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‘Murais da Memória’ celebram poetas, amos e cantadores de bumba-meu-boi no Maranhão

O mural em homenagem ao mestre Leonardo, um dos fundadores do Tambor de Crioula e do Boi da Liberdade, em São Luís, é um dos frutos do projeto “Amo, Poeta e Cantador: Murais da Memória pelo Maranhão” que, neste ano de 2021, vai homenagear 10 personalidades do bumba meu boi do Maranhão.

Outros três murais serão pintados em São Luís e os demais em Axixá, Cururupu, Barreirinhas, Guimarães, Viana e São José de Ribamar.

O projeto “Amo, Poeta e Cantador: Murais da Memória pelo Maranhão” realizou, entre os meses de outubro e dezembro do ano passado, uma campanha no modelo machfunding para angariar recursos e viabilizar as ações. As doações feitas pelos apoiadores foram triplicadas numa parceria entre a Benfeitoria, o BNDES, e o Sitawi Finanças do Bem, havendo a adesão de dezenas de pessoas físicas e jurídicas em todo o Brasil.

A confecção dos murais, com a produção também de um documentário sobre o projeto, está prevista para acontecer entre os meses de abril a agosto de 2021. Serão 10 murais, sendo quatro deles na capital maranhense. Entre as personalidades homenageadas pelo projeto estão Nadir Apolônio, do Boi da Floresta; Francisco Naiva, do Boi de Axixá; Calça Curta, do Boi da Maioba; e Marcelino, do Boi de Guimarães.

A obra é assinada pelo artista Gil Leros, com apoio de uma equipe de produção trabalhando coletivamente para a concretização do sonho. “O contato com uma obra fotográfica em 2015 fez nascer em mim o desejo de construir murais da memória pelo Maranhão. Na realidade, o sonho é bem maior e espero um dia concretizar a pintura de murais em cada estado brasileiro”, projetou o artista.

HISTÓRIA DOCUMENTADA

Os grupos de bumba meu boi são divididos em sotaques. Cada sotaque tem características próprias relacionadas aos estilos, formas e expressões diferenciadas que se manifestam nas roupas, na escolha dos instrumentos, no tipo de cadência da música e nas coreografias.

Entre os sotaques, estão: matraca (ou sotaque da ilha), zabumba (ou Guimarães), orquestra, costa-de-mão (ou Cururupu) e sotaque da Baixada (ou Pindaré).

Os amos, poetas e cantadores são fazedores de cultura do meio popular e têm como função liderar e embalar os grupos de bumba meu boi com as toadas ou músicas.

A realização do projeto permitirá o contato constante da população com a obra artística a céu aberto que, por meio do graffiti, registra a memória ao bumba meu boi para além das festas juninas, quando as manifestações folclóricas celebram São João, São Pedro e São Marçal

Um dos objetivos é democratizar o acesso ao processo da obra e às histórias dos personagens que compõem o patrimônio, a partir do registro de todo o processo em um documentário, que será disponibilizado nas plataformas digitais de audiovisual.

O ARTISTA GIL LEROS

Gilmartim Meneses da Silva, mais conhecido no meio artístico como Gil Leros, nasceu em Tucuruí (1985), no Pará, e mudou-se para São Luís aos 13 anos. No fim dos anos 90, teve contato com a cultura Hip Hop local, passando à prática do graffiti nos muros da cidade, dando início ao aprimoramento das suas técnicas de pintura e comunicação visual, por meio de atividades voltadas à arte de rua.

Na juventude, estudou Arquitetura e Urbanismo, o que agregou uma nova visão de urbanismo, e enveredou seus trabalhos também para as intervenções urbanas e o uso da arte na valorização dos volumes arquitetônicos e na requalificação urbana. Ao longo do tempo, estendeu suas habilidades artísticas a outras áreas, sempre envolvendo sua identidade plástica a vertentes como arquitetura, música, fotografia e movimentos culturais da cidade.

O artista possui projetos em andamento, como o “Mural Natural”, “Amo, Poeta e Cantador”, e “Mete o amor, forte!”, com técnica e produção artística singulares, o que o leva a ser um singular personagem no que diz respeito à estética e à representação de sua cidade. Carrega consigo uma identidade urbana inconfundível e repleta de possibilidades, unindo a trajetória pessoal, o saber fazer do graffiti e as manifestações culturais do Maranhão.

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Tempo ruim

Quem acompanhou o noticiário sobre a Cúpula do Clima, pode comparar: o governo Jair Bolsonaro diz uma coisa e faz outra.

