderemos retirar São Luís do seu estado de agonia. E como o mestre Milton Santos nos ensinou, “o que conta mesmo é o tempo das possibilidades efetivamente criadas (…) a que chamamos de tempo empírico, cujas mudanças são marcadas pela irrupção de novos objetos, de novas ações, relações e de novas ideias”. 

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Pódio e oásis

Eloy Melonio é professor, escritor, compositor e poeta

Seria exagero comparar uma fila de banco a uma caravana de camelos no deserto ou a uma corrida de Fórmula 1? Talvez, mas não custa nada tentar.

Uma das diferenças é a velocidade. E aí a fila está mais para a caravana. Mas a chegada, sem dúvida, equivale a uma vitória na Fórmula 1.

O sol desafiador, a areia e o camelo lento fazem dos beduínos viajantes pacientes e resistentes. A pista regular e os carros supervelozes fazem os pilotos se sentirem dentro de um jato. Quanto às condições da fila…

Onde entro nessa discussão?

Mais ou menos assim: saí de casa numa quarta-feira (1º de julho/2020) para resolver um problema, sabendo que teria de entrar numa “fila”, coisa que não fazia havia muito tempo. E decidi narrar essa “corrida-travessia” como se fosse um diário, só que em doses cronológicas.

Entro na fila às 9h10.

9h13

À minha frente, muita gente; e eu ainda sou o último, uma posição nada confortável. Na calçada, encosto-me ao muro do 24º Batalhão de Caçadores, na Av. João Pessoa, no João Paulo. Saúdo o Sol, e espero, pacientemente, o sinal verde da largada.

9h15

Chega o meu segundo vizinho, um senhor de uns setenta anos. Dou-lhe bom dia. Ele só me olha, desconfiado. Não parece feliz, nem sociável. Dois outros acabam de chegar, e a fila dá uma esticada para trás. Mais dois, e agora já são cinco. E eu, no mesmo lugar.

9h25

Finalmente, a fila avança uns cinco passos. Mais aliviado, pego uma pontinha da sombra da amendoeira que fica no terreno do quartel. Nesse ponto, a fila assume o formato de um lombo de camelo para aproveitar o recuo do portão de entrada de carros. Organismo vivo, a fila ― para usar um termo em voga nestes dias de pandemia ― se “reinventa” a todo instante.

9h40

Faço minhas anotações na última página de um livro que carrego. O livro é sempre um companheiro quando vou a lugares onde posso sentar e ler enquanto espero a minha vez. Infelizmente, as condições hoje não me permitem tal privilégio. Esgotado o espaço da folha, passo para o celular.

10h15

A esta altura, a fila já é uma confraria. Desconhecidos se tornam amigos. E, com isso, conversas e mais conversas. Gente falando alto, rindo, reclamando. Falam de tudo: do Coronavírus, de um vizinho antipático, da Grizelda (personagem de Lília Cabral na novela Fina Estampa, da Rede Globo) ― e até dos filhos do presidente. Aí, um senhor metido a engraçado cai na risada: No meu tempo, rachadinha era outra coisa.

10h20

A fila avança. A sombra da amendoeira escapa de mim. O Sol esquece que já me deu bom dia e me encara como se eu fosse um camelo. Um ambulante me oferece água mineral. Penso na higiene e na Covid-19. Imagino-me num deserto, e tento esquecer a sede por mais algumas dezenas de minutos.

10h27

Um trecho da fila agora vira uma arena política. Meus vizinhos falam do governo e dos ministros do STF. Uma aposentada do INSS faz a conta: gás, aluguel, remédio. Diz que já fez dois “consignados”, e o que lhe sobra é quase nada. Seu Jaime, o senhor metido a engraçado, retruca: “Pior sem isso, não é mesmo?” E canta baixinho: Na vida a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia.

