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Das Dores: poema de Eloy Melonio celebra a Lei Maria da Penha

O poema Das Dores concorreu ao prêmio Literário “Maria Firmina dos Reis”, do Tribunal de Justiça do Maranhão, em junho deste ano, mas não foi classificado. Agora pode ser contextualizado na programação de celebração dos 15 anos da Lei Maria da Penha.

Das Dores

(Eloy Melonio)

Não era apenas uma Maria.

Era essencialmente uma jovem mulher,

que sonhava

em namorar, em se casar, em se tornar

a feliz esposa de José de Ribamar.

Não era a mãe de todos como a outra,

mas tinha o Zezinho, a Mariazinha e a Nezinha.

E à noite se perfumava

para ser ainda mais Maria.

Dona de casa que do pouco muito tirava,

e cujos afazeres sem fim

varavam o fim do dia da fiel companheira

que até no domingo ia sozinha à feira.

Também não era como a Geni, mas dava sem reclamar,

sem poder escolher dia hora cama sofá.

Sem imaginar se no ato estaria deitada ou de quatro.

Enquanto a barca descia, a pobre Maria

já sentia a pesada mão de José,

o tal marido que de suas artimanhas a distraía.

Nos baixos da vida, chegou ao mais vil desencanto,

sofrida, abatida, à beira do abismo,

fingindo-se de viva, pois morta já quase estava.

Jamais pensou acordar sob os açoites da opressão,

sussurrando-lhe ao ouvido para não se esquecer

— nem por um instante sequer —

de que não passava de uma simples mulher.

Nessa teia de medo, angústia, aflições,

chorava suas dores, guardava suas feridas,

sem soltar o grito tão repetido em suas orações.

Um dia vestiu-se da Maria que sempre quis ser.

E sem mais esperar, fez a sua honra acontecer.

Enxugou as lágrimas e encheu-se de orgulho e razão

para dizer à delegada

que ali estava uma mulher que precisava de proteção.

Sem mais um minuto de resignação,

as palavras de Maria

dançam entre uma inefável emoção

e a certeza de um novo dia.

E agora, José?

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O olhar distraído de Benedito Junior

Quem gosta de fotografia, por curiosidade ou profissão, já deve ter visto as postagens do jornalista Benedito Lemos Junior nas redes sociais.

Sem qualquer pretensão de demarcar território no universo profissional da fotografia, ele presenteia o navegante da web com imagens simples mas dotadas de alta sensibilidade.

Nas suas idas e vindas para o trabalho, no Centro Histórico de São Luís, Benedito Junior captura as cenas da cidade e revela um talento envolvente.

A matéria-prima das fotos é a simplicidade do olhar de um homem sensível, às vezes angustiado, em outras ocasiões tocado pela leveza da vida.

Benedito Junior está para a fotografia como a música da Legião Urbana para o cotidiano:

“Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Sou tão tranquilo e tão contente

Ele é um flaneur. O olhar distraído de Benedito Junior é o barro/matéria-prima que ele molda para construir os seus sonhos em imagens ou efêmeros castelos de areia desfeitos pelas ondas:

“Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê”

Como um estrangeiro na sua própria aldeia, o jornalista do olhar viajante descreve a cidade por meio de cliques quase sem querer, título da música da banda Legião Urbana:

Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Sou tão tranquilo e tão contente

Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava provar nada pra ninguém

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar explicação pro que eu sentia
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira
Mas não sou mais
‘Tão criança oh oh
A ponto de saber tudo

Já não me preocupo se eu não sei por que
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você

‘Tão correto e ‘tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos
Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto

Já não me preocupo se eu não sei por que
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você

O cotidiano do Centro Histórico é a principal fonte de Benedito Júnior
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DI VAN SESSIONS chega às plataformas digitais

O projeto DI VAN SESSIONS foi criado por Jorge Mondego, o Bavu, dono da Basarone Produções & Backline, por Henrique Sugmyama, Leonan Vasconcelos e Israel Pontes, da produtora audiovisual FITAZUH. O projeto, que envolve a cultura musical maranhense, desde as manifestações da cultura popular até artistas solo e bandas, tem uma característica especial, que é a itinerância.  Prevê rodar todo o estado do Maranhão, registrando a cultura local por meio de audiovisual. O trabalho final de registro das atrações será divulgado em plataformas digitais do projeto e do próprio artista.

