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Memórias de São Luís: site Agenda Maranhão conta a história da rua do Egito

O jornalista e pesquisador José Reinaldo Martins apresenta um recorte histórico com base em fotografias antigas de uma das ruas mais importantes de São Luís. A imagem destacada neste post é do fotógrafo Gaudêncio Cunha.

A rua do Egito não era uma via larga, como é, hoje, se comparada com as ruas e becos estreitos do Centro Histórico de São Luís.

Permaneceu estreita até a década de 1930, quando os prefeitos Otacílio Ribeiro Saboia (governou o município de 1936 a 1937) e Pedro Neiva de Santana (de 1937 a 1945) colocaram em prática um projeto de renovação urbana para mudar a feição da cidade colonial para uma cidade moderna, com o alargamento de ruas, como a do Egito, e criação de novas avenidas, como a Magalhães e Getúlio Vargas.

Na Rua do Egito, os casarões coloniais foram demolidos e, no lugar, foram erguidos os bangalôs e outros imóveis, entre os quais, o do Cine Roxy, hoje, Teatro da Cidade.

Até meados do século XIX, a Rua do Egito era um dos orgulhos da paisagem urbana de São Luís por causa de seus belos e altos casarões.

Essa concepção, imponente no século XIX e que ficou ultrapassada na década de 1930, foi produto do Ciclo do Algodão, que começou com a criação da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, em 1755, pelo Marques de Pombal, o todo poderoso em Portugal no reinado de D. José I.

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Nota da Abraço repudia violência contra as rádios comunitárias no Maranhão

Veja nota da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias no Maranhão:

A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias no Maranhão (Abraço-MA) repudia a iniciativa do deputado federal Hildo Rocha (MDB) que, através de uma “Notícia de Fato”, solicita medidas repressoras às rádios comunitárias, ferindo o princípio da liberdade de expressão e manifestação do pensamento, bases fundamentais da democracia, asseguradas na Constituição Federal de 1988.

Veja o documento integral aqui

O parlamentar representa à Procuradoria Geral da República, à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; e ao Ministério Público Federal em São Luís, solicitando a fiscalização e a repressão (veja no link à p. 27) às emissoras comunitárias.

Está claro que nas digitais da “Notícia de Fato” estão os interesses do grupo político liderado por José Sarney em silenciar emissoras comunitárias.

Regidas pela lei federal 9.612/98, as rádios comunitárias são fruto da luta dos movimentos sociais que atuam no Brasil desde o processo de resistência à ditadura militar e estão organizadas nacionalmente através da Abraço (Associação Brasileira de Rádios Comunitárias) e nas suas filiadas nos estados.

Junto a várias organizações dos movimentos sociais, as emissoras comunitárias e as suas entidades representativas atuam nas frentes de luta nos campos político e jurídico para construir no Brasil uma política de comunicação que atenda aos princípios da democracia e da pluralidade, bases do Estado Democrático de Direito.

É impossível haver uma sociedade justa e democrática com a atual configuração dos meios de comunicação, marcada pela concentração empresarial, controle político e direcionamento das verbas publicitárias para as grandes redes de rádio, TV, jornais e portais.

O Maranhão é considerado o estado com a maior concentração de mídia no Brasil, assegurando privilégios ao grupo liderado por José Sarney e ao seu império midiático colocado a serviço da propaganda política e eleitoral que assegurou quase 50 anos de dominação em nosso estado.

Repressão e censura são dispositivos arcaicos utilizados pelas ditaduras militares e golpes que maculam a democracia no Brasil e na América Latina.

O documento apresentado pelo deputado Hildo Rocha invoca o Código Brasileiro de Telecomunicações para fundamentar seu pedido de repressão às emissoras comunitárias. Trata-se de uma legislação anterior à ditadura militar que vem sendo repudiada em todos os fóruns de luta pela democratização da comunicação.

Ao atacar as rádios comunitárias, o parlamentar joga uma cortina de fumaça no verdadeiro debate sobre mídia e poder no Maranhão, qual seja: na ausência de uma política democrática de comunicação, predomina o uso político dos meios para atingir finalidades eleitorais, prática nociva ao interesse público e demasiadamente utilizada pelo sistema de comunicação ao qual Hildo Rocha está atrelado e representa.

Esse é o verdadeiro debate que interessa às rádios comunitárias e à democratização da comunicação no Maranhão.

Para quem fala em nome de um império midiático, o pedido de repressão às rádios comunitárias é uma violência, um atentado a todas as tentativas de democratização da comunicação.