Lendo aquele discurso, fica óbvio que ele não sabe o que está dizendo nem acredita no que fala.

Uma vergonha internacional.

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Apruma convoca assembleia para debater mudanças estatutárias e regimentais na UFMA

A Associação dos Professores da Universidade Federal do Maranhão (Apruma), filiada ao Andes Sindicato Nacional, realiza assembleia remota sexta-feira 23, às 17 horas, para avaliar e tomar deliberações sobre a proposta da Reitoria de alteração do Estatuto e do Regimento Interno da UFMA.

Segundo a Apruma, as propostas de mudança regimentais e estatutárias, se aprovadas, podem resultar em mudanças profundas na gestão da UFMA, concentrando mais poderes na Administração Superior e na figura do reitor.

Além da crítica sobre o conteúdo das mudanças no Regimento Interno e no Estatuto, o sindicato questiona a pressa para implementar as alterações sem um amplo debate com os professores, docentes e técnicos administrativos.

A reunião do Conselho Universitário (Consun) que pode votar e aprovar as alterações está prevista para a próxima terça-feira (27).

“Entre as alterações pretendidas, estão a delegação e a concentração de mais poder nas mãos do reitor em detrimento dos conselhos, institucionalizando tanto o ad referendum para decisões que julgar urgentes quanto até mesmo o veto a decisões tomadas pelos Conselhos Superiores”, denunciou a Apruma.

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Abaixo-assinado em defesa da Capes mobiliza pesquisadores

Redes de cientistas e instituições acadêmicas pressionam o Congresso Nacional e o Ministério Público para tomarem medidas contra a destruição da estrutura de fomento à pós-graduação e à pesquisa no Brasil. Veja como acessar e preencher o abaixo-assinado aqui

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) tem desempenhado, desde sua criação em 1951, um papel fundamental na formação de profissionais pesquisadores e pesquisadoras que atuam sobretudo no ensino, na pesquisa e na extensão. A partir do parecer Sucupira de 1965, a pós-graduação brasileira vem se desenvolvendo com princípios norteadores para a formação de mestres e doutores, calcada num sistema de avaliação da produção acadêmica nacional e, também, do desempenho de programas de pós-graduação.

O trabalho de pesquisadores, pesquisadoras, docentes e técnicos contribuiu para que o País atingisse a marca de 7,6 doutores por 100 mil habitantes, cumprindo as metas estipuladas pelo Plano Nacional de Pós-Graduação 2011-2020. Isso se reflete na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e no avanço econômico que tivemos na década de 2010.

Interessante pontuar que o melhor desempenho da academia brasileira no século XXI está atrelado ao gradativo crescimento orçamentário da CAPES no quinquênio 2010-2015. De 2016 para cá, a agência vem sofrendo cortes orçamentários bruscos. Em 2019, o orçamento da Capes foi de cerca de R$ 4,2 bilhões, em 2020, caiu para R$ 2,8 bilhões. A previsão para 2021 é de R$ 1,9 bilhões, sendo que 1/3 está condicionado a créditos futuros. 

Apesar de ser o ponto mais crucial para a sobrevivência da agência, o orçamento não é o único problema enfrentado atualmente. A CAPES está passando por gestões que agravam ainda mais seu desempenho. Algumas das práticas que denunciamos são:

a)  Gestão monocrática por meio de desrespeito às decisões do Conselho Técnico-Científico e do Conselho Superior, que foi desarticulado desde os finais de 2020, bem como falta de transparência com a comunidade científica e acadêmica.

b) Corte de bolsas permanentes a programas de pós-graduação da ordem de 10% e publicação de sucessivas portarias que não refletem  transparência no processo de distribuição de bolsas.

c) Desrespeito com coordenadores de programas de pós-graduação no processo de avaliação: plataforma Sucupira com recorrentes quedas no sistema, mudança na ordem de preenchimento e de critérios das informações ao longo do processo, insensibilidade com o contexto da pandemia que tem levado muitos e muitas colegas ao adoecimento quando não à morte, falta de nitidez quanto às solicitações de adiamento, resultando em estresse e prejuízo à saúde dos envolvidos.

d)   Lançamento de editais com viés político-ideológico a partir do repasse de verbas de Ministérios que instituem agendas temáticas pautadas em projetos ideológicos, como por exemplo editais de segurança pública e ciências forenses e o de políticas familiares. Além disso, um expressivo desprezo pelo fomento à pesquisa em áreas das humanidades, como fica evidente no edital Capes/Fulbright que restringe a participação das diversas áreas.

e)  Sucessiva troca de presidências, demonstrando a instabilidade e fragilidade de uma gestão capaz de pensar ações a médio e longo prazo para o desenvolvimento da educação, com pessoas sem expertise técnica ou legitimidade entre os pares.

f)  Indicação de nomes para a presidência com vínculo ideológico anticientífico ou com currículo sem experiência de orientação, pesquisa e ensino na pós-graduação, o que fere qualquer princípio básico que deve nortear a Agência.
 