Acesso o canal do You Tube aqui

DI VAN SESSIONS começa a exibir sua primeira edição neste mês de agosto, embora a criação, elaboração e registro de imagens ocorreram em dezembro de 2020.  A Basarone Produções & Backline  e a FITAZUH são responsáveis pela captação do material de audiovisual de quatro artistas maranhenses com renome nacional: Flávia Bittencourt, Vinaa Delmar, Andréa Frazão (foto destacada) e Djuena Tikuna.

A segunda edição será realizada por meio de uma curadoria das atrações da região metropolitana de São Luís (Raposa, Paço do Lumiar e São José de Ribamar). Os artistas selecionados terão seus trabalhos captados pela equipe do DI VAN SESSIONS para posterior divulgação.

A terceira edição prevê a saída das equipes para outros municípios do Maranhão para executar a mesma atividade realizada nas outras edições e assim alcançar grupos culturais que estão fixados em todo nosso estado.

Sobre a Basarone

A Basarone Produções & Backline é uma empresa localizada em São Luís, fundada em 2004 com intuito inicial de produzir seus próprios eventos e oferecer um atendimento diferenciado aos músicos da cidade. Hoje a empresa presta serviços relacionados à produção geral de eventos e shows com destaque para produção técnica, direção de palco, atendimento com roadies, locação de backline, sonorização, iluminação cênica, transmissão de live streaming, gravação de podcast, captação e gravação de áudio ao vivo.

A Basarone tem uma lista bacana de clientes como alguns festivais de grande porte no Maranhão como o Festival BR135, Conecta Música, Festival de Jazz e Blues de Barreirinhas, Festival de Jazz e Blues de São José de Ribamar, Festival Limonada, Aldeia Sesc Guajajara de Artes, Sesc Amazônia das Artes, Panelada Cultural, Festival Das Rendas, Festival Ellas,  entre outros. 

Sobre a FITAZUH

A FITAZUH é uma empresa de São Luís, idealizada por três profissionais da Comunicação Audiovisual com experiência há mais de 10 anos no mercado. A empresa teve início das suas atividades em 2020 após a grande demanda de transmissões de Live por conta da Pandemia do COVID-19.

Os novos formatos de entretenimento criaram grandes oportunidades para o novo negócio. Desde então, a empresa tem prestado serviço para instituições de Cultura e artistas independentes de todo o estado do Maranhão, já tendo realizado mais de 60 coberturas de shows de artistas, entre outras produções que envolvem produções de filmes, vídeos e transmissões de Live.

Desde o início de suas atividades, a FITAZUH já atendeu clientes como Açaí Atacadista, Centro Cultural Vale Maranhão, Instituto Cultural Vale, Sesc Maranhão, Construtora Canopus, Centro de Cultura Negra, Festival de Música Indígena Rec TyTy, Festival LabVerde entre outros.

O que: Lançamento do projeto di van sessions (itinerância musical)

Quando: A partir de 5 de agosto, quinta-feira

Onde: plataformas digitais 

Canal YouTube Di Van Sessions – MA  

Instagram: di_vansessions

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Deputados bolsonaristas do Maranhão podem mudar de ideia sobre a PEC do voto impresso

Dois parlamentares do Maranhão – Marreca Filho (Patriota) e Edilazio Junior (PSD) – contrariaram os interesses do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta quinta-feira (5), na votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 135/19, que torna obrigatório o voto impresso auditável.

Marreca Filho é um dos vice-líderes do governo na Câmara.