São Luís, 03 de junho de 2018

Diretoria Executiva da Abraço Maranhão

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Sobre a comunicação no Maranhão!

O grupo do senador José Sarney, dono de um império midiático, diz estar “preocupado” com a “democratização” da comunicação no Maranhão, acionando por conta disso a Polícia Federal e a Procuradoria Geral Eleitoral. Segundo Sarney/Mirante, o atual governo estadual, sob o comando de Flávio Dino, estaria fazendo uso eleitoral de emissoras de rádio e TV, incluindo a Rádio Timbira, que pertence ao poder público. No meio desse conflito, movido evidentemente por razões eleitorais, o grupo Sarney disse que “rádios comunitárias” recebem vantagens “imorais” do atual governo.

Diante dos fatos e de um tema que interessa a toda a sociedade, o Jornal Vias de Fato se sente na obrigação de se manifestar:

1º – Para a classe política maranhense o tema comunicação sempre foi, ao longo do tempo, sinônimo de manipulação da opinião pública e concentração de poder. Sendo assim, repudiamos toda e qualquer acusação que possa depreciar o necessário movimento de criação e fortalecimento de rádios verdadeiramente comunitárias no Maranhão.

2º – Diante das acusações feitas pelo grupo Sarney no intuito de atingir a reputação das autênticas rádios comunitárias; sugerimos que seja feito um pedido de informação ao atual governo, baseado na Lei nº 12.527/2011, sobre todos os gastos com comunicação desde 1.º de janeiro de 2015 até os dias de hoje. Lembramos que essa foi uma demanda do I Seminário Comunicação e Poder no Maranhão, realizado em outubro do ano passado.

3º – A Associação Brasileiras de Rádios Comunitárias no Maranhão (Abraço-Ma), na gestão presidida pelo professor Ed Wilson Araújo, tem sido parceira do Jornal Vias de Fato na difícil luta pela democratização da comunicação em nosso estado. Junto com a Abraço-Ma e várias outras organizações, promovemos o I Seminário Comunicação e Poder no Maranhão. Este evento trouxe bons frutos, consolidando alianças estratégicas, dentro e fora do estado. Porém, esse debate ainda não foi suficiente para alterar a injusta distribuição de recursos públicos da comunicação no Maranhão.

4º – A política de comunicação do atual governo do Maranhão ainda não avançou no sentido de fazer com que o orçamento público seja utilizado para fracionar o poder e ampliar voz de setores historicamente oprimidos, garantindo a todos eles a absoluta liberdade de expressão e autonomia. Trata-se de uma política pública que segue conservadora e submetida a um status quo.

5º – A Rádio Timbira foi completamente abandonada e sucateada pelos governos de Roseana, num evidente prejuízo a sociedade maranhense. O atual governo recolocou a Timbira no ar. Isso é um avanço. Cabe a opinião pública discutir; democraticamente; até que ponto a programação da rádio é de interesse público ou de interesse da propaganda e reeleição do atual governo.

6º – Repudiamos qualquer tentativa de fechar, calar ou censurar a Rádio Timbira. Acionar a Polícia Federal para tratar de uma rádio, como fez o grupo Sarney, é um completo absurdo! Num momento de açodamento de ideias fascistas no país, esse tipo de iniciativa do grupo Sarney é de um absoluto desserviço a sociedade brasileira.

7º – A luta pela democratização da comunicação é uma das maiores demandas da sociedade maranhense, estado onde existe a maior concentração midiática do país. Consideramos justo e necessário que o dinheiro público seja destinado para financiar uma comunicação alternativa, praticada a partir de outros paradigmas. A mídia de mercado, a comunicação feita por empresas privadas, venais e de viés oligárquico, não atende, nem de longe, ao interesse da grande maioria da população.

8º A atual edição impressa do Jornal Vias de Fato (nº 69) tem como tema principal exatamente a comunicação popular. A versão completa dessa mesma edição (maio/junho de 2018) pode ser acessada em PDF no site do Núcleo Piratininga de Comunicação (nucleopiratininga.org.br). Entre os textos dessa edição, um deles é intitulado “A comunicação dos ricos e os escândalos no Maranhão”.

9º – E por fim, lembramos que Roseana Sarney governou o Maranhão por quatro vezes. Nesse período, através de agências de propaganda, repassou milhões para os cofres do Sistema Mirante, da qual ela é sócia. Em resumo: ela pagou a si mesma. O grupo Sarney/Mirante representa um escândalo na comunicação brasileira. Estranhamos a violência com a qual eles partiram para esse tema, pois quem tem rabo de palha, não deveria passar perto de fogo.

