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O soneto do promotor e a emenda do deputado

O Ministério Público (MP) do Maranhão e a Assembleia Legislativa estão envergonhados pelos atos isolados de dois integrantes das respectivas corporações.

Todo esforço do liberalismo político e do iluminismo, duas concepções civilizatórias, foi reduzido a uma briga de rua entre um parlamentar e um promotor.

O representante do Parquet, praticante de kite surf, bloqueou um dos acessos à praia do Olho d’Água para garantir exclusividade aos seus pares esportistas no desfrute da orla.

Em decorrência da obstrução os moradores e outros usuários da praia ficaram impedidos de utilizar o espaço público para entrar e sair das suas casas e realizar outros afazeres cotidianos.

É como se o promotor grilasse o balneário para usufruto próprio.

Mas, o que fez o deputado? Denunciou o membro do MP aos órgãos de controle? Chamou o diálogo para resolver o conflito?

Nada disso! O parlamentar usou da sua “autoridade” e, montado em um trator, mandou desobstruir a barreira do promotor.

Fez ainda pior. Mandou gravar tudo em vídeo, inclusive os aplausos dos moradores diante do seu ato “heróico” em suposta defesa do interesse coletivo.

As cenas parecem ter saído das profundezas de um garimpo, um duelo entre homens embrutecidos pela dureza da vida em busca de riqueza.

Nunca se viu tanta pobreza espiritual naquele bate-boca entre um legislador e um fiscal da lei.

Duelo de garimpo, briga de rua, rixa de feira ou barraco de elite … tudo serve para designar um dos momentos mais bizarros na relação entre dois entes republicanos em São Luís.

Vivemos uma conjuntura clara de oposição entre a civilização e a barbárie, a democracia e o fascismo, sendo este pautado na violência, no armamentismo e no total desprezo pelas regras do Direito.

Naquela briga de rua, o promotor e o deputado agiram como dois seres no estado de natureza hobbesiano, protagonizando uma ilustração “ao vivo” da guerra de todos contra todos.

Um rasgou a lei; o outro, passou o trator na política.

Eles cometeram dupla falta de educação e “ensinaram” que conflito se resolve é na porrada.

Esse tipo de comportamento abominável vem ganhando cada vez mais espaço no meio conservador da ultradireita, surfando na onda grotesca do bolsonarismo – o império da violência, do armamentismo, da falta de respeito e ausência dos mínimos padrões civilizatórios; enfim, o poder do trator, do macho hétero valente acima da lei e da ordem!

Quem viu aquele vídeo sente-se representado e estimulado a praticar a máxima do mais forte. Só faltou fazer o gestual de arminha com os dedos.

Seria de bom alvitre que o parlamentar e o promotor usassem suas investiduras de poder para ajudar São Luís a construir um Plano Diretor humanizado.

Onde está a “valentia” dessas autoridades diante dos arbítrios cometidos todos os dias nessa cidade contra os pobres da zona rural e da periferia?

Por que não fiscalizam os desmandos das construções irregulares de shoppings, postos de gasolina e tantos outros empreendimentos sobre áreas de preservação ambiental que dizimam os recursos naturais e a vida de tantas pessoas?

Quero ver a valentia dessa gente para enfrentar uma parte da elite política, as empreiteiras e as multinacionais que pretendem transformar São Luís em uma cidade portuária e industrial sem dialogar com a população sobre os impactos ambientais e culturais no uso e na ocupação do solo urbano.

Vamos aguardar, observar e fiscalizar o desempenho dos valentes.

Felizmente, os protagonistas da briga de rua não traduzem o conjunto do poder Legislativo e do Parquet, onde há bons exemplos de políticos e fiscais da lei.

Por isso mesmo, o Ministério Público e a Assembleia Legislativa deveriam emitir uma nota pública com pedido de desculpas à sociedade.

São Luís, Patrimônio Cultural da Humanidade, com toda fama de cidade civilizada, afetiva e de alta voltagem intelectual, não merece ter a sua imagem manchada por um duelo de garimpo.

Afinal, aqui é a Ilha do Amor.

4 respostas em “O soneto do promotor e a emenda do deputado”

O deputado foi eleito para defender o interesse da população e o promotor passou no concurso para respeitar a lei e a ela aplicar no momento certo. Mais vimos a justiça fazendo injustiça com uma população saciando seus direitos de ir e vir só para ter suas privacidade que a ele não pertence! A atitude do deputado tem meus aplausos!

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