Recuperando a importância e a excelência  da CAPES como instituição do Estado brasileiro para o desenvolvimento da sociedade, solicitamos ao Congresso Nacional e ao Ministério Público Federal que tomem medidas com relação a este problema, conforme prevê o artigo 48, inciso IV, e o artigo 127 da Constituição Federal.

Esse abaixo-assinado recebe o apoio de entidades e pessoas como: associações e sociedades científicas, coordenadores e alunos de programas de pós-graduação, pesquisadores e pesquisadoras, bem como coordenadores e coordenadoras representantes de áreas da CAPES.
 
Fórum de Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes
 
18 de abril de 2021

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Cenários 2022: Flávio Dino pode virar senador ministeriável

Ainda é muito cedo para fazer especulações sobre a disputa eleitoral de 2022, mas algumas imagens começam a ter um pouco mais de nitidez.

Um dos cenários prováveis é a formação do palanque no Maranhão com um candidato do PT a presidente (Lula ou Fernando Haddad), Flávio Dino (PCdoB) senador e Carlos Brandão (PSDB) ou Weverton Rocha (PDT) governador.

Flávio Dino esteve afinado com Lula e o PT por vários motivos programáticos e pragmáticos. E tudo indica que estarão juntos em 2022. Não foi por acaso que o governador usou a camisa com a estampa “Lula livre” (veja imagem destacada) quando votou na eleição de 2020.

No cenário da volta do PT ao poder em Brasília e Flávio Dino eleito senador, é bastante provável que ele seja convidado a compor a equipe ministerial de um eventual novo governo petista.

Se tudo der certo Flávio Dino vira ministeriável; portanto, a vaga de primeiro suplente de senador passará a ser bastante cobiçada no processo de negociação para formar a chapa do Palácio dos Leões.

Mas, isso só vai acontecer se e somente se “tudo der certo”; ou seja; caso o PT volte ao poder e Flávio Dino ganhe o Senado.

O “se” explica quase tudo e há um longo caminho a percorrer até 2022.

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Geografia: entenda as diferenças entre a Ilha dos Lençóis e os Lençóis Maranhenses

Muitos maranhenses e turistas ainda confundem a região dos Lençóis Maranhenses e a Ilha de Lençóis.

A primeira está situada no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, uma extensa área que compreende os municípios de Barreirinhas, Paulino Neves, Primeira Cruz e Humberto de Campos.

Essa região é bastante divulgada no trading turístico internacional pelas belezas naturais do rio Preguiças e o conjunto de dunas e lagoas, além das praias que formam um complexo de atrativos até mesmo para a prática de esportes náuticos, como o kitesurf, na localidade Atins.

O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses está localizado no percurso da Rota das Emoções, estendendo-se pelo litoral do Maranhão, Piauí e Ceará.

Já a Ilha dos Lençóis é posicionada no litoral ocidental do Maranhão, na região denominada Floresta dos Guarás, em direção oposta ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.

Entre tantas referências a ilha já foi tema do enredo da escola de samba Tuiuti, do Rio de Janeiro, no carnaval de 2020.

A Ilha dos Lençóis faz parte do grande território da Reserva Extrativista (Resex) de Cururupu ou Arquipélago de Maiaú, formada por 17 áreas insulares onde se cultivam principalmente a pesca, a maricultura e o turismo, entre outras atividades.

Lençóis, a ilha, é conhecida pelas belezas naturais e aspectos culturais relacionados ao sebastianismo (veja vídeo abaixo). Conta a lenda que o rei de Portugal, Dom Sebastião, morto na batalha de Alcácer-Quibir (África), em 1578, reaparece cavalgando sobre as exuberantes dunas da ilha nas noites de lua cheia.

Parte dos moradores tem a pele embranquecida e frágil devido ao fenômeno do albinismo. Colados à lenda e cautelosos na exposição ao sol intenso na região, os albinos costumam sair de casa com mais frequência depois do poente.