Fonte: Jornal Vias de Fato

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Combustíveis: apesar da perfumaria, o bode está na sala

Usando as forças armadas, a mídia e um acordo com entidades sem representatividade na base, o governo Michel Temer (PMDB) somente postergou uma crise que deve pipocar novamente.

A redução do valor do diesel, principal item do pacote de medidas urgentes para suspender a paralisação dos caminhoneiros, não resolve a política de preços dos combustíveis.

Apesar da perfumaria, o bode está na sala. Se por um lado construiu um atenuante para os caminhoneiros, por outro o governo carrega o desgaste da alta na gasolina e do gás de cozinha, dois itens indispensáveis no cotidiano dos brasileiros.

Desde episódio, cabe observar dois movimentos sobrepostos: o locaute das empresas que controlam o transporte de combustíveis e a greve os caminhoneiros sem vínculo orgânico com as corporações dominantes neste setor.

Nenhuma categoria de trabalhadores sozinha, sem uma organização sistemática, consegue parar um país. Portanto, as digitais das empresas de transporte são visíveis no locaute.

A greve saiu por tabela, construída na adesão dos caminhoneiros expropriados pelas regras nocivas do preço do frete, da jornada de trabalho e dos riscos nas estradas.

Visando emparedar os caminhoneiros, o governo e a cobertura jornalística da mídia golpista agiram com todas as armas, jogando o movimento dos trabalhadores contra a população.

Porém, a tentativa de construir uma imagem negativa da paralisação, em massivas coberturas pejorativas, não funcionou.

O efeito foi contrário. Em que pese o desabastecimento gerado pela paralisação, os caminhoneiros obtiveram adesão e apoio de outras categorias de trabalhadores, a exemplo dos motoboys, motoristas de aplicativos e do transporte escolar.

A maioria da população, silenciosa, não hostilizou os caminhoneiros e até bateu panelas durante o pronunciamento de Michel Temer na televisão, quando anunciou as medidas para contemplar as reivindicações dos manifestantes.

O governo impopular, fragilizado e sem representatividade sentiu o peso da paralisação e só não cedeu em um item, reivindicado pela oposição em meio ao caos – a demissão do presidente da Petrobras Pedro Parente.

A manutenção dele no cargo só reforça a tese do locaute. Parente, avalista dos esquemas que drenam a Petrobras, reza na cartilha da corporação que organizou a paralisação. Afinal, como dito anteriormente, apenas os caminhoneiros avulsos, sem uma retaguarda estruturada, não seriam capazes de parar o país durante oito dias.

Sem mais nenhum argumento diante do desgaste junto à população, o governo lançou a última cartada – construção do discurso sobre a participação de “infiltrados” na paralisação, que estariam politizando as ações. Esse recurso midiático também não funcionou.

Todas essas narrativas, fartamente espalhadas na mídia golpista, tentavam convergir para esconder o principal – 70% de rejeição ao governo Michel Temer.

A saída para conter o “fora Temer” seria julgar e condenar os caminhoneiros, mas não funcionou.

Assim, o governo contemplou o mínimo da pauta dos caminhoneiros, mas não foi capaz de apresentar qualquer proposta para conter a alta no preço da gasolina, do gás de cozinha e dos outros derivados do petróleo que impactam no orçamento familiar da maioria da população.

Eis o ponto principal. A paralisação foi desmobilizada, mas o bode está na sala, sentado na mesa de jantar com a política temerária de Pedro Parente na Petrobras e o plano de privatizar esta empresa fundamental para o desenvolvimento do país.

Neste aspecto, a única narrativa que pode ganhar corpo a favor do governo golpista daqui por diante é a privatização da Petrobras, inclusive com o apoio da população, caso seja “convencida” de que a estatal é inviável.

A tese da privatização será reforçada já na greve dos petroleiros. Basta observar que a justiça trabalhista agiu em tempo recorde e já decretou a ilegalidade do movimento paredista. Essa greve será ainda mais atacada que a paralisação dos caminhoneiros, principalmente porque é convocada por sindicatos vinculados à CUT.

Todos os demônios da cobertura jornalística serão soltos contra a CUT e os grevistas da Petrobras, voltando à carga em defesa da privatização.

Neste momento, cabe ao movimento sindical e aos partidos da arena progressista disputar a narrativa em defesa da Petrobras, nem que seja ressuscitando o velho jargão de Getúlio Vargas – “o petróleo é nosso.”