10h38

Um grupo de indignados com o total descaso da instituição onde seremos atendidos decide entrar com uma representação no Ministério Público. Combinam um plano. Anotam nomes e telefones. “Onde já se viu?”, justifica D. Justina. “Largar a gente assim ao léu, sem nenhuma assistência. Sem ao menos um ‘bom dia’. Logo esses, que mais têm lucro neste país”.

10h45

A calçada se enche de gente. Transeuntes, ambulantes e “fileiros” se agitam como fotógrafos em busca do melhor ângulo de Lewis Hamilton. Um “descarado” tenta furar a fila. “Na minha frente, não entra”, avisa meu vizinho da frente, um senhor com cara de policial reformado.

10h50

O sol esquente, e o cansaço aperta. Dá vontade de tirar a máscara. Uma incerteza me tira o sossego: Será que chego à última volta? E, para aumentar meu desespero, alguém grita lá atrás: Essa fila não anda, não?

11h

Faço as contas: quase duas horas em pé. Neste instante, a fila se mexe abruptamente. Meu vizinho quase beija o meu cangote. Olho para trás com cara de zangado. Ele se faz de desentendido.

11h17

O sol tinindo no meu rosto, a camisa úmida de suor. Fileiro de primeira viagem, esqueci-me de trazer um boné ou uma sombrinha. Senti na pele a utilidade dos lenços. Meu “oásis” agora é só uma sala com ar-condicionado.

11h30

Nuvens vadias se unem para ameaçar a estabilidade da fila. Olho para os lados em busca de um possível abrigo. Os dois orelhões de um velho telefone público já estão ocupados. Um poste serviu para a irradiação solar, mas não serviria na chuva.

11h35

E ela chega. Fina, mas chega. E faz todo mundo correr à procura de um abrigo que não existe. Na desordem, lembro uma velha piada do leão que se solta num circo. E dá vontade de gritar: Calma, pessoal, é só uma chuvinha! Alguns prevenidos abrem suas sombrinhas. Meus vizinhos mais próximos não têm guarda-chuvas. E eu…

11h40

Acho uma brecha sob o guarda-sol do vendedor de água mineral, o mesmo de quem, há alguns minutos, recusei comprar uma garrafinha. A fila se desfaz, e a calçada vira literalmente um deserto. O medo de perder posições duramente conquistadas me deixa inseguro.

11h45

O sol reaparece. De cinzento, o cenário fica colorido novamente. Avisto a porta do prédio onde serei atendido. E dessa vez, a imagem do oásis parece real.

11h53

A fila avança uns três metros. Olho pra trás e vejo as dezenas de milhas que percorri, mesmo achando que não saía do lugar. Recupero a energia e a coragem. Na fila “preferencial”, convenço-me de que sou um “terceirão” de primeira. Não vou abandonar a corrida.

12h05

Entro na reta de chegada e imagino a bandeira quadriculada tremulando. E a torcida gritando: Vai, vai! Dá vontade de levantar os dois braços como fazem os pilotos da Fórmula 1 e gritar: Yeah!

12h10

Subo ao “pódio”. Agora é só esperar o troféu e o champanhe.

12h11

A moça do atendimento faz o sinal para eu dar dois passos à frente, mede a minha temperatura e me libera.

12h12

Sem nenhuma restrição, passo devagarinho pela porta giratória como se ela fosse só minha.

12h13

Estou dentro da agência do ITAÚ. Exatamente como imaginei: um oásis.

*Eloy Melonio é professor, escritor, compositor e poeta

Imagem destacada capturada aqui

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Rádio Senado precisa ouvir o Brasil profundo

Ouvinte assíduo de AM, FM e das emissoras nativas na web, passei a monitorar a programação da rádio Senado desde que entrou em São Luís, no Nordeste do Brasil.

É muito necessário identificar geograficamente a cidade porque muita gente pensa que a capital do Maranhão é “no norte” ou “lá em cima” e “muito longe”. Toda vez que ouço esse tipo de indelicadeza tento orientar as pessoas sobre no nosso lugar, vizinho do Piauí e do Pará.