Por 23 votos a 11, a comissão especial rejeitou o substitutivo apresentado pelo relator Filipe Barros (PSL-PR).

O projeto é de autoria de uma das bolsonaristas mais fanáticas: a deputada Bia Kicis (PSL-DF).

A votação é uma derrota para o bolsonarismo, que vem pregando a adoção do voto impresso sob alegação de que a urna eletrônica é insegura, embora não apresente nenhuma prova de irregularidades no atual sistema de votação.

Vai e vem

O posicionamento dos parlamentares do Maranhão pode ser apenas um gesto de barganha, visto que a PEC do Voto Impresso ainda vai tramitar, inclusive com outro parecer colocado à apreciação da comissão especial, podendo ir ao plenário.

Alguns parlamentares viciados no pragmatismo costumam fazer certas manobras. Aparentemente são contra um determinado tema ainda não apreciado em definitivo apenas para pressionar o governo por cargos ou favores.

Como sabem que o tema é polêmico e deve gerar muitas negociações, Edilazio Junior (PSD) e Marreca Filho (Patriota) se posicionaram contra agora, mas podem mudar depois.

Veja como votaram os parlamentares na PEC do Voto Impresso

Contra (23 votos):

Geninho Zuliani (DEM-SP)

Kim Kataguiri (DEM-SP)

Raul Henry (MDB-PE)

Valtenir Pereira (MDB-MT)

Júnior Mano (PL-CE)

Márci Alvino (PL-SP)

Edilazio Junior (PSD-MA)

Fábio Trad (PSD-MS)

Rodrigo Maia

Tereza Nelma (PSDB_AL)

Paulo Ramos (PDT-RJ)

Perpétua Almeida (PCdoB-AC)

Marreca Filho (Patriota-MA)

Orlando Silva (PCdoB-SP)

Israel Batista (PV-DF)

Bosco Saraiva (SOLIDARIEDADE-AM)

Arlindo Chinaglia (PT-SP)

Carlos Veras (PT-PE)

Odair Cunha (PT-MG)

Aliel Machado (PSB-PR)

Milton Coelho (PSB-PE)

Fernanda Melchionna (PSOL-RS)

Paulo Ganime (Novo-RJ)

A favor (11 votos):

Evair de Melo (PP-ES)

Guilherme Derite (PP-SP)

Pinheirinho (PP-MG)

Bia Kicis (PSL-DF)

Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)

Filipe Barros (PSL-PR)

Aroldo Martins (REPUBLICANOS-PR)

Marco Feliciano (REPUBLICANOS-SP)

Paulo Martins (PSC-PR)

Paulo Bengtson (PTB-PA)

José Medeiros (PODE-MT)

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Quanta potência literária no estilo de Guimarães Rosa

Já tive muitos prazeres na vida. Um deles, saborear a obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Veja abaixo alguns trechos:

“O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas,
no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.”

A gente quer passar um rio a nado, e passa:
mas vai dar na outra banda é um ponto muito mais em baixo,
bem diverso do em que primeiro se pensou.
Viver nem não é muito perigoso?
Dói sempre na gente, alguma vez,
todo amor achável,
que algum dia se desprezou…
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde,
um descanso na loucura.”

Imagem destacada / Tony Ramos e Bruna Lombardi interpretam Riobaldo e Diadorim, em cena da minissérie Grande sertão: veredas, adaptada pela Rede Globo

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Cuidado com Satanás, o pai da mentira

Há muitos falsos profetas e seres malignos por aí, uns tipos agourentos que disseminam informações distorcidas, manipulam os fatos e negam a realidade.

No livro de João 8:44, Jesus adverte sobre a figura de Satanás como Pai da Mentira:

“(…) Ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.”

Em outras passagens a Bíblia diz que mentir é um ato condenável.

No Levítico 19:11 está escrito: “Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo”.

A mentira é também um dos pecados capitais:

 “Não levantarás falsos testemunhos contra o seu próximo”.