Seria o caso de construir um pacto entre as candidaturas do campo democrático e deflagrar campanha unificada em defesa da Petrobras.

Por fim, cabe considerar que a mobilização de alguns segmentos dos caminhoneiros em prol da intervenção militar não ganhou corpo. Afinal, o país já vive uma ditadura, fruto do golpe jurídico-midiático-parlamentar que derrubou a presidente Dilma Roussef (PT).

Nem precisa mais intervenção militar. Mas, em último caso, as forças armadas entram em campo para enterrar de vez a democracia.

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Construção da ponte sobre o rio Alegre, em Santo Amaro, divide opiniões dos moradores e empresários

Uma das principais cidades do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, Santo Amaro está diante de uma polêmica em torno da ponte sobre o rio Alegre, ligando a estrada asfaltada (MA-320) ao perímetro urbano do município.

A obra da ponte já foi iniciada e, se concluída, vai permitir o acesso fácil de motos, carros, caminhonetes, ônibus e caminhões a Santo Amaro.

Atualmente, apenas caminhonetes com tração 4 x 4 acessam a sede do município. Elas atravessam o leito do rio Alegre, na parte rasa, transportando as mercadorias que abastecem o comércio, os produtos do setor de serviços, moradores e turistas.

A ponte vai facilitar o fluxo de qualquer tipo de veículo, mas divide opiniões. Parte dos moradores considera que o impacto sobre a cidade será grande e a infraestrutura do município não suporta um volumoso contingente de pessoas, carros, motos, quadriciclos e caminhões, entre outros motorizados.

O ex-vereador e empresário Dodó Carneiro apresenta suas ponderações sobre a construção da ponte. Assista ao video, abaixo.

Pequena cidade encravada nas proximidades das belas dunas e lagoas, Santo Amaro ainda é um lugar com características provincianas.

Moradores e empresários contrários à conclusão da ponte temem pela quebra da tranquilidade no município, considerando que o clima de violência já chegou às pequenas cidades do Brasil.

Da areia ao asfalto

Até o final de 2017, Santo Amaro era acessada por via terrestre apenas pelos carros com tração 4 x 4, atravessando dunas, riachos e lagoas, até chegar à sede do município.

Em fevereiro de 2018, o Governo do Estado concluiu a obra da rodovia MA-320, com 47 Km, entre o povoado Sangue e o município de Santo Amaro, ficando pendente a ponte sobre o rio Alegre.

Sangue fica às margens da rodovia MA-402, que dá acesso ao município de Barreirinhas. A construção da MA-320 (Sangue-Santo Amaro) interliga duas cidades valorosas na rota do turismo no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.

A estrutura inicial está pronta e as máquinas continuam trabalhando.

Imagem retirada neste site

Descrição: três caminhonetes cruzam o leito de uma área alagada no meio de uma estrada de areia, cercada de vegetação, no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.

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A dura vida de Roseana Sarney na oposição

Depois de muitas especulações e insegurança, Roseana Sarney (MDB) finalmente se manifestou sobre a candidatura ao governo do Maranhão em 2018.

No seu discurso de 19 minutos em que anunciou a decisão de ser candidata, uma frase desenha o principal “vamos enfrentar muitos obstáculos”.

Está nesse trecho a senha para entender o quanto será difícil fazer uma campanha sem a máquina do governo e o chicote na mão para açoitar os prefeitos.

A filha de José Sarney sempre fez campanha com muitas armas e exércitos ao seu dispor: 1) controle dos cargos federais no Maranhão; 2) a máquina do governo estadual; 3) maioria folgada nas bancadas federal e estadual; 4) controle absoluto sobre os meios de comunicação, principalmente os sistemas Mirante e Difusora; apoio das multinacionais Vale do Rio Doce e Alumar; 5) domínio sobre os currais eleitorais dos prefeitos; 6) poder de mando nos maiores partidos e coligações com a maioria esmagadora das legendas de aluguel;

Tudo isso convergia para que ela fizesse campanha nos cenários mais favoráveis, apenas para cumprir os rituais da eleição, mesmo assim utilizando métodos heterodoxos como a famosa farsa do morto-vivo Reis Pacheco.

Leva-se ainda em consideração, nas eleições passadas, a força política de José Sarney no cenário nacional, sempre ocupando postos elevados no staff da República, atraindo o poder de Brasília para manter a hegemonia no Maranhão.

