Categorias
notícia

Arraial Zabumbada terá Chico César, Dona Onete e Mariana Aydar

Evento marcado para os dias 8, 9 e 10, na Praça das Mercês, apresenta grupos de bumba meu boi e danças folclóricas, shows com Chico César, Dona Onete e Mariana Aydar, além da Vila do Forró. O arraial é a segunda etapa de projeto iniciado em junho, com uma série de oficinas que contemplou cerca de 1.500 estudantes da rede pública da área Itaqui-Bacanga

O Arraial Zabumbada apresenta uma programação dedicada a celebrar os tambores que dão o tom dos festejos juninos do Maranhão, reunindo batalhões de todos os sotaques do bumba meu boi e grupos de danças, como tambor de crioula, cacuriá, quadrilhas, e shows musicais. No local, Praça das Mercês, centro histórico de São Luís, haverá também um espaço dedicado ao forró pé de serra, a Vila do Forró, e às barraquinhas de comida típica.

O arraial é a etapa final do projeto, que começou em junho, com a Caravana Zabumbada, uma série de oficinas gratuitas de dança e percussão do bumba meu boi para estudantes de escolas públicas municipais. O Arraial Zabumbada tem patrocínio do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação aberta ao público de 8 a 10 de julho.

Os estudantes contemplados pelas oficinas e suas famílias são os convidados especiais do evento, numa iniciativa que é ao mesmo tempo uma celebração dos resultados da Caravana Zabumbada e a valorização dos ritmos, cores e danças do bumba meu boi do Maranhão. “É muito importante pensar em formar público para conhecer, amar e valorizar a nossa cultura”, afirma a diretora do projeto, Caroline Marques.

A caravana

As oficinas de dança, realizadas no período de 8 e 11 de junho, homenagearam índias, índios, caboclos de pena e de fita, além do miolo do boi. As de música foram dedicadas aos sotaques de zabumba e pandeirão.

“O resultado foi incrível. Apresentamos os personagens da nossa grande festa no contexto cultural em que estão inseridos, estimulando o sentimento de pertencimento da comunidade em relação tanto ao centro histórico quanto ao bumba meu boi, que é a nossa maior manifestação cultural, tombada como patrimônio imaterial do Brasil”, explica Caroline.

Para coroar o Arraial Zabumbada, a festa se completa com shows de um trio de ouro da música popular brasileira: O paraibano Chico César, a paraense Dona Onete e a paulista Mariana Aydar. No repertório de cada um deles uma coleção de sucessos para dançar e celebrar os ritmos juninos.

Perfis

Chico César

Tem mais de 10 discos gravados, entre eles Aos Vivos (1995), Cuzcus Clã (1996), Beleza Mano (1998), Mama Mundi (2000), Respeitem Meus Cabelos, Brancos (2002), De uns tempos pra cá (2005), Francisco Forró e Frevo (2008), Estado de Poesia (2015) e O Amor é um Ato Revolucionário (2019). Atualmente Chico César realiza a turnê nacional Violivoz, com Geraldo Azevedo.

Dona Onete

Aos 84 anos, a diva do carimbó chamegado se consagra como um dos maiores nomes da música popular brasileira. Com mais de 300 composições, participações em festivais nacionais e internacionais, músicas em trilhas de novelas, além de três discos gravados, Dona Onete já passou por mais de 16 países, levando o nome da cultura paraense no peito.

Mariana Aydar

Mariana Aydar / Foto: Flavia Mansur

Com cinco discos de estúdio e um documentário lançados, a cantora e compositora paulistana alia elementos e ritmos contemporâneos às suas raízes no samba, forró e afoxé. Seu trabalho mais recente, Veia Nordestina (2019), que mistura ritmos como xote, pagodão, arrocha, frevo, galope, kuduro e rastapé, ganhou o Grammy Latino 2020 de Melhor Álbum de Raízes em Língua Portuguesa. 

Palco Principal
 DIA 08/07DIA 09/07DIA 10/07
 DJ Vanessa Serra
18hTambor Brinquedo de São BeneditoTambor de LeonardoTambor do Laborarte
18h30Lelê de São SimãoCacuriá de Dona TetéQuadrilha Asa Branca
19hBoi da FlorestaBoi Sociedade de Cururupu de UmbelinoBoi de Leonardo
20hBoi da Fé em DeusBoi de Santa FéBoi de São Simão
21hCriolinaFlavia BittencourtAfrôs
22hBoi de MaracanãBoi da PindobaBoi de Ribamar
23hChico CésarDona OneteMariana Aydar
    
Vila Forró Pé de Serra

 DIA 08/07DIA 09/07DIA 10/07
17h30Vagalume, história da florestaCamila Reis – Contação de histórias Pereguedé no São JoãoBaú de Histórias com o grupo Xama Teatro
18hPedro SobrinhoJorge Choairy Joaquim Zion
20 as 23hForró do MelTrio NavNa Asa do Carcará
    

ZABUMBADA

Projeto: Temporana Produções Culturais

Patrocínio: Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura

Arraial Zabumbada

Quando: De 8 a 10 de julho, das 17h30 à meia-noiteOnde: Na Praça das Mercês, centro histórico de São Luís

Mais informações: Assessoria de Imprensa – (98) 98179-1113

Foto destacada: Dona Onete / Foto: Adriano Fagundes.