As pessoas que vivem da enganação agem como o Diabo, incumbido de arruinar os planos do Senhor.

A Bíblia diz que Jesus é o caminho, a verdade e a vida.

Quem mente ou dissemina mentiras faz pacto com o Diabo.

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Voto impresso: Jair Bolsonaro segue o roteiro de Donald Trump

Derrotado na tentativa de reeleição para a Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump não está banido da política. Ele segue ruminando aquele surrado discurso de que houve fraude na contagem dos votos.

A versão inventada de Trump tem seguidores fanáticos. Resumo: o trumpismo está vivo, latente…

Algo semelhante acontece no Brasil. O presidente Jair Bolsonaro e os seus filhos, todos políticos tradicionais, foram eleitos pelo sistema eleitoral que agora negam.

Entre outras características, os traços do fascismo presentes na atualidade operam variados níveis de irracionalismo. Negar, afirmar, negar, afirmar, negar, afirmar […] é um jogo que alimenta o fanatismo do “gado”.

Em ambos os casos – Estados Unidos e Brasil – impera a cegueira turbinada pela negação da razão, da Ciência, do Jornalismo e de qualquer forma de institucionalidade relacionada ao conhecimento e às normas ou regras.

Aqui, o bolsonarismo olha as pesquisas eleitorais e enxerga uma provável derrota em 2022.

Por isso ele radicaliza não só o discurso contra o sistema eleitoral, mas aponta a sua artilharia para todas as instituições, tendo como alvo preferencial o Supremo Tribunal Federal (STF).

A pergunta é: o fanatismo tem um teto de 30% do eleitorado? Ou pode crescer?

Vamos aguardar e observar os desdobramentos das ruas.

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Museu da Rádio Nacional é inaugurado no Rio de Janeiro para visitas virtuais

Fonte: Agência Brasil

O Ministro das Comunicações, Fábio Faria, inaugura nesta terça-feira (3/8), às 15h, o Museu da Rádio Nacional. Localizado na Lapa, tradicional bairro da cidade do Rio de Janeiro, o espaço reúne parte do acervo original da emissora, que foi inaugurada em 1936. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro completa 85 anos no ar no próximo dia 12 de setembro.

Mesmo com a inauguração, ainda não há previsão de abertura presencial para o público. Porém, os ouvintes da Rádio já podem fazer uma visita virtual ao Museu, da segurança da sua casa. A visitação online está disponível no site de rádios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC): rádios.ebc.com.br.

Entre os destaques da mostra estão itens usados por atores e locutores que trabalharam na Nacional, além de fotografias, prêmios, roteiros e revistas do rádio. É possível voltar no tempo e conhecer uma réplica do estúdio usado nas gravações de radionovelas como Em Busca da Felicidade – a primeira do país – e O Direito de Nascer. A dramaturgia conquistou os brasileiros e a Rádio Nacional se transformou no principal nome da Era de Ouro da Rádio.

O Museu rememora programas de auditório que impulsionaram a fama de artistas como Orlando Silva, Ataulfo Alves, Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Luiz Gonzaga e tantos outros. A Rádio Nacional também foi pioneira no radiojornalismo com o programa O Repórter Esso, no ar entre os anos de 1941 e 1968. Com o slogan “a testemunha ocular da história”, o radiojornal serviu de modelo para outros programas de notícias e completaria 80 anos no próximo dia 28 de agosto.

Imagem destacada / Restauração dos roteiros originais da radionovela Em Busca da Felicidade, da Rádio Nacional – Fernando Frazão/Agência Brasil

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Dois Bolsonaro: o aventureiro de 2018 e o presidente a ser avaliado em 2022

As pesquisas eleitorais são retrato de um momento, mas servem para orientar e até para induzir o voto.

Nas últimas sondagens de vários institutos, os números revelam uma expressiva vantagem do ex-presidente Lula (PT) sobre Jair Bolsonaro.

As pesquisas indicam ainda uma polaridade entre o lulismo e o bolsonarismo.