Em 2018, resta para Roseana Sarney pouca munição e um exército cambaleante. Ela não está acostumada a fazer campanha sem a chave do Palácio dos Leões.

O poder de do pai em Brasília não é mais o mesmo.

Até mesmo seus correligionários fiéis nos bons tempos da fartura do dinheiro público abandonaram o barco. Figuras como Gastão Vieira e Pedro Fernandes já estão militando na base de Flávio Dino.

O dinheiro das doações será mais vigiado e a fragilidade do grupo que sempre lhe deu sustentação vai ter influência negativa na drenagem do financiamento de campanha.

Tudo isso e muito mais será computado no dia a dia da campanha. Em 2018, diferente de todas as facilidades que teve na vida, Roseana está fora do poder oficial.

Esse fantasma de não mandar no dinheiro público vai atormentá-la a campanha inteira.

Apesar da bravata de hoje, Roseana é oposição. E isso faz toda a diferença.

Foto: reprodução / O Imparcial

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Novo disco de Lena Machado convida ao deleite

Reservei o entardecer e começo da noite deste sábado (19 de maio) para escutar – e não apenas ouvir – o novo disco de Lena Machado: “Batalhão de Rosas”. Digo escutar porque apreciei a obra atentamente (folheando o encarte), não de forma distraída como é de praxe, mas com o ouvido cheio de pensamentos sobre a arte desta intérprete que poderia ser trilha de novela, ilustrando aquelas cenas exuberantes do pôr do sol de Ipanema.

Digo isso porque a arte é universal, seja ela extraída de uma banca de comida na feira da Praia Grande ou em um restaurante chic de Dubai.

Capa do disco Batalhão de Rosas

Ao folhear o miolo do “Batalhão de Rosas”, com as músicas de fundo, senti a força de uma voz que canta trazendo à tona as entranhas dos sentimentos traduzidos nas letras.

Além dos clássicos de Joãozinho Ribeiro (Asas da Paixão), Cesar Teixeira (Namorada do Cangaço, Boi de Medonho, Flanelinha de Avião) e Bruno Batista (Batalhão de Rosas), o disco traz a poética de Didã (Banca da Honestidade) em uma composição sobre a labuta das mulheres guerreiras que fazem da gastronomia de rua e dos mercados a sobrevivência de famílias inteiras.

“De Deus”, assinada por Bené Fonteles, costura uma ginga maneira como se ali na letra tivesse um drible de futebol, com a esperteza do verso final da primeira estrofe – “num passe…”.

Quando eu ouvi “Preta”, de Camila Cutrim e Fernanda Preta, logo lembrei de duas personagens marcantes na obra de Josué Montello: Benigna (Os tambores de São Luís) e Nadine (O baile da despedida), mulheres com o dom de enfeitiçar por vários significados: a voz, a cor, o gingado e o “enigma profundo”.

Zeca Baleiro e Swami Jr  fornecem munição num bolero para Lena Machado deslizar feito um catamarã musical em “Duas Ilhas” – um texto filosófico sobre o amor e as suas dificuldades.

E quanto alento ao escutar “Bom dia”, letra de Alessandra Leão, demarcando o território feminino em um disco lírico e tribal, simultaneamente catapultado à condição de uma obra musical do mundo, universal.

Lena Machado é uma intérprete merecedora da nossa audiência, pela magia de uma voz que anima as almas das pessoas.

A produção e os arranjos são de Wendell Cosme, Israel Dantas e Wesley Sousa. O trio deu tom especial à obra musical.

Fico por aqui porque não tenho vocação para spoiler. Compre o disco e deleite-se.

Imagens: sites aqui e aqui

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Cafeteira de 1994 é símbolo da pós-verdade

Reza o ditado que a mentira tem pernas curtas, mas o fenômeno “fake news” diz o contrário: impostura tem pernas longas e passadas ligeiras.

A pós-verdade, base filosófica da notícia falsa, teve o auge na eleição de Donald Trump em 2016 nos Estados Unidos e no plebiscito que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia, o brexit.

Mas, falsear a verdade é coisa antiga.

Em 1994, na eleição para o Governo do Maranhão, uma “fake news” construída pela máquina publicitária de José Sarney foi decisiva para derrotar Epitácio Cafeteira, fabricando a vitória de Roseana Sarney.

A mentira plantada remontou a um acidente de carro, em 1988, no bairro Olho d’Água, envolvendo o ferroviário José Raimundo Reis Pacheco e o ex-vereador Hilton Rodrigues.

Pacheco teve escoriações e Rodrigues morreu.

