Categorias
notícia

Chuvas, Plano Diretor e a disputa eleitoral de 2020 em São Luís

A serpente acordou, diz a lenda! Na vida real um bicho de várias cabeças brotou por toda a cidade em forma de água, lama e crateras, árvores caídas, condomínios alagados, muros caídos e os bairros pobres mais afetados.

Sejamos justos. Qualquer cidade que recebesse a quantidade de chuva desabando sobre a capital nestas águas de março de 2019 sentiria o impacto. Foi algo fora do normal.

Porém, o conjunto dos transtornos é preocupante se pensarmos no que está previsto para a revisão do Plano Diretor (PD) de São Luís.

A cidade está sendo loteada para as empreiteiras e ficando refém da lógica da expansão portuária e industrial.

Para atender a esses interesses, segundo a proposta de revisão do PD, a zona rural será reduzida em 40% (leia aqui).

Quem mora no Centro e nos condomínios pode não perceber no médio prazo, mas a zona rural é de suma importância para a vida urbana. É nas áreas com menor adensamento populacional que ocorre a absorção das águas para a manutenção dos lençóis freáticos, fundamentais ao abastecimento de água na capital.

Mas a zona rural é, acima de tudo, o lugar de vida e sobrevivência de milhares de famílias, ambiente da produção agrícola e extrativismo, sociabilidade e vida fora da lógica do lucro desenfreado.

Se não houver um Plano Diretor adequado ao desenvolvimento sustentável, São Luís pode ficar pior. Basta observar que até no regime normal de chuvas a cidade tranca.

Em nome da especulação imobiliária desenfreada, as empreiteiras ergueram muralhas tapando os rios, aterraram os brejos, mataram as nascentes. Somados, esses atos vão bloqueando a cidade, fechando os canais por onde transitam os mananciais e se alimentam as antigas fontes.

Uma perversidade domina e engenharia em certas construções. Na sua maioria, os condomínios não têm árvores. O terreno é todo impermeabilizado com asfalto ou concreto, sem condições de vazão da água.

O impulso demográfico ergueu a máxima dos condomínios fechados até mesmo na zona rural, cercando os territórios e exterminando os bairros.

Assim, a cidade vira um amontoado de paredões com prédios chiques e condomínio de todos os tipos. Essas muralhas de concreto, que todos nós buscamos em nome da segurança, mostram suas contradições.

Com as chuvas intensas, os próprios condomínios são vítimas do fechamento. E as outras pessoas, ricas ou pobres, ficam ilhadas na cidade.

O que faz a Prefeitura de São Luís diante disso?

Conduz uma das piores visões de futuro para a cidade – a proposta de revisão do Plano Diretor nociva aos interesses da coletividade.

Visando atender à ganância e interesse dos grandes grupos imobililários, a gestão municipal está funcionando como lobista das empreiteiras para aniquilar o sentido de cidade.

Apenas para ficarmos em um exemplo: os rios que transbordaram neste fim de semana estarão mortos em breve porque eles próprios arrastam para os seus leitos o entulho que a cidade produz: lixo, desmatamento, extermínio das matas ciliares e violação das áreas protegidas por leis ambientais.

30 anos e mais quantos?

Em 1988 o médico Jackson Lago disputou e ganhou a Prefeitura de São Luís. São inegáveis as melhorias da sua gestão, assim como a aparência de uma cidade limpa e de buracos tapados na administração de Tadeu Palácio.

Passados 30 anos, há um cansaço das gestões do campo maior do PDT na capital. Se houve avanços, são mínimos comparados aos fracassos.

Com a reeleição do prefeito Edivaldo Holanda Junior temos uma década perdida em rotinas eleitoreiras: reforma de praças, operações tapa-buracos, capina do matagal, pintura dos meios-fios etc

A caminho de 2020, qualquer candidatura séria à Prefeitura de São Luís precisa pensar a cidade do futuro. Se o PD for aprovado da forma que a gestão atual quer, vamos assinar um atestado de óbito da cidade.

Precisamos de medidas concretas para planejar a cidade do futuro com o mínimo de condições civilizatórias. Não temos sequer faixa de pedestre decente em São Luís, à exceção daquela em frente ao shopping Tropical.

Queremos um prefeito católico que abrace os pais e mães de santo e os evangélicos, ou vice-versa. A cidade precisa de uma candidatura de fato enraizada no campo democrático-popular, capaz de dialogar com a população e estabelecer uma gestão antenada em ciência e tecnologia.

Por mais que tenha intenção de parceria, o governador Flávio Dino (PCdoB) é uma ferrari e o prefeito Edivaldo Holanda Junior, um fusca. Esse descompasso precisa mudar.

A Prefeitura se recusou a debater o Plano Diretor até na Câmara Municipal, mesmo após a cobrança de alguns vereadores.

Temos previsão de mais chuva. Como diz a música, são as águas de março fechando o verão.

Esperemos que as correntezas encerrem um ciclo político e abram promessa de vida em nossos corações e mentes na eleição de 2020.

Imagem destacada retirada neste site