Categorias
notícia

Artista plástico Paullo Brito abre exposição no Fórum de São Luís

Foi aberta na manhã desta segunda-feira (04), na galeria de arte do Fórum Des. Sarney Costa (Calhau), a exposição “MultiArtes”, do artista plástico Paullo Brito. São 22 obras em que ele usa a técnica acrílico com telas que transitam entre o realismo, minimalismo, arte pop e questão social. A exposição, aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, fica em cartaz até o dia 29 de julho. Para o acesso ao local é exigida a apresentação do comprovante de vacinação contra o coronavírus (Covid-19).

“Nas minhas telas retrato coisas que tenho presenciado durante minha trajetória”, afirma o artista. Paullo Brito é natural de São Luís, autodidata, desde a infância demonstrou vocação artística, começando pelas revistas em quadrinhos, que ele comprava para reproduzir os desenhos em tamanho maior.

Já expôs suas obras em um shopping da capital, na Galeria Trapiche, e é um dos artistas plásticos participantes da Galeria Permanente do Fórum Floriano de Araújo Teixeira, com a obra “Brinquedos de Criança”.O artista plástico aprofunda sua produção em multissemiótica e une temas como, africanidade, religião, abstrações, musicalidade e folclore.

A Galeria Celso Antônio de Menezes é responsável pela promoção das ações culturais que contemplam as artes em geral (teatro, música, artes plásticas, fotografia). Para expor no local, é necessário agendamento que deve ser feito por meio do e-mail (asscom_forumslz@tjma.jus.br).

Núcleo de Comunicação do Fórum de São Luís

Categorias
notícia

O Estado auxiliador

A PEC Kamikaze e as suas diversas denominações, além de ser uma aberração econômica e um estelionato eleitoral, aponta a radicalização de um processo caracterizado pela subutilização do Estado como instância de sociabilidade.

O ministro Paulo Guedes aprofunda as diretrizes do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, concebido pelos tucanos durante o governo FHC, sob os auspícios do então ministro Bresser Pereira.

Àquela época, o PSDB já pregava o Estado mínimo. Agora, está diminuto.

O Estado perde o seu papel estratégico na indução da economia e perde a sua função de protagonista dos grandes arranjos nas áreas de infraestrutura e fomento à produção.

Na cabeça de Paulo Guedes, ventríloco do ultraliberalismo, o Estado não passa de mero balconista pagador de auxílios.

E assim segue o Brasil apequenado. O Bolsa Família, desfigurado, agora é Renda Brasil. E tem mais: auxílio gás, vale caminhoneiro, ajuda para taxista… e por aí vai.

Categorias
notícia

Musical “Bandeira de Aço” inicia os ensaios do espetáculo

A primeira temporada do musical maranhense tem previsão de estreia para setembro deste ano, no Centro Histórico de São Luís

E foi dada a largada para a tão aguardada estreia nos palcos maranhenses de “Bandeira de Aço – O Musical”, uma produção assinada pela Encanto Coletivo Cultural e G4 Entretenimentos. Os ensaios do espetáculo já foram iniciados e estão a todo vapor: mais de 20 pessoas compõem o elenco, entre atores, atrizes, dançarinas e dançarinos.

Com previsão de estreia da 1ª temporada para setembro deste ano, “Bandeira de Aço – O Musical” conta com um grande elenco para narrar a história de um dos discos mais importantes da história da música brasileira. Entre os atores/atrizes, estão: Dênia Correia, Juliana Cutrim, Layla Calixto, Jhessica Monteiro, Thalisson Moreira, Ruan do Vale, Rafael Noleto, Zanto Holanda, Al Danuzio e David Lopes.

Já na dança, integram o time: Apolo Oliveira, Nando Pinheiro, Igor Kayroz, Weber Bezema, Renato Guterres, Manuel Mendes, Andressa Brandão, Thais Lima, Nuilane Lago, Rebeca Carneiro, Ana Flavia Pimentel, Girlene Sá e Thay Corrêa.

Os ensaios estão sendo realizados em dois espaços de São Luís: no Ateliê Academia de Artes, da diretora artística e vereadora Silvana Noely; e no palco do Teatro Arthur Azevedo (TAA), local em que a 1ª temporada do espetáculo fará sua estreia ainda este ano.

Rebeca Carneiro, que participa do elenco como dançarina, afirma que um dos principais desafios durante os ensaios do espetáculo está na própria complexidade de trabalhar com teatro musical no Brasil.