Oficialmente, estamos na região Nordeste e no Maranhão de vários biomas há uma região situada na chamada pré-Amazônia. Temos ainda áreas alagadas nos campos da Baixada, parte do cerrado e um vastíssimo litoral cheio de reentrâncias com manguezal e dunas. Estas características permeiam os famosos Lençóis Maranhenses, que muita gente confunde com a Ilha dos Lençóis. Mas, nem vamos estender esse papo.

A conversa aqui é sobre música. Em primeiro lugar, deixo registrado que a rádio Senado tem a melhor programação até onde os ouvidos alcançam aqui no Maranhão.

Porém, cabe uma crítica a alguns programas. “Somtemporâneo”, por exemplo, ainda insiste no agendamento e na visibilidade dos novos cantores e compositores baseados no eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Minas Gerais.

Não estou, de maneira nenhuma, repudiando opção da emissora pelo eixo sudoeste. Mas, sejamos sinceros: certos “ôôô” de algumas bandas prediletas da rádio Senado soam muito ruim aos ouvidos.

Se é para tocar certos “sucessos” do sudoeste sem animação, é melhor logo “arrochar o buriti”, como se diz aqui no “norte” para estimular uma pessoa a ir em frente sem medo de nada, por cima de pau e pedra.

Quem escuta a rádio Senado é conduzido(a) a ouvir a sonoridade recortada de uma parte do Brasil, às vezes repercutindo certas bandas e cantores ruins, “proibindo” a audiência de apreciar a imensa diversidade cultural do Brasil sonoro.

A rádio Senado precisa ir à Amazônia. Como é que o marajoara Nilson Chaves não toca na rádio mais famosa de Brasília, já que temos até uma rodovia federal que conecta a capital federal ao Pará? Falta a estrada musical para ligar as duas cidades. Ou não?

Vizinho do Pará, o Maranhão tem uma imensidade rítmica para preencher várias laudas desse artigo. Mas, vamos ficar apenas nos valores percussivos dos festejos carnavalesco e junino. Na boa: a rádio Senado precisa sentir a terra tremer quando um batalhão de bumba-meu-boi de matraca guarnece.

No mais, tenho muita expectativa de ouvir na emissora do Planalto Central muito mais som da América Latina. O CD “Pássaro Poeta”, musicando poemas do cubano Tony Guerrero, é um primor de produção para ouvir uma tarde inteira de sábado!

Se para o cenário latino-americano é assim, imagine o “resto”.

O “resto” do país está confinado ao programa “Brasil Regional”. Faz sentido segmentar a música local em um espaço restrito, quando a produção desse país culturalmente lindo poderia ser melhor distribuída ao longo da grade toda?

Regional, bem feito, é música no mundo inteiro, universal!

No geral, fica a provocação: a rádio Senado precisa ouvir as profundidades sonoras do Brasil.

Faço questão de registrar que na emissora, a começar pelos trabalhos técnicos de Josevaldo Sousa, a equipe inteira de apresentadores e produtores é competente, dedicada, profunda conhecedora da música nas suas devidas especialidades e muito bem intencionada.

Apesar de tudo isso, registro aqui o meu desabafo. O fato de não ser uma emissora comercial dá à rádio Senado um vasto mundo de possibilidades.

Vamos fazer a comparação necessária. Emissoras com pouco ou quase nada se viram como podem. No interior do Maranhão há inúmeros talentos apresentando suas músicas sabe onde? Nas rádios comunitárias e na Agência Tambor/rádio web Tambor. Nessas pequenas emissoras roda o “somtemporâneo” popular que não cabe nas ondas elitizadas da rádio Senado.

Elitizadas mesmo, geograficamente limitadas a um suposto centro produtor de musicalidade. O Brasil não é só “isso”. O “resto” também é muito importante.

Em síntese: a rádio Senado é uma emissora conservadora.

Por mais que eu goste dela, quero muito mais.

Imagem destacada / logomarca da rádio Senado capturada nesse site