Tempos depois, José Sarney escreveu o famoso artigo intitulado “Liberdade e Reis Pacheco”, sugerindo que Cafeteira queria vingança pela morte do sogro.

Daí em diante a narrativa evoluiu para algo bizarro, atribuindo a Cafeteira um plano macabro para sequestrar e matar Reis Pacheco.

No auge da campanha, a máquina publicitária de José Sarney já espalhara em todo o Maranhão que o favorito na eleição, Epitácio Cafeteira, seria mandante de um assassinato.

Dias antes da votação, após rigorosa investigação, a assessoria de Cafeteira descobriu Reis Pacheco vivinho da silva, morando no interior do Pará, logo providenciando a gravação de um vídeo para desmascarar a farsa.

O vídeo ficou pronto a tempo de ser exibido no último programa eleitoral, mas por esses milagres que só acontecem no Maranhão a transmissão “caiu” em várias cidades do interior.

Em 1994, sem internet, ficara impossível desfazer a farsa.

Mesmo assim a torcida por Cafeteira ainda acreditava na vitória, até que nas últimas horas da contagem dos votos veio a surpreendente virada de Roseana Sarney, com uma vantagem de aproximadamente 18 mil votos.

E assim ela virou governadora do Maranhão.

Recuo inexplicável

Derrotado em tais circunstâncias, Cafeteira recolheu as armas, deixando a torcida frustrada.

Muita gente esperava que a derrota fosse transformada em uma guerra contra Sarney, mas Cafeteira preferiu recuar.

Em 1998 ele foi novamente candidato, na tentativa de “explicar” a farsa de 1994, mas não vingou.

Roseana se reelegeu com facilidade e a oligarquia no Maranhão, atrelada ao governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), chegava ao ápice.

Para os registros é importante frisar que, apesar das dissidências pontuais, Cafeteira e Sarney não estavam em campos opostos. Ambos compuseram a mesma base conservadora do Maranhão.

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Rótulo de “golpista” e disputa entre evangélicos prejudicam a candidatura de Eliziane Gama ao Senado

O governador Flávio Dino (PCdoB) soma pelo menos três critérios para escolher a deputada federal Eliziane Gama (PPS), vinculada à Assembleia de Deus (AD), como a segunda candidata ao Senado: partido, gênero e religiosidade.

Pela ordem dos critérios, temos o seguinte: o PPS soma na contagem geral dos partidos da base governista; a presença feminina equilibra e valoriza a chapa; o segmento evangélico sente-se representado na majoritária.

Ocorre que, além do racha nas igrejas (veja detalhes abaixo), a deputada tem rejeição no PT, legenda importante no tempo de propaganda na coligação de Flávio Dino.

Os petistas não cansam de recordar que Eliziane Gama votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff e, antes disso, tentou convocar o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva para depor na CPI da Petrobras.

Para o PT, a parlamentar evangélica cometeu dois pecados imperdoáveis.

Eliziane fez coro com a direita no impeachment. Foto: reprodução

Estes atos são intolerados na base petista, que não admite a escolha da deputada para compor a chapa majoritária liderada pelo PCdoB, partido-irmão do PT e de Lula desde 1989.

Filiado a uma legenda com denominação “comunista”, Flávio Dino (PCdoB) já sente o açoite do conservadorismo, somado à esperteza da oposição sarneísta, que enxerga até nos bons atos do governo alguma perversidade inspirada na foice e no martelo.

Assim, a presença evangélica na chapa acalma parte do eleitorado conservador. Mas, embora o governador tenha anunciado a composição majoritária, os 14 partidos da coligação palaciana ainda vão realizar encontros estaduais para fechar os acordos.

Portanto, não é definitiva a participação de Eliziane Gama como candidata ao Senado.

Questões morais também podem influenciar negativamente a base evangélica.

Este blog não costuma tratar de assuntos da vida privada de nenhum político, a não ser que fatos reservados passem a ter interesse público. É o caso de Eliziane Gama, divorciada e casada novamente, atitude não recomendável na Assembleia de Deus (AD), cuja moral religiosa preconiza a indissolubilidade da família original.

Contradições

A presença feminina da AD na chapa majoritária acolhe uma fatia do eleitorado que tende a rejeitar o governador comunista.

No entanto, nem tudo converge para Eliziane Gama. No campo político-religioso, os assembleianos e as outras denominações não mais constituem o rebanho fiel a uma só candidatura.