“São muitas identidades, muitas vertentes, muitas histórias a serem contadas, em muitos formatos. O teatro musical no Brasil é um processo muito vasto, muito diferente de tudo o que é feito no mundo. A riqueza cultural do Maranhão, por exemplo, tem todo o privilégio de poder explorar o que quer que seja, porque tudo aqui é muito rico, muito complexo e muito divertido também”, analisou a também atriz.

Para Rebeca, o teatro musical e a música brasileira são muito próximos, tanto em termos de composição quanto em dramaturgia. “Misturar o teatro musical com a cultura popular do Maranhão é o casamento perfeito. Porque, afinal de contas, sempre quem canta essa música é alguém que faz parte de uma comunidade, é uma persona dentro de uma comunidade. É sempre um retorno às nossas originalidades”, acrescenta.

Quem também destacou a riqueza da cultura maranhense foi o ator Ruan do Vale – que estrela o aguardado longa nacional “De Repente Drag”, também previsto para 2022 -, ao pontuar sobre o marco histórico que é o disco “Bandeira de Aço”.

“Tem sido maravilhoso [participar deste espetáculo]. Um musical que é representativo, importante e necessário que todo mundo conheça essa história, tanto no Brasil quanto na nossa região. Com o espetáculo, vamos mostrar não só a diversão e a nossa cultura maravilhosa que atrai turistas de todo o mundo, mas também de que o musical fez história”, comemora o ator.

Ruan do Vale foi só elogios ao elenco do espetáculo e à Nicolle Machado, diretora do musical. “A direção da Nicolle nos permite criar, nos permite fazer arte como ela deve ser feita, principalmente arte cênica. Que é você entender o que você está fazendo e você estabelecer a sua mensagem e criar juntos, sem necessariamente seguir uma linha, de criarmos nós mesmos a nossa linha. Para mim, está sendo maravilhoso estar com uma visão feminina na direção. Ter o direcionamento de uma diretora, é outro processo. É incrível!”, disse.

Bandeira de Aço – O Musical

“Bandeira de Aço – O Musical” será lançado no segundo semestre deste ano e contará com os patrocínios do governo do Estado e da Equatorial Maranhão, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

O músico e administrador Guilherme Júnior é o idealizador do musical. O espetáculo vai navegar pelo universo das composições das nove faixas do disco, apresentando, também, os bastidores do álbum, o ponto de vista – e as questões – entre o intérprete (Papete) e os compositores (César Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe).

O musical irá narrar ao público momentos curiosos, como o atraso de 10 anos do lançamento do disco no Maranhão – uma década após ser lançado nacionalmente. A produção será assinada pelo Encanto Coletivo Cultural, grupo criado em 2015 que foca na expansão da prática do Teatro Musical em São Luís.

Todas as informações sobre o espetáculo serão disponibilizadas na página oficial do projeto no Instagram: @bandeiradeacomusical.

Bandeira de Aço, de Papete

“Bandeira de Aço” é o segundo álbum do percussionista e cantor maranhense Papete, lançado pelo selo Discos Marcus Pereira, em 1978. Com nove faixas, o disco conta com músicas que ganharam popularidade no Maranhão, como “Boi da Lua” e “Engenho de Flores”, entre outras. Artistas como Josias Sobrinho, Ronaldo Mota, César Teixeira e Sérgio Habibe assinam as composições do álbum, que tinha Papete como intérprete oficial.

Lançado durante o período da Ditadura Militar no Brasil, “Bandeira de Aço” é referenciado como uma produção que representava o povo brasileiro e o contexto social e histórico em que foi lançado.

Imagem destacada / Elenco de Bandeira de Aço – O Musical nas primeiras semanas de ensaio / Foto Quilana Viegas / Divulgação

Categorias
notícia

A poesia necessária de Ferreira Gullar

Agosto 1964

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo,
ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato

um poema
uma bandeira.

Categorias
notícia

Uma coisa, outra coisa

Eloy Melonio é contista, cronista, ensaísta, poeta e compositor.

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome,
essa coisa é o que somos.”
(José Saramago [1922-2010], escritor português)

Já escrevi sobre esse “mal” do brasileiro em tirar onda de saber “tudo de tudo”. Tomado na acepção de “característica negativa”, nem o Dicionário Informal se aventurou a definir esse termo. Então tive de criar uma definição para completar as três que já estavam lá. E, assim, desconfio que esse impulso de falar sobre o que não sabemos direito pode ser um problema sério.

Prefiro ouvir, se não sei do que estão falando. E isso pode dar a impressão de que não estou interessado no assunto. Ainda mais hoje, quando opinar e criticar são coisas corriqueiras nas redes sociais. É muita gente falando de muita coisa. Recentemente, uma pessoa de aparente baixa instrução julgava as decisões de um ministro do STF como se fosse especialista no assunto. Calei-me para ouvi-la, e não vi muito sentido no que dizia.