Caminhando sobre as dunas à noite, produzem uma cena cinematográfica e incorporam à lenda o relato de que seriam filhos da lua. Os moradores, no geral, prestam reverência ao rei Dom Sebastião (veja abaixo).

Moradora da ilha dos Lençóis, Helena fala sobre a encantaria de Dom Sebastião.
Vídeo: Marizélia Ribeiro

Para você se localizar melhor no mapa do Brasil, posicione o dedo no Maranhão. Se você mover em direção ao Ceará indica que está a caminho do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, que tem como principal referência a cidade de Barreirinhas.

Se mover o dedo em direção ao Pará vai encontrar o litoral ocidental e nessa orientação segue para o município de Cururupu (cerca de 300km de São Luís), onde está localizada a famosa ILHA DOS LENÇÓIS.

Veja abaixo os contatos de pousada na Ilha dos Lençóis.

O porto de Apicum-Açu é um dos caminhos para chegar à Ilha dos Lençóis.

Aprecie o visual da chegada à Ilha dos Lençóis

Conheça também o sistema híbrido de geração de energia na Ilha dos Lençóis.

Saiba como funciona o manejo ecológico da Resex Cururupu na Ilha dos Lençóis.

Conheça também os atrativos na Ilha de Bate Vento, vizinha à Ilha dos Lençóis.

Imagem destacada / Vista das dunas na Ilha dos Lençóis / Fonte: Pinterest

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O naufrágio do poeta Gonçalves Dias no Atins de Guimarães

Praias de Barreirinhas e Guimarães são referências para o turismo e uma tragédia na Literatura. Na costa do Atins vimarense desapareceu o poeta Gonçalves Dias, em 1864, vítima de um naufrágio 

O Blog do Ed Wilson já detalhou em outro texto as diferenças entre Ilha dos Lençóis e os Lençóis Maranhenses.

Nessa postagem vamos discorrer sobre Atins, designação para dois territórios posicionados em áreas geográficas distintas: Barreirinhas e Guimarães.

Devido a facilidade de acesso e impulsionado pelo turismo, Atins é bem mais conhecido na região dos Lençóis Maranhenses, no litoral oriental, pertencente ao município de Barreirinhas.

Vista aérea do litoral Atins, em Barreirinhas. Imagem capturada aqui

Esse Atins é um lugar bucólico, cheio de pousadas rústicas e sofisticadas, visitado por  turistas de todo o mundo e propício aos esportes náuticos como kitesurf.

A tragédia com o poeta Gonçalves Dias

Já o Atins de Guimarães está posicionado no litoral ocidental, na região denominada Floresta dos Guarás, um vasto território que compreende praias, ilhas, manguezais, dunas, lagoas, campos e lagos nos municípios de Guimarães, Cururupu, Porto Rico, Bequimão, Mirinzal, Apicum-Açu, Central do Maranhão e outros como Bacuri e Serrano.

Guará é o nome de um pássaro de plumagem vermelha muito comum na região.

Pássaro de plumagem vermelha é atrativo na Floresta dos Guarás.
Imagem capturada aqui

O Atins de Guimarães fica localizado na baía de Cumã. Além do belo visual, a praia é lembrada como referência do naufrágio que levou à morte o poeta Gonçalves Dias, na segunda metade do século 19.

Em 1862, o poeta maranhense viajou à Europa para um tratamento de saúde, mas não obteve melhoras e decidiu voltar ao Maranhão, já debilitado. Em 9 de julho de 1864 Gonçalves Dias embarcou na França, no vapor Ville de Boulogne, com destino à sua terra natal.

Vista das barreiras na praia de Atins, em cujas águas morreu Gonçalves Dias. Provavelmente, foi uma das últimas visões do poeta antes de falecer

Na noite de 3 de novembro o navio naufragou nos baixos dos Atins, perto da vila de Guimarães. Constam nos relatos que apenas o poeta faleceu, em condições de saúde muito precárias. Seu corpo nunca foi encontrado. Todos os tripulantes (marinheiros) sobreviveram.

Veja aqui um relato mais completo sobre a viagem.

Há controvérsias

As fontes pesquisadas para a produção desse texto dão conta da fragilidade física do poeta, acometido de enfermidades, além do longo tempo da viagem de mais de 50 dias. Segundo os pesquisadores e biógrafos, Gonçalves Dias não tinha sequer condições físicas para nadar quando o Ville de Boulogne bateu em um banco de areia e naufragou nas proximidades da praia de Atins, em Guimarães.