Tudo caminha para uma repetição da disputa de 2018, mas com uma sensível diferença: Jair Bolsonaro não é mais aquela “velha novidade” que prometia acabar com a corrupção.

Personagens centrais do governo e familiares do presidente já vinham manchados pelas denúncias de envolvimento com as milícias.

Agora, a CPI da Covid19 aponta fortes indícios de corrupção na gestão da pandemia, até mesmo relacionados à cobrança de propina para a aquisição de vacinas.

O Bolsonaro de 2022 é o mesmo de 2018: arrogante, machista, autoritário, homofóbico, armamentista, indiferente a qualquer sentimento humanitário.

Mas o candidato Jair Bolsonaro de 2022 é outro bem diferente. Será avaliado pela sua gestão e colocado diante das instituições do sistema de justiça e dos meios de comunicação como líder de um governo apontado por corrupção.

O eleitor já parece ter percebido isso.

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O significado do bug no CNPq

Fonte: Elaine Behring, no site esquerdaonline

Doutora em Serviço Social (UFRJ). É professora associada da UERJ, na Faculdade de Serviço Social, onde coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas do Orçamento Público e da Seguridade Social (GOPSS).

Na última semana o mundo da pesquisa, da universidade, enfim, da ciência no país foi surpreendido com o bug dos sistemas de dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje sob a gestão (!?) de Marcos Pontes, o astronauta, promete que os sistemas retornarão intactos a partir de 2 de agosto de 2021, o que é contestado por muitos(as) pesquisadores(as) e técnicos que apontam para perdas irreversíveis. “Quem viver verá!” Uma frase que não pode ser desprezada neste Brasil tóxico e embebido de processos destrutivos e onde o desprezo pela ciência, pela educação e pela cultura explode em palavras e fatos todos os dias: no trato da pandemia pelo governo neofascista, com nossos mais de 555 mil mortos; na lida com a cultura pelo nefasto Mário Frias, sendo a última cena o incêndio da abandonada Cinemateca Brasileira em São Paulo, onde se foram documentos e equipamentos históricos e parte do acervo de Glauber Rocha. É evidente: o bug do CNPq é mais uma expressão da combinação perversa entre neofascismo e ultraneoliberalismo, atingindo uma instituição central – mesmo com todas as suas limitações e problemas – na sustentação material da produção de conhecimento no Brasil. Estamos falando aqui de uma estrutura e base de dados do Estado capitalista brasileiro – pública e com as inúmeras contradições daí decorrentes – que fornece bolsas e auxílios para 84 mil pesquisadores(as) em todos os níveis de conhecimento e que têm seus currículos na Plataforma Lattes; que publica editais de financiamento da pesquisa e de bolsas pela Plataforma Carlos Chagas; que publicizam a composição dos Grupos de Pesquisa em atividade no país; e que alimentam a avaliação da pós-graduação brasileira (Plataforma Sucupira, aqui numa interface com a CAPES).

As reações no meio científico brasileiro foram da consternação à piada. É impossível conter a gargalhada diante de inúmeros memes e comentários irônicos que circulam nas redes sociais esses dias, muitos deles expressando o incômodo, a indignação e a crítica ao produtivismo acadêmico e aos excessos de quantificação e comprovação que têm balizado, por exemplo, o sistema de avaliação da pós-graduação, alimentado pelas plataformas digitais do CNPq.