Toda essa argumentação só para clarear o nosso tema: o que é arte, e o que é cultura. E, especialmente, por causa do São João. Sim, porque é nas festas juninas quando mais se ouve e mais se fala em cultura. Como se a cultura só se manifestasse nessa época do ano ou se reduzisse às brincadeiras juninas. Passada a festança, ela se retrai e fica esperando o Carnaval.

O certo é que se tenta reduzir as duas a uma só coisa. E aí, sobressai a ideia de que uma coisa e a outra coisa são a mesma coisa. Realmente, não é fácil separar uma da outra, pois, — para o senso comum — a linha divisória entre elas é quase imperceptível. Nesse contexto, o mais sensato é entender que arte é uma coisa; e cultura, outra coisa.

Em seu livro “Questões de Arte” (Ed. Moderna), Cristina Costa confirma que, nesse turbilhão de palavras jogadas ao ar de qualquer jeito e com significados cada vez mais contraditórios, uma delas é “arte”. E é aí que a onda do “senso comum” dança leve e solta.

Arte é um produto da imaginação cuja função é expressar com criatividade nossas emoções e sensações. E, nessa aquarela, os valores estéticos nas mais variadas cores, especialmente na música, na literatura, no teatro, entre outras formas de expressão.

Constata-se, então, que a arte é tão antiga quanto à humanidade. Nossos ancestrais já se expressavam por intermédio dela quando desenhavam nas paredes das cavernas, revelando sua sensibilidade ao traduzir a realidade que os rodeava. E, assim, a arte pode ser traduzida como “espelho de um povo” (a música brasileira, o tango argentino). Por mais remota que seja uma sociedade, lá está a arte de alguma forma. Um bom exemplo disso são —desde sempre — os coloridos adereços dos nossos índios.

Nesse contexto, destaca-se a figura do artista, ― conhecido ou anônimo ― que, na definição da filósofa Marilena Chauí, busca “exprimir seu modo de estar no mundo (…) reflete sobre a sociedade, volta-se para ela, seja para criticá-la, seja para afirmá-la, seja para superá-la”. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche vai mais longe, ressaltando que a arte é um desses valores indispensáveis. E justifica: “Para não sucumbir à verdade, temos a arte”.

Imagine-se caminhando numa movimentada rua de Nova Iorque num sábado à tarde. Ao longo do passeio, você se depara com vários palcos: um rapaz dançando hip-hop, um senhor tocando saxofone, um grupo de brasileiros jogando capoeira, uma moça fazendo o retrato de um turista chinês. Mais tarde, vai ao cinema. No dia seguinte, um amigo convida você para assistir a “O Rei Leão”, um dos dez musicais mais vistos na Broadway. Tudo isso é arte.

E onde está a confusão?

Justamente na tentativa de se reduzir cultura à arte. A arte é apenas um ingrediente dessa sopa denominada “cultura”, que tem de tudo um pouquinho. Você pode produzir arte, caso seja músico, pintor, escritor. Mas não pode produzir cultura. Porque a cultura existe antes e independentemente de você e de sua arte ou de suas preferências artísticas.

Percebe-se então que a arte é um campo da cultura humana, que abrange a religião, os costumes, a ciência, a moral etc. Nessa condição, destaca-se que a arte cumpre a função primordial de nos tornar mais humanos. Porque nos define, nos aproxima, nos identifica. Imagine agora uma multidão de fãs num show da celebradíssima Anita! Uma galera de diferentes profissões, raças, idades e classes sociais. Juntos e misturados, cantando, dançando, namorando. Isso só é possível porque a arte nos universaliza.

Sem querer imitar a arte de Gonzaguinha, pergunto: E a cultura, o que é?

A manchete de um blog (alguma data em 2018 ou 2019 [?]) denunciava: “Vereador diz que tambor de crioula não é cultura”. Com essa declaração, o edil desqualificava essa dança tipicamente maranhense como cultura. E acendia uma polêmica nas redes sociais. Não sei se era essa a sua intenção. Sei, no entanto, que ele estava “técnica e literalmente” certo. Realmente, o tambor de crioula não é cultura. Para a Wikipédia, uma “dança de origem africana praticada por descendentes de escravos africanos, em louvor a São Benedito”. É, portanto, uma manifestação artística, como muitas outras. Em suma, apenas um ingrediente da tal sopa de que falei antes.

Numa abordagem mais teórica, a cultura pode ser considerada do ponto de vista sociológico e antropológico. Para o Aurélio, “conjunto das características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade”. Um bom exemplo disso são as cidadezinhas do interior do nordeste, onde os comerciantes fecham as portas na hora do almoço, incluindo aí uma “sestazinha”, porque ninguém é de ferro para aguentar o mormaço do começo da tarde.

Em seu eletrizante “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade” (L&PM POCKET), Yuval Noah Harari costura os fatores que estabeleceram e desenvolveram a sociedade humana, fundada em aspectos que diferenciavam os sapiens dos outros animais. Categórico, afirma: “A imensa diversidade de realidades que os sapiens inventaram e a diversidade resultante de padrões de comportamento são os principais componentes do que chamamos “culturas”. E continua: “Desde que apareceram, as culturas nunca cessaram de se transformar e se desenvolver” (p. 60).