O ponto vermelho indica a baía de Cumã, onde o navio naufragou

No entanto, apesar de todos os registros biográficos sobre a morte do poeta e dos mapas que demonstram a proximidade entre as baías de Cumã e São Marcos, um jornalista e pesquisador de História contesta o caminho do vapor onde viajava Gonçalves Dias. Segundo o historiador, que preferiu não ser identificado, Guimarães “não é a rota” das embarcações que fazem o deslocamento da Europa para São Luís.

Segundo esse raciocínio, é pouco provável que o navio tenha naufragado nas águas da baía de Cumã. “Acho estranho que o navio em que Gonçalves Dias vinha tenha naufragado em Guimarães, uma área fora da rota Europa-São Luís. Teria acontecido um desvio? Outro fato estranho é que somente o poeta morreu no naufrágio”, ponderou.

Memórias literárias

A tragédia é lembrada na obra do escritor vimarense (nome gentílico para os nascidos em Guimarães) Paulo Oliveira, intitulada “Gonçalves Dias e o mistério de sua morte nos Atins”.

As memórias sobre o desaparecimento do escritor estão presentes também nos versos da escritora vimarense Ananda Campos, no poema Crepúsculo em Ponta dos Atins:

Prestes a beijar o horizonte
O sol desce lentamente,
O arrebol tinge o céu com esplendor
Nuvens são desfeitas calmamente.


Sobre a nívea areia,
Pedras como ouro cintilam.
Vejo as belas palmeiras
Que os olhos do poeta viram.
Atins te sobrevoam, oh mar
E com ondas calmas a orla beijas
Em teu seio, guardas Gonçalves Dias,
Em tua dor, saudades gotejas.


Seria presságio?

O desaparecimento do poeta na costa de Guimarães gera algumas especulações, como a de que ele teria tido uma espécie de presságio no poema “Adeus aos meus amigos do Maranhão”, escrito em 1845, antes de viajar para o Rio de Janeiro. Os últimos versos dizem:

Tal parte o desterrado: um dia as vagas
Hão de os seus restos rejeitar na praia,
Donde tão novo se partira, e onde
Procura a cinza fria achar jazigo.

No hino do município de Guimarães constam versos emblemáticos sobre o simbolismo do desaparecimento do poeta nas águas vimarenses, no trecho:

“O vate dos timbiras, voltando à terra irmã,
Beijou, morrendo, a pátria, nas águas de Cumã.
De Guimarães foi dádiva o abraço do Brasil.”


Texto integral do Hino de Guimarães

Hino tem alusão ao poeta Gonçalves Dias

Letra: Padre Pedro Tidei
Melodia: Pedro Gronwell

Ao verde brilho infindo do virgem palmeiral
Desposa-se profundo o azul bravio do mar.
Ao flutuar das ondas, do vento o sibilar.


Oh! terra amada, ó Pátria,
Duas vezes secular
Vivo farol de glória,
Estremecido lar.


Zarpam teus barcos leves que destemidos vão
Levar teu nome às praias de todo Maranhão.
E de tua gente intrépida leva-se o canto ao mar.


Oh! terra amada, ó Pátria,
Duas vezes secular
Vivo farol de glória,
Estremecido lar.


O vate dos timbiras, voltando à terra irmã,
Beijou, morrendo, a pátria, nas águas de Cumã.
De Guimarães foi dádiva o abraço do Brasil.

Oh! terra amada, ó Pátria,
Duas vezes secular
Vivo farol de glória,
Estremecido lar.


Pelo Brasil, imenso, raios de claro sol
Brilharam já teus filhos, qual fúlgido arrebol
Sotero, Urbano Santos, fizeste deslumbrar.


Oh! terra amada, ó Pátria,
Duas vezes secular
Vivo farol de glória,
Estremecido lar.

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MST relembra os 25 anos do Massacre de Eldorado do Carajás com ações por todo o país

Abril é mês de luta para o movimento, que neste ano realiza atos virtuais, doação de alimentos e plantio de árvores

Marcelo Ferreira / Brasil de Fato | Porto Alegre

Todos os anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) transforma o mês de abril em período de luta camponesa internacional em defesa da Reforma Agrária e de luto pela memória dos 21 sem terra assassinados no dia 17 de abril de 1996, no sul do Pará. Nesta data ocorreu o massacre de Eldorado do Carajás, que completa 25 anos com o país sob uma pandemia em descontrole sob o governo Bolsonaro e ataques às conquistas da Reforma Agrária e dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.