Como diz o povo sábio do Maranhão, “em tempo de murici, cada um cuida de si”. O ditado traduz os interesses fragmentados de todos os tipos de denominações e pastores, inclusive aqueles da teologia da prosperidade.

Senador Lobão e o segundo suplente pastor Bel. Foto: reprodução

No geral, as lideranças políticas das igrejas evangélicas são atraídas pela força gravitacional do Palácio dos Leões em todos os governos, agraciados com vantagens e favores, a exemplo dos postos de capelães.

Rebanho dividido

Muitas decisões na AD são tomadas em cúpula, sem ouvir a base, reproduzindo a lógica pragmática da maioria dos partidos políticos.

No emaranhado de interesses e denominações, as igrejas alinham e divergem de acordo com os projetos eleitorais majoritários e proporcionais, sob a liderança dos pastores e das cúpulas que controlam as convenções.

Pastor Pedro Aldi, o homem da Ceadema. Foto: reprodução

O presidente da Ceadema (Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Maranhão), pastor Pedro Aldi Damasceno, terá uma representante familiar nas eleições 2018. Sua filha, Mical Damasceno, será candidata a deputada estadual em 2018.

Entretanto, no meio ao rebanho há sempre ovelhas desgarradas.

Eliziane Gama não é consenso na AD, onde também milita na política Herber Waldo Silva Costa, o famoso “pastor Bel”, segundo suplente do senador Edison Lobão (PMDB) e alinhado a uma eventual candidatura de Roseana Sarney (PMDB).

Por outro lado, soma na base comunista o pastor Luiz Carlos Porto (PDT), ex-vice-governador de Jackson Lago.

Já a pré-candidatura de Maura Jorge (PSL) ao governo, o palanque do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no Maranhão, estaria apalavrada com o deputado pastor Marco Feliciano (Podemos), manda-chuva na AD Catedral do Avivamento.

Estes são alguns detalhes dos grandes conflitos na AD, uma organização onde perpassam disputas em torno de interesses financeiros, políticos e religiosos, conforme o(a) leitor(a) pode ver abaixo.

Os 3 rachas na Assembleia de Deus

Durante 25 anos, de 1990 a 2015, a CGADB (Convenção Geral da Assembleia de Deus no Brasil) esteve sob a mão de ferro do pastor José Wellington Bezerra e do seu filho José Wellington Costa Junior.

Várias dissidências na CGADB fizeram emergir outros líderes. Em 2010 o pastor Silas Malafaia ascendeu à direção da AD Vitória em Cristo, inconformado com a dominação dos Wellington (pai e filho) sobre o rebanho.

Pastores Samuel Câmara e José Wellington disputam fiéis. Foto: reprodução

Após a morte e Paulo Leivas Macalão, um ícone da AD mãe, localizada em Belém (PA), o bispo Manoel Ferreira assumiu a liderança e começaram as dissidências, surgindo uma nova organização, em 1989 – a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil — Ministério de Madureira (Conamad).

Essa foi a primeira grande divisão da AD em toda a sua existência. Na Conamad destacou-se o pastor Samuel Ferreira, um dos filhos do bispo Manoel Ferreira, elevado ao cargo de bispo primaz vitalício.

A Conamad flexibilizou as regras rígidas presentes na CGADB, permitindo as mulheres usarem joias e maquiagem, por exemplo.

As eleições para o comando das convenções são altamente disputadas, inclusive com suspeitas de fraude, gerando disputas judiciais intensas.

Após tentar o controle da CGADB, sem sucesso, o pastor Samuel Câmara criou sua própria tendência – a CADB (Convenção da Assembleia de Deus no Brasil), que já  teria alcançado 10 mil pastores filiados, ameaçando o poder da CGADB.

Um dos principais atrativos da CADB é a ordenação de mulheres em todas as funções, provocando uma revolução no rebanho, visto que as servas de Deus podem assumir postos de comando na denominação.

Os sucessivos rachas na esfera nacional das convenções, bem como as mudanças morais e organizativas, têm forte repercussão eleitoral, considerando que a AD é a maior denominação pentecostal do Brasil.

Portanto, não há como diminuir a força dos evangélicos na política. Convidado a pregar na Cruzada Interdenominacional, realizada na praça Maria Aragão, em outubro de 2017, o pastor Geziel Gomes pede a Deus que mova o coração do governador Flávio Dino.

Ouça AQUI

As palavras do pastor fecharam a oração do prefeito Edivaldo Holanda Junior (PDT), pedindo bênçãos a São Luís. A cidade está mesmo precisando.