A cultura maranhense, por exemplo, é o produto de quatro séculos de interação entre gente das mais diversas origens (portugueses, índios, negros, imigrantes, migrantes [cearenses, por exemplo]), que definiram a sociedade em que vivemos hoje. E, por conseguinte, nossas crenças, nossos valores e costumes, nossas leis, nossa moral são resultado do processo de formação dessa identidade cultural. É nessa dimensão que se encaixa o “tambor de crioula”, manifestação artística que — saindo da senzala — se estabeleceu, se adaptou, se perpetuou e se inseriu no nosso patrimônio cultural.

Aqui, uma pausa para ouvir a “saudação calorosa” de João do Vale na canção “De Teresina a São Luís” (1962) sobre os nossos irmãos da terra de José de Alencar: “Alô, Coroatá, os cearenses acabam de chegar”.

Com frequência, ouvimos coisas sobre a cultura que não correspondem à real concepção do termo. Não raro, alguém denuncia: “Estão acabando com a nossa cultura”. A cultura se modifica e se adapta, mas jamais acaba. Falando das festas juninas, um produtor artístico brada entusiasmado: “(…) essa nossa cidade, que é multicultural”. Como pode uma cidade ter diferentes culturas, se a cultura é uma coisa só? Mesmo nas metrópoles, como Nova Iorque e São Paulo, prevalece a cultura local, embora haja uma vasta e diversificada oferta cultural, como restaurantes, templos religiosos, museus etc.

A arte, de essência subjetiva, se manifesta de diferentes formas, enquanto a cultura, coletiva, é parte natural do que “somos” como gente e coletividade. É disso que fala Saramago na epígrafe deste ensaio.

A revista Veja reserva cerca de dez páginas para a seção CULTURA. Nelas, desfilam o cinema, as artes plásticas, a música. Em palavras mais poéticas: a cultura (mãe) acolhe as artes (filhas) em seu colo.

Não caia na conversa mole do senso comum, pois é ele que geralmente nos confunde sobre os significados de arte e cultura. E não se deixe enganar por conceitos arbitrários e sem fundamento, como “Esse povo não tem cultura” ou “Temos a melhor a cultura do país”.

Uma coisa é cultura, outra coisa é arte.

No mês de junho, a sopa artística ferve nos quatro cantos da ilha de São Luís. Ludovicenses, ribamarenses, luminenses e raposenses saem de suas casas para se juntarem às dezenas de apresentações dos festejos juninos. No arraial, entre tantas outras, o cacuriá, dança com menos de cinquenta anos de existência; e o tambor de crioula — hoje “patrimônio imaterial brasileiro” — com quase dois séculos. Nesse folguedo, o povo interage e se identifica.

Em harmonia, — tal qual o boi e a índia guerreira (personagens do bumba-boi) — as duas dançam pra lá e pra cá, pra cá e pra lá.

Categorias
notícia

“Acalanto” chega a Vila Socorro e Barra do Corda este fim de semana

Apresentações gratuitas do Trio Zamoma acontecem sexta (1º.) e sábado (2)

Por Zema Ribeiro*

Vila Socorro, no município de Governador Eugênio Barros, recebe nesta sexta-feira (1º.), às 20h, o show “Acalanto”, do Trio Zamoma (foto destacada), formado por Wilson Zara (voz e violão), Moisés Ferreira (guitarra) e Mauro Izzy (contrabaixo). O evento contará com a presença do poeta Salgado Maranhão, filho ilustre do lugar, que lança, na ocasião, seu 15º. volume de poemas, o livro “Pedra de encantaria”. Na mesma noite haverá ainda o lançamento do filme “Rio Itapecuru, a revolta de D. Zefa”, do cineasta Josimar Gonçalves, também natural de Vila Socorro.

“A parceria com o Zara começou de forma inusitada: há quase 10 anos ele foi convidado para participar de uma outra homenagem que me fizeram e ele mandou super bem de cover do Raul Seixas numa noite memorável. Daí surgiu uma amizade e admiração que só se fortalecem”, relembra Salgado Maranhão.

Parceiro de nomes como Elton Medeiros, Gereba, Ivan Lins, Moacyr Luz, Paulinho da Viola, Rosa Passos e Zé Américo Bastos, entre outros, Salgado Maranhão tem sua “Caminhos de sol” (parceria com Herman Torres), sucesso de Zizi Possi, no repertório de “Acalanto”. Em Vila Socorro a apresentação acontecerá na Praça Central.

A turnê “Acalanto” tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão, e tem levado a diversos municípios do interior maranhense um repertório de clássicos da música popular brasileira e do pop rock nacional e internacional, sempre dialogando com manifestações culturais locais.