Por conta da necessidade de isolamento social para conter o avanço da pandemia, a Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária do MST ocorre, pelo segundo ano consecutivo, com atos simbólicos e atividades virtuais. Neste sábado (17), às 10h, aconteceu o Ato Político-Cultural Internacional que resgata a memória das vítimas do massacre e os 25 anos de sua impunidade. A atividade também celebra as batalhas do MST e debate os principais desafios da classe trabalhadora.

Já em andamento, desde o dia 10 de abril é realizada a 15ª edição do Acampamento Pedagógico da Juventude Oziel Alves, desta vez em formato online. O acampamento, que tradicionalmente é na Curva do “S”, em Eldorado do Carajás, onde foi o massacre, abriu a Jornada Nacional de Lutas e segue até o dia 17 com informações, oficinas, atividades culturais e de memória sobre os assassinatos.

Durante o ato de hoje foi lançada a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA), que desde 2014 vem mobilizando várias instituições de ensino superior na defesa da Reforma Agrária e da educação pública como bases para construção de um projeto popular para o país. No domingo (18), serão realizadas ações de solidariedade em todo o país.

A Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária encerra no dia 21 de abril com a perspectiva da luta pela vida, a partir da recuperação de áreas degradadas por meio da campanha “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”. Lançada em 2019, a proposta é que em 10 anos as famílias acampadas e assentadas da Reforma Agrária e a sociedade em geral plantem 100 milhões de árvores em todo o país.

“A solidariedade é a base da resistência política de todas as ações que estão sendo construídas”, disse Marina dos Santos, da direção nacional do movimento, em coletiva de imprensa do MST realizada nesta sexta-feira (16). “Todos os estados estão com ações planejadas, especialmente para amanhã, com doação de alimentos. Em muitos lugares terão paralisações com faixas e cartazes, mantendo viva a memória de Eldorado do Carajás e fazendo parte da caminhada nacional e internacional para todos terem acesso à vacina contra a covid, ao auxílio emergencial enquanto dure a pandemia e pela bandeira geral ‘Fora Bolsonaro’ que o MST encampou.”

Governo federal promove “entulhos autoritários”


Jornada que marca o Abril Vermelho deste ano terá atividades on-line, além de ações de solidariedade e plantio de árvores / Comunicação MST

Segundo a dirigente, as lutas e bandeiras da Reforma Agrária estão inseridas no contexto que o Brasil está vivendo de crise política, econômica e ambiental, onde as políticas de Reforma Agrária não estão desconectadas das políticas nacionais adotadas pelo governo federal. “Na questão agrária brasileira, o governo federal tem realizado entulhos autoritários agrários. São novas normativas que o governo vem construindo para favorecer o grande latifúndio, fazendeiros, donos de terras, o agronegócio, em detrimento dos camponeses familiares, indígenas, quilombolas, assentamentos, ligados às nossas bandeiras.”

Ela alerta que o governo vem tentando promover a regularização fundiária na Amazônia para colocar as terras também à disposição dos grandes proprietários. Somado a isso, estão os crimes ambientais, “desde o fogo, o desmatamento, a venda de madeira ilegal por parte do agronegócio com proteção tanto do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, quanto do próprio Bolsonaro”.

Destaca ainda o aumento da repressão com “atuação de milícias, jagunços, junto com proprietários da fazendas, que vão em nossas áreas fazer ameaças”. Além disso, o governo trabalha para criar normas para retirar o tema da função social da terra urbana e rural da Constituição Federal. “Isso excluiria a possibilidade de Reforma Agrária no país, considerando que ela é garantida na Constituição e é a base das ocupações que o MST tem feito nesses mais ou menos 36 anos”, destaca Marina.

Outro elemento que também tem com a ver a política agrária, conforme a dirigente, é o aumento da fome. “Nos últimos dias temos visto diversos estudos com números alarmantes. Temos hoje no Brasil 19 milhões de pessoas sem acesso à comida todos os dias. Por outro lado, somos um país que tem condições de produzir comida para todos os brasileiros e também para o continente latino-americano”, avalia.