Nosso objetivo nesse breve texto é uma reflexão talvez menos apaixonada, e acolhendo a crítica do produtivismo acadêmico, esse câncer gerencialista e competitivo inoculado na universidade brasileira nos tempos de neoliberalismo e contrarreforma do Estado, que Marilena Chauí qualificou como “universidade operacional”. Um pressuposto da reflexão é de que jamais se deve confundir produtivismo com produção acadêmica. E, menos ainda, recusar a transparência e publicização de resultados de pesquisas, neste país onde poucos(as) chegam à universidade e a maioria sequer se relaciona com esses bancos de dados. Sendo mais explícita: o argumento do produtivismo não pode nem deve se sobrepor às requisições de produção acadêmica num sistema tributário regressivamente sustentado pelos trabalhadores. Por outro lado, ao nosso ver, a crítica central deve ser feita aos critérios de avaliação, que tem se fundado sobre elementos meramente quantitativos, exercendo de fato essa pressão produtivista, e estabelecendo uma relação opressiva entre os pesquisadores e as plataformas de dados que hoje saíram do ar, destacadamente a Plataforma Lattes. Pensamos que esses meios – evidentemente organizados para finalidades determinadas – não devem ser o alvo central da nossa crítica. Não somos ludistas e não retornaremos à máquina de escrever. Ademais, defendemos o controle democrático e público da universidade e das instituições científicas pelos trabalhadores e tais sistemas podem ser – se internamente modificados e utilizados a partir de outros critérios – adequados a esta finalidade: de uma pesquisa pública e voltada para os interesses das maiorias; do incentivo à produção e não ao produtivismo e à competição. Creio, portanto, que não se pode atribuir a direção produtivista exclusivamente às plataformas. É uma simplificação a ideia de que estamos deixando de produzir conhecimento para lançar dados em plataformas, ainda que haja uma profunda irracionalidade comprobatória e ímpeto controlador em algumas delas e que alguns “pares e ímpares” sejam adesistas sem críticas ao produtivismo. O maior exemplo da irracionalidade (ou uma ratio intencional) é a Sucupira, que vem tirando do sério os gestores da pós-graduação e os docentes, obrigados a perder um tempo precioso em scanners. Elas, assim, servem à direção produtivista e de controle do processamento do trabalho docente, tal como se organizam e são utilizadas hoje. A questão é a de colocar os meios – o desenvolvimento das forças produtivas – a serviço da concepção de uma universidade e ciência pela humanidade. Isso alteraria o Lattes profundamente, bem como as demais plataformas, mas continuaríamos a ter instrumentos semelhantes, provavelmente, dando mais transparência e publicidade à produção científica e acadêmica e ao destino do fundo público utilizado nas pesquisas. Para o momento, a situação dos sistemas do CNPQ revela apenas e sem disfarces a destruição do sistema público de ciência e tecnologia.

Vale dizer que o Brasil tem vivido uma condição geral de ajuste fiscal permanente há quase três décadas e a universidade e a pesquisa não tiveram uma situação confortável de financiamento nesse período. Todavia, a partir do golpe de Estado de novo tipo de 2016, nos encontramos sob um novo regime fiscal ultraneoliberal, com impactos deletérios sobre o financiamento das políticas públicas, tanto para a Educação, e destacadamente para o ensino superior (que abriga a maior parte da pesquisa no país), quanto para a Ciência e Tecnologia, onde se localiza o CNPq. A Emenda Constitucional n. 95, do malfadado e criminoso teto de gastos, agravou em muito a condição de desfinanciamento que já vinha ocorrendo, o que, agregado ao neofascismo e seu projeto destrutivo para essas áreas – inclusive com a perseguição ideológica e propostas espúrias como a suposta “escola sem partido” -, tem resultados verdadeiramente desastrosos.

Numa breve incursão pelo Siga Brasil, plataforma do Senado Federal que monitora a execução, quase em tempo real, do orçamento público do Governo Federal, o exame da função Educação nos mostra um orçamento em queda de R$ 134,1 bilhões em 2016, para R$ 108,3 bilhões em 2020. Até junho de 2021, a execução do orçamento da Educação estava em R$ 58,4 bilhões, o que sinaliza uma trajetória de continuidade da queda dos recursos (dados deflacionados pelo IPCA de julho de 2021). A subfunção Ensino Superior, que inclui as IFES públicas que congregam a maior parte da pesquisa no país acompanha a trajetória da função Educação: houve uma queda de R$ 38,6 bilhões em 2016 para R$ 35,5 bilhões em 2020. Portanto, constatou-se uma perda orçamentária de mais de R$ 3 bilhões nos últimos anos. Em 2021, até junho, havia uma execução de R$ 18,3 bilhões, acompanhada de um volume passível de contingenciamento de R$ 8,9 bilhões em recursos nessa subfunção, inviabilizando as universidades federais, o que foi amplamente denunciado na imprensa. Já na função Ciência e Tecnologia, que abriga o CNPq, observamos uma situação verdadeiramente desastrosa: queda de R$ 10,5 bilhões em 2016, para R$ 7,5 bilhões, em 2020.