“Muitos eugenio-barrenses já conhecem a arte do cantor Wilson Zara. Temos um carinho muito especial por ele e este projeto é de grande relevância para o Maranhão, por possibilitar a diversas comunidades apreciar música de qualidade. Esse show certamente irá proporcionar momentos muito agradáveis em Vila Socorro”, aposta a relações públicas Heracília Oliveira, que está na organização local do evento.

No dia 2 (sábado), “Acalanto” chega a Barra do Corda. O show acontece na Praça Melo Uchoa, Centro, às 20h. “Este projeto foi idealizado no momento da pandemia e foi desenvolvido para levar uma música mais tranquila, mais suave, para que chegasse às pessoas num momento tão difícil. É muito importante para nossa cidade receber um evento como esse”, afirma o músico Cabral Marán, guitarrista da banda Engenheiros Urbanos.

A apresentação do Trio Zamoma terá um sabor todo especial, pois marca o reencontro do cantor Wilson Zara com o público de sua cidade natal.

Serviço

O quê: shows da turnê “Acalanto”

Quem: Trio Zamoma – Wilson Zara (voz e violão), Moisés Ferreira (guitarra) e Mauro Izzy (contrabaixo)

Quando/onde: dia 1º (sexta), às 20h, na Praça Central em Vila Socorro (Governador Eugênio Barros); e dia 2 (sábado), no mesmo horário, na Praça Melo Uchoa, em Barra do Corda

Quanto: grátis

Informações: no instagram @wilsonzarazara ou facebook @trilhasetons

Patrocínio: Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão

* Zema Ribeiro é jornalista. Coordenador de produção da Rádio Timbira AM. Produz e apresenta na emissora o Balaio Cultural, aos sábados, com Gisa Franco. Escreve no Farofafá.

Categorias
notícia

Assembleia unificada debate EAD nos cursos presenciais da UFMA

Minuta de resolução de EAD e trabalho remoto
pode pôr fim ao ensino presencial da UFMA

Uma assembleia de professores, estudantes e técnicos administrativos da UFMA será realizada nesta terça-feira, 28/06, às 16h, na Área de Vivência, Campus do Bacanga.

A comunidade universitária vai se posicionar sobre a minuta de resolução de Ensino a Distância que ameaça as aulas presenciais.

Segundo a Associação dos Professores da UFMA (Apruma), seção sindical do Andes, mais uma vez a Administração Superior ataca a própria Universidade que deveria defender.

A proposta de Resolução a ser levada a qualquer momento ao Conselho Universitário pretende estender o ensino remoto em até 40%, exceto para a Medicina e cursos novos, o que vai comprometer ainda mais a qualidade do ensino.

A Reitoria se nega, mais uma vez, a enfrentar os problemas estruturais para o retorno presencial a contento e sujeita-se aos desmandos do atual governo federal, inimigo declarado da Educação pública e das universidades federais e do que elas representam para o nosso povo.

Se aprovada, a Resolução acaba com a Universidade da forma que a conhecemos hoje, alterando sua natureza e seu caráter eminentemente presencial.

É urgente que a comunidade universitária dê uma resposta clara em defesa da UFMA contra mais esse ataque forjado por dentro de sua própria estrutura administrativa.

É imprescindível que todas as unidades e subunidades discutam essa situação e participem das frentes de resistência e defesa da UFMA presencial.

Categorias
notícia

Comissão da CNBB publica documento-denúncia sobre violência no campo no Maranhão

Por Osnilda Lima | Comunicação 6ª SSB e Pastorais Sociais

Representantes da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e das organizações que dinamizam a 6ª Semana Social Brasileira publicam documento sobre a Missão-escuta, Missão-denúncia realizada no Maranhão, junto às comunidades quilombolas e tradicionais

Ao todo, foram visitadas 35 comunidades em seis munícipios maranhenses: São Luís, Arari, Brejo, Caxias, São João Soter e Buriti. De 2020 a 2022, 14 lideranças foram assassinadas, e mais de 30 mil famílias estão ameaçadas nos territórios quilombolas e comunidades tradicionais.

Participaram da Missão, representantes que compõem a executiva nacional e Regional Nordeste 5 da CNBB da 6ªSSB, respectivamente: Secretaria Executiva da 6ªSSB, Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Conselho Nacional do Laicato do Brasil, Pastoral Operária e a Rede Jubileu Sul Brasil. Das Pastorais Sociais e Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil) Regional Nordeste 5 da CNBB integraram à Missão: Cáritas Brasileira, Comissão Pastoral da Terra, Conselho Pastoral dos Pescadores, Pastoral da Criança e Conselho Indigenista Missionário.