Massacre segue impune


Ações também cobram vacinação em massa, auxílio emergencial e o impeachment de Bolsonaro / Igor de Nadai/MST-PR

O massacre no município Eldorado do Carajás foi promovido pela Polícia Militar do Pará que matou 21 sem terra no local conhecido como Curva do “S”, no final da tarde de 17 de abril de 1996. Cerca de 1.500 sem terra estavam acampados reivindicando a desapropriação da fazenda Macaxeira. Até hoje, o crime segue impune. Os mais de 100 policiais foram absolvidos.

“Neste massacre, para nós que participamos, antes e depois, fica a dor dos camponeses e das famílias, a dor do MST de não ter acontecido ainda um julgamento para essa questão. O MST continua lutando para um dia ver um julgamento justo aqui no estado do Pará”, afirma Francisco Moura, o Tito, do MST do Pará e da Frente de Marcha do MST nacional.

Ele destaca que muitas famílias que passaram pelo massacre ficaram com grandes sequelas. “É gente que não pode trabalhar, não pode fazer as atividades no campo. Hoje o estado é negligente sobre o massacre, alguns foram indenizados, outros não, outros vivem com muita dificuldade porque tirou o trabalho dos camponeses”, afirma Tito.

Segundo ele, a violência contra camponeses no Norte do país segue ocorrendo, tanto no que se refere a despejos indevidos mesmo durante a pandemia, como violência física praticada por “jagunços e milícias da região”. “Estamos buscando com outros movimentos aqui da região, com a CPT, para ver como fortalecer a luta contra o despejo na pandemia. É preocupante, dramático e perigosa essa situação, existe despejo clandestino na calada da noite e pode ocorrer outro massacre aqui na região”, releva.

Após 25 anos, muitos ainda não têm terra

João Paulo Rodrigues, também da direção nacional do MST, recorda que o massacre de Eldorado do Carajás marcou um momento de popularização da Reforma Agrária no país. “A grande marcha de 1997 obrigou o governo de Fernando Henrique Cardoso a oficializar a Reforma Agrária e um conjunto de políticas que se consolidou no governo Lula”, conta.

A Marcha Nacional por Emprego, Justiça e Reforma Agrária, a que João Paulo se refere, cumpriu o objetivo de chegar em Brasília no dia que completou um ano do massacre de Eldorado do Carajás. A marcha partiu de três colunas, uma da capital paulista, uma de Governador Valadares (MG) e outra de Rondonópolis (MG). Cerca de 1.300 sem terra atravessaram o país a pé para se juntar a mais de 100 mil pessoas, episódio que ficou conhecido como “A Marcha dos 100 mil”.

O dirigente aponta que a data de resistência deu origem ao Dia Internacional da Luta Camponesa, celebrada em mais de 78 países, e no Brasil foi criado o Dia Nacional da Luta pela Reforma Agrária. Ao mesmo tempo, relata uma série de preocupações.

“Nos preocupa que, 25 anos depois, temos ainda uma quantidade imensa de famílias sem terra no Brasil e muitos acampados. São quase 200 mil famílias acampadas em condições as mais diversas nas beiras de estradas e latifúndios improdutivos”, afirma. Ele destaca ainda que o atual momento é mais desafiador, tendo o governo Bolsonaro e seu projeto para o campo dividido em três aspectos: “armamento do latifúndio, regularização fundiária para privatizar 20 milhões de hectares de terras para a iniciativa privada e a prioridade para o agronegócio, deixando o valor do dólar alto para priorizar a exportação da soja e desabastecer todas as políticas públicas de Reforma Agrária”.

Calendário de lutas da Jornada de Abril

10 a 17/04 – 15º Acampamento Pedagógico da Juventude da Sem Terra Oziel Alves Pereira;

16/04 – Ação nas redes sociais;

17/04 – Dia Internacional da Luta Camponesa. Ato Político-Cultural às 10h (virtual). Dia “D”, com ações simbólicas às 9h. Ação nas redes sociais com twittaço;

18/04 – Ações de solidariedade por todo o país;

21/04 – Ações do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”

Edição: Katia Marko

Imagem destacada / Acampamento Pedagógico da Juventude, realizado em 2016 em Eldorado do Carajás / Foto: Marcelo Cruz

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Em reunião com a ONU, Flávio Dino pede quebra de patentes para ampliar produção da vacina contra a Covid-19

O governador Flávio Dino representou o Nordeste, nesta sexta-feira (16), durante reunião virtual entre o Fórum de Governadores do Brasil e a Organização das Nações Unidas (ONU). Na oportunidade, ele defendeu a quebra temporária das patentes das vacinas contra a Covid-19 para acelerar a imunização da população mundial.