Para o CNPq, como unidade orçamentária da Ciência e Tecnologia, tivemos apenas R$ 2,0 bilhões em 2016, que se tornaram R$ 1,4 bilhão, em 2020, com promessa de queda ainda maior em 2021. Trata-se do menor financiamento da história do CNPq, expressando um verdadeiro sucateamento e paralisia do órgão. Em 2021, o CNPq conta com recursos autorizados de R$ 1,2 bilhão, dos quais tinha executado R$ 658 milhões, até junho. O Siga Brasil nos revela, acerca da função Ciência e Tecnologia, que ela representa 0,18% do Orçamento Geral da União (OGU), ou seja, seu orçamento é efetivamente irrisório, destacadamente se o comparamos com a gambiarra de recursos do pagamento de juros e amortizações da dívida pública que compromete há anos mais de 25% do OGU. A maior parte desse orçamento em C & T é para a formação e o suporte de recursos humanos, mostrando por que os laboratórios, de todas as áreas e instituições, vivem à míngua no Brasil, sobretudo quando não cedem às pressões do mercado ou sequer são áreas de interesses mercantis. Nesse sentido, as ciências humanas e sociais aplicadas sofrem ainda mais. Esse é o projeto: uma universidade heterônoma e sufocada quanto ao financiamento.

Na qualidade de quem esteve na representação da área de Serviço Social no CNPq entre 2017 e 2020, pudemos acompanhar os impactos dessa dinâmica – com muitos momentos de frustração e alguns de alegria, compartilhados com a professora Jussara Mendes, que esteve comigo na tarefa, indicadas pelos pesquisadores da nossa área. Vimos muitos projetos aprovados pelo seu mérito e relevância social, de pesquisadores com produção de excelência declarada em seus Lattes, líderes de grupos de pesquisa, e que não tiveram seus projetos financiados por falta de recursos do CNPq. Acompanhamos sonhos de estudos e investigações relevantes no Brasil e no exterior bloqueados pelo contingenciamento de recursos (de estudantes de pós-graduação e pesquisadores(as)). Observamos a alocação profundamente desigual entre as áreas. Sentimos a pressão de critérios supostamente universais para diferentes áreas e requisições dos objetos de pesquisa, numa tensão real entre as ciências da natureza, biomédicas, agrárias e engenharias, e as ciências humanas e sociais aplicadas.

O bug dos sistemas do CNPq tende a aprofundar essa lógica e esses problemas, ao não permitir o acesso público e em tempo hábil aos dados que permitem ao menos conhecer e reconhecer o conjunto da produção acadêmica e disputar o recurso público para iniciativas relevantes. Ele serve, portanto, para degradar ainda mais as nossas condições de trabalho, não para supostamente “nos libertar”. Se “viver não cabe no Lattes”, e mesmo tudo o que produzimos efetivamente, com o que tenho pleno acordo, não podemos simplificar a questão e jogar tudo fora, “a água com a criança na bacia”.

Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002). Foi presidente da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), na gestão 2009-2010 e do Conselho Federal de Serviço Social (1999-2002). É professora associada da UERJ, na Faculdade de Serviço Social, onde coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas do Orçamento Público e da Seguridade Social (GOPSS), e o Centro de Estudos Octavio Ianni (CEOI). Tem publicações na área de política social, orçamento público, fundo público e Serviço Social.