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Jovem Pan deprecia as rádios comunitárias, por ignorância ou má fé

A Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço) vem tentando sensibilizar deputados federais e senadores para mudar a legislação que institui o Serviço de Radiodifusão Comunitária (Lei 9.612/98).

Uma das reivindicações da Abraço visa o aumento da potência das emissoras para 300 watts. A Lei 9.612/98 limita a potência a 25 watts e sufoca a abrangência das rádios comunitárias, que também são proibidas de veicular publicidade e formar rede, entre outras restrições.

Esta semana, durante a tramitação do projeto de aumento da potência no Senado, a rádio Jovem Pan cometeu uma deselegância: atribuiu ao pleito da Abraço uma interpretação distorcida e nomeou de maneira depreciativa as rádios comunitárias, denominando-as “piratas”.

Ouça aqui o áudio

Pode ter sido deselegância por falta de conhecimento da legislação, ou má fé mesmo, prática viciosa de alguns comunicadores da Jovem Pan que vêm negativando a emissora.

Há um lastro teórico que classifica e nomeia diversas experiências radiofônicas na América Latina e na Europa.

Se passada em revista a literatura sobre esse tema, encontram-se textos e livros sobre as rádios operárias dos trabalhadores das minas, na Bolívia, nos anos 1950, passando pelas rádios revolucionárias, guerrilheiras, piratas e livres, até chegar nas comunitárias, no Brasil, regulamentadas em 1998, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, na gestão do ministro das Comunicações Sérgio Mota.

Foi por pressão dos movimentos sociais militantes na causa da democratização da comunicação que o governo tucano sancionou a Lei 9.612/98 e o decreto de regulamentação nº 2.615/98, criando o Serviço de Radiodifusão Comunitária.

Alguns jornalistas da Jovem Pan, ao depreciar a lei, agem pautados na arrogância dos barões da mídia, considerando que somente eles têm o direito de ocupar o dial, emitir opiniões e usufruir do latifúndio das comunicações.

A lei e o regulamento da radiodifusão comunitária completaram 20 anos em fevereiro de 2018 sem qualquer alteração. Trata-se de uma legislação restritiva e nociva às rádios comunitárias, porque limita a potência a 25 watts e o sistema irradiante a 30 metros, proíbe a captação de recursos fora da modalidade “apoio cultural” e impede a formação de rede.

Esta legislação foi criada para sufocar as emissoras comunitárias.

Mesmo assim, a Abraço vem tentando alterar a lei, em um legítimo esforço de qualquer grupo de pressão que atua no Congresso Nacional visando atender ao interesse público.

O Brasil é um dos piores exemplos de concentração dos meios de comunicação em mãos de grupos empresariais e políticos, que fazem uso das suas máquinas de jornalismo e propaganda geralmente em proveito próprio, atropelando o interesse público, que deveria ser a finalidade precípua de uma plataforma de informação.

Vale frisar que o controle acionário das concessões de rádio e televisão por detentores de mandatos legislativos ocorre no Brasil em flagrante atropelo da Constituição de 1988.

A elite opiniosa da Jovem Pan, tão ciosa da moral e dos bons costumes, paladina da ética e palmatória do mundo, deveria zelar pela Constituição do país e ficar mais atenta às leis menores.

Afinal de contas, não fica bem para uma emissora tão poderosa, símbolo da elite da avenida Paulista, depreciar os dispositivos da lei tucana que instituiu o Serviço de Radiodifusão Comunitária.

As rádios comunitárias, mesmo com uma legislação restritiva, vêm proporcionando oportunidades a milhões de brasileiros que jamais teriam acesso aos microfones dos barões da mídia.

Nestas pequenas emissoras são revelados talentos musicais de centenas de municípios, cantores e cantoras que jamais seriam tocadas nas chamadas grandes emissoras.

É nas rádios comunitárias que está a informação de interesse local, do povoado, da roça, do bairro, do comércio na cidade pequena, de gente simples e suas múltiplas vozes.

Este Brasil profundo e criativo a Jovem Pan não respeita. E talvez nem conheça.

A verborragia sobre as rádios comunitárias é a mesma que destila ódio contra os pobres que ascenderam no Brasil, os negros, índios, quilombolas e o pensamento crítico em geral.

Quem ouve certos comentaristas da Jovem Pan tem certeza que a linha editorial desta emissora é uma decadente volta ao passado, algo até pior e mais violento aos ouvidos e às mentes que a velha catilinária da UDN de Carlos Lacerda.