Confira abaixo, a íntegra do documento

POSICIONAMENTO DA MISSÃO-ESCUTA, MISSÃO DENÚNCIA:

MUTIRÃO EM DEFESA DA VIDA DOS POVOS DO MARANHÃO

“Quando não matam de fome, matam de bala”,

(Marcia Palhano)

Entre os dias 20 a 25 de junho de 2022 foi realizada a Missão-escuta, missão-denúncia: Mutirão pela vida dos povos do Maranhão e enfrentamento à violência no Campo. A ação foi proposta pela 6ª Semana Social Brasileira (6ªSSB), que é dinamizada pela Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e constituída pelas Pastorais Sociais, Organismos da CNBB e Movimentos Populares.

A Missão envolveu um conjunto de ações e atividades, como: visitas às famílias de vítimas, rodas de conversas com as comunidades, audiência pública e Seminário com Pastorais Sociais e Movimentos Populares. Tais ações possibilitaram a escuta das violações sofridas em aproximadamente 35 comunidades em diferentes territórios do Estado do Maranhão, nos munícipios de São Luís, Arari, Brejo, Caxias, São João Soter e Buriti.

Na escuta constatou-se a dramática situação em que se encontram os povos e comunidades tradicionais do Maranhão, bem como as populações empobrecidas. Aqui destacamos algumas delas:

  • Identificamos que há o descumprimento na execução de políticas públicas por parte dos poderes constituídos no Estado do Maranhão. Não se trata apenas de descaso com as realidades locais, mas de uma ação estruturada com o objetivo de disseminar o projeto do MATOPIBA (região formada por áreas majoritariamente de cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia): o agronegócio, a mineração e outros grandes projetos de desenvolvimento econômico.
  • Entre 2020 e 2022, 14 lideranças, defensores da natureza e de seus territórios, foram assassinadas no Maranhão. As famílias e a sociedade não têm, até o momento, da parte dos órgãos competentes, a resolução e punição para os mandantes e executores dos crimes.
  • 77 pessoas estão ameaçadas de morte, encontram-se no Programa de Proteção a Defensores/as de Direitos Humanos. E aproximadamente 30 mil famílias solicitam proteção dos organismos responsáveis. Isso mostra que, no Maranhão, o genocídio, o etnocídio e o ecocídio caminham lado a lado, aterrorizando a vida das pessoas e da natureza.
  • Promotores do agronegócio e latifundiários, com anuência do governo, fecham estradas vicinais, contaminam, assoreiam e secam olhos d’água, impedindo o acesso às lavouras das comunidades e ao direito básico de ir e vir. Comunidades inteiras estão em permanente medo e pânico com as intimidações através das presenças de jagunços e pistoleiros.
  • Os promotores do agronegócio deixam um rastro de desespero e morte, com correntões, tratores, fogo, agrotóxicos e outras técnicas destrutivas, aniquilando as fontes de alimentos, colocando as comunidades em grave situação de insegurança alimentar.
  • O licenciamento ambiental corre à revelia da garantia do direito à vida das comunidades e da natureza, atendendo aos interesses do agronegócio facilitado pelo poder público de forma fraudulenta, com a emissão documentos tendenciosos.
  • Na maioria dos conflitos, percebeu-se envolvimento e articulação dos governos locais, que contribui para o aprofundamento e aceleração destes processos de destituição do direito a vida.

Exigimos com urgência

  • Que o Instituto de Colonização e Terras do Maranhão-ITERMA e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA efetivem com rapidez a regularização fundiária destas comunidades. Esta decisão legal é a principal forma de garantir juridicamente que as pessoas vivam em paz em seus territórios.
  • A aprovação e implementação da lei que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos em todo o estado, a exemplo dos munícipios.
  • Que os órgãos competentes façam, imediatamente, a revogação das licenças ambientais emitidas de maneira arbitrária, concedidas pelo Estado ou Municípios.
  • Atenção e tratamento de saúde às pessoas vítimas dos agrotóxicos e outros produtos químicos que contaminam solo, ar, água e, consequentemente, as pessoas e comunidades.
  • Acompanhamento e assistência psicossocial necessária às famílias das vítimas assassinadas, as que sofrem ameaças e intimidação.
  • Acompanhamento e resolução, pelos poderes públicos locais, na proteção de crianças e adolescentes, cuja infância é roubada, impactadas pelas violências sofridas. 
  • Que os governos do Estado e municípios implementem políticas públicas que garantam condições de vida com dignidade nas comunidades rurais, tais como energia elétrica, água potável, estradas e infraestrutura para que as comunidades tenham condições de permanecer e viver em seus territórios.

Há esperançar

Apesar da gravidade da situação, as comunidades estão organizadas e resistem com esperança e fé. São pessoas corajosas, criativas e solidárias. Apoiam-se e são acompanhadas pelas Pastorais Sociais e os Movimentos Populares. É isso que fortalece as lutas pelo direito de existir no território, com acesso a Terra, Teto e Trabalho. 

Nós, da Missão-Escuta, Missão-Denúncia, nos comprometemos em finalizar o relatório detalhado do processo vivenciado, que será utilizado para divulgação e incidência, para a superação destas situações identificadas, que se prolongam historicamente no Maranhão. Reafirmamos nosso compromisso com a defesa dos direitos humanos destas populações e o cuidado com a Casa Comum.