Amparado na função social da propriedade intelectual, Dino destacou que existe uma super-demanda e uma capacidade limitada na produção de vacinas. Além disso, pontuou que a comunidade científica ainda não sabe se será necessário realizar anualmente a imunização contra o coronavírus.

“Nós temos mecanismos internacionais em que há a quebra de patentes para que outros países possam produzir vacinas em maior quantidade, inclusive o Brasil. Percebi uma acolhida muito positiva por parte da ONU e quero crer que esse debate vai se colocar para uma deliberação internacional, uma vez que há muitos organismos, entidades, lideranças e personalidades em nível global defendendo essa saída”.

Secretária geral adjunta da ONU, Amina Mohammed, comentou que é realmente necessário buscar a vacina, além de trabalhar para diminuir a transmissão da doença. “Vamos olhar para outros países e ver a necessidade de redobrar esse esforço para produção o mais rápido possível, para vacinarmos 75% da população que se qualifica para a vacina. Também gostaríamos de falar sobre equipamentos médicos, para tratamento, e é um fator, nós temos uma realidade, onde 3 mil pessoas estão morrendo todos os dias, e nós temos que impedir ou prevenir isso. E, para fazer isso, nós temos que parar a transmissão”, comentou.

A reunião virtual foi moderada por Marlova Noleto, cordenadora residente da ONU no Brasil. Também participaram do encontro os governadores Wellington Dias, do Piauí; Wilson Lima, do Amazonas; Ronaldo Caiado, de Goiás; José Renato Casagrande, do Espírito Santo; e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul.

Imagem destacada / Governador Flavio Dino em ambiente on line participou da reunião em que defendeu a quebra de patentes / Foto: Gilson Teixeira

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Projeto que define educação como atividade essencial pode transformar escolas e universidades em campos da morte

O projeto de lei (PL 5594/20), já aprovado em regime de urgência na Câmara dos Deputados, quer transformar em serviços essenciais a educação básica e o ensino superior das redes pública e privada. Na sua justificativa, o texto apresenta “um objetivo muito simples: estabelecer que a educação se torne atividade essencial em todo o território nacional. Diante disso, procura-se garantir a retomada das atividades escolares no formato presencial”.

A votação da urgência teve 307 votos favoráveis e 131 contra.

Caso seja aprovado em definitivo, o projeto pode obrigar os trabalhadores da educação (professores, técnicos do setor administrativo, auxiliares e terceirizados) a retornarem às atividades presenciais.

A proposta é das deputadas Adriana Ventura (Novo-SP), Aline Sleutjes (PSL-PR) e Paula Belmonte (Cidadania-DF). Segundo o texto, no parágrafo 7º-D, estão incluídas entre as atividades essenciais “as aulas presenciais nas unidades das redes pública e privada de ensino, no âmbito municipal, distrital, estadual e federal, relacionadas à educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, Educação de Jovens Adultos (EJA), ensino técnico, ensino superior e afins.”

Parlamentares de oposição e sindicatos teceram críticas ao projeto. “Reabrir escolas nesse momento é uma política de morte. As nossas escolas não estão sendo preparadas para esse retorno”, pontuou a presidente do Andes Sindicato Nacional, Rivânia Moura, defendendo a vacinação em massa e um plano sanitário com todas as condições de segurança à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras da educação.

Presidente do Andes, Rivânia Moura, diz que volta às aulas é genocídio

Além de colocar em risco a vida de professores, estudantes, familiares de alunos e todo o conjunto de trabalhadores das escolas e universidades, o PL pode restringir direitos dos professores às manifestações e reivindicações, como as greves. Se a educação passar a ser enquadrada como atividade essencial, terá implicações nas formas de mobilização e luta dentro das instituições, principalmente nas universidades federais.

Caso seja considerado atividade essencial, o setor da educação poderia paralisar apenas 30% dos trabalhadores, obrigando 70% a manter as atividades normalmente.

Vários analistas interpretam o projeto como tentativa de cercear um dispositivo constitucional – a greve – duramente conquistado pelos trabalhadores como forma de mobilização pelos seus direitos.

O Consed (Conselho Nacional de Secretário de Educação) divulgou nota contra o PL que torna as aulas presenciais um dos serviços essenciais no país, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo o conselho, o texto é mais uma forma de pressão sobre os governadores e prefeitos que suspenderam aulas presenciais para conter o avanço da covid-19.