Uma das lideranças afetadas brutalmente pela barbárie e pela impunidade nos dizia: “Eles irão nos matar de fome, mas não tirarão nossa coragem”. Por isso, nós, das Pastorais Sociais e organizações participantes da Missão, seguiremos com a fé e a coragem necessária para enfrentar qualquer sinal de violação da dignidade destas pessoas que são guardiães da natureza.

Reafirmamos, em comunhão com o papa Francisco: “A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença”.

Participaram da Missão, representantes que compõem a executiva nacional e Regional Nordeste 5 da CNBB que dinamizam a 6ª SSB, respectivamente: Secretaria Executiva da 6ª SSB, Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Conselho Nacional do Laicato do Brasil, Pastoral Operária e a Rede Jubileu Sul Brasil.

Das Pastorais Sociais e Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil) Regional Nordeste 5 da CNBB integraram a Missão: Cáritas Brasileira, Comissão Pastoral da Terra, Conselho Pastoral dos Pescadores, Pastoral da Criança e Conselho Indigenista Missionário.

São Luís, 27 de Junho de 2022.

Categorias
notícia

Em funeral, família de Dom Phillips reforça pedido por justiça

Fonte: Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)

O corpo do jornalista britânico Dom Phillips foi cremado neste domingo (26.jun.2022) no Cemitério Parque da Colina, em Niterói (RJ). Antes da cerimônia íntima, a família fez pronunciamentos agradecendo aos povos indígenas, à imprensa, aos amigos e a todos que participaram das buscas do correspondente estrangeiro e do indigenista Bruno Pereira, enterrado na última sexta-feira (24.jun.2022). 
 
A mulher de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, pediu mais segurança para os defensores do meio ambiente para evitar novas tragédias: “Dom era uma pessoa muito especial, não apenas por defender aquilo que acreditava como profissional, mas por ter um coração enorme. Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo Justiça no significado mais abrangente do termo. Renovamos nossa luta para que nossa dor e a da família de Bruno Pereira não se repita, como também a de outras famílias de jornalistas e defensores do meio ambiente que seguem em risco. Seguem em risco. Descansem em paz, Bruno e Dom”.

A irmã do correspondente, Sian Phillips, ressaltou a paixão de Dom pelo jornalismo e a Amazônia: “Era um brilhante jornalista, comprometido em dividir histórias sobre a diversidade brasileira, habitantes de favelas e indígenas da Amazônia. Ele foi morto por tentar contar ao mundo o que está acontecendo na floresta tropical com seus habitantes, sobre o impacto das atividades ilegais nessa floresta. Ele foi morto tentando ajudar os indígenas. Ele e Bruno entendiam o risco de fazer isso nesse mundo. Sua família, amigos, nós estamos comprometidos em continuar esse trabalho”.

No funeral, movimentos sociais cobraram a continuidade das investigações. Uma faixa estendida perguntava: “Quem mandou matar Dom e Bruno?”

O assassinato

Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram brutalmente assassinados no dia 05.jun.2022, no Vale do Javari, no Amazonas, fronteira com o Peru. Rumavam à Atalaia do Norte (AM) para entrevistar indígenas próximos ao Lago do Jaburu, em visita à equipe de Vigilância Indígena que fica no local. A viagem deveria durar aproximadamente duas horas, mas os dois não chegaram ao destino final. 

Segundo informações divulgadas pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), eles receberam ameaças antes do desaparecimento. Bruno Pereira, mais especificamente, vinha sendo alvo de ameaças de garimpeiros, madeireiros e pescadores que atuam na ilegalidade. 

Três homens já foram presos. A Polícia Federal (PF) afirma que outros cinco ajudaram a enterrar os corpos e já estão sendo investigados. A PF apura se a execução tem relação com a pesca ilegal, a ação de garimpeiros e o tráfico internacional de drogas.

Funeral de Bruno Pereira

Na manhã de sexta-feira, 24.jun.2022, Bruno Pereira foi enterrado no cemitério Morada da Paz, em Paulista, na região metropolitana do Recife. O velório comoveu famílias e amigos. Indígenas fizeram rituais para celebrar a vida e honrar a morte do pernambucano.

Na cerimônia, as pessoas pediram justiça, celeridade nas investigações e criticaram o presidente Jair Bolsonaro (PL), que durante as quase duas semanas de desaparecimento classificou a viagem do jornalista e do servidor da Funai de “aventura”.  Além disso, promoveu uma motociata eleitoral em Manaus, dias depois do encontro dos corpos pela polícia.

Além das notas públicas enviadas ao governo, a Abraji e outras organizações da sociedade civil do Brasil mobilizaram entidades internacionais para pressionar o governo brasileiro a tomar medidas que garantam o livre exercício da profissão e uma investigação independente sobre as mortes.

Foto da capa: reprodução da internet a partir das redes sociais